Sonhos de grandeza

Imaginemos ser alemães.
A nossa economia cresce, as nossas indústrias trabalham, produzem e vendem.
Mas não estamos sozinhos, pois fazemos parte duma “turma” de desgraçados: outros Países, todos com enormes dificuldades por várias razões, alguns à beira da falência.

Nos bons tempos idos, quando o futuro parecia uma doce avenida rodeadas por pétalas de rosas, aceitámos participar no projecto duma moeda única, o Euro: abandonámos o fiel e sólido Marco para um pedaço de papel que entretanto perdeu muito do seu valor e cuja função é agora salvar os bancos privados do continente.

Resumindo, fazemos parte dum projecto que está  a desmoronar-se.

Qual será a nossa atitude?

O Euro dá jeito

Sair do Euro? Não é simples.
Os nossos bancos empenharam-se de forma pesada nas economias dos Países desgraçados, sair do Euro nesta altura significaria ver a moeda única ser desvalorizada, perder valor, e com ela os nossos bancos que detêm não poucos Títulos de Estado dos outros Países.

Por isso, em primeiro lugar, podemos pôr como condição para ir em frente que todos os Países em risco aceitem a intervenção conjunta do Banco Central Europeu e do FMI. Pelo menos o Títulos na posse dos nosso bancos estarão “cobertos”.

A seguir?
A seguir podemos ter uma atitude “equivoca”. Tipo jurar se fieis à causa do Euro mas ao mesmo tempo fazer declarações esquisitas, que agitam os mercados em vez de acalma-los. Porquê? Para abalar a posição dos Países mais fracos e obriga-los a aceitar a intervenção do BCE e FMI. E “cobrir” assim outras “exposições” dos nossos bancos.
 
Mas podemos também fazer outra coisa. Podemos exigir uma politica de extremo rigor na Zona Euro. Verdade: para os outros Países isso pode significar muito provavelmente uma estagnação ou até uma recessão económica.  Mas no nosso caso as coisas não estão assim: a nossa economia funciona (é a única!), não são precisos cortes brutais: afinal vamos ganhar com isso.
Em breve, o nosso papel no continente será ulteriormente reforçado, enquanto outras economias concorrentes (França, Italia) ficarão atrás.

Nesta visão, o Euro torna-se um precioso instrumento hegemónico nas nossas mãos: uma gaiola que obriga os outros Países da Zona Euro a uma atitude bem definida e sem alternativas, enquanto permite ao nosso País tirar proveito disso.

Sair do Euro? Não, não agora. E se calhar nunca.
O projecto pode ser alterado de forma mais eficaz: não uma mas duas moedas únicas. Um Euro para os Países mais desgraçados (a maioria), um Super-Euro (Novo Marco?)para uma restrita elite: Alemanha, Finlândia, Holanda, por exemplo.

Duas velocidades

Ninguém lembra nos dias de hoje: mas aquando da formação do Euro, havia diversas correntes de pensamentos, uma das quais previa a criação duma Europa “a duas velocidade”.

A ideia era de formar  dois campeonatos: uma Europa de elite, formada pelos mais virtuosos, e um grupo de Países mais atrasados, com a tarefa de resolver os próprios problemas internos antes de poder aceder ao Olimpo monetário do Velho Continente.
Sabemos como acabou: as Mentes Pensantes decidiram formar um campeonato único, com bons e maus a jogar todos juntos. E sabemos como acabou.

Agora, pode o leitor imaginar para qual das duas correntes torcia a Alemanha na altura? Europa única ou Europa com duas velocidades?
Imaginado? Muito bem, resposta correcta.

Ficção político-económica?
Sim, talvez. Ou talvez não.

O facto é que a posição da Alemanha constitui uma forte tentação.
Sim, tudo bem, os Valores da União, os Sagrados Princípios da Moeda Única, etc.
Mas tentamos ser sérios: uma aspiração hegemónica alemã nesta altura deve ser encarada como uma possibilidade.

Há todavia um problema.
Os medias falam de “Alemanha locomotiva”, “milagre alemão” e outra amenidade. Tudo concorre para transmitir a ideia duma Alemanha portentosa com uma economia que viaja na melhor das maneiras.
E, como afirmado, de facto a economia de Berlim é a única que pode contar com bons resultados nesta altura.

Os pés de barro

Mas…(há sempre uma “mas”)

Nesta altura a Alemanha é um gigante com pés de barro.

A politica económica de Angela Merkel sustenta, e bem, as exportações da Alemanha e todo o sector interligado. Ma o resto da economia está pior, bem pior: pior, por exemplo, da economia italiana.
Consequências: os Alemães não são assim entusiastas acerca do Chanceler, que terá de esforçar-se mais para obter resultados mais concretos e homogéneos.

A “corrida para a frente” de Berlim, por enquanto, é travada por uma situação económica que está bem longe de ser ideal. Qualquer sonho “imperialista” da Merkel deve ser ter em conta estes dados e chegar à uma única conclusão: nesta altura, a Alemanha ao tem a capacidade para abandonar o barco sem correr graves riscos.

Nesta altura.
Mais logo, veremos.

Ipse dixit.

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