Multas & estrelas

Polémica no Brasil.

Deve o País entrar ou não  na organização European Southern Observatory (ESO)?

Em Fevereiro, como relata a agência Estadão, o Ministro da Ciência e Tecnologia do governo Lula, Sergio Rezende, enviou uma carta ao ESO dizendo que o Brasil estava profundamente interessado em juntar-se ao grupo, que inclui 14 Países da Europa.

Pormenor: entrar na organização custa a módica quantia de 1,24 bilhões de Reais ao longo dos próximos 20 anos.

Diz João Steiner, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo:

É um absurdo, uma irresponsabilidade […] Parece-me inconcebível concordar que um país ainda em desenvolvimento pague essa quantia de dinheiro para países desenvolvidos fazerem boa ciência.

Segundo ele, o custo da participação comprometeria a continuidade de projectos nacionais importantes em curso, além de ser incompatível com a realidade orçamentária brasileira.

Responde o Ministro:

A decisão de aprofundar essa negociação vai depender da comunidade científica, desde o início ficou claro que o ministério não decidiria nada por conta própria. Se quisermos ser competitivos em astronomia precisamos estar ligados a esses grandes projectos internacionais. O Brasil pode ser mais ambicioso do que é hoje. 

Mas porque entrar na ESO? Não há uma organização mais em conta?

Há, mas a ESO é responsável pela construção e operação de vários telescópios de grande porte nos Andes chilenos.
O observatório La Silla, o de Llano de Chajnantor e o de Paranal que inclui o Very Large Telescopy: um conjunto de quatro telescópios de 8 metros de diâmetro que podem funcionar como um enorme telescópio de 32 metros.

E na semana passada, o grupo anunciou que vai construir também no Chile o European Extremely Large Telescope (ELT), o maior telescópio do mundo, com um espelho reflector de 42 metros de diâmetro
 
Ao entrar para a organização, o Brasil ganharia acesso a esses instrumentos. Hoje, o País é sócio de dois grandes telescópios no Chile, chamados Soar (de 4 metros) e Gemini (8 metros), não ligados à ESO. Steiner teme que o custo de entrar para a ESO desvie recursos e prioridades desses projectos, essenciais para a astronomia brasileira. Diz ainda que o ministro passou por cima da comunidade científica ao escrever para a ESO sem consultar os pesquisadores.

Então, é para entrar ou não?

Não sabemos qual vai ser a decisão do Governo.
O que sabemos é que o Brasil cedo ou tarde terá que sair do papel de País emergente, para sentar-se na mesa dos grandes. E sentar-se a esta mesa tem custos, que começam desde já.

Tentem lembrar um País dos grandes que não tenha uma tecnologia de ponta.
Difícil, não é? Pois não há: todos os Países que contam têm gasto fortunas em pesquisas científicas.
Porque será?

Vamos às contas.
Qual é o PIB do Brasil? 3 triliões de Reais, correcto?
Quanto custaria entrar na ESO? 1,24 bilhões em 20 anos?

Isso dá 62 milhões de Reais por ano. A sétima parte de quanto o Estado de São Paulo arrecadou em 2009 com as multas de trânsito. Uma sétima parte.

Ninguém se queixa no Brasil pelo facto de São Paulo ter “aspirado” dos bolsos dos contribuintes 473 milhões de Reais?

Mas estamos prontos para uma revolução se o governo quer entrar numa organização científica que significará prestigio para o País todo à nível internacional? E que pode ser a chave de acesso para novas tecnologias ou parcerias com os Países mais avançados tecnologicamente?

Parafraseando uma frase de Fernando Pessoa: Nada vale a pena quando a Alma é pequena.

O Brasil tem que escolher: crescer ou ficar para sempre uma bonita promessa.

Ipse dixit.

Fontes: Estadão, ESO, Notícias Automotivas

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