Bom 2017!

Eu duvido.
De quê? De tudo.
Por exemplo: em que ano estamos? 2010, quase 2011?
Será? E porque não 2018, quase 2019?

“Coitado”, pensará nesta altura o leitor, “deve ser o cansaço”.

Esperem, pois a eventual resposta não é secundária: por exemplo, pensem em tudo o que foi escrito acerca de 2012. Os Mayas, a profecia, o Fim da Era. E se o 2012 fosse já história?

É quase Natal, vamos tratar do assunto com um artigo histórico e um de actualidade, sem dúvida mais “económico”. Eis o primeiro.

2010? 2016?

O início da era cristã coincide com o nascimento de Cristo. Mas muitos argumentam que o Redentor, quando foi crucificado, tinha mais de trinta e três anos. Ele, portanto, teria nascido antes da data que a tradição cristã comemora, exactamente dois mil e dez anos atrás Então, vamos ver: estamos de facto no ano de 2010 ou não?

Este não é nenhum segredo: a mesma Igreja Católica admite não ter certezas acerca nem do 25 de Dezembro nem do ano. Aliás, assume que ambas as datas tem valor simbólico, não histórico. E, de facto, isso em nada prejudica a Fé ou a Mensagem do Salvador.

Além disso, o nosso calendário não é adoptado em todo o mundo. Os Muçulmanos e os Hebreus, por exemplo, não reconhecem o nosso sistema de datação. Para eles, o facto de Cristo ter nascido no ano 1 ou um pouco mais antes (ou tarde) é totalmente indiferente.

Mas para nós assim não é. Por isso voltamos ao assunto.

Faltam documentos

A verdade é que mesmo a existência de Jesus não encontra muitos indícios na literatura a Ele contemporânea.
Não há nenhum documento oficial para provar isso. Os historiadores gregos e romanos que relacionaram os acontecimentos da época, não citam a Sua passagem de uma maneira convincente. A incerteza não existe somente na data do seu nascimento, mas também na data da sua morte.

Mesmo os historiadores como Suetônio, Plínio e Tácito não podem ajudar a sermos mais precisos: mencionam os acontecimentos apenas numa ou em duas linhas.
E há suspeitas fundadas de que estes breves comentários não são imputáveis aos escritores citados, mas foram acrescentados no período helenístico.

Na realidade não é chegado até nós qualquer acto oficial da data do nascimento de Jesus, nem do protectorado romano do tempo, nem dos censo que o governo romano costumava ordenar aos palestinianos com alguma frequência.

As fontes mais confiáveis são, portanto, os Evangelhos. Embora nenhum concorde com a data exacta do nascimento.O mesmo São Paulo estudou por longo tempo para resolver este problema.

Um calendário defeituoso

Como explicar, então, a suposta imprecisão do calendário?

Ao preencher o calendário, através dos séculos, temos certeza houve erros.

Talvez o mais importante é de Dionísio, que fixou a data do nascimento de Cristo no ano 754 de Roma. Agora, as diferenças entre o calendários romanos e cristão deram origem a muitas hipóteses, segundo as quais Jesus teria nascido num período entre 6 a.C.e 6 d.C.

A incerteza é também relativa ao berço do Redentor, que para alguns seria em Nazaré da Galileia, e para os outros, Belém, na Judeia.

O debate não é de hoje. De resto foram os mesmos Evangelistas que criaram dúvidas e confusões. A única certeza é que os Evangelhos concordam com o início do ministério público de Jesus, que começou pouco antes da morte, e da prisão da morte de João Baptista: no tempo, portanto, em que Póncio Pilatos era procurador romano da Judéia, Caifas o sumo sacerdote do Sinédrio, Herodes o tetrarca mal aceite e mal tolerado pelos governantes romanos.

Começamos, então, por Póncio Pilatos. Em quais anos foi o procurador de Roma nessas áreas?

Póncio & Tibério…

De acordo com a crença geral, Póncio Pilatos governou estas terras entre 27-36 d.C., ou seja, quando Jesus tinha 27 anos e até três anos após a Sua morte. Se for verdade que o Messias viveu 33 anos apenas.

Pois existem dúvidas sobre isso.

É possível que a crucificação e morte de Jesus ocorressem quando Ele tinha mais de 33 anos, provavelmente quando Ele estava prestes a realizar trinta e seis anos. 36 d.C. é o ano em que Pilatos foi substituído.

E há outros factores a considerar. Há uma outra data para lembrar.

Partimos do facto que a morte de Jesus teve lugar antes da substituição de Pilatos e sob o imperador Tibério, cuja morte data de 37 d.C.
Mas mesmo em 37 d.C. Tibério retirou os poderes de Caifas, o Sumo Sacerdote. Poderia ter acontecido que a sentença de morte de Jesus foi decidida por Caifas, o seu principal acusador, com Pilatos ainda em funções, entre 35 e 37 d.C.

Claro, é só uma hipótese.

…e São João.

Mas devemos levar em conta outros factores, e outras datas. Giosefo coloca a prisão de João Batista em 35 d. Se assim for, Jesus não teria morrido aos trinta e três anos, mas quando tinha mais de trinta e cinco anos, desde que a Sua morte é posterior à de João.

Mas examinemos outras considerações: Lucas e Mateus afirmam que, durante o reinado de Augusto, o governador romano da Síria, Quirino, do qual dependia a Galiléia, recebeu a ordem de realizar um recenseamento da população nos territórios que controlava. Quirino governou a Síria desde o ano 6 a.C. e, segundo os historiadores, realizou dois inquéritos: um no mesmo ano 6 a.C. e o segundo em 5 d.C.

Um dos dois censos é o ao qual se referem os Evangelistas, de acordo com a versão da transferência de José e Maria de Nazaré para Belém, onde Jesus nasceu.

A questão que se coloca é esta: qual dos dois censos referem os evangelistas? Jesus viveu mais de trinta e três anos. Se for o último, isso significa que o Redentor, quando morreu na cruz, tinha apenas 28 anos.

Os Evangelhos concordam que Cristo nasceu quando Herodes reinava. Sem especificar se era Herodes o Grande, que governou a Palestina entre 37a.C. até 3 a.C., ou o filho dele, Herodes Antipas, que ordenou o massacre dos inocentes, cujo reinado começou em 3 a.C. e terminou em 39 d.C.

Mas porque os Evangelistas falam dum primeiro censo?

Dois censos e uma dúvida

Evidentemente porque que eles sabiam que tinha havido um segundo mais tarde. Mas o primeiro aconteceu, como já afirmado, nos seis anos anteriores ao nascimento de Cristo.

E então as contas não batem certas. Se aceitarmos esta hipótese, Jesus nasceu durante o primeiro recenseamento, morreu bem além da idade de trinta e três anos. Assim, não estaríamos em 2010, mas em 2016.

E se os Evangelistas falharam? Se o censo em questão foi realmente o segundo?

Parece menos provável. Por duas razões.

A primeira: no Evangelho de João diz-se que os judeus, voltando-se para Jesus, disseram: “Ainda não tens cinquenta anos. Idade que atribuía, de acordo com o costume judaico, a sabedoria do sacerdote ancião.
E isso significa que Jesus estava mais perto dos quarenta anos do que dos trinta. É mais lógico pensar que uma frase como essa poderia ser proferida em relação a um homem muito próximo da plena maturidade, ao invés de apenas um de vinte oito ou vinte nove anos.

Johannes Kepler (1571-1628)

A segunda razão, o que dá mais peso à hipótese do nascimento de Jesus durante o primeiro recenseamento, está relacionada com o famoso cometa. Os astrónomos desde Kepler sustentam que o cometa foi visível na Galiléia e na Judéia, seis anos antes da data estimada do nascimento de Cristo.

Agora sabemos que o nascimento coincidiu com a passagem do cometa. Isto significa que Jesus não viveu trinta anos, mas trinta e nove anos. E agora não estamos em 2010 mas em 2016.

As acima apresentadas são apenas hipóteses, mas baseadas em factos históricos. O que é certo é que o dia, 25 de Dezembro, e o ano, 1 d.C., não correspondem à data de nascimento de Cristo.

Se for verdade que o nascimento aconteceu na altura do primeiro censo, então estamos a viver no ano 2016.
O que significa que o fatídico 2012 já passou. Há 4 anos. E nada aconteceu.

E agora quem avisa os que esperam algo de extraordinário? Não faz mal: Bom Natal para eles também.

Ipse dixit

5 Replies to “Bom 2017!”

  1. Ótimo blog, já está nos favoritos!

    Só um detalhe, a profecia maia é baseada no calendário maia, que transformado para o nosso sistema cai em 2012, portanto independente deste 2012 ser correto em relação ao nascimento de Jesus ou não. Se estamos em 2016, então a profecia se cumprirá (?) em 2018.

  2. Subscrevo na integra este artigo.
    Contudo poderá haver outro ano bem mais aziago.
    !2036!
    Pesquisem sobre o assunto, não sobre o ano, mas sim sobre o Asteróide Apophis!
    A ameaça é bem real os russos estão-se a preparar para ela e não é à toa que os americanos querem colocar antes disso homens em Marte.
    Antes de 2012, já passamos por 2000 ou será que todos já se esqueceram?

  3. 270 metros de rocha a cair por cima das nossas cabezinhas?

    Segundo Wikipedia as probabilidades dum impacto são baixas. Mas é verdade que segundo Wiki nós vivemos numa espécie de eterno Paraíso.

    Os factos são que também as Nações Unidas estão a estudar o assunto.
    Será que Portugal terá que enviar alguns GNR no asteróide?

    Abraço!!!

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