“zzzzzzzzz” diz o mosquito

É Verão.
Não, é Inverno. Eu sei que é Inverno, mas tentem imaginar.

Dizia…é Verão. Na vossa varanda, à noite, sentados com um copo de fresca canja de galinha (esqueceram de comprar a cerveja? Culpa vossa), observam as luzes dos aviões no céu e ouvem os alarmes de carros distantes tocar. É bonita a natureza.

De repente: zzzzzzzzzzzzz. Um mosquito. Agarram no objecto mais próximo, neste caso o iPod de 400 Euros, e paf! o mosquito já foi. Também o iPod.

Agora observem o defunto animal: parece normal?
Mas que significa “normal”? Afinal um mosquito é sempre um mosquito.
Não, não é bem assim: um mosquito pode não ser um simples mosquito, mas um super-mosquito. E se calhar, debaixo das asinhas nojentas, podemos encontrar “Made in UK. By appointment to Her Majesty the Queen.
Beware: Do Not Recharge”.

Super-mosquitos feitos no Reino Unido? Exacto.

OX513a

O National Biosafety Board da Malásia está perto de aprovar a libertação de 24.000 mosquitos machos, geneticamente modificados, de Aedes aegypti do tipo OX513a; um “produto” desenvolvido pela britânica Oxitec.

Os 24.000 super-mosquitos serão libertados em duas localidades, Bentong e Alor Gajah, ambas na Malásia.

A ideia é simples: os mosquitos Aedes aegypti são portadores da febre dengue. Se fosse possível introduzir mosquitos machos que possam impedir a reprodução das futuras gerações de mosquitinhos, então a população de Aedes aegypti ficaria reduzida, tal como a difusão da doença.

Aliás, isso já foi feito: nas Ilhas Caymans, a introdução dos super-mosquitos causou o desaparecimento de 80% dos bichinhos voadores.

Então, qual o problema?

As dúvidas do doutor

O problema é que alguém não concorda. “Será qualquer blogueiro atrasado ou catastrofista, como de costume”, pode pensar o leitor. Mas não: é um médico e membro do Gopeng, o Parlamento malaio.

Lee Boon Chye faz algumas simples constatações:

1. Não existe adequada experimentação.

Nas Ilhas Caymans, por exemplo, foram libertados 2 milhões de super-mosquitos numa área 660 vezes mais pequena da zona malaia. O que, feitas as proporções, pode significar que no País asiático pode ser necessário mais de um bilião de super-mosquitos para obter idênticos resultados.

Qual o potencial custo destes super-mosquitos, considerando que estes bichinhos são um monopólio da empresa Oxitec?

2. Até 4 % dos mosquitos da segunda geração (filhos dos super-mosquitos) sobrevivem até a idade adulta e podem reproduzir-se. Isso significa implementar alterações genéticas nas futuras gerações da Aedes aegypti. Qual tipo de alterações? Ninguém pode prever.


E, para acabar, o doutor Boon Chye propõe: porque, em vez de gastar uma fortuna em super-mosquitos das consequências imprevisíveis, não são limpos os terrenos onde os mosquitos costumam reproduzir-se?

A esta pergunta posso responder eu: ó meu caro doutor, mas quem ganharia com uma simples limpeza dos terrenos? Faça o favor de descer da árvore e tente actualizar-se: aprenda o que é o progresso.

Pfff, retrógrados…

Ipse dixit.

Fonte: Malasyakini

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