A cada um o seu lugar

Recebi há pouco um mail que julgo ser bem interessante. Como não tive tempo para pedir autorização, não publico o nome do Autor. Que, entretanto, agradeço e vamos chamar J..

Eis o que diz J.:

Eu estava lendo teu post hoje e tive um insight, impossível, mas que ajudaria muito a acabar com essa classe política burra, que existe aqui no Brasil, e provavelmente em Portugal, na Espanha, Itália, Grécia, ou qualquer pais do mundo, tirando os Nórdicos.
Então vamos la, se tu queres ser um medico, que tens que fazer? Uma faculdade de medicina, no Brasil são 6 anos mais 3 ou 4 ou 5 de especialização; se queres ser Engenheiro, são 5 anos, se queres ser bom, mais 2 anos de mestrado e 3 de doutorado; se queres ser Advogado, outros 5 anos mais uma prova para poder ser aceito pela OAB (Organização dos Advogados do Brasil) e poder exercer a profissão; se queres ser Economista, também 5 anos de estudo e assim vai.

Sem muitas diferenças, é o mesmo percurso que existe em Italia, em Portugal…

Agora, pera ser político, basta ter sido uma pessoa famosa e falar bonito ou quem sabe ter só 4 dedos em uma mão e nem português falar direito, quem sabe ser dono de terras no Nordeste brasileiro e poder comprar o voto de um monte de ignorantes (não estou falando de forma pejorativa).


De facto é assim.
A maioria dos políticos têm uma licenciatura: que, todavia, nada tem a ver com o cargo desenvolvido. Que sabe um advogado de medicina?

Depois há o problema da “territorialidade”, por assim dizer: alguns políticos conseguem os votos graças ao facto de ser pessoas “importantes” no lugar de origem, o que fornece uma boa quantidade de votos. Bom exemplo é o caso do Sul da Italia.

No nível nacional, a “territorialidade” é substituída com a capacidade de favorecer determinadas pessoas ou grupos. Em Portugal, por exemplo, são conhecidos como “boys” os que são assumidos na máquina do Estado só pelo facto de ter apoiado o vencedor. O actual governo acabou de “arranjar” lugar para 500 boys…

Para mim fica claro que o político brasileiro não e preparado para o cargo que exerce, então porque não profissionalizar a política? Criar uma faculdade voltada para isso. Seria interessante os políticos, falo como brasileiro, estudarem um pouco de Direito Administrativo, Direito Constitucional, Direito Tributário, Historia Brasileira, Historia da Política Brasileira, Historia Mundial, Historia da Política Mundial, Administração, alguma coisa de Economia (o mínimo para poder tomar uma decisão), quem sabe um pouco de Logística dos Transportes, um pouco de Engenharia.
E após a faculdade, deveriam fazer um teste valido por 10 anos para poder se eleger, e só os que passassem por estes testes seriam aptos ao cargo, um concurso publico como todas as outras profissões que são pagas pelo Estado Brasileiro.

O facto é que esta “escola” existe já: é a faculdade de Ciência Políticas. Quantos políticos que completaram o tal curso alcançaram importância nacional? Nenhum, acho. E isso porque a máquina política não deseja políticos, mas pessoas com outras características. Inúteis em teoria e para a sociedade, úteis na prática e para a classe dirigente..

Falo isso para os cargos de Deputados, Senadores e Presidente.
Para o cargo de Juiz federal o cara já tem que ser juiz por um certo tempo, para o cargo de Ministro, acho eu que deveria ser um expoente da Área, Ministro de Minas e Energia: quem sabe, uma pessoa com doutorado na Área; Ministro dos Esportes; quem sabe, um profissional formado em Educação Física e não um ex jogador de Futebol; Ministro da Educação, quem sabe, um ex professor, com mestrado, doutorado e alguns anos de Escola, que saiba quais são os problemas da educação Brasileira; Ministro da Saúde, um medico com alguns anos de profissão (em hospital PUBLICO).

O que faz sentido.

São algumas medidas que para mim parecem óbvias.

Se tu queres que uma empresa funcione, tu escolhe os melhores profissionais e qualificados para a área e não qualquer um que nem escrever direito saiba.
E este o problema, são medidas óbvias ou, para melhor dizer, que fazem todo o sentido. Por isso são ignoradas.
Esta é a lista dos actuais Ministros do Brasil. Por cada Ministério é indicado o Ministro e a formação dele.
Agricultura, Pecuária e Abastecimento Mendes Ribeiro Advogado
Cidades Mário Negromonte Advogado
Ciência e Tecnologia Aloizio Mercadante Economista
Comunicações Paulo Bernardo Curso de Geologia
Cultura Ana de Hollanda Cantora
Defesa Celso Amorim Diplomata
Desenvolvimento Agrário Afonso Florence História
Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior Fernando Pimentel Economista
Desenvolvimento Social e Combate à Fome Tereza Campello Economista
Educação Fernando Haddad Direito e Economia
Esporte Orlando Silva Junior Direito
Fazenda Guido Mantega Economista
Integração Nacional Fernando Bezerra Coelho Administração
Justiça José Eduardo Cardozo Jurista
Meio Ambiente Izabella Teixeira Biologia
Minas e Energia Edison Lobão Jornalista
Pesca e Aquicultura Luiz Sérgio Nóbrega de Oliveira Metalúrgico
Planejamento, Orçamento e Gestão Mirian Belchior Engenheira de alimentos
Previdência Social Garibaldi Alves Filho Jornalista Advogado
Relações Exteriores Antonio Patriota Diplomata
Saúde Alexandre Padilha Médico
Trabalho e Emprego Carlos Lupi Nenhuma
Transportes Paulo Sérgio Passos Economia
Turismo Pedro Novais Advogado
Em Portugal?
Estado e das Finanças                  Vítor Gaspar Economista
Estado e Relacionamentos Exteriores              Paulo Portas Jurista
Defesa José P. A. Branco Advogado
Administração Interna Miguel Macedo Advogado
Justiça Paula T. da Cruz Advogada
Assuntos Parlamentares Miguel Relvas Relações Internacionais
Economia e Emprego Álvaro Santos Pereira                Economista
Agricultura e Ambiente Assunção Cristas Jurista
Saúde Paulo Macedo Gestão
Educação – Ciência Nuno Crato Matemático
Segurança Social e Solidariedade Pedro Mota Soares Advogado

Jean Claude Trichet, presidente do Banco Central Europeu, é um administrador público, não um economista.
Christine Lagarde, presidente do Fundo Monetário Internacional, é uma advogada.

Moral: se a ideia é ser político, a coisa melhor é estudar para advogado. Depois um lugar encontra-se sempre.
Assim temos advogados que tratam da Agricultura, da Pecuária, do Abastecimento, das Cidades, do Turismo, da Defesa, da Administração, da Segurança Social e, olhem só, até de Justiça.

Depois seriam oportunas algumas perguntas: que faz um geólogo nas Comunicações? Um historiador no Desenvolvimento Agrário? Um jornalista nas Minas e um Metalúrgico na Pesca? Um gestor na Saúde?

Em muitos casos, infelizmente não conta a formação ou os méritos adquiridos ao longo da própria carreira. É, ainda uma vez, o velho discurso do mérito: basicamente inúteis.

Atenção: aqui ninguém defende um governo de técnicos, a política tem que pertencer aos políticos. Mas políticos que tenham uma adequada formação, experiência e resultados reconhecidos no sector que devem administrar.

Uma escola e um percurso como aqueles indicados por J. parece uma coisa boa e justa.
Por isso não tem futuro.

Ipse dixit.

13 Replies to “A cada um o seu lugar”

  1. Fala Max, fui eu quem te enviou o e-mail, com o tempo vou acabar te enviando mais e-mails e não vejo nenhum problema se publicares meu nome, mas também não preciso de créditos. Bom quanto a isto, estive conversando com algumas pessoas da área do direito e andaram me falando que seria uma atitude inconstitucional obrigar os politicos a terem uma capacitacão e a maior defesa que me falam é com relacão ao LULA, pelo jeito eles não gostariam de um pais funcionando melhor mesmo.

  2. Excelente utopia!

    Mas fica um porém: muito da corrupção vem dos anos de casa… o político pode até começar sem conexões, fora das máfias… mas vai ganhando prestígio… e com isso se tornando cada vez mais criminoso.

    Se o político estudar para o cargo… ele será um profissional… dependerá disso e viverá disso…

    Mas eu acho que o político não pode ocupar duas vezes um cargo político… trabalha 4 anos… durante outros 4 anos tem emprego… se calhar 8 anos sem poder voltar à política… sem contar o rigor contra licitações e cartéis… político dono de empresa (quase 100%) não funciona…

    [ ]s

  3. olá Max, José Valentini, e quem interessar possa: já perceberam que tem muita ponte que cai pela incompetência do engenheiro, muito paciente que morre pela desatenção do médico, muito vestido mal feito pela incapacidade da modista com graduação em moda? Por acaso não conhecem antas doutoradas e não escolarizados inteligentíssimos? Eu conheço vários. Já constaram a existência de auto didatas executando tarefas ou manifestando idéias com muito maior qualidade que profissionais com diplomas? Pois eu já. Por sinal os jornalistas mais decentes que conheço, não o são por formação acadêmica e sim por atitude militante. E até um presidente da república quase analfabeto revelou-se um gênio de comunicação com o povo e com muitos intelectuais e diplomatas pelo mundo afora, a ponto de hoje receber por uma conferência 5 vezes mais que um antecessor seu com pós graduação em sociologia, professor universitário e autor de livros.
    Sugiro: político não é profissão, é prestação de serviço por um período de tempo , nada mais. Político eleito que não cumpre o que promete em campanha deveria ser deposto por força de lei.Político deveria ser considerado um cidadão comum, ou seja, sem imunidade partidária e sem benefícios extras. A posição de político jamais deveria ser remunerada, e muito menos agraciada com aposentadoria. Finalmente, mais do que nada, se aprende fazendo, ou seja,exercendo a política, que é uma arte exercida por todos bem ou mal a cada momento. Quanto ao conhecimento das coisas, trata-se de uma questão de inteligência, curiosidade e busca. Quanto ao manejo adequado e justo da política e da administração, isso só depende da índole do cidadão. Não se aprende a ter vergonha na cara na escola, por favor. Abraços

  4. Bom Maria, respeito o teu ponto, aceito que o Lula foi um bom presidente, com certeza existem erros de médicos e engenheiros, afinal nem todos são bons profissionais. A política, ideológicamente é não é uma profissão, porém não é o que acontece na realidade, um Sarney a 1000 anos como senador, com aposentadoria e tudo o mais já mostra o quanto os politicos se consideram profissionais e como tal deveria ter um minimo de formacão. Como que eles querem legislar sem ter um mínimo de conhecimento da Constituicão, como administrar sem ter o minimo de conhecimento sobre administracão? Eu apenos quero politicos mais capacitados, um concurso publico para demonstrar um minimo de conhecimento como acontece para qualquer cargo público no Brasil seria interessante, o Brasil é o que é atualmente por um milagre se tivessemos politicos competentes, administradores competentes, estariamos bem melhores, provavelmente não encotrariamos hospitais com as portas fechadas, professor passando fome, politico nadando em piscina de $$. O que eu quis com o e-mail é justamente iniciar uma discussão, pra ver se eventualmente o povo acorde pra necessidade de uma reforma politica para o povo e não para os atuais politicos.

  5. Pois é Valentini, também respeito a tua opinião que alguns conhecimentos ajudariam, mas não te iludas. Mesmo nesse sistema político democrático viciado qualquer ignorante eleito que tenha boas intenções está cercado de acessores de todo tipo que lhe informa o necessário sobre todo o tipo de assunto, caso o sujeito esteja realmente querendo saber. Então, pensa comigo: não é por falta de conhecimento disponível que os políticos erram, mas por se engajarem perfeitamente com um sistema viciado corrupto e corruptível. Como o Max já postou aqui um dia destes, a democracia representativa, indiscutível e inquestionável valor da nossa época deveria ser mais questionada, como ele fez no post, e inclusive por pessoas como tu, interessadas em repensar a política.

  6. Os politicos passam por uma escola bem mais exigente: partidos.

    Experimenta entrar num com as tuas ideologias Max, em 50 anos nunca iriamos ouvir o teu nome na praça publica.

    Seria engraçado ver as empresas que os advogados, que estão na assembleia da republica, representam/representaram.

  7. Olá!

    Em boa verdade, eu não queria focalizar a atenção na questão das pessoas que não têm formação e que mesmo assim ocupam cargos governamentais.

    Talvez a ideia também de José fosse outra: a hipótese dos políticos não profissionais e não remunerados é excelente, mas a realidade é outra. E é com esta que temos de lidar.

    Então não vejo nada de mal em formar pessoas para que possam ser (eventualmente) bons políticos. Sempre melhor do que ter um geólogo que trata de comunicações.

    Este até pode ser uma excelente pessoa e pode conseguir óptimos resultados: mas quantas possibilidades temos que isso aconteça?
    Quantos Lula houve no Brasil?

    Num bloco operatório, à espera da intervenção, se tenho que escolher entre um cirurgião antipático e um camponês simpático e com boas intenções, eu escolho o cirurgião. Se calhar tenho preconceitos, mas enfim…

    O que, repito, não exclui que uma pessoa analfabeta possa fazer melhor dos políticos de profissão.

    Acho que ninguém aqui esteja ainda agarrado à equação "título de estudo = inteligência".

    Abraçosssssss!!!

  8. Olá Ricardo!

    "Se o político estudar para o cargo… ele será um profissional… dependerá disso e viverá disso…"

    Pois, eis uma parte do problema. Dum lado é preferível ter pessoas preparadas para desenvolver um cargo de grande responsabilidade, doutro lado isso implica a criação do "político de profissão".

    Não é simples, admito…

    Abraço!!!

  9. Nunoooooooooo!!!!

    lololol, seria corrido logo após ter entrado.
    Eu sei, uma coisa são as utopias, outra coisa é a realidade. E a nossa realidade tem muito pouco de utópico e muito (demais) de pragmático.

    Doutro lado, não são as utopias as bases para as transformações?
    A utopia comunista, por exemplo. Ou a utopia dos "mercados que se auto-regulamentam".

    Já sei: vou fundar o PUP, Partido Utópico Pragmático.

    Abraçooooo!!!

  10. Eu não acredito na profissionalização do político na forma acadêmica que se pretendeu demosntrar. E a política no meu modo de ver é uma "arte", é preciso ter talento, assim como mal comparando não existe uma escola que forme poetas e também não acho que para ser político se precise ter um diploma universitário.
    Vejamos alguns exemplos:

    Barack Obama – Advogado, direito, justiça???
    Sarkozy – Advogado, idem
    Ahmadinejad – Engenheiro
    Benjamin Netanyaho – Arquiteto – dos campos de concentração???
    Fernando Henrique Cardoso – Sociólogo – aquele que disse, esqueçam o que eu escrevi…
    Lech Walesa – Eletricista
    Lula da Silva – Metalúrgico

    Sou a favro da profissionalização nas áreas técnicas da vida, mas o mais importante creio, seja em qualquer atividade que o sujeito atue que o faça com os valores cristãos, não confundir com católico.

    Saudações.

  11. No nordeste é comum os políticos comprarem voto com pé de botina… Kkkkkkkk É verdade. Alguns dias antes das eleições, o político dá um pé de botina e, se for eleito, dá o outro pé. Se ele não ganhasse, o cara ficava só com um dos pé da botina. Muita gente já se elegeu assim. Mas acho que de uns tempos para cá isso diminuiu bastante por causa da Justiça Eleitoral.

  12. Hey Luiz,

    tudo bem?

    "(…)seja em qualquer atividade que o sujeito atue que o faça com os valores cristãos (…)" – nem mais!

    Se os políticos, aliás, qualquer pessoa começasse por aí…este Mundo seria bem melhor.

    Grande abraço,
    — —
    R. Saraiva

Obrigado por participar na discussão!

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