Alimentação: o wurstel

E dado ser Domingo, começamos com um espaço dedicado à alimentação, cujo título é “Comer bem, comer informados, ora essa, era só que faltava, quem disse o contrário?”. Um título se calhar um pouco comprido, por isso encurtamos: Alimentação.

O assunto “foge” aos padrões do blog, sem dúvida. Todavia, ao longo da semana passada, surgiu uma notícia interessante: segundo um especialista, metade das pessoas que nascerem agora em Portugal terão cancro ao longo da vida. O que pode não ser simpático.

Mas cancro porquê? Será o ar que respiramos, serão os hábitos, será a comida ou o conjunto de todos estes factores? Seja como for, fiquei curioso e decidi espreitar na internet para ver, em primeiro lugar o que engolimos. E os resultados não são nada bons.

Última nota. Apesar de eu ter escolhido uma dieta vegetariana, Informação Incorrecta não é um blog para vegetarianos nem eu tento fazer proselitismo e nem encontrarão aqui sugestões para regimes alimentares específicos. Apenas informação, como sempre, pois acho que este discurso pode bem ser enquadrado nos moldes da actual deprimente sociedade e dos costume dela.

O simpático wurstel

Quem não conhece o wurstel? O nome muda segundo os Países: hot dog, cachorro, salsiccia, o sentido é o mesmo: o rolinho de carne que sabe bem. E sabe, não há dúvida: grelhado, assado, simplesmente escaldado com um pouco de maionese, mostarda ou ketchup, talvez com duas batatas fritas. Não é uma delícia?

Breve história do wurstel.
O wurstel parece ter sido inventando em Frankfurt, na Alemanha, durante a Idade Média.
Fim secção histórica, pois não é que haja muito para ser dito.

Mas o que é? Como é composto?
Em princípio o wurstel deveria conter pedaços de carne, principalmente suína, com algumas ervas aromáticas. Todavia a indústria tentou maximizar o proveito e minimizar o desperdício. A solução passa por utilizar partes do animal que usualmente não podem ser comercializadas de outra forma, as sobras da preparação de outros produtos.

Uma vez morto o animal e separada a carne dos ossos, a carcaça é congelada e enviada para empresas especializadas na reutilização das sobras, de modo a recuperar quanto mais possível. Obviamente entre as carcaças estão incluídos também os cadáveres de animais mortos nas estalagens por causas naturais, desde que não doentes.

É nesta fase que encontra razão a afirmação “carne separada mecanicamente” que encontramos nas embalagens de wurstel: é a espremedura mecânica e o sucessivo amasso de cascos, olhos, orelhas, pele, gordura, órgãos internos, tendões, caudas.

Nojento? Talvez, um bocado. Mas o cliente não vê, por isso vamos em frente.
Por lei, o produtor europeu de wurstel é obrigado a especificar a quantidade de carne presente no produto final. No geral, a massa obtida com a espremedura não ultrapassa 50% do total, mas não é raro ter percentagens inferiores, entre 12 e 20%.

Pergunta: então, o que é o resto? Ora bem, aqui começa a parte mais triste (pois a massa de sobras era a parte alegre: afinal são ainda produtos naturais).

A massa é misturada com componentes químicos, a seguir é ensacada num intestino químico (que confere a típica forma), cozida, fumada (mas em alguns casos também o efeito fumado é obtido com químicos), arrefecida.

Pode parecer um trabalho bastante complicado mas é preciso: o “amasso” contém uma altíssima carga bacteriana e a cozedura (e a pasteurização) são necessárias para esterilizar as carnes e impedir que o cliente morra após a ingestão (bastante chato do ponto de vista das empresas, pois o cliente morto não volta a comprar wurstel).

Mas agora voltamos atrás, ao “amasso”. Se 20% do wurstel não for feito com carnes e derivados, é feito com que?
Eis a resposta:

Nitrato de sódio (E250)
É um composto químico altamente tóxico para o ambiente. É utilizado para esterilizar os microrganismos presentes nas sobras e conservar o produto. Dadas as propriedades antioxidantes, é também utilizado em alguns explosivos (a “pólvora preta”). Encontra aplicações na agricultura como fertilizante, apesar dos efeitos negativos do sódio. As reacções do nitrato com as aminas pode causar a insurgência de cancro no estômago e no fígado.

Eritorbato de sódio (E316)
É um produto sintético, utilizado para a conservação das gorduras, conservando também a coloração rósea e para prevenir a formação das nitrosaminas carcinogênicas. O Eritorbato de sódio, todavia, preocupa alguns dado que os seus efeitos no longo prazo não resultam bem conhecidos.

Glutamato Monossódico (E621)
É um aditivo de origem natural utilizado como exaltador de sabor em substituição do sódio. Problemas conhecidos: anafilaxia (reacção alérgica) e cefaleia (neste caso conhecida como “Síndrome do restaurante chinês”, apresenta também vasodilatação cutânea e urticaria, pois o glutamato monossódico é utilizado na cozinha chinesa também).

Goma Guar (E412)
É um produto de origem natural, a sua função é de espessar, por isso é utilizado também na preparação de doces, gelados, molhos. Em 2007 a autoridade alimentar europeia foi alarmada por causa da presença de dioxina na goma distribuída pela sociedade Unipektin. Esta comprava a goma duma empresa indiana, a Indian Glycols, e as análises fazem supor que a dioxina estivesse presente no produto durante anos. Entre os danos colaterais, pode provocar problemas intestinais se ingerida de forma frequente.

Trifosfatos (E451)
Com o termo de “trifosfatos” são indicados os produtos derivados do acido fosfórico, com base no fósforo, cujos efeitos secundários mereceriam um capítulo à parte (densidade óssea, cálculos biliares,etc.). O facto do ácido fosfórico ser considerado um bom anti-ferrugem, um fertilizante e um corrosivo deveria dar uma ideia. Ingrediente muito utilizado no âmbito alimentar, sobretudo nas bebidas gaseificadas como a Coca Cola (mas também no leite “longa vida”), é um corrector de acidez.

Azeite de colza
Azeite vegetal produzido das sementes da colza, era utilizado na antiguidade para iluminar as estradas e, mais tarde, por Rudolph Diesel como combustível para os seus protótipos de motor. Hoje encontra emprego também na produção de combustíveis “amigos do ambiente”. Enquanto a americana FDA (Food and Drugs Administration) acha que o óleo de colza pode prevenir as doenças cardiovasculares (contém Ómega 3), na Europa a utilização é mais restrita por causa da toxicidade do ácido erúcico, do qual o óleo de colza é rico (700 mortes em Espanha durante o ano 1981, 20.000 pessoas afectadas na “Enfrermedad de la colza”). Por esta razão, da colza transgénica é feita derivar a canola, menos rica em erúcico. A canola, todavia, é indicada apenas em caso de fritos, enquanto em outras partes do mundo é considerada um azeite saudável (interessante neste aspecto a diversidade existente entre a versão portuguesa/brasileira de Wikipédia e aquela italiana ou espanhola).

E este, meus senhores, é o wurstel. Obviamente não a versão original alemã, mas aquela que normalmente é vendida e que podemos encontrar nas estantes de qualquer supermercado. Nada mal, não é? Com um pouco de mostarda e duas batatinhas fritas…

Ipse dixit.

Fontes: Presa di Coscienza, mais numerosas páginas de Wikipédia (em relação aos componentes químicos) 

10 Replies to “Alimentação: o wurstel”

  1. Olá Max: pois é…E percebe que "alimentos" como margarina,salsicha, óleo de soja (o que 80 entre 100 brasileiros consomem, e que vocês na Europa, não conhecem)são sempre mais baratos, ou seja, ao alcance dos pobres.Entre os nossos pobres daqui, há mães que dão coca cola para os filhos pequenos, no lugar de mamadeira (é docinha,barata e fácil de "preparar"). Então, viva a obesidade dos pobres!
    Quanto ao cancro, parece ter duas origens: as já citadas, causadas por uma sociedade suicida, e o outro lado da moeda de uma sociedade suicida: a angústia.Mas tudo se cura, é só saber o que fazer.Abraços

  2. continuação: me lembrei de um teste simples com o que dizem que é comida, e mandam a gente comprar. Ofereçam a dita "comida" para ratos. Se os bichinhos rejeitarem, como é o caso da margarina, ou não é orgânico, ou já perdeu as propriedades que tornavam a coisa orgânica. Desconfiem também daquilo que não apodrece rapidamente, como os produtos longa vida. Agora lembrei também do Leo, recusando a chamada "comida de cachorro", aquela ração que idiotamente as pessoas dão aos seus animais. Mas Leonardo é sábio, e teve várias razões para se ofender.Abraços

  3. "Que o teu medicamento seja o teu alimento, e que o teu alimento seja o teu medicamento" – Hipócrates

  4. Quanto menos as pessoas souberem como se fazem as salsichas e as leis, melhor dormirão à noite.

    Otto Edward Leopold von Bismarck ( estadista alemão – 1814-1898 )

  5. Quanto menos as pessoas souberem como se fazem as salsichas e as leis, melhor dormirão à noite.

    Otto Edward Leopold von Bismarck ( estadista alemão – 1814-1898 )

  6. Este tema da alimentação faz todo o sentido ser abordado no II. Mesmo não fazendo parte do menu principal é um assunto demasiado importante para passar ao lado.
    Lembro que o Actimel já teve honras de primeira página no blog

    Esta questão do cancro afectar 1 em cada 2 portugueses que venha a nascer daqui a 10 anos, foi levantada por um médico chamada Manuel Sobrinho Simões há uns dias atrás.
    Já tive oportunidade de falar sobre isto noutras paragens, e é um assunto que deveria preocupar todos.

    Concordo totalmente com o Max no que toca à responsabilidade da alimentação no desenvolvimento do cancro. Efectivamente, tudo o que comemos tem compostos quimicos que pela sua constante ingestão ao longo das nossas vidas vão potenciar desenvolvimentos futuros desta doença.

    O que fazer?, é a questão que todos devemos procurar responder.

    Em minha opinião, uma dieta vegetariana ( eu não sou vegetariano) é um bom começo.

    A produção industrial de carne, peixe e derivados, está carregada de antibióticos, hormonas de crescimento e outros aditivos que não abonam em nada a favor da nossa saúde.

    Tambem os vegetais que encontramos à venda, têm pesticidas, herbicidas, adubos, e outros agrotóxicos altamente nocivos.

    A dieta ideal na minha modesta opinião, seria à base de legumes e fruta fresca, de produção caseira e livre de quimicos preferencialmente ou na sua grande maioria, comidos crus. O que não é facil para quem vive numa grande cidade.
    Evitar frutos vermelhos fora da época, pois têm um conservante altamente tóxico para manter a cor vermelha. Os papeis que envolvem a fruta, em particular as uvas, são impregnados com conservantes.
    As alfaces são de evitar. Conheço muito bem a unidade que no Alentejo produz praticamente todas as alfaces que comemos e que já foi alvo de investigação por causa de uma grande incidenciade doenças nos seus trabalhadores motivada pelos quimicos usados na produção.
    Se entrarmos nos OGM então a coisa piora muito mais. A lista nunca mais acaba.

    Resumindo: no que toca a alimentação a porcaria das salsichas são a ponta de um iceberg gigantesco.

    Por agora chega.

    Abraço
    Krowler

  7. Prezados, eu como carne com uma dor muito grande, pois o nosso alimento vem de um ser vivente que respira, mija e caga como nós. Mas, saborear uma picanha, uma costela é algo indescritível, mas eu já tenho pensado muito a respeito,e atualmente eu estou a consumir sementes torradas (sementes de abóbora) , que aliás são bem saborosas. Então fica aqui a minha participação.

    Maria dê um alô…

  8. Li a reportagem enquanto comia um Farfali al Ragu… segundo o restaurante, de carne bovina… hehehe…

    Enfim, Max virou vegetariano? Nao resistiu? 🙂

    Nos meus ultimos 3 anos de Brasil fui 93,7% vegetariano… e 72,4% organico… me mudei para Europa com a impressao de maior controle de qualidade, menos agrotoxicos e bla bla bla (o que realmente eh verdade)… e por economia e praticidade passei a ficar algo como 33,2% vegetariano e 21,7% organico…

    Trabalhando aqui no Reino Unido entao, agora virou 100% lixo (minha familia esta na Italia, comendo bem)…

    Eh… eh sempre bom esses lembretes… o barato que sai caro… vou falar com minha esposa e voltar a prestar atencao mais na comida!

    Pelo menos na Europa e no Reio Unido nao temos agua fluoretada! Um veneno `a menos 🙂

    [ ]s

  9. Alô Tibiriçá: é…infelizmente sabes que eu também morro por uma picanha. Sou gaúcha, nasci e me criei tendo a carne bovina como base da alimentação. O que me apavora não é matar para comer, embora aqui em T.Â. seja proibida esta prática, o que não nos exime de culpa. Apenas considero atenuada porque só comemos carne de um açougue clandestino que mata o boi com um tiro certeiro, cujas balas eu mesma pago.O que me apavora é a escala industrial gigantesca da criação, da matança e do desperdício de vidas que merecem respeito e compaixão.É aí que a carne do irmão bicho vira veneno para o seu verdugo, pesteando a humanidade, cujos elementos dominadores já mataram a terra com adubos assassinos,já transformaram a comida que o bicho come em maldição cancerígena, e consequentemente o próprio bicho em ruína vivente.É deste ciclo que temos de nos livrar, livrar o bicho e livrar a terra. Enquanto não fizermos isso, fazemos parte da peste.Abraços

  10. entao o que uma pessoa devera de comer?? ja que so publicam o que faz mal, tambem poderiam aproveitar e alertar as pessoas para o que realmente deveria comer.

Obrigado por participar na discussão!

This site uses User Verification plugin to reduce spam. See how your comment data is processed.

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.

%d bloggers like this: