Portugal: ataques externos e internos

Neste blog ainda não falámos adequadamente dos bancos centrais. Está no programa, mas para já uma breve antecipação, gentilmente oferecida pelo Banco de Portugal.

Portugal está debaixo dum ataque financeiro que terá como final a entrada do Fundo Monetário Internacional no País. Já sabemos.

Por enquanto, todavia, isso não aconteceu e existe um Governo que (com parte da Oposição) tenta procurar outras saídas. Por isso continua a repetir que a o País tem os recursos necessários para ultrapassar esta fase altamente negativa e tenta espalhar optimismo.

Afinal está a fazer o que qualquer Governo deveria fazer.

Doutro lado temos o Banco de Portugal que nos últimos dois dias parece decidido a desmontar qualquer afirmação do Governo.
Num comunicado, o Banco afirma que as medidas de austeridade e o agravamento das condições de acesso ao crédito vão provocar uma nova recessão em Portugal. O crescimento, tímido, regressará apenas em 2012.

Esquisito: são as mesmas previsões do FMI. Até piores dos cenários desenhados pela Comissão Europeia.

Mais: sempre o Banco afirma que serão precisas mais medidas de austeridade.
Por causa da subida dos impostos, da redução de salários, do aumento do desemprego e da redução das transferências sociais, o rendimento real das famílias deverá cair 2,4% ao longo de 2011. A previsão do BdP aponta para uma contracção de 2,7% no consumo privado, que explica quase dois terços do Produto português.

Na prática, o BdP afirma que começará uma fase de recessão, que as famílias  ficarão mais pobres e que, como se isso já não fosse suficiente, outras medidas de sacrifício vão ser precisas.

Mas não é tudo.
Ontem apareceu do nada Teresa Cardoso, uma dos administradores do Bdp. E que disse a boa Teresa?

É mais fácil se tivermos um apoio externo, desde logo porque isso permite que o ajustamento não seja tão abrupto. Mas feito sozinho, para os mercados acreditarem nele, teria que ser brutal.

E concluiu afirmando que a ajuda externa será inevitável.

Isso enquanto o Governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, afirmava que Portugal “tem capacidade de resolver os problemas por si”:

Eu disse e repito, os portugueses resolvem os problemas e têm capacidade para resolver os problemas por si, até me demonstrarem o contrário 

Resumo:
– o Governador do Banco de Portugal afirma que o País tem os recursos para ultrapassar esta fase.
– logo é desmentido por uma própria funcionária
– no dia a seguir, é publicado um relatório que avança com as piores previsões possíveis.

Interpretação: o Governador do BdP tem um aposição oficial de confiança, em linha com as atitudes políticas de Governo e parte da Oposição.
Mas permite que uma administradora corte qualquer esperança e, no dia a seguir, difunde um comunicado que prevê tempos muito difíceis para as famílias, assustando os cidadãos.
A dúvida legitima é: para quem trabalha o Banco de Portugal?  

Como afirmado, esta é uma interpretação estritamente pessoal, mas parece evidente que a direcção não oficial escolhida é oposta e contrária à do Governo.

Neste caso, não seria lógica uma reunião com o executivo para estudar em conjunto os dados e preparar o futuro próximo? Se o Bdp tem na posse provas de que a chegada do FMI é realmente inevitável, porque limitar-se a um lacónico comunicado?

Isso sempre que o Banco de Portugal tenha efectivamente tais provas.
Pois nem consideramos o caso contrário, no qual funcionários da mesma instituição aparecem na televisão para fazer afirmações sem fundamentos que contradizem de maneira tão flagrante as palavras do próprio Governador.

Ipse dixit.

Fonte: Jornal de Negócios

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