Eleições italianas: tudo claro.

Sendo o vosso blogueiro italiano, eis uma janela exclusiva acerca das eleições de hoje e de amanhã na alegre península.

Breve resumo: após a queda do governo Berlusconi, para conduzir o País foi chamado (e não eleito) Mario-GoldmanSach&CocaCola-Monti.

Este simpático indivíduo implementou as medidas de austeridade necessárias para que a situação económica do País piorasse com uma certa rapidez. Uma vez obtido o precioso resultado (e, de facto, a Italia está bem pior agora), Monti deixou o governo e o povo soberano de nada volta agora para as urnas.

Isso de forma sintética. Mas quais e como estão os partidos, os movimentos, as facções em jogo e as ideias deles?

Basicamente existem três grandes coligações (Esquerda, Centro e Direita), uma mini-coligação de extrema Esquerda (Comunistas) e o Movimento 5 Estrelas. Mais alguns partidos menores que não ganhariam nem se concorressem sozinhos.

Antes de mais: a situação apresenta-se bastante clara.
Berlusconi (líder da Direita) acaba de anunciar o facto de ter mais votos do que a odiada Esquerda, portanto espera voltar a ser Primeiro-Ministro, isso após ter dito que nunca mais seria Primeiro Ministro mas, no máximo, Ministro da Economia. Tenciona colaborar com o Partido Democrata (PD, Esquerda) para mudar a Constituição, (algo que está a arrastar-se há vários anos), mas para fazer isso precisa livrar-se dos actuais aliados, o Trio Monti (GoldmanSach&CocaCola), Fini (Direita) e Casini (Centro). Entretanto promete abolir a taxa IMU sobre os imóveis, a mesma para a qual já tinha votado em favor.

Berlusconi pode contar com o apoio da Lega Nord, antigo digno partido autonomista, agora penosa parodia dos tempos que foram: liderada por Maroni, o qual afirmou “Nunca mais com Berlusconi”, a Lega já tinha anunciado como candidato Tremonti, antigo Ministro da Economia do governo Berlusconi, com o qual agora recusa falar.

Monti (Centro), por sua vez, deverá permanecer como chefe do governo, forte da maioria absoluta que ele, e apenas ele, consegue ver. Por isso, nos dias pares exclui uma aliança tanto com Berlusconi (“estadista”, aliás “palhaço”) tanto com o PD (“nascido em 1921”, ou seja, comunista), enquanto nos dias ímpares prevê uma “grande coligação” com Berlusconi e, porque não?, com o PD também. Sempre que o PD consiga livrar-se do seu próprio líder, Bersani, porque “a Merkel não quer” (mas Bersani ainda não sabe disso).

Casini (Centro) anuncia ao Corriere della Sera que uma das primeiras medidas do líder Monti será a abolição das províncias: e Monti candidata na região Veneto o líder do movimento “Vamos salvar a Província de Bolzano” (que nem no Veneto fica), portanto em Italia haverá uma única província que poderia englobar o País todo (com consequente mudança de nome: já não “Italia” mas “Bolzania”).

Depois há a Esquerda, com o PD, o Sel (ecologistas) e, de acordo com alguns
radares particularmente sensíveis, até mesmo alguns moderados e o
Centro Democrático (assim chamado evidentemente para distingui-lo do Centro Totalitário). Aqui, felizmente, reina a clareza cristalina desde
tempos imemoriais. O Partido Democrata constituirá um governo com Monti para mudar as
políticas do governo Monti, as mesmas que o Partido Democrata votou até ontem. Vendola (Sel) comprometeu-se, por escrito, a governar com o
PD e com o Centro de Monti, mas afirma ser incompatível com o Centro de Monti e logo explica que com Monti não irá governar.

O sólido governo assim formato empenha-se a lançar
no primeiro Conselho dos Ministros uma nova lei sobre os conflitos de interesses, algo que nem a Esquerda em cinco legislaturas, nem Monti num ano e meio conseguiram resolver. Além disso, dado que Grillo (Movimento Cinque Stelle) é um “fascista do web”, um “populista”, a “anti-política” e uma “ameaça à democracia”, será preciso dialogar com Grillo enquanto interlocutor “valioso”.

Ingroia (mini-coligação comunista) tentará alcançar os votos suficientes para voltar no Parlamento, após ter sido expulso nas últimas eleições (um duro mas bem sucedido trabalho do PD, que desta forma livrou-se dum concorrente de Esquerda). Entretanto tenta negociações com Grillo (que não quer) e com o PD (também).

Depois há Beppe Grillo (Movimento 5 Estrelas) que reza para não ganhar as eleições porque senão não saberia quem enviar para o Governo e está apavorado porque é provável que ganhe mesmo.

Previsões pessoais:

  • vitória da coligação de Esquerda (“Esquerda” por assim dizer…)
  • Movimento 5 Estrelas 20%
  • Berlusconi 20% (talvez menos)
  • Monti 10%.

Dado que as eleições são hoje e amanhã, e como não tenciono influenciar de maneira nenhuma os possíveis eleitores italianos, não vou dizer que já votei o Movimento 5 Estrelas.

Ipse dixit.

Fontes: Il Fatto Quotidiano, Wikipedia

3 Replies to “Eleições italianas: tudo claro.”

  1. Olá Max: boas, muito boas perspectivas na política italiana,(conforme já tinha farejado…eu sou um gênio, ih,ih,ih)do meu ponto de vista.Senão vejamos:
    1."Grillo (Movimento Cinque Stelle) é um "fascista do web", um "populista", a "anti-política" e uma "ameaça à democracia", será preciso dialogar com Grillo enquanto interlocutor "valioso"." Isto demonstra inequivocamente que o cara é bom, e está ameaçando de tal forma os podres poderes, que já pensam em "conchavos", as grandes agremiações políticas do país.
    2. Fica cada vez mais claro para os italianos que seus partidos não têm "cara", não têm programa, não têm princípios, e navegam ao sabor dos interesses de poder e dominação.Até porque existe um que tem tudo isto, para servir de ponto de comparação.
    3.O mundo se move muito devagar, e a mentalidade das pessoas mais devagar ainda. O que se agita rápido são pessoas singulares no mundo, que enxergam com olhos de ver, e percebem a lentidão do mundo humano. Portanto, calma, que o que vale é que os singulares, nesse caso, os apoiadores do Cinque Stelle, se saibam movendo na direção do que acrescenta vida feliz, livre e inteligente, vontade de potência, biofilia.Abraços

  2. 'Depois há Beppe Grillo (Movimento 5 Estrelas) que reza para não ganhar as eleições porque senão não saberia quem enviar para o Governo e está apavorado porque é provável que ganhe mesmo.' – Estou tambem a 'rezar' para o Beppe Grillo ganhar as eleições. O facto de não saber quem enviar para o governo já é um excelente começo.

    Krowler

  3. Max,

    Era "belissimo" se ganhasse o Movimento 5 Estrelas, não saber quem enviar é muito bom, dado que à partida, já sabe muito bem quem não deve enviar:-)

    Um abraço

    Zarco

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