Arrigo Molinari e a faca oportuna

Este simpático bloguezinho tinha publicado há muito algumas linhas acerca do senhoiragem. Ou “a” senhoiragem. Para mim tanto faz.

Mas o que é isso afinal? É um assunto importante, complicado e importante. Muito importante. Tão importante que ninguém fala dele.

Esquisito? Não: normal.
Extrema síntese: quanto custa uma nota de 5 Euros? Quanto custa produzi-la, entendo.
Resposta: mais ou menos 30 cêntimos.
É isso o preço ocm a qual a nota é adquirida pelo Estado Português ao Banco Central Europeu?
Resposta: não, Portugal (e todos os Países da Zona Euro) paga o valor nominal, isso é, 5 Euros. Mais o custo do dinheiro que é estabelecido com cadencia periódica.

Agora, faça o Leitor duas contas: pense nas toneladas de notas produzidas e vendidas pelo BCE ao longo dum ano, tente imaginar os custos e os lucros. Nada mal como quantia, não é? Falamos dum negócio de proporções enormes. Nas mãos do BCE, o Banco Central Europeu. Que depois de “Europeu” tem pouco, estando controlado por bancos privados. Mas este é outro assunto.

Voltamos ao assunto senhoiragem. Este sempre existiu: também no Brasil, onde o banco central fica ainda na posse do Estado, há seinhoragem. Com uma leve diferença: aí é o Estado que imprime as notas para depois vende-las aos bancos privados. A mesma coisa que acontece nos Países normais.

Portugal, e todos os Países da Zona Euro, perderam a seinhoragem acerca das notas, ficando apenas com aquela das moedas metálicas, ainda produzidas pelos vários Países. Mas é uma seinhoragem marginal, o grande negócio está ligado às notas.

Hoje vamos contar uma história que, por acaso, passou-se na minha cidade de origem, Genova.

A seguir a entrevista a Arrigo Molinari, ex-dirigente da policia Italiana, advogado, que apresentou uma queixa e deu início a um processo contra o banco central italiano (a Banca d’Italia) e o Banco Central Europeu, a BCE. A entrevista foi publicada em data 27 de Setembro de 2005 pelo diário Il Giornale.

Pergunta: Diga a verdade, advogado Molinari: está zangado com Fazio [governador da Banca d’Italia, ndt].
Reposta: De jeito nenhum. Eu estou zangado com a instituição Banca d’Italia e com o gananciosos sócios dela, os banqueiros privados.

O que fizeram de tão terrível?
Devoraram a instituição central do Palazzo Koch [sede da Banca d’Italia, ndt], tornando-a não já árbitro  e entidade de direito público.

Com prejuízos de quem quer poupar.

… que agora têm de saber exactamente como as coisas estão.

Ajude a perceber.
Está tudo escrito nos meus dois recursos, reunidos ex-artigo 700 do Código de Processo Civil contra a Banca d’Italia e o Banco Central Europeu para o chamado golpe do senhoriagem a partir de 1992.

Lembramos quem na altura era o Ministro das Finanças.
Era um ministro subtil que permitiu que os bancos privados tomassem o controle da Banca d’Italia e, em seguida, de imprimir dinheiro e emprestá-lo ao Estado com uma taxa de desconto favorável aos bancos privados.

O senhoriagem é isso?
O rendimento do senhoriagem para sujeitos privados é baseado numa norma de estatuto duma empresa privada de capital, portanto num acto inadequado para a generalidade, pelo que os juízes dos tribunais de Genova, Savona e Imperia não vão encontrar nenhum obstáculo decorrentes de um acto de direito. A ausência de um quadro legislativo permite o recebimento das queixas sem problema de hierarquia das fontes.

As consequências do senhoriagem?
Ruinosas para os cidadãos, que sempre confiaram nos bancos e em quem deve controla-las.

Toda culpa dos bancos?
Vou ser mais claro, o assunto é complexo. Assim, os bancos centrais, entre os quais a Banca d’Italia, uma vez sem a convertibilidade do ouro e as reservas áureas, já não são donos da moeda que emitem e, sem uma legislação que permita isso, recebem ilegalmente juros graças à taxa de desconto do dinheiro que emprestam ao Estado.

Não se comportam bem …
Não! Agora os cidadãos que poupam são forçados são a apelar-se ao tribunal para que seja devolvido com urgência o rendimento do senhoriagem à comunidade, como resultado da expropriação por parte dos bancos privados que, com um “blitz” e graças a um ministro subtil que tem muitas e graves responsabilidades, têm tomado posse da Banca d’Italia, retirando a soberania monetária ao Estado; o qual , inerte desde 1992 até hoje, permitiu esse absurdo.

Um grave problema, não há dúvida sobre isso.
É verdade. Mas deixe-me ser ainda mais claro. A emissão de moeda, mediante o empréstimo, podia ser considerada legítima quando a moeda era concebida como uma forma de representar o crédito das reservas, e por isso ele mesmo convertível em ouro a pedido do portador da nota.

Então…
Então, isto é, uma vez abolida a convertibilidade da reserva também nas transações entre bancos centrais que ocorreu com o acordo de Bretton Woods, em 15 de agosto de 1971, o Banco que emite deixa de ser o dono do dinheiro enquanto titular da reserva de ouro.

Afirma que a Banca d’Italia apropria-se de direitos que não pode ter.
Exatamente. A Banca d’Italia, na qualidade de sociedade comercial e qual extensão nacional do Banco Central Europeu, arroga-se arbitrariamente e ilegalmente o direito de receber o rendimento monetário derivado da diferença entre o valor nominal da moeda em circulação e os custos de produção, em vez de serem o Estado e os cidadãos a receber isso.

O processo pedido pelo Molinari deveria ter começado no dia 5 de Outubro de 2005, mas o mesmo Molinari foi morto com 22 facadas uma semana antes, numa tentativa de assalto na casa dele.
Quando se diz “o caso”.

Ipse dixit.

Fontes: Stampa Libera, Il Giornale

10 Replies to “Arrigo Molinari e a faca oportuna”

  1. Olá Max:pois é…22 facadas é para deixar o sujeito "definitivamente" morto. Ou definitivamente impossibilitado de trazer a público uma história que não é para ser divulgada. Ou definitivamente impossibilitado de levar à justiça um roubo verdadeiro. Abraços

  2. Max, é A senhoRIagem, caso esteja interessado. Acho que é a isso que se refere. Ou seria assenhoriagem?
    Já nem sei…

  3. Senhoriagem
    (senhorio + -agem)
    s. f.
    1. Direito que se pagava em reconhecimento de senhorio.
    2. Direito que o rei percebia pela cunhagem da moeda.
    3. Direito entre o valor real e o nominal da moeda.

    http://www.priberam.pt/dlpo/default.aspx?pal=senhoriagem

    Assenhorear – Conjugar
    (a- + senhor + -ear)
    v. tr.
    1. Dominar como senhor. = Conquistar.
    v. pron.
    2. Tomar posse de, como senhor (ex.: assenhoreara-se da casa). = Apoderar-se, Assenhorar-se, senhorear-se.

    http://www.priberam.pt/dlpo/default.aspx?pal=assenhorear

    Senhorear
    v. tr.
    1. Tornar-se senhor de; conquistar.
    2. Dominar; reduzir.
    3. Captar o ânimo de.
    v. intr.
    4. Exercer domínio em.
    v. pron.
    5. Apossar-se; assenhorear-se.

    http://www.priberam.pt/dlpo/default.aspx?pal=senhorear

    Realmente… 22… e por que não 20, 21, 25, 18, 17?

    Abraço
    Rita M.

  4. Rita M.,

    22 facadas corresponde a uma por cada país do euro.

    Basta contar quantos países ou regiões, tinha zona euro em 2005, europeus e não europeus.
    A wikipedia dá uma boa ajuda, tem as bandeiras e tudo.

    abraço
    Krowler

  5. Obrigada Krowler 🙂

    Estranhei tanto o número tão "redondinho" que fui rever o artigo do Max sobre o BCE para ver quantos são os "accionistas" do BCE.

    Nem me lembrei do número de países na data.

    Uma "coincidência numérica" perante uma "infeliz coincidência".
    Tudo coincidências…

    Abraço
    Rita M.

  6. Existe um livro chamado ' Não há coincidências' da Margarida Rebelo Pinto, que eu tive o prazer de NÃO ler porque a autora não faz nem um pouco o meu genero. No entanto esse título parece bastante adequado ao post em questão. Pode ser uma coincidência. Lá isso pode.

    abraço
    Krowler

  7. Conheço o título e também não li o livro. 🙂

    Se há acontecimentos/eventos/circunstâncias que não passam de coincidências e mero acaso, outras há que dão mesmo muito que pensar e, como neste caso, investigar.

    Afinal, tanto quanto percebi, com a morte deste senhor a questão que se colocava e as circunstâncias na sua origem continuam na mesma.

    A coincidência numérica das 22 facadas só dá ainda mais que pensar, para além do óbvio descanso que a morte do deste senhor trouxe para quem teria de responder pelas questões que colocava.

    Abraço
    Rita M.

  8. Nossa! Como vocês são paranóicos! Vamos parar? Realmente isso só ajuda para diminuir a confiabilidade da informação alternativa…

    SEM paranóias ou teorias da conspiração!!! Sem pressupor NADA!

    Ok, é estranho o assassinato dele? Com certeza ABSOLUTA… claro que fico com pulga atrás da orelha… foi muito providente… e vindo do Brasil, esse tipo de assassinato para eliminar testemunhas é super comum…

    Agora, achar que existe alguma lógica no número 22 é loucura!!! Vamos então jogar na loteria, elaiá!!! 🙂

    Obama… lobo na pele de cordeiro, como disse o Julian Assange… 🙂

Obrigado por participar na discussão!

This site uses User Verification plugin to reduce spam. See how your comment data is processed.

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.

%d bloggers like this: