Entre dois fogos

Os Chineses entram na Europa em várias formas.

A mais evidente é a quantidade de produtos chineses que podemos encontrar nas prateleiras das lojas (muitas das quais chinesas).

Outra forma, própria dos últimos tempos, é a “ajuda” que Pequim oferece aos Países mais desgraçados da União perante a crise insanável na qual estes aprofundaram.

Os media pouco falam do assunto: doutro lado, uma excessiva publicidade tornaria evidente que o Velho Continente é cada vez mais terra de conquista e que a sua classe política, é incompetente. Na melhor das hipóteses: pois esta “incompetência” poderia ocultar bem outras metas.

Mas até a que ponto os Chineses conseguiram penetrar na Europa?
Um dado pode dar a ideia da actual situação: em breve, a China terá na própria “carteira” mais Títulos de Estado europeus do que americanos.

Ontem, o vice-presidente do Banco popular Chinês, Gang Yi (e com um nome assim só num banco poderia trabalhar) declarava:

O Euro e os mercados financeiros europeus são uma parte importante do sistema financeiro global e foram, são e serão uma das mais importantes áreas de investimento para as reservas chinesas em moeda estrangeira.

 Tradução:

O Euro custa cada vez menos e nós aproveitamos da situação para comprar, reforçar a nossa presença na Europa e enfraquecer o Dólar.

Significativo o que está a acontecer nos últimos tempos.

Peça após peça

O primeiro alvo da ajuda chinesa foi a Grécia: e o porto do Pireu já foi (ver A Estrada da Seda, 13 de Julho).

A seguir a Irlanda (50 milhões de Euros num projecto manufactureiro de Pequim).

No dia 4 de Janeiro, acordo assinados entre o Primeiro Ministro espanhol, Zapatero, e o vice-premier Li Keqiang: dum lado um compromisso comercial por um valor de 7,3 biliões de Euros, doutro lado o empenho de Pequim para adquirir Títulos de Estado Espanhóis por um valor de 6 biliões de Euros.

Nem passa uma semana e novo anuncio: Pequim ajuda Portugal com novos acordos comerciais por um valor de 718 milhões de Euros. Mais os primeiros passos para próximas aquisições:

A China tem manifestado o interesse em entrar no capital da eléctrica portuguesa

disse uma fonte próxima das negociações. E sem esquecer a questão do porto de Sines.

Mas não é correcto pensar que nos Chineses como interessados apenas nos Países em dificuldade.Na carteira chinesa aparecem também Títulos franceses e, sobretudo, alemães.

O Financial Times fez duas contas: a dívida pública europeia nas mãos chinesas hoje seria de 630 biliões de Euros, mais ou menos 819 biliões de Dólares.
E a dívida dos Estados Unidos? 910 biliões de Dólares.
Perto do valor europeu.
Perigosamente perto.

Fica ainda mais claro, desta forma, qual a origem e os objectivos do ataque ao Euro, melhor conhecido como “o massacre dos PIGS”. Como afirmado neste blog, o verdadeiro alvo do ataque é a moeda única, não os vários Países.

As razões

Mas porque os Chineses têm interesse na salvação do Euro?

Em parte ficou já claro: um Euro em “relativa” saúde representa um problema para o Dólar. E um problema para o Dólar é sempre uma boa notícia para Pequim.

Depois há outras razões.

Afirma o economista Wang Yuanlong, ex chefe do Departamento de Pesquisa do Banco da China e hoje especialista do Centro Estudos Tianda:

O que Pequim é um gesto para que a Europa ganhe confiança. Um hipotético desaparecimento da moeda comum seria contra os interesses chineses. Significaria regressar ao Dólar dos EUA como única moeda de referência, enquanto o presidente Hu Jintao repete que Pequim pretende reformar o sistema monetário mundial. Assim, ajudar o Euro é no tríplice interesse da China, da União Europeia e da comunidade internacional.

Verdade, mas incompleta.

O que Yuanlong esquece de referir é que desta forma a China reforça a própria presencia num continente que, apesar da situação económica, representa sempre um mercado de 800 milhões de pessoas, 500 milhões das quais na União Europeia. E isso numa altura (notícia de hoje) em que as exportações chinesas aparecem em queda. Ligeira, mas sempre queda.

Sem considerar o acrescido poder contractual: difícil fazer a voz grossa contra quem está na posse do teu dinheiro.

Mudar patrão?

A Europa está à beira de mudar patrão?

É cedo para fazer uma afirmação como esta. Não podemos esquecer qual o interesse principal da China: fazer negócios com todos, vender tudo.

O que parece claro é que, perante a falta dum rumo preciso de Bruxelas, Estados Unidos e China jogam as próprias cartas. Mais agressivos os primeiros, mais meticulosos e previdentes os segundos.

E os Europeus para quem deveriam torcer?
Boa pergunta…

Ipse dixit.

Fonte: Corriere della Sera

3 Replies to “Entre dois fogos”

  1. Referia-me ao governo Chinês. Daí esta expansão, vão conquistar o mundo abrindo lojas pelo mundo fora e comprando divida a todos!

    O modelo Chinês é complicado de lutar porque a maioria das pessoas não vê o progresso em direcção a empregos com cada vez menos regalias e mais obrigações, sociedade controlada em todos os aspectos.

    Encontrei um vídeo interessante que talvez leve pessoas a pensar um pouco na nossa situação, é sobre o tratado de Lisboa:

Obrigado por participar na discussão!

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