Ar pesado na Europa.

Não passa dia sem que aconteça algo de novo: e este algo tem sempre a capacidade de provocar abalos nos mercados financeiros.

Um claro sintoma de mal estar.

Desta vez é a Alemanha.

Deixamos a palavra a Informazione Scorretta:

Cedo ou tarde iria acontecer.

Enquanto o Euro está em queda livre face ao dólar foram confirmadas já no início da noite as vozes que circulavam acerca da corajosa (ou desesperada) escolha da política alemã.

Alemanha, basta especulação

Da Reuters:

O governo alemão proibirá temporariamente as vendas “descobertas” (short selling, NDT) das dez maiores instituições financeiras da Alemanha, a partir da meia-noite de terça-feira até 31 de Março de 2011 (temporariamente…).

A medida foi anunciada por um porta-voz do ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schäuble, acrescentando que a proibição vai abranger também os títulos do governo em euro e os credit default swaps ligados.

“A proibição entrará em vigor a partir da meia-noite”, disse o porta-voz, confirmando o que foi mencionado alguns minutos antes por uma  fonte da coligação.

Isto conclui a notícia da agência.

A opção nuclear

Porque esta escolha é equivalente à opção nuclear?

Porque de facto proíbe ataques especulativos desde o exterior para o centro nevrálgico da economia alemã. É um chuto no traseiro, principalmente da especulação anglo-americana, que já não pode especular sobre a queda dos grandes bancos alemães, sobre os títulos de Estado da eurozona e sobre os CDS da eurozona.

Na Alemanha.

O que é o mais importante é que este movimento termina de repente e com um golpe de assinatura a política das palavras bonitas e do “está tudo bem”.

Acima de tudo, coloca um ponto final para a tutela do poder supranacional e global da finança especulativa sobre a pele das primeiras 10 instituições financeiras na Alemanha.

Vamos ver a reacção dos fundos especulativos.

Talvez seja um acto de coragem.

Ou talvez, perante o Euro em queda e uma União Monetária que está para passar aos livros de história, é um movimento desesperado para proteger o interesse alemão.

Esta é a estratégia de “cada um por si”, que, como sabemos, chega antes da estratégia posterior do “salve-se quem puder”, ou dissecção da geopolítica global.

De Bruxelas, para já, nenhum comentário.

Alemanha cada um por si, Deutschland Uber Alles.

Acaba aqui o artigo do amigo Felice.

Algumas observações:

• Na União Monetária Europeia cada um faz o que mais lhe apetece. A Alemanha quer parar os short selling? Combinado. Amanhã a França deseja bloquear as vendas de todos os títulos que começam com a letra “K”? E porque não?

• A especulação não pode tratar dos bancos alemães? E que tal dos bancos dos Países mais fracos? Tipo PIGS? A Alemanha diz “eu estou fora: agora o problema é vosso”.

• A Alemanha enviou uma mensagem de profunda fraqueza. Fraqueza da Alemanha, fraqueza de toda a União.

• Mas faz ainda sentido falar em União Monetária Europeia? A maior das econoomias continentais afirmou claramente que não confia nesta instituição. E se não confia a Alemanha, por que razão deveriam confiar os outros? 

• Última hipótese: será que Berlim está a preparar a própria saída da UE? Afinal o post Auf wiedersehen? estava baseado em mais do que um simples boato?

Acerca deste último ponto: é difícil acreditar no cenário, pois uma eventual saída implicaria perdas pesadíssimas para os mesmos bancos que agora a Alemanha quer proteger. Imaginem o que poderia significar, no caso do fim da UE, ver os próprios créditos já não em Euros mas transformados em dracmas, por exemplo…

Mas fica o facto: Berlim imprimiu uma forte aceleração que pode levar a uma debandada fatal para a União.

Até agora nenhuma reacção oficial.
Mas os efeitos já foram visíveis: o Euro fechou abaixo do 1,22 face ao Dólar e Wall Street, depois de ter aberto em alta, acabou em território negativo.

Será interessante observar o andamento das Bolsas ao longo do dia de hoje.

Ipse dixit.

Fontes: Informazione Scorretta,