Autocrítica e Suspeitas

O bom Max estava a passear alegremente pela net, à procura de algo acerca do Neuromarketing (culpa de Saraiva), quando de repente encontrou algo acerca do qual reflectir.

O que já não é bom, pois pensar e reflectir podem conduzir o Homem à perdição.
Além de implicar um esforço cada vez mais doloroso.

Todavia o que encontrei obriga a parar e perguntar: o que estamos a fazer?

Informação Incorrecta tem pouco mais de um ano e é apenas um entre dezenas, talvez centenas de milhares de blogues em Português. Nem falamos dos blogues de todo o Mundo.

Somos muitos, mas a pergunta continua: o que estamos a fazer? Informação? Contra-informação? Divulgação? Ou quê?
E os leitores: qual o papel deles? O que sobra após ter lido um post?

Dúvidas existenciais. Mas obrigatórias. Porque fazer (ou tentar fazer) contra-informação para depois descobrir que somos parte da mesma vaga mainstream da qual tentamos destacar-nos, bom, não seria o máximo, pois não? E o risco é mesmo este: obter os mesmos resultados dos canais de informação “oficiais”.

Parece estranho. Mas vamos ler este artigo.


O blog em questão é Mondart, um pequeno blog italiano, pequeno mesmo, mas que evidentemente tem um cérebro pensante atrás.

Mondart individua três erros típicos dos bloggers (ou “blogueiros”, à brasileira), vamos ver quais.

1. Inserir notícias atrás de notícias com a ilusão de “fazer informação”

Apesar de bem feito, este trabalho pode ser inútil se não acompanhado duma tentativa de síntese global e de qualquer proposta alternativa.

Pensem nisso, pois é exactamente o que fazem os média mainstream: bombardear o leitor com um monte de notícias, às vezes contrastantes, sem síntese e sem apresentar outras possibilidades. Não é um mero acaso: é um expediente técnico-psicológico.

Desta forma, de facto, temos uma sobra-exposição de notícias que até podem ser verdadeiras, mas que serão “consumidas” pelo leitor da mesma forma como são “consumidos” um telejornal ou um diário de regime.
Falta o tempo para “assimilar”, “digerir” as notícias; falta o tempo para criar uma ligação lógica entre as novidades, para que possa nascer um impulso de elaboração e uma efectiva utilização.

Ainda uma vez, estamos perante um cérebro com uma atitude passiva: “O que podemos fazer perante tudo isso?” será a instintiva pergunta do leitor, que pensará de estar “informado” mas que depois não será impulsionado na procura de alternativas e de responsabilização.

2. Procurar sempre o “nível superior”, o responsável, como se isso pudesse resolver.

O facto é que:

a) a causa primaria somos nós e “os outros” eventualmente aproveitam as nossas fraquezas e falta de iniciativas. Podemos pensar no Homem como um ser substancialmente “bom” (contrariamente à imagem gerada pelos media mainstream), mas é muito complicado imagina-lo não idiota. E os facto de hoje demonstram como o Homem seja um idiota ao cubo, que continua a caminhar na direcção da destruição dos próprios interesses, até dos mais importantes.

b) uma vez (e eventualmente) encontrado “o responsável”, a situação não mudará dum milímetro.

c) desta forma é reforçado o “Pensamento Único”: todos na mesma direcção, todos à procura do culpado. E quem pensa nas alternativas? Porque temos de ter uma alternativa.

3. A culpa é dele!

Os blogues de contra-informação (todos os blogues de contra-informação) dedicam amplo espaço às injustiças, que não são poucas.
Mas denunciar com qual fim? Não há ninguém que possa “fazer justiça”.
O sistema no qual vivemos é ele mesmo a causa primaria destas injustiças: não há nenhuma autoridade superior que possa emendar a situação.

Esta tendência faz lembrar (e se calhar não é um acaso) a técnica dos media mainstream: não mexer-te, pois o Mundo é mau e tu nada podes fazer; deixa que a ordem constituída faça o seu trabalho, não é perfeita, verdade, mas é a única que tem a capacidade e os meios.

É o que os Franceses chamam cul de sac, um impasse.

Em qualquer caso, ao individuar culpados atrás de culpados, os blogues concentram a atenção dos leitores para o exterior, nunca para o interior: ainda uma vez, o mal está fora, não em nós, não na nossa falta de iniciativa.

Desta forma, é incentivado um processo de não-crescimento, de dependência, de fatalismo.

Blogueiros e leitores juntos de forma inconsciente na preservação do actual sistema que aparentemente querem ultrapassar?

É uma hipótese. É mais do que uma hipótese, é uma suspeita.

Que, entre as outras coisas, explicaria também uma estridente contradição: porque num Mundo tão bem controlado é permitida a existência das vozes supostamente “fora do coro” em internet?

Ipse dixit.

Fonte: Mondart

5 Replies to “Autocrítica e Suspeitas”

  1. Boa.

    A internet (e por consequência os blogs) são acessados por pessoas de inúmeros lugares, distantes ou não, diferente de encontrar amigos no bar da esquina; estes só podem ir lá pois todos moram suficientemente perto, na mesma cidade, etc. Na internet estamos fisicamente longes, mas temos essa distância encurtada de modo digital.

    Pergunta: como agirmos em uníssono?
    Resposta: Não sei.
    Possibilidade: Já que nos encontramos de modo "online", não deveríamos agir de modo online? Como? Sei lá eu, desobediência civil online? Ação hacker? (terrorismo virtual?)

    Abraço.

  2. "É uma hipótese. É mais do que uma hipótese, é uma suspeita.

    Que, entre as outras coisas, explicaria também uma estridente contradição: porque num Mundo tão bem controlado é permitida a existência das vozes supostamente "fora do coro" em internet?"

    Hei Max,

    permite-me discordar.

    Eu acho que a internet ainda não está sob o tipo de controlo que "eles" desejariam ter…se não, não se falava nos mecanismos digitais de combater a propaganda anti-américa, por exemplo.

    A meu ver, este surto de notícias de ataques hackers que têm surgido é para impelir as massas a isso mesmo: pedir controlo sobre a internet.

    Citibank, SONY, Nintendo, FMI, entre outros… pode ser ( sublinho PODE SER) esse o motivo: lançar o pânico, o medo entre as pessoas. Já viste o que vai na cabecinha das pessoas? Imagina que te roubam as poupanças, chato né?

    E não sei se sabes, mas os bancos, como por exemplo a CGD, não se responsabiliza por ataques feitos através das aplicações de e-banking. Podemos ler um relato aqui: http://burlados.blogspot.com/

    Cumprimentos,
    — —
    R. Saraiva

  3. Como diriam os escolásticos, deve, cada indivíduo, auto-transcender-se na busca do Imanente.

    Pena que isto não seja tão fácil…
    kia, kia, kia…

  4. A exemplo do que ocorreu no Egito, uma maneira seria convocar 'flash mobs', manifestações, boicotes, etc. Se tiver apoio da CIA, há chances de iniciar uma revolução, caso contrário já não sei, por isso é bom já deixar o convite.

    Uma forma de protesto no Brasil, que teve origem na internet, foi o 'Na mesma moeda'

    http://www.namesmamoeda.com.br/

    Um bom exemplo de organização, da web para as ruas.

    Abraços!

  5. Prezado Max, medito quase que diariamente sobre isso: O que fazer?
    Minto: Diariamente medito ou tento discernir o que é real do que é fictício, e algumas vezes por semana penso: Como poderei/poderíamos mudar isso?
    Eis a questão!!!

Obrigado por participar na discussão!

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