No passado dia 23 de Março, Redouane Lakdim, um francês-marroquino de 25 anos, disparou contra
os dois ocupantes de um carro em Carcassonne, na região de Languedoc-Roussillon (França), matando o passageiro.
A seguir abriu o fogo contra quatro policiais, ferindo gravemente um deles. Lakdim foi de carro até a aldeia de Trèbes, onde entrou num supermercado da cadeia Super U, matando dois civis, ferindo outros e levando pelo menos um refém. Depois do óbvio “Allah Akbar!”, exigiu a libertação de Salah Abdeslam, o único suspeito sobrevivente dos ataques de Novembro de 2015 em Paris.
Um oficial da Gendarmaria, o tenente-coronel Arnaud Beltrame, ofereceu-se para trocar de lugar com um refém. Depois de um impasse de três horas, Lakdim matou Beltrame enquanto uma unidade tática da policia invadia o prédio. Lakdim foi abatido. No total: cinco mortos e quinze feridos.
Redouane Lakdim |
Nascido em Marrocos, apresenta-se em França da melhor das maneiras: preso por violência em 2010, por posse de armas em 2011, por desrespeito a um agente em 2014.
Sempre
em 2014, Reduane é classificado como “S” (radicalizado) pela Direction générale de la sécurité extérieureos, a agência de inteligência e contra-espionagem que opera sob o controle do Ministério da Defesa. De facto, tanto uma tia quanto um sobrinho dele tinham denunciado o simpático Reduane por este desejar juntar-se ao Isis e estar em contacto com ambientes terroristas.
Um indivíduo assim é uma riqueza, portanto não apenas não é enviado de volta a pontapé para os Marrocos, como até ganha a cidadania francesa em 2015, quando já é classificado como “S” há um ano.
Reduane aprecia e demonstra o seu agradecimento: é preso em 2016 por drogas e em 2017 por posse de armas (reincidente, óbvio). Até alcançar o ponto alto da sua carreira em 2018, com o sequestro no supermercado Super U de Carcassonne.
Quem lhe deu a cidadania? O Prefeito da região Languedoc-Roussillon, Pierre de Bousquet. Um guardião da ordem com um faro excepcional, disso não há dúvida. Desde 2002 chefia a Direction de la surveillance du territoire, secção antiterrorismo da Polícia, mas o próprio Presidente Macron e o Primeiro Ministro Manuel Valls decidem promove-lo antes Conselheiro do Governo (2015) e a seguir Coordenador de Inteligência para a Luta Anti-Terrorista (2017). Com um antiterrorismo assim, os cidadãos franceses podem dormir descansados.
Os resultado não defraudam as expectativas: bem 19 das pessoas classificadas como “S” passam para a ação. Lembramos Mohammed Merah (sete mortos no sul da França), os irmãos Kouachi (aqueles que deixaram o bilhete de identidade do carro em fuga após Charlie Hebdo), Ayub El Kazzani (ataque ao comboio Thalys), Sarah Hervuet e Inés Madani (um carro cheio de explosivo na frente de Notre-Dame). Até a namorada de Reduane é muito activa nas redes sociais como propagandista da Guerra Santa. Também ela é “S”. Será que a “S” não é muito eficaz na prevenção dos ataques islâmicos? É que na França os “S” são cerca de vinte mil…
Arnaud Beltrame |
Uma coisa curiosa que diz respeito a Arnaud Beltrame, o oficial da Gendarmaria que deu a vida para salvar um refém. Segundo padre Jean-Bapiste, cônego de Lagrasse que lhe subministra a extrema unção e que o casa com a namorada in extremis, Arnaud era católico:
Ele viveu uma conversão real desde 2008, quando tinha cerca de 33 anos de idade. Recebeu a primeira comunhão e a confirmação após dois anos de catequese, em 2010.
O mesmo padre pede à Igreja para reconhecê-lo como um “herói da caridade cristã”. Mas aqui há um problema, pois também a loja maçónica Grande Loge de France presta homenagem a Arnaud:
Ao Irmão Arnaud Beltrame, membro da respeitável Loja Jerome Bonaparte ao Leste de Rueil-Nanterre.
Assinado: Philippe Charuel, Grande Maître de la Grande Loge de France.
E a revista L’Opinione, publicação do Partido Radical italiano mas também órgão oficial da Maçonaria, confirma:
Assim morre um herói mação. […] O tenente coronel Arnaud Beltrame, […] era um expoente da maçonaria francesa.
Um mação fervoroso católico? Muito estranho.
Mas nós continuamos com as coisas curiosas.
Na pequena aldeia de Trèbes, onde ocorreu o massacre no supermercado Super U, o Presidente da Câmara é Eric Menassi, por acaso amigo pessoal de Manuel Valls, o ex-Primeiro-Ministro francês.
Manuel Valls, em 1988, é introduzido na Maçonaria por Jean-Pierre Antebi, membro do Conselho da Ordem do Grande Oriente da França, co-fundador da loja Ni maîtres ni dieux. Em 1989, Valls torna-se membro do Ordre du Grand Orient de France, participando regularmente nas actividades da loja. Em 1995, junta-se à loja L’Infini maçonnique. É o mesmo Valls que, enquanto Primeiro Ministro, assina a nomeação da “raposa” Pierre de Bousquet qual conselheiro do governo francês.
A quem pertence o supermercado Super U de Trébes, na região de Languedoc-Roussillon, teatro do sequestro operado por Redouane Lakdi? À Samia Menassi, esposa de Eric Menassi, amigo pessoal de Manuel Valls. O mesmo Valls que nomeou Pierre de Bousquet, então Prefeito da região de Languedoc-Roussillon, conselheiro do Governo francês e agora chefe do antiterrorismo.
A França é um lugar muito pequeno.
Acabou? Quase, porque falta algo, falta sempre algo, como a cereja no topo do bolo… o que pode ser? Ahhhh, cá está: que tal o simulacro dum ataque terrorista?
No passado mês de Dezembro, no dia 14, houve uma simulação em Carcassonne, um cenário no qual gendarmaria, bombeiros e Prefeitura enfrentaram um assassinato em massa. Que, obviamente, ocorreu num supermercado (na simulação: o antigo prédio da EDF, a empresa eléctrica francesa).
Mas por qual razão um supermercado? Responde ao diário La Depeche um oficial da Gendarmaria:
Queremos estar mais perto das condições reais.
Quem era este oficial? Era o tenente-coronel Arnaud Beltrame, o mesmo que poucas semanas depois morreu no ataque ao supermercado Super U.
Eis o vídeo do simulacro:
Ipse dixit.
Fontes: Blondet & Friends, Legifrance, L’Opinione, Le Parisien, Le Monde, La Depeche, L’Independant
"Um mação fervoroso católico? Muito estranho." Assim vc me assusta! Para integrar a maçonaria o que é exigido não é ser desta ou daquela religião, mas a disposição do potencial candidato a jurar fidelidade aos propósitos maiores da organização. A maçonaria especulativa sempre conviveu com religiões. O único a enfrentá-la foi Hitler.
eheheheh… até 1983 havia a excomunhão para os católicos que aderissem à Maçonaria! Vade retro Satana!
Sim, e desde quando que os maçons estão preocupados com isso? hehehe
Percebo a história dos 'S' enquanto elementos uteis para uma estratégia do tipo 'Estratégia da Tensão' da Nato, mas fiquei sem perceber como é que o Beltrame encaixa nesta história.