Paquistão: o quebra-cabeça

Acham o mundo político do vosso País complicado?
Então espreitem o que se passa no Paquistão.

Uma jovem democracia (mais ou menos) que ainda tem as marcas das passadas ditaduras, empenhada numa guerra de décadas contra a Índia, percorrida por talebãs, seitas muçulmanas de vários tipo, que tenta apoiar a intervenção da Nato no vizinho Afeganistão mas ao mesmo tempo controlar o crescente radicalismo islâmico interior.

Sem contar uma população (a sexta do mundo) pobre e composta por 173 milhões de Islâmicos, 3,2 milhões de Hindu, 2,8 milhões de Cristãos, 20 mil Sikh, mais minorias Parsi, Ahmadi, Budistas, Hebreus, Bahai e animista.

Um cocktail potencialmente explosivo.

A Lei da Blasfémia

Salman Taseer

O assassinato do governador do Punjab, Salman Taseer, o primeiro assassinato político de alto calibre, depois da morte de Benazir Bhutto, relança dramaticamente o Paquistão cena internacional.

O grau de penetração do exército fundamentalista no exercito e na polícia, em primeiro lugar. Taseer foi morto por um dos seus guarda-costas, seguranças contratados e controlados pela Polícia do Punjab e partes da Elite Force treinadas para proteger políticos do mais alto nível.

Mumtaz Qadri, o assassino de Taseer, também havia feito parte da escolta encarregada de proteger o primeiro-ministro Gilani.

Segundo a polícia, Qadri Taseer teria assassinado Taseer por causa da posições moderadas deste e, em particular, por ter defendido publicamente Ásia Bibi, uma mulher cristã acusada de blasfémia e condenada à morte com base na chamada Blasphemy Law, a Lei de Blasfémia.

Taseer, que pertencia ao Partido Popular do Paquistão, tinha sido o único do seu partido a manifestar contra a lei.
Também Sherry Rehman, um ex-ministro e antigo porta-voz de Benazir Bhutto, é a favor da abolição da lei e apresentou uma proposta nesse sentido ao Senado: proposta que nem sequer foi apoiada pelo Partido Popular.
E Sherry Rehman também recebeu ameaças de morte. Qadri alega ter agido por iniciativa pessoal, mas acrescenta que as outras guardas que faziam a cobertura de Taseer sabiam e que nada fizeram.

O fundamentalista pacífico

Mumtaz Qadri

O estranho é que Qadri, de acordo com informações recolhidas pela polícia, nunca foi um fanático religioso e não pertence a nenhuma das organizações fundamentalistas, como Hizbut Tehrir, das quais fazem parte um bom número de membros do exército paquistanês.

Não só: Qadri pertence a uma seita, os Barelvi, que em teoria é conhecida por ser muito mais tolerante e faz parte duma organização maior, a Dawat-i-Islami, que era até agora tinha sido completamente apolítica e não-violenta.

A polícia paquistanesa está a confrontar-se com uma espécie de quebra-cabeça: é demasiado fácil atribuir o assassinato às simpatias não fundamentalistas de Taseer. Porque a morte de Taseer chega, por coincidência, num momento que é crucial, para utilizar um eufemismo.

Águas turvas

Karachi

No dia 2 de Janeiro, o Muttahida Qaumi Movement (Mqm), o maior partido após o PPP, retirou os seus ministros e passou para a oposição, deixando o primeiro-ministro Gilani e Zardari praticamente sem nenhuma maioria.O Mqm, liderado por Altaf Hussein em exílio na Inglaterra, é o partido que defende os interesses dos Mohajir principalmente em Karachi, onde os Mohajir constituem o grupo principal, e no Sindh.

Em 2010, em Karachi morreram cerca de 700 pessoas, incluindo muitos líderes religiosos, activistas e líderes políticos, membros ou simpatizantes do Mqm. Mas em Karachi aumentaram também a etnia Pashtun e a presença de elementos ligados aos talibãs afegãos e paquistaneses. E entre todos estes grupos, as simpatias são bem poucas.

Oficialmente o Mqm retirou a confiança ao governo por causa da falta de protecção dos Mohajir e do aumento dos preços da gasolina.

Extra-oficialmente, diz-se que, em verdade, o Mqm garantiu o seu apoio ao ex-presidente Musharraf, e ao partido que ele fundou no passado Outubro em Londres, o All Pakistan Muslim League. A qual estaria uma aliança com a Pakistan Muslim League de Hussein Shujjat.Gilani tenta desesperadamente evitar as urnas e está em negociações com os irmãos Sharif, Nawaz e Shahbaz, que poderiam garantir o apoio para o Partido Popular, apesar de ter-se há muito tempo retirado do governo central.

O Presidente Zardari

O regresso triunfal de Nawaz Sharif na política nacional e um eventual acordo com Zardari não seriam bem vistos, todavia, pelo general Kayani e o exército, que não gosta de forma nenhuma do ex-primeiro ministro.

De acordo com os rumores que circulam, Kayani estaria em estreito contacto com Musharraf, que nesta altura está em Dubai e monitora atentamente a situação. E para prevenir o regresso político de Nawaz Sharif, estaria disposto a reunir todas as forças pró-Musharraf para derrubar o governo e ir para eleições antecipadas.

O assassinato de Taseer pode cortar pela raiz qualquer acordo entre o Pml de Nawaz Sharif e o Partido Popular: e mexer mais uma vez nas águas já tão turvas em que operam Zardari e os seus aliados.

Fonte: Limes

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