Comunismo em Portugal

O nobre Nuno comenta o post acerca dos partidos políticos portugueses. E critica. Ainda bem. Vamos ver porquê. Começamos pelo fim:

Habituaste-nos a posts mais elaborados, este foi um pouco simplista 😛

Verdade. Eu mesmo não fiquei particularmente satisfeito com o que escrevi: mas o objectivo era um rápido resumo acerca da situação política deste País. Como todos os resumos, também este ficou incompleto e, além disso, reflecte a minha visão: tento esforçar-me para ser sempre objectivo, às vezes consigo, às vezes nem por isso.
Desta vez, ao que parece, não.

Achei o post injusto para com PCP e BE, tendo por hábito assistir a mais das sessões na AR do que nos mostram nos noticiários penso que o que escreveste é a ideia populista que persiste, pelo menos, entre os mais idosos deste país que votam num partido toda a sua vida, desprovido de lógica, razão ou qualquer tipo de pensamento critico!

De facto o post foi bastante injusto: acho que deveria ter sido um pouco mais mau.

O PCP, Partido Comunista Português…

Não sei porquê, mas não consigo levar a sério um partido que admira Estaline e a Coreia do Norte.
Chora-se ao falar do Nazismo, esquece-se que o Comunismo conseguiu mais vítimas. E a ideia de que estes sacrifícios foram necessários para a implementação do “Paraíso dos Trabalhadores” deixa-me de rastos.

A ideia é: mato-te, mas é para o teu bem.

Mas há algo de mais profundo acerca do Comunismo e já algumas vezes falei do assunto neste blog.

O Comunismo nasceu com as ideia de Marx e fechou o próprio ciclo evolutivo com Lenine. Poderia ter tido algo mais para dizer, mas a liberdade de palavra típica do movimento eliminou Trotsky em 1940.

A partir de então, a ideia base é: “Ipse dixit”, “Ele assim disse”.
Não é um acaso esta citação. De facto, o Comunismo tornou-se uma espécie de aristotelismo, muito próximo da religião, feito de dogmas, que desconfia grandemente de qualquer pesquisa que tenha como fim uma evolução.
Cristalizado é o adjectivo melhor.

Estou a falar, é claro, dos movimentos que ainda hoje veêm no marxismo-leninismo a própria única fonte de inspiração, tal como o PCP (e, mas em medida menor, o Bloco de Esquerda).

É curioso observar como o Capitalismo, o principal inimigo do Comunismo, evoluiu (e não no bom sentido) nos últimos 150 anos.
Até a Igreja católica foi obrigada a renovar-se (ou uma tentativa de renovação).

O Comunismo não, impávido e sereno, continua com as mesmas ideias, até os mesmos termos do XIX século.

O Manifesto do Partido Comunista, escrito por Marx e Engels, foi publicado em Londres em1848.

Só para ter uma ideia:
. no mesmo ano, o Wisconsin tornava-se o 30º membro dos Estados Unidos.
. em Pernambuco deflagra a Revolução Praieira.
. em Espanha é inaugurada a primeira linha de comboio da Península Ibérica, a Barcelona-Mataró.
. em Portugal reina Maria II, no Brasil Dom Pedro II.
. a África é uma imensa colónia europeia.
. as teorias de Charles Darwin (Seleção Natural) ainda são desconhecidas, assim como os micróbios (Louis Pasteur), o telefone, os automóveis, as lâmpadas e Plutão.

Em breve: um outro mundo.

Hoje vivemos num Capitalismo que Marx não foi capaz de prever: aliás, segundo as teorias, o Capitalismo já morreu, substituído graças a uma revolução do proletariado. Provavelmente eu estava distraído, pois não me lembro nada disso.

O Capitalismo fracassou em todos os Países onde foi implementado: a União Soviética é o exemplo mais flagrante. Onde sobreviveu, tornou-se um culto da personalidade, como na Coreia do Norte ou Cuba.

Este é o Comunismo hoje, desesperadamente agarrado aos ícones de Marx, Lenin, Che, Fidel.
Consegue um Comunismo assim atrair jovens? Talvez eu esteja enganado. Mas além dos arqueólogos, quem pode estar satisfeito com um partido fora do tempo?

…e o Bloco cerebral.

Neste sentido, o Bloco de Esquerda poderia propor algo de novo, aportar nova linfa. E de facto aporta.
Partidos que na União Europeia votaram a favor da intervenção da Nato na Líbia:

PP y CiU con el grupo de la derecha europea, PSOE con el grupo socialista, ERC e ICV (Raül Romeva), los Verdes europeos. Y del GUE / NGL, o Izquierda Europea, los diputados : Lothar Bisky (Die Linke), Kohlíček (PC de Bohemia y Moravia), Liotard, Matías (Bloco-Portugal), Maštálka (Chequia), Mélenchon (Frente de Gauche), Portas (Bloco- Portugal), Remek, Søndergaard, Tavares (Bloco de Esquerda) y Vergier.

Contra:

Del GUE/NGL: Angourakis (KKE-Grecia), Ernst (Die Linke), Ferreira João (PCP-Portugal), Figueiredo (PCP-Portugal), Hadjigeorgiou (AKEL-Chipre), Händel (Die Linke), Klute (Die Linke), Lösing (DIe Linke), Meyer (IU), Rubiks (letón), Scholz (Die Linke), Toussas (KKE-Grecia), Wils (Die Linke), de Jong (holandés).

Pelo menos, o Partido Comunista demonstra um mínimo de coerência. Mas o Bloco? A favor da Nova Cruzada? Ao lado da NATO? Esta não é propaganda de regime: esta é uma escolha consciente do Bloco de Esquerda.

Reporto aqui um interessante comentário expresso num blog declaradamente de esquerda, 5 dias.net:

Ops…

A notícia que o Bruno divulgou aqui não o deixa só a ele mal disposto, quebra o compromisso  do BE com os eleitores e suja as mãos dos seus dirigentes com sangue líbio e com o imperialismo.

Não sou eu que o digo, é o próprio BE: “É uma história que representa a imposição de um modelo específico de Estado, de economia e de sociedade” afirma Marisa Matias a propósito do novo conceito estratégico e da cimeira da NATO em Lisboa. Mas disse mais coisas acertadas. Afirmou que “todos sabemos que o negócio da NATO é a guerra”, que “a guerra é um meio para a perpetuação das desigualdades e da exploração” e que por isso, justamente, Portugal deveria abandonar esta “aliança transatlântica e a sua política imperialista”.

A Marisa Matias estava a ser coerente com o que também dizia a tese de orientação que venceu o último congresso e com o programa do BE.

Assim, violando o compromisso com os seus eleitores e os seus militantes, fico à espera de ouvir o que têm os dirigentes nacionais a dizer desta vergonha. Depois de votar o PEC grego e de apoiar o candidato do PEC português, o BE vem agora ratificar a guerra e a ocupação da Líbia pelas mãos da NATO. Onde que vai parar a “Esquerda de Confiança”?

Boa pergunta.

Quanto à moção de censura, apresentada no Parlamento e justamente chumbada, algumas considerações.
Quando é apresentada uma moção, a intenção é fazer cair o governo. O que faz sentido do ponto de vista do Bloco: o governo socialista de José Sócrates não foi um bom governo.

Mas a coisa curiosa é que a moção foi apresentada na vigília de Portugal voltar aos mercados por causa da dívida. Qual era a intenção? Passar a impressão duma instabilidade política para que os juros pedidos pelos investidores subissem ainda um pouco?
É este o sentido de responsabilidade do Bloco? Ou, pior ainda, os dirigentes do partido não tinham pensado nisso?

A seguir: admitimos a caída do actual governo. O que ganha o Bloco com isso? Todos em Portugal sabemos que após o governo socialista será a vez do governo do PSD e CDS: isso é, um governo de Centro-Direita.
O Bloco prefere ver o Centro-Direita no poder? É este o objectivo?
Ou o Bloco pensava com esta medida de reforçar-se à custa do Partido Socialista? Quer dizer, não importa quem governa desde que nós saiamos reforçados? 

Não só: mas segundo as últimas sondagens, e sobretudo se forem confirmadas as actuais tendências, um governo PSD-CDS poderia não ter a maioria.

Isso significaria apenas uma coisa: o caos, um estado de absoluta ingovernabilidade (e isso numa situação delicada qual a que o País atravessa).

Os dirigentes não pensaram nisso? Ou pensaram mas concluíram que não importa o que se passa com o País desde que o Bloco fique reforçado? Meros cálculos eleitoralisticos? É esta a “Nova Esquerda”? Onde é possível encontrar nestas escolhas um mínimo de responsabilidade?

Conclui Nuno:

Não acho que governo algum seja solução para os nossos problemas mas ainda existem indivíduos na política portuguesa que entendem alguns dos assuntos que discutimos neste blog e partilham a mesma opinião, nomeadamente na economia.

Não podemos generalizar, é óbvio. Com certeza há, tanto no Partido Comunista quanto no Bloco, pessoas que conseguem ver além do óbvio, pessoas que querem raciocinar com o próprio cérebro, pessoas com valores não apodrecidos, pessoas que querem uma sociedade melhor.
Não tenho a mínima dúvida acerca disso.

O problema é que:

  1. no caso do PCP, estas pessoas abraçaram uma ideologia que propõe soluções impraticáveis. E onde foram praticadas, o sucesso ficou bem longe. O que me interessa que as ideias económicas sejam parecidas se depois as soluções propostas são uma desgraça?
  2. no caso do Bloco, talvez fosse hora de crescer e decidir: um partido cujo objectivo final é apenas derrubar o Partido Socialista, com escolhas incompreensíveis até para os próprios deputados (um par deles abandonaram a bancada parlamentar após ter surgido a ideia da moção), ou um partido disposto a arriscar mais em favor da procura para novos valores? O que me interessa que as ideias sejam parecidas se depois, no concreto, as escolhas vão na direcção oposta?

Nota: repito ainda uma vez, este blog tem como objectivo a discussão, a troca de ideias. É por isso que agradeço Nuno.

Ipse dixit.

Fonte:  La República, 5 Dias.net

7 Replies to “Comunismo em Portugal”

  1. E com os últimos parágrafos chegamos ao consenso 🙂

    Continuo a discordar dalgumas linhas mas sinceramente estou sem paciência para escrever, porreiro porreiro era beber uma fresquinha e falar enquanto numa esplanada 😀

    Obrigado pela resposta, desta não me queixo,

    Abraço.

  2. Estes 2 são partidos platónicos, é por isso que eu sempre votei no PCP não é por ideologia, sei que eles nunca vão ganhar, só servem para morder os pezinhos aos aos pseudo capitalistas (Oligarcas e cleptocrátas) que nos governam.

    Não tenho muitas duvidas que se um destes partidos entra-se no poder, eles nem saberiam o que fazer.Pois são contra tudo… o que não é mau mas é problemático…..

    Eu também sou da opinião que o capitalismo já deixou de existir, é outra coisa qualquer, mas para pior…

  3. boas tardes. numa pesquisa pela net descobri este blog que achei muito interessante. realmente o comunisto e utopico e essas coisas todas. desde ja agredeço ao carlos janeiro por votar no pcp. pois eles sao do contra. malandros pah. raio dos comunas. entao e agora k andam nas teias do capitalismo andam melhor? a receber 500 euros p mes e a recibos verdes? ou no desemprego pk as empresas tao a falir? epah… ai se os comunas tomasses conta disto… e o bloco d eskerda sao os filhos da UDP. kem sao eles perguntam voces? e senhor carlos janeiro, o capitalismo ainda está p vir… acredite. alias ja cá está.

  4. Desculpa mas não sabes do k falas, ou então es uma daquelas pessoas k vive muito acima das posivilidades do país, não sei se me entendes. Nesses anos tb morreu muita gente por cá e noutros países.Não sei se te recordas mas tb vivemos a ditadura cá. Era contra isso e contra o capitalismo k se lutava, contra as diferenças socias.dizes k o capitalismo não existe, não sei em k planeta vives.

  5. Carlos Janeiro, tou totalmente de acordo contigo, mais razão não podias ter, mas como disse o capitão Galvão de Melo(opositor do registo facista de salazar, mais conhecido por ter feito o Assalto ao Santa Maria /http://www.youtube.com/playlist?list=PLB4FE065CCC34BE6A&feature=plcp/) – O que seria deste mundo se os Quixotes deixassem de lutar pelas suas dulcineias) temos de votar contra os 80% de direita da assembleia portuguesa, mas por favor não me votem no CDS que esse partido fazem muita comichão….

  6. Carlos Janeiro, tou totalmente de acordo contigo, mais razão não podias ter, mas como disse o capitão Galvão de Melo(opositor do registo facista de salazar, mais conhecido por ter feito o Assalto ao Santa Maria /http://www.youtube.com/playlist?list=PLB4FE065CCC34BE6A&feature=plcp/) – O que seria deste mundo se os Quixotes deixassem de lutar pelas suas dulcineias) temos de votar contra os 80% de direita da assembleia portuguesa, mas por favor não me votem no CDS que esse partido fazem muita comichão….

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