Portugal e o Orçamento de Estado 2013

Duas palavras acerca de Portugal e do novo Orçamento de Estado.
O governo falhou em 2012 por causa das receitas: na realidade foram inferiores ao previsto.
O novo orçamento aposta novamente nas receitas (mais de 80% das medidas), por isso irá falhar também.

O governo parece não conseguir entender (?) que retirar dinheiro aos contribuintes significa reduzir as despesas dos mesmos contribuintes. E reduzir as despesas significa, por parte do Estado, ver as receitas descer e o deficit subir. Foi o que aconteceu neste ano, acontecerá o mesmo ao longo de 2013. Esqueçam a retoma.

A palavra de ordem continua a ser austeridade e, portanto, recessão. É como tentar salvar uma pessoa que afoga atirando-lhe um balde de água. Não funciona. O problema é que o tempo está prestes à acabar. O ano 2012 foi desperdiçado com medidas dolorosas mas inúteis: Portugal não está melhor, pelo contrário. Agora o tempo escasseia e o governo apresenta uma receita idêntica para o próximo ano: um outro ano deitado no lixo.

Curiosa a forma apocalíptica como o Ministro das Finanças apresentou o novo orçamento: “Esta proposta para 2013 é a única possível”, não há “qualquer margem de manobra”, recusar o orçamento é irresponsável. Dito por quem falhou as previsões e as metas para este ano, estas frases são tranquilizadoras, pois significam o que este blog sempre apoiou: há alternativas, simplesmente não querem ser tomadas em consideração.

Mas esta forma tipo “derradeira possibilidade” demonstra cada vez mais a difícil situação dum governo que apostou unicamente no aumento de taxas e impostos e que agora vê os resultados afastar-se e percebe estar cada vez mais sozinho. Se os problemas levantados por sindicatos e oposições eram amplamente previsíveis, o mesmo não pode ser dito em relação ao CDS-PP (o parceiro da coligação) e muitos exponentes do PSD (o principal partido do governo). E não podemos esquecer a derrota eleitoral nos Açores.

Para acabar, uma reflexão.

O que pode levar um governo a exasperar os relacionamentos com todos os partidos da oposição, com os sindicatos, com os representantes da sociedade civil? A pôr em perigo a mesma existência do governo? A ter que encarar derrotas eleitorais que até poucos meses atrás pareciam improváveis? A ressuscitar um partido (o Partido Socialista) que parecia condenado ao limbo durante os próximos anos?

A resposta mais simples é: a vontade de ajudar Portugal a superar a crise.
Correcto. Mas quando os resultados mostrarem o contrário? Quando as metas forem falhadas?

Um governo que exaspera os relacionamentos com todos os partidos da oposição, com os
sindicatos, com os representantes da sociedade civil, que põe em perigo a
própria existência, que enfrenta derrotas eleitorais, que ressuscita o principal partido da oposição, que falha as metas e obtém resultados contrários às expectativas, que contraria as indicações do Fundo Monetário Internacional e que mesmo assim continua a percorrer a mesma estrada:

  1. ou é composto por incompetentes
  2. ou tem objectivos não declarados
  3. ou é composto por incompetentes e tem objectivos não declarados.

Eu escolho a terceira possibilidade.
Pensem nisso da próxima vez que surgir a possibilidade de ajudar alguém a estudar: há sempre o risco deste alguém um dia voltar com a “obrigação de estar disponível para retribuir essa dádiva que o país me deu”, como afirmou ontem o Ministro das Finanças.

Pérolas aos porcos.

Ipse dixit.

9 Replies to “Portugal e o Orçamento de Estado 2013”

  1. Proponho uma quarta possibilidade:

    são um bando de paus mandados e têm objectivos não declarados.

    Ser pau mandado não é sinónimo de incompetência, mas não a exclui, e revela a realidade: um governo de invertebrados…

    "obrigação de estar disponível para retribuir essa dádiva que o país me deu"

    Por aqui ainda estou emocionada com esta… pérola… estou certa que voltar para nos "ajudar" desta forma é o sonho de todos os que contribuíram para a educação dele.

    Abraço
    Rita M.

  2. Max,

    Tu como eu e muita gente já entendeu que isto é tudo farinha do mesmo saco…e votar nos partidos que governaram este país durante 38 anos não dá, os outros 2 vivem na utopia, o que nos resta?

    Não sei a resposta, mas uma certeza tenho com estes politicos actuais não se vai lá, tal como tu penso e torno a pensar em como modificar as coisas e tentar que Portugal seja um país melhor…tem que ser outra gente com muito menos vicios e patrões…mas como diz o povo, não vislumbro a luz no final do túnel, acho que está mesmo apagada…

    Um abraço

    Zarco

  3. Olá Zarco: tu continuarias jogando um jogo em que soubesses que as cartas estão viciadas! (isso passa a ser um ponto de interrogação). Talvez sim, se esta distorção te beneficiasse no resultado do jogo, e de antemão fosses um mau caráter.Não é o teu caso. Então é preciso refletir, e levar tantos quantos forem necessários a refletir que o jogo democrático representativo viciou, e não só em Portugal, mas no mundo inteiro. Suas repetidas práticas ensinaram os espertos a manipular e distorcer pensamentos e programas,a corromper partidos,a transformar a festa democrática das eleições em mercadoria sujeita a força da propaganda e muito mais. A coisa chegou a um ponto tal, que só mediante muito populismo, gente bem intencionada como Getúlio e Lula no meu país transformaram um corpo de ideias-ações em estereótipos do tipo Getulismo e Lulismo, na Argentina, Cristina encarnou o Kirscherismo, na Venezuela Chávez teve de lançar mão do Chavismo, para tentarem fazer algo minimamente decente por suas populações.A democracia representativa está em coma, é preciso re-inventar democracia de outra maneira.Os europeus, do meu ponto de vista, têm recursos mentais-intelectuais para fazê-lo,os latino americanos ainda não.Abraços

  4. Olá Max: eu não sei onde este cidadão aí de Portugal estudou. Só sei que os economistas tupiniquins, quando estudam em Harvard,Escola de Chicago, Stanford e Yale, voltam totalmente "desfigurados", francamente rezando pela cartilha do que houver de mais neoliberal neste mundo. Corrêa é a exceção que confirma a regra entre os latino americanos.Abraços

  5. Estou de acordo com a hipotese avançada pela Rita M.

    'São um bando de paus mandados e têm objectivos não declarados.'

    Pegando naquilo que o Zarco referiu, a minha posição é de rejeição completa deste sistema eleitoral. Não voto. Abstenção.

    Votar em branco como muita gente defende, significa na minha perspectiva, aceitar as regras do jogo do sistema mas não aceitar os candidatos.

    A abstenção pode significar várias coisas. Desde o desinteresse pela politica, impossibilidade de votar por algum motivo até à rejeição do sistema como ele é. Esta ultima hipotese como referi, traduz a minha posição.

    Relativamente ao OGE para 2013, todos já sabemos o que aquilo vai dar. Mais austeridade até se atingir o tal limite teórico em que o governo deixa de ter mão na rua. Neste caso a Grécia funciona como experiência piloto.

    abraço
    Krowler

  6. Era bom que NUNCA, NUNCA, NUNCA, NUNCA, mas NUNCA mesmo, as pessoas esquecessam de que governos apenas são fachada de algo

    mais que não mostra a cara.
    Pensam que por detrás de ministro das finanças, primeiro ministro, não estão os melhores cranios nacionais, sejam

    "economistas", "engenheiros", "cientistas", etc, todos eles a trabalhar por algo comum????
    Se as coisas estão como estão, é porque assim o desejam, ou pensam que são burros ao ponto de saber o que qualquer parvo sabe

    : que se numa casa onde todos ganham menos, todos gastam menos, logo a casa fica mais pobre até que cai?!?!?
    Todos eles sabem o que estão a fazer, só o resto é que anda de cabeça quente aos berros uns contra os outros, em lutas pós e

    contras, num jogo que só favorece a implementação das vontades ocultas e mantendo o povo iludido numa esperança de que o voto

    no oposto irá resolver algo. Quando isso apenas significa manter o poder entre eles, todos iguais num fim único.

    Méééééhhhhhéééééée

  7. os ricos perdem.
    as classes médias perdem quase tudo.
    os pobres perdem tudo.

    os pobres passam a trabalhar e a produzir em troca de comida.
    as classes médias trabalham para não passar a pobres.
    os ricos recuperam o que perderam comprando de baciada os bens da classe média e do estado.

    aberto o buraco, a mídia forma a opinião de que é preciso fazer o bolo crescer para depois dividir.

    mais vinte anos e o bolo cresceu.

    nesse ponto voltamos ao início,
    e tudo se repete.
    emerson57

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