Krugman e a dona de casa

Já falámos várias vezes de Paul Krugman, o economista americano que ganhou até um Prémio Nobel.
E o que diz Krugman agora?

Krugman sustenta que o Produto Interno Bruto (o PIB, a riqueza gerada) da maioria das principais economias europeias está a evoluir pior do que após a Grande Depressão de 1929, o que prova que a austeridade na Europa não está a funcionar.

Informação Incorrecta não é de autoria dum Nobel mas, olhem só, tinha chegado à mesma conclusão. Terei que escrever para Estocolmo? A Fundação Nobel esqueceu-se de mim?

Nada disso. É apenas bom senso comum, o mesmo que podemos encontrar em qualquer mercado de rua, de manhã, entre as donas de casa que comprar a fruta.

O que faz uma boa dona de casa quando o filho dela estiver constipado? Tira-lhe a roupa e costuma pô-lo na varanda com 5 graus negativos ou tenta protege-lo e alimenta-lo para que possa recuperar?

Na Europa as Mentes Pensantes decidiram pôr todos na varanda e agora observam os doentes que estão a piorar. E não percebem. “Olhem só, estão pior”, “Não entendo, como é que não recuperam?”, “Esta gente não presta”.


Como ninguém recupera e até alguns entre os doentes estão à beira de encontrar os antepassados, as Mentes Pensantes não pensam “Será que a cura não é das melhores?”, pelo contrário, decidem que talvez o tratamento não esteja completo. Talvez falte um duche de água gelada, como no caso dos Gregos.

Duvidar não é opção, mesmo perante as evidências.

As empresas da Zona Neuro têm dificuldades? Então vamos aumentar o IVA, para que vender seja mais difícil.
Os desempregados aumentam? Então vamos facilitar os despedimentos.
As pessoas não compram porque não têm dinheiro? Então vamos aumentar baixar os salários e as reformas para que comprar seja cada vez mais difícil.

O que seria evidente para qualquer dona de casa, é totalmente estranho nas conturbadas sinopses das Mentes Pensantes. 

Pelo que surge a suspeita que o fim último não seja a recuperação do paciente. E é mais de que uma simples suspeita. Mas não vamos falar disso agora, voltemos ao bom Krugman.

Krugman, elaborou gráficos nos quais se compara a evolução do PIB na Grã-Bretanha e na Itália desde o início da Grande Depressão de 1929 com a evolução desde o início da crise actual (a que chama “Grande Recessão” e cujo início data em verdade de 2007). Olhando para estas comparações, fica claro que a evolução agora está a ser bastante pior.

Diário Público:

Quatro anos após o início da crise de 1929, o PIB do Reino Unido já tinha alcançado o pico pré-crise. Pelo contrário, agora isso ainda não aconteceu,e a tendência projectada é para que nos próximos dois anos continue a evoluir pior do que nos anos 1930.

No caso da Itália, o nível pré-crise foi alcançado cinco anos após 1929, enquanto na crise actual ainda não se perspectiva quando é que isso acontecerá.

Estes dois gráficos estão no blogue de Krugman, numa entrada datada de sábado, e serviram de base ao texto que publicou na coluna que tem no jornal The New York Times de domingo e que intitulou como “O fiasco da austeridade”.

O autor argumenta que, juntando a Espanha, três das cinco maiores economias europeias estão “no clube dos que estão pior”, o que representa “um colossal fracasso da política”, mesmo que haja ressalvas a fazer.

Krugman reconhece que a França e a Alemanha estão com um desempenho de PIB “muito melhor do que no início dos anos 1930”, mas sugere que isso se deverá às “terríveis políticas deflacionistas” que tiveram no passado. E receia que os EUA acabem por ficar virados para a direcção errada devido à Europa Continental, “onde as políticas de austeridade estão a ter o mesmo efeito que na Grã-Bretanha, com muitos sinais a apontarem para recessão este ano”.

O economista, que trabalhou em Portugal durante a década de 1970, diz ainda que “o que é enfurecedor nesta tragédia é que era completamente desnecessária”. Segundo explica, há cerca de meio século, qualquer economista ou qualquer estudante que tivesse lido Economics, de Paul Samuelson, poderia dizer que austeridade em cima de uma depressão era “muito má ideia”.

Mas agora “decisores políticos, analistas e muitos economistas decidiram, em grande medida por razões políticas, esquecer-se do que antes sabiam”, e “milhões de trabalhadores estão a pagar o preço por esta amnésia intencional”.

Conclui Krugman:

Com dois dos quatro grandes economias da Europa que fazem pior do que fizeram na Grande Depressão, pelo menos em termos de PIB (e são três em cinco ao contar Espanha), acham que os defensores da austeridade podem considerar que, talvez, possivelmente, estão no caminho errado?

No, caro Krugman, não há hipóteses. Mas obrigado na mesma.

Ipse dixit.

Fonte: Público, Krugman.Blog.NYT

2 Replies to “Krugman e a dona de casa”

  1. Olá Max: fiquei pensando o que aproxima e distancia a dona de casa e o burocrata corporativista, depois de ler este belo post.
    Ambos sabem perfeitamente as consequências das iniciativas tomadas.
    Ambos agem em função dos seus interesses. A dona de casa pensa no bem estar da sua família. O burocrata corporativista pensa no bem estar das finanças das poderosas corporações, de quem ele é empregado.
    O que difere é o alcance das suas iniciativas. Enquanto a dona de casa limita suas ações boas ou más ao pequeno círculo familiar, o burocrata corporativo, ou seja, os governantes, estendem as consequências boas ou más pra milhões de pessoas.
    Resta saber o que move os dois. A dona de casa em geral usa o amor e a dedicação como combustível e tem mais condições de acertar. O governante, no papel de burocrata corporativista, é movido a ordens superiores e ganância pessoal.
    E qual a natureza da ordem mais geral que move o governante que é burocrata corporativo? Causar terror, dor e comoção para esvaziar a possibilidade de resistência e reformar o funcionamento do sistema de acordo com os interesses dos poderosos.
    As donas de casa não estão satisfeitas com esses procedimentos, que consideram não amorosos e não promotores do bem estar das suas famílias?
    Não se deixem aterrorizar e imobilizar. Reajam, inicialmente conversando entre si, para tomar iniciativas de resistência, sabotagem e fuga que garantam as suas famílias o insucesso da iniciativa de causar terror, dor e comoção. Abraços

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