Todas as guerras dos Estados Unidos – Parte I

Diz o Nobre Vítor:

Alguém tem uma lista completa das democracias depostas pelos EUA e colocando ditadores no lugar? Ex: Chile golpe de estado que colocou Pinochet em 1973 Golpe de Estado no Irão de 1953 que colocou o Xá Argélia golpe que impediu o partido FES de governar depois de ganhar as eleições. e mais recentemente Egipto 2013 golpe militar que depôs um presidente eleito.

Realça o Nobre Zarco:

A pergunta do Vítor é pertinente…e não me querendo imiscuir no teu blog, mas tu pareces-me o homem certo para com tempo elaborares um artigo com a resposta…agora que vai ser um trabalho herculeos elaborares uma lista com todas as democracias depostas pelos EUA e colocando marionetas no seu lugar, isso vai.

Um desejo dos Leitores é uma ordem para o humilde blogueiro. Aliás, vamos enfrentar um discurso um mais amplo: que tal falar um pouco acrescentar de todas as guerras nas quais os os Estados Unidos tomaram parte também?

Todas as guerras

No total as guerras “oficiais” desde a independência (ano 1775) foram 91. Feitas as contas, os Estados Unidos foram quase sempre em guerra com alguém, com poucos períodos de excepção, e precisamente:
  • entre 1806 e 1809
  • em 1816
  • entre 1829 e 1832
  • entre 1843 e 1844
  • entre 1934 e 1940.
Estes foram as únicas alturas durante as quais os Estados Unidos conseguiram não zangar-se com alguém. Ou talvez andassem simplesmente distraídos, não sabemos. No total foram 18 anos de paz ao longo de 237 anos de história. Nada mal.

Os mortos em combate foram oficialmente 1.321.612, aos quais é preciso acrescentar 1.531.036 feridos e 38.159 desaparecidos.
Diferente o discurso relativo às operações militares no estrangeiro. Neste caso, é necessário contabilizar 280 intervenções, que aconteceram também nos já citados anos sem guerra. Uma exaustiva lista em língua portuguesa pode ser encontrada nesta página de Wikipédia, mas só até o ano 1990; uma lista mais actualizada, mas em língua inglesa, é visível nesta página, sempre de Wikipédia.
Portanto, os únicos períodos nos quais Washington conseguiu não disparar contra alguém foram:
  • entre 1829 e 1830
  • entre 1935 e 1939
Devem ter sido alturas deprimentes. E se é verdade que pudemos entender o segundo intervalo, ditado pelas dificuldades económicas da Grande Depressão, os anos de 1829 e 1830 ficam incompreensíveis.

As acções encobertas: 1917 – 1963

Mais complicado o discurso relativo às intervenções que tiveram como objectivo o abate de regimes locais. Estas operações foram muitas vezes encobertas, conduzidas pelos serviços secretos e, como é óbvio, em alguns casos faltam notícias oficiais.
Na maioria, as intervenções foram efectuadas pela Central Intelligence Agency (a CIA), cuja criação, todavia, é apenas de 1947. Antes, os serviços de intelligence dos EUA eram decentralizados: até a Segunda Guerra Mundial existiam o SIS (Signals Intelligence Service) do Exercito e o OP-20-G (Office of Chief Of Naval Operations, 20th Division of the Office of Naval Communications, G Section / Communications Security) da Marinha. Ambos faziam parte do Signal Corps, que tratava de tudo um pouco: comunicações, serviço meteorológico, aviação e também espionagem.

1917: Rússia 

Antes da guerra de 1940-1945, a primeira operação  pode ser individuada com certeza após o Outubro de 1917, na Rússia. A Revolução bolchevique, do mesmo ano, tinha sido recebida com hostilidade pelos EUA. Em 1918, o então Presidente Wilson estendeu o bloqueio marítimo da Alemanha para incluir a Rússia Soviética e começou a apoiar as facções da oposição. No mesmo ano, as potências aliadas (Reino Unido, França e Estados Unidos) iniciaram uma intervenção militar na Guerra Civil Russa. Washington enviou tropas para as cidades de Vladivostok e Archangelsk, sob o comando do William S. Graves.

1945-1989: A Guerra Fria

Os Estados Unidos apoiaram os movimentos de resistência e os dissidentes nos regimes comunistas da Europa Oriental e na União Soviética durante a Guerra Fria. O National Endowment for Democracy apoiou movimentos pró-capitalistas nos estados comunistas e foi acusado de apoiar secretamente a mudança de regime.

1949: Síria

A Síria tornou-se uma república independente em 1946, porém o golpe de Estado de Março de 1949, liderado pelo Chefe de Estado Maior do Exército Husni al-Za’im, terminou com o período inicial de governo civil. Za’im reuniu-se pelo menos seis vezes com agentes da CIA nos meses anteriores ao golpe de Estado para discutir o plano para tomar o poder. Uma vez no poder, Za’im tomou várias decisões importantes que beneficiaram os Estados Unidos: o Gasoduto Trans-Arábico (TAPLINE), um projecto americano para o transporte de petróleo da Arábia Saudita para os portos do Mediterrâneo, melhorou as relações com dois aliados americanos na região: israel e Turquia. Também reprimiu os comunistas locais.

1950: Tibete

A CIA armou uma insurreição anti-comunista para opor-se a invasão do Tibete por parte das forças chinesas. O programa teve um fracasso quase absoluto.

O Xá Reza Pahlevi

1953: Irão

Em 1953, a CIA trabalhou com o Reino Unido para derrubar o governo democraticamente eleito no Irão e liderado pelo primeiro-ministro Mohammed Mossadegh, que havia tentado nacionalizar a indústria do petróleo, ameaçando os lucros da Anglo-Persian Oil Company.


O golpe foi liderado pelo agente da CIA, Kermit Roosevelt, Jr. (neto do presidente Theodore Roosevelt) que, com a ajuda da inteligência britânica e da CIA planeou, financiou e implementou a Operação Ajax: um boicote ao País, pressões políticas, uma campanha maciça de propaganda encoberta para criar o ambiente necessário para o golpe.

A CIA contratou agentes provocadores iranianos que representavam como comunistas, perseguindo líderes religiosos e encenaram um bombardeio da casa de um clérigo para fazer a comunidade religiosa islâmica voltar-se contra o governo. Para o público ocidental a CIA fez publicar artigos em jornais (com a colaboração da Associated Press) com notícias tendenciosas.

O golpe fracassou e inicialmente o Xá fugiu do País. Após quatro dias de motins, os xiitas provocaram protestos de rua apoiados por unidades do exército pró-Xá, derrotando as forças de Mossadegh e o xá voltou ao poder.


1954: Guatemala

A CIA participou da derrubada do governo democraticamente eleito da Guatemala, liderado por Jacob Arbenz, o qual tinha-se juntado ao Partido Comunista, recebendo também armas do bloco soviético. A CIA interveio, pois temia que uma ditadura comunista fosse uma cabeça de ponte soviética no Hemisfério Ocidental, e para proteger, entre outros quatrocentos mil hectares de terras da United Fruit Company (depois United Brands Company, hoje Chiquita Brands International). Esta era uma empresa multinacional de Wall Street, protegida de perto pelo director da CIA, Allan Dulles.

1958: Indonésia

O governo de Sukarno, na Indonésia, foi confrontado com uma grave ameaça em 1956, quando vários

comandantes regionais começaram a exigir a autonomia da Ilha de Jacarta. Depois da mediação ter fracassado, Sukarno tomou medidas para remover os comandantes dissidentes. Em Fevereiro de 1958, os comandantes de Sumatra e Sulawesi declararam a intenção de derrubar o regime de Sukarno através do novo Governo Revolucionário da República da Indonésia – Permesta.

Devido à sua retórica anti-comunista, o Governo Revolucionário recebeu armas, financiamento e outras ajudas da CIA. Até o final de 1958, os rebeldes tinham sido derrotados e as últimos dissidentes renderam-se em Agosto de 1961. Para emendar o envolvimento da CIA na rebelião, o presidente Kennedy convidou Sukarno para Washington e enviou biliões de Dólares em ajuda militar e civil.

1959: Cuba 
Em 1960 teve início a Operação Northwoods, na realidade um conjunto de planos secretos elaborados pelas mais altas patentes militares dos Estados Unidos, e que visava assassinar pessoas inocentes e praticar actos de terrorismo em cidades americanas com o objectivo de enganar a opinião pública americana, conduzindo-a a apoiar uma guerra contra Cuba. Estes planos incluíam o possível assassinato de refugiados cubanos, o
afundamento de barcos de refugiados cubanos em alto mar, o sequestro de
aviões comerciais, a explosão de um navio americano e até a orquestração
de terrorismo violento em cidades norte-americanas.

Um ano depois, de acordo com as iniciativas das administrações Eisenhower e Kennedy, a CIA treinou exilados e refugiados cubanos anti-comunistas para desembarcar em Cuba na tentativa de derrubar o governo de Fidel Castro. Planos formados sob Eisenhower foram reduzidas sob Kennedy. O ponto mais alto da crise foi atingido em Abril de 1961 com a invasão da Baía dos Porcos, menos de três meses depois de John F. Kennedy ter assumido a Presidência dos Estados Unidos. A tentativa de golpe terminou num fracasso, pois as forças armadas cubanas, treinadas e equipadas pelas nações do Bloco do Leste,
derrotaram os combatentes do exílio em três dias e a maior parte dos
agressores foi capturada.

A Operação Mongoose foi o nome dado por John Kennedy, no dia 4 de Novembro de 1961, durante uma reunião do SGA – Special Group Augmented, a uma operação secreta que tinha como objectivo subverter e sabotar o governo de Cuba. Já em Setembro de 1960 Allen W. Dulles, o então diretor da CIA, entabulara negociações com Johnny Roselli e Sam Giancana, dois dos mais poderosos chefes da Máfia nos Estados Unidos, para assassinar Fidel Castro. Subsequentemente Carlos Marcello, Santos Trafficante e Meyer Lansky também se envolveram nesses planos.

Patrice Lumumba

1960: República Democrática do Congo

Em 1960, a Bélgica concedeu independência ao seu território mais valioso, o Congo Belga. O líder da luta anti-colonial mais bem sucedido, Patrice Lumumba, foi eleito primeiro primeiro-ministro do País que, após a sua independência, assumiu o nome de República Democrática do Congo.
Logo após a eleição, a CIA e o governo belga orquestraram um golpe militar para derrubar o governo de Lumumba do poder. Lumumba foi posteriormente assassinado na prisão.

1961: República Dominicana

A CIA apoiou a derrubada de Rafael Trujillo, ditador da República Dominicana, em 30 de Maio de 1961. Num relatório ao Procurador Geral Adjunto dos Estados Unidos, oficiais da CIA descreveram a agência como tendo “nenhuma parte activa” no assassinato e somente uma “conexão fraca” com os grupos que planearam o assassinato, mas uma investigação interna da CIA revelou um “envolvimento bastante extenso da agência com os conspiradores”.

1963: Iraque

Em Fevereiro de 1963, os Estados Unidos apoiaram um golpe contra o governo do Iraque, liderado pelo general Abd al-Karim Qasim, que cinco anos antes tinha deposto a monarquia iraquiana aliada do Ocidente. Os EUA estavam preocupados com a crescente influência dos comunistas no governo iraquiano, bem como as suas ameaças de invadir o Kuwait, o que quase causou uma guerra entre o Iraque e a Inglaterra.
Enquanto Qasim foi morto por um pelotão de fuzilamento do partido Baath, um documento interno da CIA afirmava que a morte do alvo não seria inaceitável, apesar de não representar o objectivo principal.
Washington logo fez amizade com o regime sucessor.

Ngo Dình Diem com Eisenhower

1963: Vietnam do Sul

A CIA apoiou um golpe de Estado contra o Presidente Ngo Dình Diem do Vietnam do Sul. Henry Cabot Lodge Jr., o embaixador americano no Vietnam do Sul, garantiu que os EUA não teriam interferido no golpe do qual havia notícia, liderado pelo general Dương Van Minh.
Lucien Conein, um agente da CIA, entregou 40.000 Dólares a um grupo de generais sul-vietnamitas rebeldes para que o golpe fosse concluído, com também a promessa de que as forças americanas não teriam feito nenhuma tentativa de proteger o Presidente Diem. Dương Van Minh e os outros conspiradores derrubaram o governo em 01 de Novembro de 1963, sendo que o Presidente Diem e o irmão dele renderam-se, aceitando a oferta de exílio.
No entanto, na mesma noite, o grupo de Diem tentaram escapar, sendo capturados no dia seguinte e assassinados.
Até aqui o ano 1963. Na próxima parte veremos quais as intervenções até os nossos dias.
Ipse dixit.

6 Replies to “Todas as guerras dos Estados Unidos – Parte I”

  1. Tudo tem seu retorno, em breve Alá ira cobrar a conta fazendo o Yellowstone explodir e devastar aquela terra de onde vem tanta maldição.

  2. A CONVERSA DO COSTUME dos nazis made-in-USA
    .
    Os 'globalization-lovers'/(anti-sobrevivência de Identidades Autóctones) são uns nazis do piorio:
    – veja-se o que os 'globalization-lovers' fizeram aos nativos norte-americanos: houve Identidades Autóctones que sofreram um Holocausto Massivo;
    – veja-se o que os 'globalization-lovers' estão a fazer no Brasil aos nativos da Amazónia;
    – etc.
    Obs 1: devemos estar preparados para A CONVERSA DO COSTUME dos nazis made-in-USA: a sobrevivência de Identidades Autóctones provoca danos à economia.
    Obs 2: mais, para os 'globalization-lovers' made-in-USA as causas suficientes para desencadear uma guerra são quase infinitas!…
    .
    .
    .
    Anexo:

    UMA ESTRATÉGIA DE SOBREVIVÊNCIA PARA PORTUGAL (nota: e outros…)
    .
    -> Uma NAÇÃO é uma comunidade duma mesma matriz racial onde existe partilha laços de sangue, com um património etno-cultural comum.
    -> Uma PÁTRIA é a realização de uma Nação num espaço.
    .
    Não-nativos já naturalizados estão com uma demografia imparável… leia-se: os 'parvinhos-à-Sérvia' – vide Kosovo – que fiquem na sua…
    Resumindo: antes que seja tarde demais, há que mobilizar aqueles nativos europeus que possuem disponibilidade emocional para abraçar um projecto de Luta pela Sobrevivência… e… SEPARATISMO-50-50!
    {uma obs: se os autóctones europeus não estiverem dotados duma Coligação Defensiva (do tipo NATO)… os nazis made-in-USA aplicarão aos autóctones europeus o mesmo 'tratamento' que foi aplicado aos autóctones norte-americanos}
    .
    .
    P.S.
    Nazismo não é o ser 'alto e louro'… mas sim a busca de pretextos com o objectivo de negar o Direito à Sobrevivência de outros!…
    Os 'globalization-lovers' nazis que andam por aí… buscam pretextos… para negar o Direito à sobrevivência das Identidades Autóctones.
    Pelo contrário, os separatistas-50-50 não têm um discurso de negação de Direito à sobrevivência de outros… mais, os separatistas-50-50 não são anti-imigração -> os separatistas-50-50 apenas reivindicam o Direito à Sobrevivência da sua Identidade!… Leia-se: os 'globalization-lovers' que fiquem na sua… desde que respeitem os Direitos dos outros… e vice-versa.

  3. Olá Max: o primeiro post foi para rir, este é para chorar, especialmente se pensarmos que este império é tido e havido como bastião da democracia e dos direitos humanos em muitos rincões deste mundo, e no entendimento de muitos. Esta é a diferença deste império para os demais: não é reconhecido pelo que faz, mas pelos discursos que inventa sobre si mesmo.Mas há uma semelhança entre os impérios, e desta os EUA fazem parte: no seu ocaso se auto destroem,e penso que estão nesse ponto, embora seu estúpido povo não seja culpado pela construção da estupidez na mentalidade da população norte americana.Abraços

  4. Os EUA, por exemplo, em todas as intervenções militares em que se meteram ao longo de um século, não mataram mais de dois milhões de inimigos, uma quota bem modesta para um país que se pretendia carimbar como a mais agressiva potência imperialista de todos os tempos.

    Perrault e sua turma, por fim, salvaram-se da encrenca mediante a decisão cínica de atribuir ao capitalismo a culpa por todas as mortes ocorridas na II Guerra Mundial (50 milhões no total, incluindo as efetuadas pelas tropas nazistas e soviéticas), na guerra civil da Rússia (6 milhões, incluindo a metade liquidada pelo governo revolucionário), na guerra do Vietnã (2 milhões, incluindo as vítimas dos vietcongues), na guerra na Argélia (um milhão e duzentas mil, incluindo as que foram mortas pelos rebeldes comunistas), na guerra civil espanhola (700 mil mortos dos dois lados) e — santa misericórdia! — no massacre de Ruanda (500 mil mortos, todos eles sacrificados pela incitação igualitarista dos “pobres” hutus contra os “ricos” tutsis).

    E assim por diante:

    http://www.olavodecarvalho.org/semana/05272002globo.htm

Obrigado por participar na discussão!

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