Oriente Médio: massacres aceitáveis e não aceitáveis

Horror, condenação, vergonha, dor.
Isso e muito mais após de alguns voluntários terem encontrado os corpos dos três jovens israelitas, alegadamente mortos por mão palestiniana.

Os corpos foram encontrados ontem à tarde, 30 de Junho, num campo perto Halhoul, não muito longe de onde tinham desaparecido no passado 12 de Junho, perto do assentamento ilegal de Gush Etzion.

Os três foram já identificados: Naftali Frankel, 16 anos; Gilad Shaer, 16 anos; Eyal Yifrah, 19 anos.

A morte de qualquer ser humano deve despertar tristeza. E a morte violenta deve causar horror. A morte de todos. Não deveria haver humanos de série A e humanas de série B.
Mas há.

Mortos de séries diferentes

Há mortes que fazem encher as páginas dos jornais, títulos cubitais; depois há as mortes que passam despercebidas, porque têm como alvo os palestinianos ou seres humanos da Ásia, da África ou da América Latina. Pessoas que não dominam outros povos, que não têm alianças poderosas, que não se prostram perante os media ocidentais.

Três adolescentes israelitas encontrados mortos (e ainda não é certo por mão de quem, apesar israel já ter culpado Hamas) e o Papa fala de “notícia terrível e dramática”, de “massacre inaceitável”.

Hoje israel atingiu a Palestina, como forma de retaliação: morreu um jovem de 18 anos, outros dois adolescentes árabes tinham sido mortos no passado dia 20 deste mês. Alguém ouviu o Papa? Foram estes “massacres aceitáveis”?

As crianças palestinianas são dilaceradas pelas bombas israelitas; são torturadas, ficam inválidos; morrem nos postos de controle, morrem nas casas delas. Mas os nossos meios de comunicação justificam tudo: a luta contra o terrorismo palestiniano, israel tem o direito de defender-se, etc.

O vice-ministro da defesa, Danny Danon, também confirmou a descoberta dos corpos, dizendo que foram assassinados por terroristas de Hamas”, e invocou uma campanha abrangente para “erradicar o movimento islâmico”.

Não foram suficientes de três semanas de violência contra a população, não foram suficientes os bombardeios da Cisjordânia e de Gaza. Outros ataques, mais mortos, mais “massacres aceitáveis”; mais “direito de defender-se”.

Nós podemos observar como israel está a defender-se.
O seguinte vídeo contém cenas perturbadoras: a morte de dois adolescentes palestinianos na prisão de Beitunia, no passado dia 14 de Maio de 2014. Naddem Nawara de 17 anos, atingido ao coração; Mohammad Odeh, de 15 anos, também atingido ao coração. Mortes premeditadas, executadas por atiradores.

 ATENÇÂO: o seguinte vídeo contém imagens perturbadoras
É desaconselhada a visão por parte de pessoas sensíveis



Ninguém falou disso, o Papa nada disse, os governos ocidentais também.
O silêncio é a resposta perante as mortes dos seres humanos de série B, cometidas por um Estado fascista apoiado pelo Ocidente.

A oposição interna israelita não tem voz, sufocada pelo trabalho meticuloso e sem paragem dos media de regime. Os israelitas são vítimas, tal como os homólogos palestinianos: presos num Estado de polícia, militarizado, rodeados por muros, pelo ódio, impossibilitados a entender.

Tudo isso faz sentido?
Infelizmente sim, faz.

O barril de pólvora

A realidade fala dum Oriente Médio que fica em chamas e arrisca tornar-se um inferno pior daquilo que já e. E, talvez pela primeira vez em décadas, pode acontecer o irreparável​​. No passado, um foco de tensão, um conflito funcionava como “amortecedor” para as outras crises na área.

Agora não. A partir deste momento, não há um País do Oriente Médio que possa ser considerado
imune ao contágio da violência. É só consultar um atlas. A execução dos três adolescentes judeus pode causar um colapso real.

É óbvio que o rapto e os assassinatos foram cometidos não apenas pelos inimigos da paz, mas por alguém que queria atingir o acordo inter-palestiniano entre o Autoridade Nacional Palestiniana e os fundamentalistas do Hamas. Uma provocação de israel? Uma manobra das franjas mais radicais de Hamas?

É provável que esta nova tragédia esteja ligada ao desafio brutal que a “nova” Al-Qaeda traz para o Oriente Médio todo. Algo que a mesma Al Qaeda, aquela da “velha guarda,” não reconhece, considerando-a “muito feroz e desumana” (!!!).

Síria, Líbano, Palestina, Iraque, Jordânia, Egipto. Ao lado: Líbia, Iemen, Bahrein, os direitos atropelados no Oman e na Arábia Saudita. É um barril de pólvora, no qual alguém consegue ver uma ocasião.

Em Baghdad o Estado Islâmico do Iraque e do Levante (ISIS) anunciou a criação oficial dum califado. Luz verde para uma intervenção “humanitária” americana, Baghdad não pode cair (acabou de receber várias toneladas de ouro. Sem esquecer o petróleo…) .

E tudo isso favorece a direita israelita também, que apoia e influencia o governo de Benjamin Netanyahu: com o risco de entrar num esquema desenhado pelos extremistas de ambos os lados.

Mas quem manipula os extremistas?
Três perguntas:

  1. quem armou Al-Qaeda? 
  2. quem armou os terroristas do ISIS?
  3. quem apoia israel?

O Leitor é que pode responder.

Ipse dixit.

Fontes: Ansa, Giornale di Puglia, La Repubblica, The Guardian

7 Replies to “Oriente Médio: massacres aceitáveis e não aceitáveis”

  1. Excelente texto!!!

    Um contraponto ao texto que li em outro blog, que incita que o que está acontecendo é por causa da Russia, e que o remédio seria o USA.
    A verdade está ai para quem quiser ler e entender e abrir a mente e enxergar.

    Abraços

  2. Olá Max: sem nenhuma alusão a teorias conspiracionistas, percebe que fomos preparados meticulosamente para aceitar e validar a violência com "o outro", que sempre vem com o argumento de estarmos nos defendendo e à "sagrada democracia e direitos humanos", que nada mais são que efeitos de discurso, são construções de sentido que não existem na prática.Apenas um exemplo: ontem enquanto percorria a internet, um amigo me convidou para vermos um "bom" filme -Códigos de Guerra. Bom diretor, cenários bem feitos e Nicolas Cage vivendo o mariner bom, atormentado por, seguindo ordens, ter levado a morte seus subordinados nas lutas contra os japoneses no Pacífico, por ocasião da segunda guerra. Entra em cena um índio Navarro, protegido pelo nosso bom fusileiro yanque, cuja função seria transferir informação em código na sua língua, inacessível aos japas, e garantir a vitória aos aliados, tudo isso regado com muito sangue e cenas violentássimas em campo de batalha. Mensagem aparente: a bonita, confiante e patriótica postura dos navajos, responsáveis por transferir dados jamais decifrados pelos "inimigos". Já isso um absurdo porque a pátria dos Navajos nunca foi os EUA, e o conceito de patriotismo para os índios é vazio de sentido, pois não há países em sua organização social, mas sim nações que é outra coisa muito diferente. Mas a principal mensagem é a subjacente: qualquer coisa é justificada pelo cumprimento de ordens, ou seja, justifica-se plenamente a infantilização de adultos e isso é digno de honrarias; o "inimigo" pode ser alvo de toda e qualquer violência porque o lado onde estou é naturalmente bom e justo, e isso sempre e de forma absoluta; mantem-se a idéia que ir para a guerra é um ato voluntário, de patriotismo e sacrifício pelo seu país, esquecendo-se totalmente que os envolvidos diretamente em combate pertencem a um corpo de "trabalhadores terceirizados" direta ou indiretamente, e que patriotismo foi e continua sendo a última justificativa dos canalhas. Milhares e milhares de "bons " filmes como este são vistos e suas mensagens subjacentes assimiladas por milhões pelo mundo a fora desde muito tempo. Não existe melhor escola do que esta para os cérebros de segunda e terceira categoria que pupulam por todo lado. Abraços

  3. Então hoje pela manhã no Jornal da Globo "Bom dia BraZil" eu ouço isso : … que Israel efetuou ataques a Palestina por VINGANÇA pela morte de 3 adolescentes . . . , o termo vingança me sugeriu algo bem de acordo com a religião deles.

  4. O princípio dos princípios foi concebido por patriarcas hebreus, consta na Torá, a primeira propaganda com repercussão mundial, que consiste num compêndio originário de uma seleção de escrituras sagradas, onde, cuidadosamente, foi alardeado a supremacia dos próprios hebreus como escolhidos por Deus, restando aos demais não hebreus, a simples tarefa de segui-los. Eis os dois níveis citados…

    1. Se fossem realmente os escolhidos por Deus, Ele não os levaria para a palestina, a não ser para um bom castigo pois há tantos lugares melhores no mundo (inclusive a árabia que fica para o outro lado e cheia de petróleo).
      Alá é Misericordioso.

  5. Estranho que tudo isso aconteça logo depois da autoridade palestina e o Hamas anunciarem um acordo, algo que Israel não quer que aconteça.
    Estranho que mesmo sem iniciar as investigações (se e que teve alguma) o governo sionista já acusava o Hamas e a autoridade palestina por ter se aliado a eles.
    Não duvido em nada que tudo isso foi forjado para criar um clima de comoção e desejo de vingança entres os israelenses. Judeu$ são especialistas nisso.

    Em Tempo, lembre-se disso quando for acusado de “antissemita” em uma discursão contra um judeu.

    "Odiar os árabes não é racismo, é uma questão de valores!"

    Link.: http://operamundi.uol.com.br/conteudo/noticias/35898/israelenses+postam+selfies+na+web+para+incentivar+vinganca+apos+assassinato+de+jovens.shtml

Obrigado por participar na discussão!

This site uses User Verification plugin to reduce spam. See how your comment data is processed.

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.

%d bloggers like this: