Lembram-se do quase default do Dubai?
Poucas horas antes do fecho dos mercados o emirado informou que teria congelado o pagamento do bond Nakheel.
Na prática, naquele dia Dubai levantou um grande cartaz com escrito: “estamos em sarilhos e não conseguimos pagar”.
O enredo económico
Hoje alguns média tratam vagamente do assunto, como swissinfo que assim informa:
O emirado de Dubai investiu outros 9,5 bilhões de dólares para sustentar o Dubai World, dobrando os fundos de emergência para a holding que em Novembro tinha feito default.
Num comunicado, o presidente da máxima autoridade fiscal, o xeque Ahmed Bin Saeed Al Maktoum, explicou que “a nossa ajuda financeira demonstra o nosso empenho para encontrar uma solução justa para todos”
E até aqui parece de facto coisa boa e justa.
Nakheel, a divisão imobiliária do Dubai World no centro da crise, irá receber 8 bilhões e os seus bond estão em alta nos mercados após Dubai World ter prometido pagar por inteiro os titulares se o seu plano de reestruturação de 23,5 bilhões for aceite pelos bancos.
Pena que a dívida do Dubai, na realidade, esteja a mais de 25 bilhões de dólares.
Segundo AGI são 26, mas além dos montantes, bilhão mais bilhão menos (!!!), a coisa interessante é que esta notícia explica com qual dinheiro eles pensam pagar as dívidas.
(AGI) Dubai World pediu até 8 anos aos credores para o reembolso dos seus 26 bilhões de dólares de dívida. O grupo propõe a emissão de duas secções de novas dívidas com maturação entre os 5 e os 8 anos.
Com outra dívida.
O enredo do terrorismo médio-oriental
Dubai foi também o epicentro dum outro grande e complicado enredo que envolve Israel e os relacionamentos entre este e a Palestina.
Os leitores provavelmente conhecem a história que ainda hoje ocupa as páginas dos jornais com as suas consequências, o assassinato de um combatente palestiniano por parte do Mossad, crime cometido no território dum estado independente e soberano, isso é Dubai.
Na prática, no dia 20 de Janeiro de 2010, 26 agentes israelitas entraram no Dubai com passaportes falsos, tomaram posse de quartos no mesmo hotel onde morava um chefe de Hamas e eliminaram o inimigo para depois desaparecer como se nada tivesse acontecido.
Pena (para o Mossad, óbvio) que entre vídeo de vigilância. cruzamentos de dados e ausência de coberturas, algo correu mal e a história passou a ser de público domínio.
Imediatos protestos de Dubai que logo apontou Israel como responsável da operação cuja cobertura acabou mal.
O enredo europeu
As consequências não têm sido poucas, envolvendo até Londres e Paris e parece ter começado a abalar fortemente a outrora firme aliança anglo-israelita.
E isso porque boa parte dos passaportes falsos utilizados pelos agentes do Mossad pertenciam a inocentes cidadãos britânicos.
Desta vez Londres demonstrou um mínimo de responsabilidade e reagiu em consequências.
Os média ingleses falam assim da expulsão dum diplomata israelita, cuja identidade permanece obscura mas que segundo os diários poderia ser até o responsável do Mossad em Londres.
Sempre segundo AGI:
O Ministro dos Negócios Estrangeiros britânico, David Miliband, explicou que existem razões fundamentadas para crer que Israel tinha sido responsável pela utilização dos documentos e anúncio de ter pedido ao governo hebraico para que episódios como este não se repitam.
O chefe do Foreign Office foi bastante explicito: “Os documentos foram copiados dum passaporte britânico numa operação altamente sofisticada” e isso indica “que nisso é presente um governo”
Qual?…segundo Virgilio:
O Soca, Serious Organised Crime, agência britânica contra o grave crime organizado, numa recente informação citada pelo diário Guardian aponta o dedo contra as autoridades israelitas.
Segundo a agência, que conduziu uma investigação de quatro semanas, os passaportes poderiam ter sido clonados na altura do controle de entrada no aeroporto internacional Ben Gurion de Tel Aviv ou nos escritórios da companhia aérea de Israel El Al.
“Não podemos ter a certeza, mas as provas mostram como os passaportes podem ter sido clonados durante o controle da polícia da alfândega de Israel ou no estrangeiro, quando foram entregues às mãos de funcionários israelitas”.
E o Foreign Office emitiu uma nota de aviso para quem viaja com destino a Israel:
“Os dados do vosso passaporte podem ser copiados para usos impróprios enquanto o documento se encontra fora do vosso alcance. O risco existe sobretudo para os passaportes sem dados biométricos” pode ler-se no aviso online.
“Recomendamos que entreguem o vosso passaporte, incluídos aos funcionários israelitas, só quando isso é absolutamente preciso”
A resposta do embaixador israelita em Londres não tardou:
Os relacionamentos entre Israel e o Reino Unido são de recíproca importância e por isso ficámos desiludidos com a decisão do governo britânico.
Não é bem claro o que ganha Londres com o relacionamento com Israel, mas este é outro assunto.
Também Austrália, França, Alemanha e Irlanda abriram investigações acerca dos passaportes falsos. .
O enredo israelamericano
Os Estados Unidos não estão numa situação tão bonita, sabemos disso.
Há quase 10 anos se encontram em guerra num país e num outro acabaram mesmo os primeiros 7. O custo das duas missões é particularmente elevado e a situação económica doméstica é dramática
Dito de forma muito prática, se uma das duas guerras tivesse aportado vantagens económicas de qualquer natureza a situação agora seria menos dramática.
Mas nada disso.
O problema é que as forças de ocupação anglo-americanas não gozam do apoio da população civil. Talvez ao distribuir pão e não chumbo a situação fosse mais favorável, mas sabemos como seja mais fácil destruir do que construir.
O elemento central é assim o apoio da população. Que, todavia, é maioritariamente árabe ou muçulmana e não vê de agrado o que acontece em Israel.
É o apoio total, sistemático e organizado que Washington fornece à politica e estratégia israelita, juntamente com o desrespeito pela causa palestiniana, que contribui em reforçar o ódio das populações locais
Agora em Washington, com uma economia desastrada e perspectivas não felizes, a influência da conhecida lobby israelita poderia até ser posta em causa.
Mesmo ontem, Benjamin Netaniyahu, antes de encontrar Barack Obama, declarava:
«Jerusalém é a capital de Israel »
De terranews
Isso é o que realçou ontem em Washington o premier israelita antes de encontrar o presidente Barack Obama.
Nenhuma marcha atrás acerca do projecto de construção de 1.600 novas habitações na zona de Jerusalém leste, a zona árabe, embora os pedidos da comunidade internacional para relançar as negociações de paz.
E continua Rinascita eu:
“Se os americanos insistem nos pedidos irracionais apresentados pelos palestinianos acerca dum congelamento das habitações em Jerusalém, tinha declarado o leader do Likud, o processo politico arrisca ficar parado ao longo dum ano.”
Ao longo do encontro, desde a câmara de Jerusalém chega a nova provocação: o sim definitivo para a construção de 29 novas habitações na zona leste de Jerusalém, no lugar onde agora existem as ruínas dum velho hotel palestiniano.
Uma iniciativa que é parte dum projecto ainda maior e que inclui a edificação de outras 80 habitações e um parque multinível.
Mais de 1.600 casas no bairro ortodoxo de Ramat Shlomo, além das 20 viabilizadas, e um projecto para outras 80 no bairro árabe de Sheikh Jarrah, onde cada semana se desenrolam manifestações de protesto por causa dos despejos dos palestinianos e da demolição das casas deles.
O encontro entre Netanyahu e Barack Obama demorou muito pouco, o que não é costume.
Os dois encontraram-se com portas fechadas e o encontro aconteceu em duas fases, uma hora e meia a primeira, meia hora a segunda.
Ao que parece, Netanyahu teve de sair para falar com o team dele. Sinal que a discussão não procedia exactamente bem.
Os dois leader não foram vistos juntos quando o encontro acabaou. Obama retirou-se na Casa Branca enquanto o primeiro ministro israelita se afastava de carro.
Nada de “photo opportunity”, nada de comunicado conjunto.
É isso, ao nosso ver, um sinal que algo corre mal na aliança Israel-Estados Unidos-UK. O que irá acontecer dependerá de quanta potência realmente tem a lobby israelita nos EE.UU.
A cereja no topo do bolo: Paris
“A França lamenta a decisão da Câmara de Jerusalém para viabilizar a construção duma colónia de 20 habitações no bairro de Sheik Jarrah”: são estas as palavras do porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros francês, Bernard Valero. “A França – acrescentou – tal como o resto da comunidade internacional não reconhece a anexação de Jerusalém Leste e condena cada decisão que prejudica o seu status final”
reporta o Corriere della Sera.
…e também seria possível falar de notícias económicas, como a queda nas compras de casas novas nos Estados Unidos, mas por enquanto ficamos aqui.
Ipse dixit.
Texto de Informazione Scorretta, Felice Capretta,
Tradução Massimo De Maria