As armas do amanhã

As despesas militares dos Estados Unidos estão em declínio, enquanto aquelas da Rússia e da China
aumentam. Esta é a ideia repetida com frequência por alguns meios de comunicação e especialistas; e nos últimos tempos o relatório do Sipri confirmou o conceito.

Em Fevereiro, os líderes militares norte-americanos reuniram-se com o Comité Forças Armadas do Senado para discutir os cortes e soou o alarme acerca do perigoso impacto nas operações das tropas norte-americanas em combate.

De acordo com o general Martin E. Dempsey, a queda nas despesas “fará correr grandes riscos à nação”, enquanto o ex-secretário da Defesa, Leon Panetta, acha que a situação pode “convidar os atacantes”. O Secretário da Defesa, Chuck Hagel, pensa que as reduções irão “devastar” os militares e o general James Amos, comandante do Corpo dos Fuzileiros Navais, vai além das advertências e afirma que não apoiar os militares vai prejudicar a “prosperidade continuada e os interesses da segurança” dos Estados Unidos.

Na verdade, a situação não é tão trágica: os Estados Unidos ainda são o primeiro País no âmbito da despesa no sector militar e podem contar com um avanço tecnológico não indiferente. Os projectos para novas armas estão em desenvolvimento e nos próximos anos será possível observar os resultados nos campos de combate.

O surfista

No passado dia 1 de Maio uma aeronave experimental não tripulada desenvolvida pela Força Aérea
dos EUA voou a mais de cinco vezes a velocidade do som, num teste na costa da Califórnia. Um passo em frente na tecnologia do scramjet, que teoricamente pode ser usada para realizar ataques em todo o mundo em poucos minutos.

Durante o voo, o motor scramjet foi ligado e empurrou o avião até Mach 5.1 (4828 km/h) a uma altura de 18.288 metros: tratou-se assim dum voo não super-sónico mas hiper-sónico. Resultado: o avião conseguiu cobrir a distância de 230 milhas (370 quilómetros) em pouco mais de seis minutos. A aeronave é conhecida como X-51A Waverider (“surfista”) porque consegue avançar em parte devido às ondas de choque do seu próprio voo.

Mas o coração do projecto é o motor scramjet, uma unidade que não utiliza partes em movimento: o combustível é injectado na câmara de combustão onde se mistura com o ar que corre no interior, iniciando um processo semelhante à ignição dum fósforo no meio dum furacão. Em teoria tudo muito simples, na prática extremamente complicado por causa das temperaturas envolvidas.

O “surfista” pode alcançar velocidades de Mach 6 (seis vezes a velocidade do som) e atravessar o Oceano Atlântico em menos de uma hora. Muitos dos detalhes do programa estão classificados e, apesar do X-51A não tem sucessor imediato, a Força Aérea dos EUA continua a investigação: os resultados obtidos serão utilizados como contribuições para o programa das armas de ataque de alta velocidade, actualmente em fase de desenvolvimento.

O laser contra o Irão

No passado mês de Abril, a Marinha dos EUA anunciou a implantação de uma arma laser no Golfo
Pérsico. Apesar de ainda ser um protótipo, pela primeira vez os navios serão equipados com uma arma de ataque laser que pode atingir e destruir barcos de patrulha ou cegar drones inimigos.

A Marinha define as novas armas Weapon System Laser e será esta a categoria do laser implantado nos navios de assalto anfíbio no Golfo Pérsico, tendo em vista um possível ataque iraniano efectuado com barcos de patrulha e, possivelmente, com aeronaves não tripuladas.

O laser vai estar operacional no próximo ano e muitos dos pormenores da operação permanecem secretos, tal como o alcance do raio, a potência ou o volume de energia envolvidos. Mas os oficiais da Marinha têm fornecido alguns detalhes: por exemplo, o laser é projectado para ser um plug and play, que integra a tecnologia existente e o sistema de energia eléctrica do navio. Factores que tornam a nova arma surpreendentemente barata.

Como explica a avaliação do Congressional Research Service:

Equipar os navios de superfície da Marinha com lasers pode levar a mudanças nas tácticas de guerra, na concepção dos navios e nos planos de aquisição de armas navais, resultando numa mudança na tecnologia da Marinha, um “mudar o jogo” comparável ao advento dos mísseis embarcados nos anos 50.

Apesar das armas laser ainda sofrerem de problemas (não são eficazes com o mau tempo, porque o feixe pode ser disperso ou perturbado pelo vapor da água; a arma não pode atacar alvos além do horizonte e está sujeita a medidas preventivas, como no caso de superfícies reflexivas; o primeiro protótipo não é suficientemente potente para abater caças ou mísseis que se aproximam), as vantagens são a baixo custo (menos de 1 Dólar por cada pulso) e um suprimento ilimitado de munições desde que o navio possa gerar electricidade.

Por estas razões, os EUA apostam na tecnologia laser: um dos exemplos mais recentes é a arma da americana Raytheon Corporation, o CIWS (Close-In Weapon System): já apresentado publicamente em 2010, o CIWS revelou a capacidade de danificar uma série de alvos incluindo aviões, aviões teleguiados, mísseis e navios de superfície, utilizando um feixe laser de estado sólido de 50 kW.

A Northrop Grumman Corp também está a desenvolver um laser de estado sólido de alta energia (HEL) para destruir mísseis de cruzeiro anti-navio e a Marinha dos EUA também tem em desenvolvimento sistemas projectados para derrubar aviões inimigos que apontam contra navios de superfície.

Da mesma forma, os militares americanos anunciaram em 2011 a pesquisa sobre o Laser Induced Plasma Canal (LIPC), um laser que pode disparar um “relâmpago” de 50 biliões de watts contra um alvo.

A bala e os carris

Mas uma verdadeira revolução é esperada com a Rail Gun, arma que melhorará a capacidade de destruir mísseis disparados de longa distâncias. Anunciado no ano passado, o novo programa foi baptizado Hyper Velocity Projectile e apressa o fim do domínio dos mísseis.

É uma arma capaz de disparar projécteis a velocidade Mach 10 sem explosivos. A arma é constituída por duas guias metálicas paralelas, entre as quais está colocado um projéctil, reforçado, que fecha um circuito no qual é inserida uma corrente eléctrica da ordem de um milhão de amperes: isto cria um campo electromagnético que, por sua vez, produz uma força que acelera o projéctil ao longo dos carris.

A força de aceleração é aplicada durante todo o período em que o projéctil é colocado entre os carris do dispositivo de lançamento, em contraste com as forças explosivas que têm uma vida útil limitada, e isto significa que podem ser alcançadas velocidades muito mais elevadas. Potencialmente Mach 10 ao nível do mar, com um raio de acção de 220 milhas (350 quilómetros), aproximadamente dez vezes mais do que qualquer outro tipo de arma similar.

Não tendo componentes explosivos, a Rail Gun confia na sua velocidade para destruir o alvo; relativamente pequeno e leve, pode ser facilmente transportado e armazenado. A energia cinética pode provocar mais danos do que um míssil de cruzeiro e permite-lhe perfurar um navio. Elevada também a precisão. O sistema deverá estar operacional em 2025.

A fome

Entretanto a FAO publicou o relatório sobre a fome no mundo: uma em cada 8 pessoas no planeta não tem comida suficiente e 24.000 indivíduos morrem diariamente por desnutrição.

Isto não tem nada a ver com as armas?
É verdade, peço desculpa, foi um ataque de demagogia.

Ipse dixit.

Fontes: Defense News, American Live Wire, The New York Times, USNI News, FAO: The State of Food Insecurity 2012 (ficheiro Pdf, inglês)

4 Replies to “As armas do amanhã”

  1. enquanto pais soberano desenvolve as próprias armas, aqui no brasil os colonizados defendem gastos monumentais para adquirir aviões de guerra.
    pergunto: o que fará um avião destes contra um míssil supra sônico?
    (não conseguirá fazer NEM UM FILME PARA POSTAR NO YOU TUBE).
    emerson57

  2. Olá Max: enquanto a alta tecnologia vai se transformando em mais alta, ultra, hiper, mega tecnologia, todavia para os assuntos de guerra, vai tudo bem, e o futuro existe para os impérios dominantes, sejam quais forem.Quanto aos espaços de rapina e abaixo de dominação do planetinha, só resta se multiplicarem bem rápido porque densidade de humanos no espaço territorial pode ser sempre uma arma também de "alta tecnologia", e também aí existe futuro. O problema será quando uma desregulagem qualquer só permitir que a guerra seja levada a efeito com paus e pedras (como vários já prognosticaram). Neste momento os humanos estarão todos em extinção, mas afinal o planeta terá mais uma chance de recomeçar. Abraços

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