A maçã podre: do fim da democracia

Interessante troca de comentários após os dois vídeos do post anterior.

O primeiro é de Bruno António:

Já agora…digo aquilo que te escusas a dizer para não seres acusado de heresia, estou-me lixando para esta democracia, se isto em que vivemos é democracia já não me sinto um democrata, que venha alguém e ponha ordem nisto, chamem-lhe ditador, chamem-lhe o que quiserem… mas que devolva a dignidade que nós esta a ser sugada ao mesmo ritmo das condições de vida, só espero que a reposição da legitimidade não seja tentada pelos militares (…).


Este é um ponto extremamente importante.
Bruno, eu acho que este sentimento é bastante difundido e fundamentado: como é possível gostar desta democracia?

É dito que a democracia, longe de ser perfeita, é o menor entre os males possíveis: escrevi o mesmo neste blog no recente passado. Mas agora surgem as dúvidas: será de facto o mal menor?

Ao viver no continente europeu posso falar da experiência vivida aqui; uma experiência alucinante.

A nível supranacional estamos dirigidos por um grupo de pessoas que nunca foram eleitas e que gostam de definir-se “Comissão Europeia”, enquanto os verdadeiros eleitos, os membros do Parlamento Europeu, nada podem fazer a não ser falar e pôr o carimbo em decisões já tomadas.

A nível nacional quando uma pessoa é eleita com pouco mais de dois milhões de votos (o presidente Cavaco Silva) afirma-se que “os Portugueses escolheram”. Isso enquanto nas eleições legislativas o primeiro partido é aquele da abstenção, que é tranquilamente ignorado. Resulta portanto interessante o funcionamento desta democracia, onde uma minoria (e bem pequena, diga-se) pode legitimamente eleger uma pessoa, mas onde uma maioria relativa pode ser ignorada.

E isso sem entrar no mérito dos vários partidos, só porque não somos masoquistas.

Depois há o nível local. E aqui há a nota mais dolorosa, porque na minha óptica é aqui que nascem os grandes males desta democracia. Nem todos, mas uma boa parte sim. Os eleitos pertencem sempre aos partidos do costume, mas nem é este o verdadeiro problema. O problema é que, para ficar em Portugal, são eleitas (às vezes com maioria esmagadora) pessoas que numa sociedade normal deveriam passar uns bons tempinhos nas pátrias prisões.

Pessoas que criaram uma verdadeira máfia local (João Jardim), pessoas que já foram condenadas por vários crimes e que conseguem não ficar presas só porque conseguem pagar advogados que fazem bem (ou mal, pontos de vista) o próprio trabalho.
Este não é algo ponto que possa ser ignorado: o que o cidadão diz ao votar nestes criminais é “não me importo se tu fores um criminal, o que quero é que continues a favorecer-me”.

A isso podemos acrescentar o exército de pessoas que votam só porque gostam dum determinado partido (que, consequentemente, poderá infringir qualquer lei pois será sempre justificado), as pessoas que votam nos mesmos “porque afinal são todos iguais”, as pessoas que votam e nem percebem o que fazem…

A democracia não funciona pela simples razão que a sociedade está podre já nos alicerces. Como podemos esperar bons governantes nacionais se já os locais forem eleitos com estas bases? O mundo político é como uma pirâmide, na qual há um lento intercâmbio entre base e topo: os ladrões eleitos ou nomeados hoje nas câmaras podem ser os deputados de amanhã.

Que tipo de colaborador poderá nomear um presidente de câmara que abriu uma conta na Suíça em nome do neto (e falamos de Isaltino Morais)? Nomeará um vereador íntegro ou alguém disposto a ter uma visão suficientemente “elástica” para entender os negócios ocultos do chefe?

José Socrates, o anterior primeiro-ministro, tinha sido engenheiro técnico do Conselho da Cidade da Covilhã e depois membro da assembleia municipal da mesma localidade. Assim, começou em âmbito local.

Pedro Passa o Coelho (ou algo parecido) era (ou ainda é, nem sei) presidente da assembleia municipal de Vila Real. Hoje é primeiro-ministro. Outro caso da ligação entre poder local e nacional.

Em primeiro lugar, portanto, temos de pôr em evidência a nossa responsabilidade. Nossa e de mais ninguém. A democracia é o que é porque nós permitimos que assim fosse e que ainda seja.

Mas, claro, nesta altura falar de democracia faz pouco sentido. Formalmente sim, há eleições, campanhas eleitorais e todo o resto. Mas além da fachada, o que sobra? Pouco: apenas uma elite, para fazer parte da qual há um percurso que podem bem começar com cúmplices silêncios num escritório municipal para acabar na Assembleia da República.

Eis que então surge o desejo: que apareça alguém e ponha ordem, um ditador ou em qualquer caso uma pessoa com poderes fortes, que devolva a dignidade.

Parece uma heresia, não é? Mas não é: é História. Mais uma vez.
Porque Portugal já passou por isso, com Salazar. Não é minha intenção aqui fazer elogios a um regime ditatorial, pois não é este de certeza o meu ideal político. Mas se conseguirmos afastar dos prejuízos, podemos observar que, do ponto exclusivamente financeiro, Salazar conseguiu excelentes resultados. E não há como negar isso.

E em que tipo de crise estamos aparentemente mergulhados agora? Olha só, uma crise financeira.
Juntamos a isso um nunca desaparecido sebastianismo, traço tipicamente português, e pronto, teremos uma legítima vontade de alguém que ponha um pouco de ordem na casa.
E sublinho: legítima.

E aqui surge o segundo comentário, de Walner.

É compreensível o sentimento de que só um salvador da pátria possa nos tirar do lodaçal, mas pergunto: será que a coisa toda não foi planejada com esta finalidade? O tal trinômio problema, reação, solução?

Aqui no Brasil a mesma coisa. Uma boa parcela da sociedade se sente orfã da ditadura militar. Sei que não é o que Bruno deseja, mas qual a diferença entre ditaduras? Todas no final das contas estarão a serviço das corporações, que são na verdade nossos verdadeiros e terríveis algozes. Claro, também a democracia está a serviço destes senhores.

“Todas no final das contas estarão ao serviço das corporações”.
Não sei se for mesmo assim, mas este comentário traz de volta uma dúvida que já tinha aparecido no blog: será esta desacreditação da democracia um evento natural ou um plano?

Quem apoia a ideia duma Nova Ordem Mundial verá nisso um plano bem orquestrado para uma viragem autoritária das sociedades ocidentais. Eu tendo a considerar esta Nova Ordem como mais ligada ao mundo económico, mas feitas as contas é óbvio que Estados autoritários e complacentes favoreceriam uma economia já amplamente “pilotada”.

Pode ser esta uma explicação? Sim, pode bem ser. Mas acho que, mais uma vez, temos de prestar atenção para distinguir entre causas verdadeiras e o nosso desejo de desresponsabilizar os nossos actos (ou a falta deles). Dito de forma mais clara: a Nova Ordem Mundial não pode ser apenas um álibi, uma forma de dizer “é por isso que tudo está mal”.

Não, não é por causa disso: tudo está mal porque nós deixamos que tudo esteja mal.
Porque não seria possível explicar de outra forma como 1% consiga controlar 99% da população. Sim, podemos acrescentar a cumplicidade dos media, o condicionamento psicológico, as mensagens subliminais, o programa MK Ultra, o Haarp, as alienígenas, tudo… mas será sempre 1% contra 99%.

Na hora que as pessoas fizerem saques massivos nos bancos, boicotarem as corporações em geral, relegarem o governo à sua insignificância, eles serão obrigados a expor suas abominações. Do jeito que vai, estão ganhando tempo para agirem no momento que lhes for propício.

É isso. Até quando a sociedade civil não tiver uma reacção, não haverá mudanças positivas. E neste panorama os moldes institucionais tornam-se insignificantes: uma democracia podre pode bem deixar o lugar para uma ditadura podre.

Quando no banco dum supermercado aparecer uma maçã podre, é boa norma deita-la no lixo. Porque podemos mudar a embalagem, pô-la numa caixinha branca revestida de celofane transparente, mas não deixará de ser uma maçã podre.

A maçã podre não é a classe política, mas a sociedade. Que é o húmus no qual desenvolve a classe política e não o contrário.

Eu continuo com as minhas dúvidas perante a democracia. Acho que já demonstrou não ser suficientemente forte para resistir aos riscos do empodrecimento da sociedade. Talvez nem exista um sistema político capaz de ser ao mesmo tempo ao serviço da sociedade e estímulo para a mesma sociedade, porque qualquer sistema funciona com base em nós e nas nossas escolhas.

Então, talvez, seja a sociedade a ter um “bug” e deveria ser repensada. Mas este é outro discurso.

Caro Bruno, como você estou farto deste triste espectáculo, e acho que a maioria dos Leitores deste blog prova o mesmo. Mas acho que há razões profundas que justificam esta situação, razões que devem ser procuradas não no “macro” mas no “micro”. Nós, a falta de respeito que temos em relação ao que nos rodeia, aos bens comuns, aos ideais, aos valores, aos nossos vizinhos.

Em última analise: a falta de respeito que temos por nós.

Ipse dixit.

15 Replies to “A maçã podre: do fim da democracia”

  1. Ora deixa cá ver. Vivemos num sistema que chamamos de democracia ou será antes capitalismo, talvez democracia capitalista quiçá, capitalismo democrático etc. etc. TRETAS. Vivemos num sistema em que os espertos sempre tiraram vantagem sobre os burros. Sempre assim será. É a natureza humana. Os burros mostram constatemente a sua condição de burros e os espertos já nem se preocupam em esconder o que quer que seja dos burros. Já não é necessário. Os burros por vezes protestam mas como são burros, rápidamente voltam para o seu lugar na carroça. Quanto aos espertos vão ficando cada vez mais espertos e mais sofisticados. Qualquer dia aos burros nem zurrar será permitido. E eles não zurrararão ( que raio de palavra ).

    abraço
    Krowler

  2. Olá Max: muito bem pensado/comentado. Também compreendo o desespero do Bruno, mas querer que surja alguém para resolver os nossos problemas pode nos criar um problema ainda maior. A sociedade civil européia, me parece, é que tem de reagir a essa situação inédita. Digo inédita porque,salvo melhor juízo,o corporativismo financeiro e o estado policial vinha deitando suas garras no terceiro mundo. Então me parece que a sociedade européia, acostumada ao bem estar social, e convencida que sofre "de um mal estar passageiro", não despertou para a necessidade de se auto organizar, independentemente das cúpulas políticas e/ou econômicas. Isso vai acontecer começando com individualidades anônimas em associação com os que estão mais próximos. Eu gostaria de propor uma questão aos frequentadores do botequim do Max: o que cada um de nós está providenciando neste sentido? Abraços

  3. Estimado Max: agradeço a honra que me foi concedida na rápida e completa resposta ao meu comentário. Maria: quanto á minha “heresia” e desespero com “esta democracia” …estou apenas a tentar abanar a arvore, na verdade a palavra ditador não é sinonimo de mau…a ditadura é por vezes um mal necessário, actua como um antibiótico numa infecção neste caso uma infecção de corrupção e desinteresse.
    O que faço neste contexto pantanoso? Ora bem, em primeiro lugar uso o banco para receber o ordenado e levanta-lo quase todo logo de seguida, não confio, não gosto e não quero conversas com bancos…empréstimos? Sou alérgico, prefiro a minha casa alugada, o meu carro esta a passar a barreira psicológica dos 20 anos…mas se há aviões com trinta anos que voam todos os dias o meu carro tem de fazer ainda mais 20..pelo menos! Uso-o cada vez menos…e ando cada vez mais numa bicicleta que comprei em 2.ª mão ( nota-se no perímetro abdominal) tenho-me dedicado á agricultura numa pequena horta sempre em expansão a qual não representa nem 5% da minha subsistência familiar…mas a experiência de vida é valiosíssima!!! Gosto reparar coisas velhas as vezes achadas no lixo e pratico sempre que possível a troca directa.
    Não bebo cocacola não como fast food nem outras tretas e estou cada vez mais vegetariano. Tento no meu circulo de amigos introduzir este tipo de assunto que debatemos neste blog…com calma…é um assunto pesado… tenho varias batalhas jurídicas em curso em Tribunais e outras contra autoridades administrativas e multinacionais, reclamações minhas e de amigos e conhecidos e amigos de amigos que mas confiam e nas quais trabalho gratuitamente ( as vezes aeito hortaliças) com requintes de sadismo e malvadez.. : ) ( estou a brincar trabalho apenas com muito afinco) É pouco ? É …mas tenho vontade de mais…alguém tem ideias?

  4. Bem dito Bruno António. Hoje plantei mais 2 pereiras no meu pomar, já vou em 36 arvores diferentes. Tambem não bebo coca-cola nem vou ao fast-food, quase nao vejo televisão,tenho um carro com 13 anos, não uso cartão de crédito etc. etc. Estou de acordo com tudo. Há muito tempo que tento alertar os meus conhecidos e quem estiver ao lado para a situação a que chegámos, participo em varios foruns, tento fazer a minha parte. Mas existe um pequeno senão: Chamam-me de chato, ave agoirenta, que só falo da crise e a minha taxa de sucesso é muito baixinha. Mas eu insisto, volto a insistir e nunca desisto. Se poucos % de pouco não é lá grande coisa, poucos % de mais já é melhor. Quanto a ideias, tenho pensado muito no assunto e penso que um post do Max sobre vida e economia alternativas era bem vindo, para discussão.

    abraço
    krowler

  5. olá Bruno e Krowler: obrigada por responderem com as iniciativas de vocês, em muito parecidas com as minhas, e que considero de muito bom gosto.Para quem frequenta II e lê os comentários, conhece as minhas iniciativas, de forma que não é necessário repeti-las neste espaço de comentário. Apenas, imaginem que muitas e muitas pessoas se sintam curiosas de também fazer o que vocês estão fazendo com relação a bancos, aproveitamento sem desperdício, relações de solidariedade com outras pessoas, tentativas de fazer vigorar o estado de direito e tudo mais, não me parece pouco, e é sempre conveniente divulgar para que as pessoas não se sintam isoladas e pensem ser as únicas a remar contra a corrente. Idéias? Não operar iniciativas sozinho. Juntar-se a outros que fazem as mesmas coisas e têm afinidade de pontos de vista. Saraiva está articulando coisas. Rita num comentário, colocou sugestões interessantes, tentar algo juntos.
    Pessoalmente muitos de nós devemos ter muitas coisas para trocar. Sugeri um encontro não virtual em Lisboa com algumas manifestações positivas tanto daqui como daí. Mas continuo a esperar "críticas,insultos e elogios", mas também formas de operacionalização.
    Abraços

  6. Pois é Krowler falar nestes assuntos sem ser chato é uma arte por isso o faço devagar e nem com todas as pessoas…mas a melhor forma de demonstrar que estamos correctos é através do exemplo e sem nunca cair no fundamentalismo, de facto um post sobre economia domestica era muito bem vindo…apesar de eu saber que isto não é um programa de discos pedidos : ) Com 36 arvores de fruto já começas-te a pensar numa colmeia de abelhas?…integrava-se bem nesse ecossistema ; ) ser guloso tem destas ideias…
    Um abraço

  7. Nunca imaginei que chegasse o dia em que um europeu pedisse uma ditadura.
    Cresci em um mundo onde democracia significava ter uma vida digna a exemplo dos europeus e norte-americanos, que chegando a democracia teríamos igualdades sociais, e consequentemente seríamos um povo mais culto, mais politizado, mais tudo.
    Quando chegou a tal "democracia" o que ví foi a elite se aproveitando mais ainda do povo, o povo sendo mais escravizado ainda pelos empresários, ví políticos e presidentes da república acabar com o nosso pouco patrimônio que tinhamos no Brasil, ví trabalhadores sendo trocados por empregados de empresas terceirizadas totalmente desqualificados e ganhando metade ou até menos do salário dos antigos, ví "políticos" se aproveitando de infelizes e trocando votos por pratos de comida.
    Com a "democracia" não tivemos a melhora que tanto almejávamos para nosso país.
    Sempre me perguntei porque os países ditos primeiro mundo não se preocupavam com países onde a exploração era desumana?
    Aqui no Brasil aprendemos a contornar qualquer crise, aprendemos que mesmo quando todos nos virarem as costas, mesmo assim daremos a volta por cima. Em um país onde a miscigenação era a causa da própria desgraça para os países do primeiro mundo, acho que estamos nos saindo bem.
    Hoje vejo que tudo que passamos nos serviu de lição e não tememos mais nenhuma crise interna, mas agora tememos pelos europeus (aqueles que tanto nos rejeitaram em suas alfândegas), tememos pelas guerras que os governantes do dito "primeiro mundo" ainda estão a fazer no mundo, tememos pelo neocolonialismo que nossos vizinhos sulamericanos possam sofrer, tememos pela nossa floresta que o dito "primeiro mundo" teima em dizer que é patrimônio do mundo e que temos que preservar para o bem deles.
    Essa "democracia" que o povo da Europa agora reclama foi o que nos foi dado de presente após anos de ditadura, e houve épocas que tivemos saudade da ditadura, mas fomos firmes e hoje o país vai a passos muito lento(mas vai)em direção de uma vida melhor com menos desigualdade, mas hoje podemos dizer que sabemos a diferença de uma "democracia" e DEMOCRACIA.
    Ainda temos muito o que aprender aqui no Brasil, mas sabemos muito bem que não queremos mais uma ditadura. Acredito que a América do Sul esteja vivendo uma Socialdemocracia, temos liberdade de expressão mas sabemos muito bem que uma pessoa com a estômago vazio não consegue se expressar e muito menos gritar.
    Hoje temos acesso a verdadeira história de nosso país, coisa que nos foi escondido por muito tempo pelo dito "primeiro mundo".
    Aqui no Brasil ainda existe solidariedade, e é com essa solidariedade que se pudermos iremos ajudar no que for preciso a qualquer povo que esteja sofrendo aquilo que já sentimos na nossa própria pele.

    Sei que o que estou a dizer aqui pode ser ofensivo para alguns, mas quero que saibam que sou descendente de italianos e que tenho orgulho de minhas origens.

    Um abraço a todos

    Dona do Burgos

  8. Acho que os um por cento têm mais conhecimento dos que os restantes noventa e nove e por essa razão somos governados. Acho que a democracia como a temos hoje é apenas uma ideologia para satisfazer as massas, já que o que realmente governa o mundo acima dos governos é a plutocracia. Se somos os responsáveis pela nossa própria miséria o que é um fato muito se deve a nossa índole crédula e permeável. Quero crer que isso tudo tem solução, mas será um trabalho muito difícil já que a ideologia capitalista está impregnada até a raíz na psiquê do povo. As pessoas só mudam de paradigma quando perdem a zona de conforto em que se encontram. Hoje temos a "democracia" como modelo "inatacável" e quando esta falir definitivamente como está a acontecer o "povo" vai se atirar nos braços de outra ideologia salvadora desde que esta ofereça um mínimo de conforto.

    Todo o progresso do primeiro mundo foi cosntruido a custa de ferro e sangue dos africanos e latino-americanos, dos primeiros fizeram escravos e dos latino-americanos levaram os recursos naturais, madeira, cultura extensiva da cana-de-açucar e muitos palácios europeus foram eregidos com o nosso ouro e prata, e é claro sem antes causar um genocídio sem precedentes na história para conseguir este intento. Por aqui mataram todas as iniciativas econômicas e sociais de desenvolvimento nos jogando nos braços dos interventores portugueses e espanhóis, gente da pior espécie que era iservível na sua próprias nações. Sempre nos foi negado ser uma sociedade justa e desenvolvida.

    Desde aquela época quem sempre esteve por trás de tudo era o povo europeu? não, era sistema econômico de então que em tudo ingeria e o povo era tão tonto naquela época quanto ainda é hoje, então pouco importa o sistema de governo se é monarquia, democracia, comunismo ou teocracia no frigir do ovos dá tudo no mesmo.

    Por quê não viver como viviam os nossos antepassados em aldeias de forma mais natural, cooperativa e sem dinheiro e com o conforto adequado ao nosso conhecimento atual, quem sabe esta adversidade que nos é imposta pelas circunstâcias atuais não seja a solução para que possamos por em prática a nossa verdadeira criatividade e deixemos de ficar olhando para o próprio umbigo e lamentando a sorte?

    A ELITE precisa de nós, mas nós não precisamos deles, somos muitos é só preciso mudar o nosso modelo ideológico-mental de manada e partir daí poderemos vislumbrar a nossa verdadeira identidade e vocação.

    Abraços

  9. Gostaria aqui de dizer que cada vez mais penso e acho que a democracia é de impossível existência. E não sou eu que estou a dizê-lo, só estou a repetí-lo porque de facto é evidente, já Platão, Aristóteles e outros o diziam.
    O problema é que não vivemos de maneira nenhuma em democracia, porque a democracia não se esgota no velho chavão de "o povo é soberano", nem no sufrágio universal. Isso são questões menores da verdadeira democracia, mas são essas que contam aqui, exclusivamente. Nós temos é uma república pluto-cleptocrata, e o 25 de abril (espero não ser crucificado por dizer isto, mas tem de ser dito, porque não nos dizem nem nunca disseram a verdade) foi uma coisa mal feita, que contribuiu muito para a nossa actual plutocracia servida por cleptocratas à la carte.
    Não contesto o 25 de abril em si, contesto sim o modo e o momento em que foi feito.
    É preciso grandeza de espírito para reconhecer isso, e o povo português continua agarrado a uma revolução que pôs o povo pior do que estava, com mais tecnologia e high tech mas com menos alma e saber. Perderam-se os valores, o utilitarismo é rei e senhor.
    Cumprimentos.

  10. Olá Burgos!

    Percebo o que dizes, mas acho preciso fazer um pouco de clareza.

    A Democracia que actualmente estamos a viver em boa parte da Europa (quase toda) não tem nada de democrático, a não se a fachada.

    Burgos, sei que pode parecer um exagero, mas esta é já uma ditadura. Porque quando és governado por pessoas que nem tu nem os teus concidadãos escolheram (Comissão Europeia), o termo ditadura parece-me pertinente. Podemos discutir: será uma oligarquia, será uma cleptocracia, será uma outra coisa ainda, mas Democracia não é.

    E nos Europeus (em alguns deles) nasce a ideia de que qualquer sistema alternativo dificilmente poderia ser pior. O que é verdade.

    O que circula por aqui não é bem a vontade duma ditadura: é vontade de mudança.

    Calcula depois que Portugal é um País que bem conheceu a ditadura (como o Brasil, doutro lado), onde ainda hoje há pessoas que rezam para o regresso de Salazar: o 25 de Abril foi um trauma nunca absorvido nesta sociedade, pelo contrário, é algo bem presente.

    Lógico, portanto, que a primeira alternativa que vier à cabeça seja mesmo esta, porque o Estado Novo (o regime de Salazar) na realidade tinha muito mais apoiante de quanto a retórica de Esquerda deseje admitir. Além do facto do regime nascido após 1974 (ano da revolução) não resolveu muitos dos problemas que já existiam antes.

    Eu acho que ninguém, na verdade, deseje o regresso da ditadura, nem em Portugal, nem em outros lugares. O discurso é bem mais complicado e a solução pode ser encontrada nas tuas palavras.

    "Essa "democracia" que o povo da Europa agora reclama foi o que nos foi dado de presente após anos de ditadura".

    Eu tenho muita confiança no futuro do Brasil: há problemas profundos, sem dúvida, e o caminho será ainda comprido, mas o País goza de características positivas próprias que podem determinar cenários novos e inesperados.

    Mas acerca da Democracia, o problema é mesmo este: foi "dada" (por assim dizer) aos Brasileiros quando já na Europa estava implementada há bastante tempo. E, ao que parece, a Democracia não é como o vinho, que melhora com o passar dos anos. Pelo contrário, na Europa tornou-se uma aberração.

    E aqui uma nota para o comentário de Skedsen: "Gostaria aqui de dizer que cada vez mais penso e acho que a democracia é de impossível existência".

    Acrescento eu: a Democracia funciona quando as coisas vão bem, quando há uma economia que produz riqueza, quando houver crescimento, q1uando todo o País está empenhado num trend positivo.

    Porquê? Porque naquela altura a classe política fica de lado, deixa que seja a inercia do crescimento a governar o País. [continua]

  11. [continua]
    Os problemas começam quando a classe empresarial adverte um abrandamento: aí pede ajuda aos políticos e esta é a altura em que o castelo de cartas começa a ruir.

    Há alguns anos saiu um livro excepcional em Italia, "Della Guerra dei Politici contro Nord e Italia", que re-percorria a história da Italia desde o fim da II Guerra Mundial e explicava bem este processo.

    "É preciso grandeza de espírito" para cultivar uma Democracia sem cair nas tentações do clientelismo, da corrupção, do abuso, etc.

    Se calhar é por causa disso que a Democracia é destinada a falir: existe uma sociedade com tal grandeza de espírito? Duvido muito.

    "A ELITE precisa de nós, mas nós não precisamos deles, somos muitos é só preciso mudar o nosso modelo ideológico-mental de manada e partir daí poderemos vislumbrar a nossa verdadeira identidade e vocação" acrescenta Tibiriça. Concordo em pleno.

    No entanto, aqui nem conseguimos mostrar um mínimo de dignidade para livrar-nos destas sanguessugas e retomar um pouco de dignidade. Muitos (mas muitos mesmo) estão conscientes disso.

    E isso é como deitar gasolina no fogo do desespero. Por enquanto. Porque existem limites além dos quais até uma ovelha fica zangada. E quando uma ovelha ficar zangada, uhi… 🙂

    Grande abraço para todos!

  12. "O Brasil nunca cresceu tanto quanto sob a chamada Ditadura Militar. Estradas rasgaram o Brasil, universidades foram multiplicadas. Ciência e tecnologia começaram para valer no país sob a tutela dos militares. João Figueiredo, o general, o duro, grosso, morreu pobre. Muito pobre. Tendo de ser ajudado por amigos. Diferente de outros que estão e que vão sair do governo sem saber o que é miséria. Pelo menos não depois de passar pelo governo.

    'Ah, lutávamos pela liberdade' (dizem os envolvidos). Liberdade eu tinha como jovem, de andar pelas madrugadas de Porto Alegre, Rio, São Paulo, Belo Horizonte, como jornalista, com um radinho de pilha no ouvido. Não era molestado por quem quer que seja. Eu tinha segurança de cidadão brasileiro. Hoje, saia a noite. Não tem mais segurança. Que tipo de progresso veio com a chamada democracia.

    E desde quando, ao tempo dos militares, nós fomos impedidos de estudar, de entrar nas livrarias e comprar um livro, de escolher onde trabalhar, de ter o direito de ir e vir. Eu não fui e era jornalista e trabalhava na linha de frente dos veículos em Porto Alegre. Quer dizer, de lá para cá, o Brasil andou para trás. A imoralidade tomou conta de todos nós. E se Rui Barbosa estivesse vivo, haveria de dizer que, verdadeiramente, estamos cansados, constrangidos de ter vergonha. Que Brasil é esse que melhorou? General Figueiredo, que Deus o tenha, a ti, que morreste pobre, e nos ensinou o caminho da verdadeira luta e da verdadeira e legítima democracia.
    Luiz Carlos Prates

    —————–

    Tenho que concordar com Prates, afinal, o que se ve hoje são os homens do poder dormindo pobres e acordando milionários.
    Uma afronta para um povo de maioria miserável. 50000 homicídios por ano, uma residencia é assaltada a cada 4 horas…

    Os militares deram exemplo de patriotismo enquanto que os atuais mercenários do poder só servem mesmo é de exemplo para bandidos.

    E a economia?
    Baseado no binômio segurança-desenvolvimento, o modelo de crescimento econômico instaurado pela ditadura conta com recursos do capital externo, do empresariado brasileiro e com a participação do próprio Estado como agente econômico. O PNB cresceu, em média, 10% ao ano entre 1968 e 1973.

    Max e outros, mais informações aqui:
    http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/ditadura-militar/economia-na-ditadura-militar.php

    e aqui:

    http://www.olavodecarvalho.org/textos/resumo_1964.htm

  13. Boa noite a todos.

    Agradeço as preciosas fontes Marcelo.

    Não esqueçamos que todos os ditadores que existiram na história foram inicialmente apoiados pelo povo. É estranho sim, mas é história, o povo sempre apoia um ditador. Pelo menos sempre apoiou de início. Acho que deveríamos pensar melhor sobre isso.

  14. Olá Marcelo:
    Vou me deter hoje na educação. Caso contrário teria de escrever um tratado, e aqui não é o lugar.
    "…universidades foram multiplicadas"
    As particulares empresariais e as chamadas filantrópicas ou religiosas, inacessíveis aos pobres, e com bibliotecas restritas porque as grandes bibliotecas brasileiras foram queimadas, ou seja, os militares mandaram atear fogo aos livros. O governo militar investiu dinheiro público em um programa de desenvolvimento do ensino médio, de caráter profissionalizante,(PREMEN) onde o ensino das humanidades deram lugar a educação moral e cívica (da ditadura militar entreguista) com acordo MEC-USAID, que revelou-se um fracasso absoluto. Foram baixadas ordens de censura a tudo que fosse divulgado: livros, revistas,jornais músicas, filmes, peças de teatro, pinturas, esculturas e até obras de arquitetura passavam pelo crivo dos censores militares.A rádio Nacional que reproduzia em 4 línguas, e atingia todo o território brasileiro praticamente desapareceu. E a miríade de rádios existentes passaram a tocar Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Vanderléia (cantores de matiz romântico jovem e de expressão artística duvidosa)tanto quanto os programas de auditório de TV. Ao mesmo tempo o Jornal Nacional televisivo, monopolizado pela Globo, existia para narrar os infames assaltos de bancos efetuados por "subversivos comunistas", os desfiles da semana da pátria, as iniciativas filantrópicas das senhoras da sociedade, capitaneadas pelas organizações Lions e Rotary Clubs, Deus, Pátria e Propriedade, Opus Dei e fundações norte americanas como a Fundação Ford e Rockfeller, que distribuíam bolsas de estudo e outras bem aventuranças culturais do império. Tudo isso recheado com novelas a gosto e filmes de bandido e mocinho de Hollywood. Verdadeiramente um must cultural, que do mundo só se referia aos states para aplaudir e, se em 1968, alguma pessoa comum soubesse da revolução de 68 no mundo, deveria ser agraciada com um prêmio!!

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