O diário inglês The Guardian já em 2002 publicou confirmações acerca das notícias que viam a
colaboração entre os Estados Unidos e os independentistas muçulmanos da Bósnia.
Com base em muitas provas, encontradas tanto na Bósnia quanto no estrangeiro, delineou-se um quadro de estreita e secreta colaboração entre Washington e movimentos fundamentalistas islâmicos ao redor do mundo. Nesta óptica, as forças americanas começaram nos primeiros anos da década de ’90 a ajudar os muçulmanos bósnios para combater os sérvios.
Em particular, a atenção dos jornalistas britânicos focalizou-se num relatório holandês, o Srebrenica Report, definido como “um dos relatórios mais sensacionais sobre a intelligence ocidental já publicados”, segundo as palavras de Richard J. Aldrich, professor de política na Universidade de Nottingham.
O inquérito holandês, que provocou as demissões do governo de Haia, contém uma inteira secção dedicada às actividades clandestinas durante a guerra na Bósnia.
Durante cinco anos, o Professor Cees Wiebes da Universidade de Amsterdam teve livre acesso aos arquivos secretos da Holanda e tem viajado pelos corredores da sede dos serviços secretos nas capitais ocidentais, bem como na Bósnia, para investigar. Os resultados foram apresentados no Intelligence and the war in Bosnia 1992 – 1995: The role of the intelligence and security services (“Intelligence e a guerra na Bósnia 1992 – 1995: O papel dos serviços secretos e dos serviços de segurança”).
Este inclui material notável acerca de operações secretas, interceptações, agentes duplos e envolvimento de dezenas de agências numa das mais sujas guerras da nova desordem mundial.
O resumo é a história completa da aliança secreta entre o Pentágono e grupos islâmicos radicais no Oriente Médio, destinados a auxiliar os muçulmanos bósnios. Alguns dos mesmos grupos que o Pentágono estive mais tarde a combater na “guerra contra o terrorismo”.
Em 1980, os Serviços Secretos de Washington apoiaram Saddam Hussein na guerra contra o Irão.
Depois, em 1990, os EUA combateram contra Saddam na Guerra do Golfo. Tanto no Afeganistão quanto no Golfo, o Pentágono tinha acumulado “dívidas” com os grupos islâmicos e os patrocinadores destes.
Em 1993, apoiados pelo Irão e pela Arábia Saudita, estes grupos estavam ansiosos para ajudar os muçulmanos da Bósnia na guerra civil da ex-Jugoslávia e decidiram “cobrar” as dívidas dos americanos. Bill Clinton e o Pentágono, que queriam passar a imagem dum País digno de crédito, reembolsaram os muçulmanos com uma operação em flagrante violação das directivas do Conselho de Segurança das Nações Unidas.
O resultado foi um canal secreto de contrabando de armas através da Croácia, organizado pelas agências clandestinas dos EUA, da Turquia e do Irão, juntamente com uma série de grupos islâmicos radicais, incluindo os Mujahedin do Afeganistão.
As armas compradas pelo Irão e pela Turquia, com o apoio financeiro da Arábia Saudita, faziam a viagem de noite, a partir do Oriente Médio. Inicialmente, foram usados aviões da Iran Air, mas a quantidade aumentou e houve o suporte duma misteriosa frota de aviões C – 130 Hercules negros. O relatório assinala que os Estados Unidos estavam “muito intimamente envolvidos” na operação aerotransportada. Combatentes mujahedin foram deslocados com este sistema para depois serem utilizados como tropas de choque nas operações especialmente perigosas.
Mais do que a CIA, era o próprio serviço secreto do Pentágono que constituiu a força oculta por trás destas operações. A Força de Protecção das Nações Unidas (United Nations Protection Force, UNPROFOR), os Capacetes Azuis, era dependente da intelligence das Nações que a formavam na supervisão do embargo das armas, em particular nos aspectos relativos à sofisticada monitorização dos Estados Unidos; isso deu ao Pentágono a capacidade de manipular o embargo à vontade, garantir que os aviões americanos AWACS fizessem a cobertura em áreas cruciais durante o dia enquanto a noite não eram visto o tráfego de e para Tuzla.
Quando estes voos secretos de fornecimento foram notados, Washington pressionou a UNPROFOR
para que o relatório fosse reescrito e quando as autoridades norueguesas protestaram, foram ameaçadas.
Entretanto, campos de treino para veteranos iranianos e afegãos foram identificados na Bósnia: com os Acordos de
Dayton, de Novembro de 1995, as forças estrangeiras foram retiradas e esta foi uma tentativa para limpar a Bósnia destes campos também. De repente, os principais inimigos dos serviços secretos americanos tornaram-se os combatentes mujahedin que não queriam abandonar o País: eram os mesmos que o
Pentágono tinha ajudado com o fornecimentos ilegais de armas ao longo dos meses anteriores.
É interessante também realçar como a Jugoslávia tinha-se tornado um campo de batalha no qual operavam Países aliados, mas em lados contrário. Os serviços secretos da Ucrânia, da Grécia e de israel estavam ocupados a armar
os sérvios. O Mossad foi especialmente activo e concluiu um acordo
com os sérvios da Bósnia que envolvia o fornecimento de
projécteis de artilharia e morteiros. Em troca, os sérvios garantiam a evacuação segura da população judaica para fora da cidade sitiada de Sarajevo.
Ipse dixit.
Relacionado: Srebrenica: os dois lados da verdade – Parte I
Fontes: Rinascita, The Guardian, NIOD Institute for War, Holocaust and Genocide Studies: Srebrenica Report