Não é que as pessoas assim divirtam-se a prever desgraças.
Mas quando ligo a televisão (mea culpa) e:
- vejo o primeiro ministro de Portugal a dizer que tudo vai bem;
- oiço o governador do Banco Central Europeu afirmar que a crise do Euro acabou;
- não vejo Barack Obama (a propósito: foi para onde o homem?) com um ar minimamente preocupado;
- observo os participantes do Fórum Económico de Davos discutir acerca do sexo dos anjos;
bom, quando isso acontece tenho a sensação de viver num outro planeta. Definitivamente, o mundo destas pessoas não é o meu.
O Leitor faz ideia do que se passa na Argentina? Na Venezuela? Sabe da quase “guerra civil” da Ucrânia? Da bolsa da Turquia? Da guerra no sul da Líbia? Das armas químicas da Síria que querem afundar no Mediterrâneo (esta é genial)?
Este vai ser um ano importante. Tal como o passado foi e o próximo será também. Estamos numa fase de transição, temos um mundo em pedaços dum lado e muitas dúvidas do outro. Dizer que “tudo vai bem” não apenas não é verdade, mas não ajuda as pessoas.
Tudo vai bem?
Argentina
Violência e caos económico estão presentes neste momento na Argentina. Imprimir dinheiro é uma cura (sempre defendi isso), mas é precisa atenção para não provocar uma overdose. Porque depois a inflação dispara, começam os saques, as pessoas ficam enfurecidas. E começam também os pensamentos do tipo “estava-se melhor quando estávamos pior”. Passo seguinte: eleições ganhas pela Direita e Argentina na órbita dos Estados Unidos outra vez.
Venezuela
Escassez generalizada de bens, saques e inflação estão a causar grandes problemas na Venezuela.
Sim, os EUA, outra vez, sabemos disso. Podemos concluir que é toda culpa de Washington, amaldiçoar os americanos a ir beber um cafezito. Ou podemos fazer um discurso mais sério e dizer que este é outro caso de má gestão económica.
Em vez de chorar na tumba de Chavez, Maduro poderia ler algo, tipo “Gestão económica para totós” e os venezuelanos agradeceriam. Porque a realidade é que as exportações de petróleo baixam, a inflação aumenta, faltam bens de consumo básico. E quando és obrigado a fazer sair os militares para as ruas, é sinal que algo corre mal (e o governo venezuelano anuncia a desvalorização do Bolívar em mais de 40 %?).
Brasil
A Bolsa de Valores brasileira sofreu uma queda drástica na passada Quinta-feira. É um sinal importante. Há a preocupação que a crise económica da Argentina possa espalhar-se no Brasil também, mas não é apenas isso.
Ucrânia
A Ucrânia está rapidamente a entrar no caos. A “Primavera Ucraniana” funciona e começa a dar os primeiros frutos. Há pessoas que morrem. E morrem sem perceber de estar no meio dum jogo bem maior do que a mesma Ucrânia.
China
Uma corrida bancária na China? Assim parece.
Muitas pessoas, na maior parte dos casos de cooperativas agrícolas, foram aos bancos para retirar dinheiro que tinha sido depositado em fundos de investimento. Só que o dinheiro lá não estava.
O problema é o mercado do crédito, uma bolha de 23.000 biliões de Dólares. Será interessante observar como Pequim irá gerir isso. Entretanto, o sector manufactureiro da China começou a contrair-se.
Os Títulos de Estado do Japão sofreram a maior queda dos últimos 7 meses. Ao mesmo tempo, o valor da Lira turca está me queda livre.
Taxas de desemprego
- na França em aumento há 9 trimestres consecutivos (e em 2013 atingiu o máximo dos últimos 16 anos)
- na Itália, subiu para o nível histórico de 12,7% .
- na Espanha subiu para nível recorde de 26,7%
Baltic Dry Index
Este ano, durante as duas semanas seguintes ao período das festividades, o Baltic Dry Index diminuiu como nunca tinha feito antes. O que é o Baltic Dry Index? É um indicador muito importante, pois mostra qual a velocidade média dos
navios comerciais: se o BDI está em alta, significa que há uma saudável
troca de mercadoria em curso. O Baltic Dry Index antecipa (embora com
características diferentes) a situação da economia ao longo dos próximos meses.
Despedimentos
A Intel, líder na produção de chips para computador, anunciou a eliminação de 5.000 postos de trabalho durante este ano. 5.000 lugares de trabalho: não são poucos. E podemos acrescentar E significa que algo não corre como planeado. E podemos acrescentar a Sears [uma das marcas mais antigas no varejo
nos EUA, ndt], que em Abril vai fechar a sua loja principal, no centro de Chicago, após os 300 fechos já operados no resto do País.
O mesmo se passa com as cadeias J.C. Penney e Macy. E a
Target Corporation [outra grande cadeia de varejo, ndt] já anunciou que
vai eliminar 475 postos de trabalho, inclusive na sede
em Minnesota, e que não irá contratar pessoal para os 700 postos de trabalho
que não estão ocupados.
A CNBC anunciou que os lojistas norte-americanos têm experimentado “as
piores festividades [para fins comerciais, óbvio, ndt] desde 2008.
Estados Unidos
O Congresso dos EUA terá que aumentar outra vez o ” tecto da dívida “, no próximo mês de Fevereiro. Quanto poderá continuar ainda o joguinho?
Entretanto, o índice Dow Jones caiu mais de 170 pontos na passada Quinta-feira. E havia quem até poucos dias atrás falasse em “o pico do mercado”…
Seria possível continuar. Com a Líbia, por exemplo, da qual iremos falar nos próximos dias, pois a situação é muito confusa e merece mais espaço (uma palavra para sintetizar: guerra). Depois há a Síria. Pois, a Síria…
Mas ficamos por aqui com as notícias de carácter económico.
Ainda há alguém lá fora que querem argumentar que “tudo está a ir bem”?
Infelizmente, a maioria das pessoas não tem o menor conhecimento de todas essas coisas. Há sinais de uma tempestade económica, e o cidadão médio nem sequer é informado das primeiras nuvens que estão a
reunir-se no horizonte.
Então sim, tudo vai bem.
Ipse dixit.
Fontes: Bloomberg News (1, 2), Zero Hedge (1, 2, 3, 4, 5), The Wall Street Journal,CNBC (1, 2), CNN Money (1, 2), Business Insider, UPI, China CNR, USA Today, The Economic Collpase
Pois cá no Brazil irá tudo bem a qualquer custo, tem eleições o os mais pobres sempre podem trocar(vender) o voto ganhando um emprego de "segurador de placa" e tem copa do mundo o que afasta qualquer possibilidade de aparecer outra notícia que não seja sobre futebol, do resto ninguém saberá até 2015.
Max,
esqueceu de citar o México.
Essa "história" da Venezuela está mal contada. Parece que são as próprias empresas que não querem distribuir os seus produtos, não a falta dos mesmos= tentativa externa de desestabilização. A Argentina ainda tem dividas por saldar, criadas pelos tipos de direita que levaram à bancarrota à uns 12 anos atrás. Se depois de tudo voltam ao mesmo ainda é mais desastroso. Para já fico por aqui mas a mão do uncle sam(não confundir com governo americano, é um sector privado com tanto ou mais poder) estå lá, só não ve quem não quer. Ucrânia mais uma vez dividir e desestabilizar uma nação já de si dividida. Nem vou comentar o resto (é muito…). A ideia é que o sistema está podre quando a UE e US também estão com imensas dificuldades. No entanto os sectores que realmente comandam a economia ocidental não querem maus exemplos como a Argentina ou Venezuela. Interessante em relação a Caracas não é que tem as maiores reservas de petróleo (provadas) no mundo! E que antes mais de 95% era de multinacionais que nada deixavam lá.
E para acabar não apareceu na semana passada, finalmente aquilo que muitos já afirmavam mas ninguém levava a sério: Os 85 mais ricos possuem a mesma qualidade de dinheiro que metade da população mundial 3.500 milhões de pessoas (ou 3,5 biliões). crise!? só se for de valores LOL, e é isto que querem implementar ainda mais?? desigualdades! Este sistema é uma falácia e quem entra no jogo nunca fica melhor, excepto esses 0,0001%….
Nuno-F
Olá Max.
Percebo um movimento na procura do ouro, ele sempre foi lastro de moeda, pelo menos lá no início quando o pessoal largou o escambo e partiu para essa forma de economia… devemos comprar uma graminhas de outro também? Só para garantir uma surpresinha eventual? Parece que algo está para acontecer.