Ttragédia grega: último acto?

Quase. Quase quase. Não falta muito.
A tragédia grega que o blog seguiu desde o começo está preste à acabar.
Até que enfim.

Vai ser complicado e ainda não sabemos o que pode significar: mas não pode ser considerado como um acontecimento “local”, isso é claro.

Não é o futuro de Atenas ou da Europa que está em jogo, é mais do que isso. A falência da Grécia evidencia o fracasso duma inteira gerações de políticos e economistas espalhados pelo planeta.

O “Turbo-Capitalismo”, o “Liberalismo”, como foi definido, mostra todos os seus limites.
Isso para não falar da Zona NEuro e das Mentes Pensantes de Bruxelas, emanação directa duma visão alucinada que encontra as próprias origens nos prédios de Wall Street e numa amalgama bem pouco homogénea feita de Capitalismo corrupto, fascismo corporativo, uma pitada de Orwell e uma de Comunismo.

Para falar da Grécia nada melhor do que um Grego.
Santaruina é o pseudónimo dum grego que vive em Italia e que é o autor do excelente blog Tra Cielo e Terra. Não “Bom” ou “Muito Bom”: Excelente mesmo.
É ele que explica o que se passa na Grécia:

Recentemente, acabaram as eleições na Grécia.
O resultado em si não é particularmente importante: um previsível desastre do PASOK, o partido socialista, que detinha a maioria no parlamento, e um declínio dramático da Nova Democracia, os conservadores de centro-direita que queriam o poder no País.

Por que razão, depois, alguém possa desejar assumir o papel de capitão dum navio afundado por três quartos, continua a ser um pequeno mistério da natureza humana.
Mas nunca subestimar o poder da vaidade.
Para alguns dos nossos similares possuir os títulos “importante” como “primeiro-ministro” ou “presidente” é uma tentação irresistível.

Houve um colapso dos dois principais partidos, os partidos que haviam apoiado as medidas de austeridade desejadas pela União Europeia e pelo Fundo Monetário Internacional; acompanhado por uma afirmação surpreendente da coligação esquerdista Siriza e dos neo-nazistas da Chrisi Afghì, a Alba Dourada.

Mas, como dissemos, tudo isso é secundário.
O verdadeiro ponto de interesse nesta eleição é a própria eleição, e precisamente o facto desta ter sido anunciada.
A Grécia, de facto, tal como a Itália, era até recentemente chefiada por um governo de técnicos, liderado pelo ex-banqueiro central Papademos, confidente dos poderes supranacionais.
Papademos demitiu-se há algumas semanas, muito antes do termo “natural” da legislatura, e é esta demissão o elemento que deve ser avaliado com muito cuidado, porque falam dum processo bem maior, um processo que envolve o destino toda a União Europeia.

Como você sabe, a Grécia é esmagada por uma enorme dívida que não pode pagar, e este é um problema que afecta principalmente os seus principais credores, nomeadamente os grandes bancos europeus.
Papademos, o técnico, foi colocado à frente do governo para garantir que algumas dessa dívida fossem pagas.
E, no seu curto mandato, o ex-banqueiro central não tem feito outra coisa senão seguir as ordens provenientes do BCE e do FMI, estrangulando com cortes e impostos uma economia já em coma profundo, e recolhendo entre o património dos cidadãos quanto mais possível.
Dito com outras palavras, tem sido um curador da falência.

É por esta razão que a sua demissão deveria ter feito tocar as campainhas de alarme em toda a União Europeia: ao desistir do seu lugar, o grego deu a entender que a sua tarefa estava terminada, que não havia mais nada para recolher.
A população tinha sido espremida ao máximo, nada de sangue a partir dos nabos.

Isto significa que estamos perto do dia em em que o fracasso da Grécia será anunciado oficialmente.
Um fracasso que é realidade há vários anos, mas que ainda não foi formalizado para evitar o pânico nos mercados, uma vez que mesmo nos palácios do poder é possível prever com certeza as consequências dum evento como esse.
Agora, os técnicos desaparecem e deixam o País nas mãos de um amontoado de partes que claramente não têm chance alguma de implementar um plano, uma paródia de parlamento que já nem a forma tem daquilo que deveria ser .

Portanto o anúncio do fracasso pode ser iminente, desde que não os magos de Bruxelas não extraiam o coelho da cartola com outra magia para continuar a agonia duma nação já de rastos.
Uma questão que diz respeito não só a Grécia, mas que poderia ser o início do último ato daquela que nos livros será lembrada como a Grande Crise Económica de 2008.

Não sei, mas tudo isso faz-me lembrar outro País cuja economia entrou em recessão, com cortes, impostos…não lembro o nome, mas acho que começava com “P”…Porto Alegre? Não, não era Porto Alegre…Porto dos Galos? Não , nem Porto dos Galos…

Tá bom, não interessa agora.
O que interessa é que a Grécia, já defunta e mantida em vida com o mágico elixir “NEuro”, voltará às urnas no próximo mês de Junho. Vai ser interessante.

A ver vamos.

Ipse dixit.

Fonte: Tra Cielo e Terra

One Reply to “Ttragédia grega: último acto?”

  1. Sem dúvida muito bem escrito. Eu agora só espero que os gregos se inspirem na Islândia ou no Equador ou na Venezuela, ou daqui a pouco Portugal será idêntico à Albânia…

Obrigado por participar na discussão!

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