O futuro: um microchip, Henrique e um macaco

E continuemos na senda do futuro com uma notícia dos Estados Unidos.

Não é o primeiro boato acerca dum microchip implantando no corpo dum ser humano, mas este tem “pé para andar”: faz lembrar a história de Robocop, o filme recentemente lançado nos cinemas que conta a história dum policial de Detroit severamente mutilado em serviço e submetido a um implante digital no cérebro e em outras partes do corpo. Só que aqui não de policias falamos mas de soldados.

O Pentágono está a tentar desenvolver um sistema semelhante para a implementação nos cérebros de seres humanos, em particular a dos soldados americanos. O projecto, chamado Restoring Active Memory (“Restaurar a Memória Activa”, RAM. Pelo menos o nome é simpático), tem um duplo propósito.

  • o primeiro é gravar as memórias dos soldados, um pouco como a caixa preta dos aviões, de modo que perante danos cerebrais com perda de memória seja possível recuperar e, se necessário, reinstalar a memória.
  • o segundo é fornecer a capacidade de estimular o lado direito do cérebro durante o treino ou durante as missões, de modo a melhorar as capacidades tácticas dos soldados, adquirir novas informações de forma rápida e reduzir significativamente o tempo de reacção.

Claro , estas são apenas duas aplicações básicas, como um implante cerebral do género: as possibilidades são muitas !

O Pentágono encomendou o desenvolvimento do projecto à Defense Advanced Research Project Agency (“Agência de Projetos de Pesquisa Avançados de Defesa”, DARPA), o ramo científico e tecnológico do Exército dos EUA.

De momento, as informações disponíveis ainda são limitadas, mas sabe-se que alguns progressos significativos foram alcançados com aparelhos de estimulação cerebral, como aquele desenvolvido pela Medtronic (empresa Fortune 500, ver nota abaixo) para ajudar as pessoas que sofrem de doença de Parkinson.

A ideia é adaptar o dispositivo para que este possa analisar e descodificar os sinais neurológicos e descobrir como é armazenada a memória, aprendendo também a reprogramar um cérebro que sofreu uma perda de memória.

A DARPA também aceita colaborações externos, de instituições universitárias por exemplo, que devem fornecer a descrição em detalhes do funcionamento do sistema, a descrição do procedimento cirúrgico para a sua instalação, o tipo de fonte de alimentação, o espaço requerido e o peso do dispositivo.

É o caso da Universidade do Utah, cujo microchip  tem como objectivo principal enviar sinais a partir
de uma fonte externa directamente para o cérebro: basicamente, criar uma porta de entrada, tal como aquelas utilizadas nos computadores, para o cérebro. Todavia, como os especialistas explicam, o chip final definido como RAM será muito mais complexo, apesar de partilhar o conceito básico.

É o caso de preocupar-se? Nem por isso: tudo é feito para o nosso bem, como sempre. Universidades, empresas privadas e militares realçam acima de tudo as possibilidades médicas destas instalações: tratar perdas de memória, corrigir danos cerebrais e pôr em funcionamento membros compromissos.

Mas nada disso é realmente novidade.
Já no Verão de 2004, surgiu a notícia do cientista britânico Kevin Warwick, professor de cibernética da Universidade de Reading (Inglaterra) que experimentou no seu corpo (e desde 1998) o efeito dos microchip, atirando para a Web os seus pensamentos.

Em 2002, Warwick, com uma centena de microelectrodos implantados nas terminações nervosas do braço, fez viajar o seu sistema nervoso na Internet, conseguindo comunicar com a esposa dele e manobrando uma máquina.

Mais tarde chegou o professor Frank Guenther, chefe do Cognitive and Neuronal Systems (Sistemas Cognitivos e Neuronais) da Universidade de Boston, o qual pensou: “Quais eléctrodos, quais fios? Abre-se o cérebro e implanta-se o chip, ora essa!”. E não é que fez isso mesmo?

Guenther abriu o cérebro de um homem e implementou um sofisticado microchip. O dispositivo foi utilizado para converter em linguagem os pensamentos do voluntário  que era incapaz de falar depois de um terrível acidente.

Este tipo de eléctrodo é colocado sob o crânio, perto da área do córtex cerebral dedicada à linguagem.

O dispositivo revela os impulsos do cérebro e transfere-os via rádio para um microcomputador externo que transforma o sinal em síntese vocal. Resultado: o paciente que não podia falar agora fala e em tempos muito razoáveis até. Tempo entre a transmissão dos impulsos e a emissão da voz: 50 milissegundos.

Todavia o problema é de fundo, isso é, deve haver um pensamento que active o microchip.
Por exemplo, imaginemos de implementar um tal dispositivo no cérebro dum Leitor cujo nome é Henrique:
“Pronto Henrique, agora podes falar”
“…”
“O que falta? Esqueci-me de carregar no ON? Não, está tudo…Fala Henrique, fala comigo”
“…”
“Ó Henrique, diz algo, pensa em alguma coisa!”
“…medo…”
“Pronto, não dá…assistente, traga de volta o macaco que dá mais satisfações…”.

Quantos Henriques haverá no planeta?
Pois, são os riscos da pesquisa científica.

Mas a dita pesquisa continua e não apenas entre as universidades e os militares.
Eis, por exemplo, o último vídeo promocional da empresa Intel (empresa Fortune 500). No meio das muitas aplicações wearable (que podem ser “vestidas”), há também alguns fotogramas (muitos rápidos em verdade, desfrutando uma técnica bem conhecida) que apresentam implantes internos ao corpo.  

O vídeo é só em idioma inglês mas o Leitor que não entender a língua de Shakespeare não perde grande coisa: é um vídeo promocional, nada mais.

Nota: Global Fortune 500 é uma classificação das 500 maiores corporações em todo o mundo

Ipse dixit.

Fontes: Universidade de Reading, Universidade do Utah: Jonesblog, Extreme Tech, Geek, Il Navigatore Curioso

One Reply to “O futuro: um microchip, Henrique e um macaco”

  1. E os escravos, ou melhor soldados, vão entrar nessa "de cabeça".
    O que eu gravo no meu pc pode também ser apagado, gravado outra coisa. . .
    infinitas possibilidades, trasformando um jovem em um robô biológico capaz de ir em uma missão, matar Bim Ladem por exemplo e ter na memória que saiu em férias no Caribe ou mesmo o contrário se o Bim Ladem não existir.

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