“Não têm provocados um grande número de vítimas civis…”

Na passada Segunda-feira, o simpático Barack Obama tornou-se o primeiro presidente a participar numa reunião virtual on-line na Internet.

Embora possa ser considerado um acto digno de figurar no livro dos recordes, o presidente Obama também fez uma outra coisa durante a reunião: mentiu. Tá bom, não é novidade. Mas não deixa de ser um bocado irritante..

Na web-chat hospedada pelo Google, o Presidente pronunciou-se sobre uma série de questões colocadas pelos cidadãos americano.

No prazo de quarenta e cinco minutos, o presidente Obama justificou a lei Stop Online Piracy Act recusando a falar sobre o assunto em profundidade, admitiu não ser um grande dançarino e ter tomado aulas de pantomima.

Enquanto isso, ignorou os problemas reais e não ofereceu qualquer solução sólida para os graves problemas do seu País, mas falou de algo importante, algo acerca do qual todos deveriam reflectir: as missões em curso dos drones norte-americanos afinal não são tão más.

Drones não prejudiciais

Tentando contrastar uma pergunta sobre os bombardeios dos drones, o presidente Obama defendeu nesta segunda-feira as missões actuais, dizendo que são necessárias para identificar os terroristas de uma forma mais eficiente.

Se tentássemos encontrá-los com outros sistemas, isso poderia levar a uma acção militar muito mais intrusiva do que está a acontecer agora.

Segundo Obama, as missões realizadas com drones, aviões sem tripulação e controlados remotamente, não fazem grandes danos:

[Os drones] não têm provocados um grande número de vítimas civis e é importante saber que este assunto é mantido sob estreito controle.

Quantos mortos? Algumas centenas. E algumas centenas, na óptica do simpático Obama, não são um grande número. Agora, fossem milhares ou até milhões, talvez seria possível falar em “número significativo”, mas algumas centenas de civis são mesmo o mínimo requerido. Fazer melhor é impossível.

Obama sugeriu também que a continuação do programa dos drones não seria prejudicial para a segurança dos cidadãos estrangeiros: sobretudo por aqueles não atingidos, pois os outros, os que são esmagados ou explodidos, podem ter uma visão ligeiramente diferente.

Centenas de mortos

Entre esta última categoria o britânico Bureau of Investigative Journalism inclui não menos de 385 civis mortos desde o ataque com os drones, metade dos quais eram jovens com menos de 18 anos. No caso deste 385 vitimas pode ser observado um certo grau de prejuízo. Não muito, mas há.

Há todavia um problema: a maior parte das missões não tripuladas são mantidas secretas, os mortos não são contados e os resultados não são divulgados nem uma vez acabada a operação. Isso significa que nem os dados da CIA (que fala em 50 mortos) nem os dados do Bureau inglês reportam os dados efectivos e que o total é provavelmente bem maior.

Num ataque em Março passado, por exemplo, vinte e seis paquistaneses foram mortos após uma missão dos drones americanos em Islamabad, Paquistão. Mais tarde foi revelado que mais de uma dúzia de mortes nesse único ataque estavam relacionadas com civis inocentes. Tudo bem, na óptica do simpático Obama mais de 12 civis mortos não são grande coisa, mas falamos aqui dum único ataque.

O mesmo Bureau admite que o número de civis mortos nos ataques provavelmente é de 40 por cento maior do que afirmado. Por isso não são apenas 385, mas muito mais. E não podemos esquecer os feridos: 775, no mínimo.

775. Sempre um número não muito significativo. A não ser que o Leitor seja um destes 775, no qual caso a ideia de “significativo” muda bastante.

Paquistão, Afeganistão, Líbia, Iraque…

É este o total? 385 (mais 40%) e uns míseros 775 feridos (oficiais)?
Na Líbia, onde os Estados Unidos oficialmente não tomaram parte no conflito, de acordo com Obama, as tropas americanas lançaram 145 drones em poucos meses. Tal como acontece com a maioria das missões dos drones, o Departamento de Defesa não divulgou quaisquer estatísticas oficiais sobre as mortes provocadas. Estas mortes oficialmente não existem, não contam.

Num relatório de 2009 do Brookings Institution (um dos mais antigos think tank americanos, com ligações Rockefeller-Dupont), Daniel L. Byman escreve que “para cada militante morto, dez ou mais civis são mortos também.”

No Paquistão, onde os ataques dos drones tornaram-se uma prática diária, os civis são aterrorizados pela possibilidade de se tornar o próximo alvo dum avião americano. Saadullah, um adolescente que no ano passado falou com um repórter da BBC, perdeu as duas pernas durante uma missão. Três dos seus parentes, todos civis, foram mortos por ataques americanos. Asghar Khan, um idoso de Islamabad que também falou com a BBC, informou que três dos seus parentes tinham sido atingidos pelos ataques dos drones:

O meu irmão, o meu sobrinho e um outro parente foram mortos por um drone em 2008. Estavam sentados perto dum conhecido doente quando foram atacados. Não havia Taliban ao redor.

Paciência, afinal foram só quatro pessoas, das quais uma já doente. Para este último é possível quase falar em acto de misericórdia.

E os drones são presentes também onde a guerra já acabou. Oficialmente.
Os céus do Iraque são vigiados por drones, ainda hoje.

Hisham Mohammed Salah, dono dum café em Baghdad, falou com o New York Times ainda nesta semana:

Ouvimos às vezes que os drones têm exterminado a metade duma aldeia no Paquistão ou no Afeganistão sob o pretexto de lutar contra os terroristas. O nossa medo é que isso possa acontecer no Iraque com uma desculpa diferente.

Este é o resultado dos drones, como explica David Kilcullen, sempre da Brookings Institution:
Ao intervir neste Países com drones contra pequenas células de terroristas, acabamos com o provocar a reacção adversa de todo o País.

Mais e mais drones

No novo orçamento do Pentágono, os Estados Unidos prevêem eliminar gradualmente cerca de 100.000 militares, enquanto enxames de drones serão adicionados no arsenal. Compensa: é uma guerra cirúrgica, que não provoca um grande números de mortes civis, apenas algumas centenas do ponto de vista oficial, muitas mais na realidade.

E depois Obama foi claro: “Este assunto é mantido sob estreito controle”.
Podemos dormir descansados.

Ipse dixit.

Fontes: Russian Today,

2 Replies to ““Não têm provocados um grande número de vítimas civis…””

  1. arsenal atômico , manipulação de vírus , testes químicos nas áreas mais carentes , fraudes , esquemas de corrupção, subempregos , aspartame , twitter , ressacas de segunda feira …. e agora os drones … é , agora o suicídio não me parece tão mal assim . não é atoa que a população de baratas seja maior que a de seres humanos .

  2. Sempre levando em conta a eficiência agregando tecnologia e evitando o risco dos problemas colaterais, seja na própria tropa e principalmente para manter em foco os inimigos, e estes pelo receio, pelo medo serão alvos mais fáceis e caso haja algum incidente "grave" os drones não têm parentes e fica-se sem saber a quem culpar. Então muito cuidado ao sair à rua…será que o que está voando é um urubú, o supermman ou é o brinquedinho do obama "videogame" que deve se cagar de rir quando acerta alguém.

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