A Guerra de Rio

Nas televisões do mundo passam imagens de tiroteios, carros em chamas, feridos, crianças mortas, combates nas ruas.
Palestina? Não, Rio de Janeiro.

Rio aparece come uma cidade de grandes contraste, desde sempre: Copacabana dum lado, as favelas do outro, mulheres bonitas em fatos de banho ao lado de pobres à procura da sobrevivência, o Carnaval e os assassinatos do universo da droga e das armas.

Só quem vive o drama pode explicar o que se passa. Por isso, as três diferentes pontos de vista, escrito por Brasileiros.

A primeira opinião é dum internuta, Ricardo Ferrarez:

Moro em Niterói, região metropolitana do Rio de Janeiro, e nos últimos dias estamos vivendo nesse estado de atenção. Pelo menos pra mim em especial está mais calmo, meu carro e de nenhum conhecido meu foi queimado, muito menos algum conhecido foi atingindo por bala perdida. Claro, estamos um pouco distantes do centro dos acontecimentos que é a Vila Cruzeiro e o Complexo do Alemão, mas nossa cidade é vizinha e sempre serviu de refúgio para traficantes que tiveram que sair de seus domínios por causa das instalações das UPPs.

Aqui em Niterói e São Gonçalo também tivemos alguns ataques com carros queimados e bastantes boatos infundados gerados por gente ignorante e desinformada, como o último em que diziam que 600 marginais explodiriam a Ponte Rio-Niterói e Barcas… Quem deixa que seus ouvidos sirvam como pinicos é uma grande chance.

Mas esse texto é para tentar explicar aos que moram fora do estado o que realmente vem ocorrendo, lógico há medo, mas não esse desespero todo como se vem alardeando.

Estamos vivendo um momento ao qual sempre sonhamos, sempre, desde que me entendo por gente, ouço meus pais e pessoas mais velhas falando “põe o exército nas ruas que essa palhaçada vai acabar” e enfim chegou a hora.

Acho que todos que moram aqui estão orgulhosos, precisamos passar pelo que está acontecendo porque todos os governos anteriores se mantiveram reféns e nenhum deles teve a ousadia que o governo Sério Cabral vem tendo durante esses 4 anos.

Me orgulho de ter reeleito essa pessoa, pode ter cometido alguns erros, mas como todos nós é humano. Em São Gonçalo se instalou a máfia das vans, pessoas eram mortas por lá na época do governo “garotinho”.

Sérgio Cabral teve a coragem de acabar com as vans de transporte irregular, aproveitando a situação, esse pessoal da antiga máfia vem colocando fogo em ônibus por lá.

Quem não está a par dessas informações começam a espalhar opiniões e besteiras infundadas.

A segunda opinião é do escritor Paulo Lins

A polícia ocupou as favelas, monitorou a transferência dos criminosos para o Complexo do Alemão, e agora vão matar todo mundo”, prevê o escritor carioca Paulo Lins, autor de Cidade de Deus. Para ele, os movimentos da polícia conduzem a situação para uma “grande chacina”.

Para Lins, os 96 incêndios em veículos e arrastões desde domingo (21) no Rio de Janeiro, atribuídos ao crime organizado, “deram o motivo” para o que ele chama de massacre. O maior problema é que isso pode não resolver o problema da segurança no Rio.

“No governo de Sérgio Cabral, desde o início, mata-se muita gente. E no Brasil não tem pena de morte, essa é a minha ressalva”, afirma. “Não acho que vão pegar esses criminosos, prender, apresentar a sociedade, levar para presídio e recuperar esses homens; eles vão matar”, prevê em entrevista à Rede Brasil Atual.
O escritor revela ter ouvido relatos de moradores da comunidade de Cidade de Deus, na zona oeste da cidade, onde Lins cresceu, de execuções sumárias pela polícia de pessoas já rendidas. “Eu já vi isso a minha vida toda. Vai acontecer uma ‘bela chacina’ e gerar mais ódio”, lamenta.
O escritor se diz favorável à ocupação das comunidades e à política de instalação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), mas condena a forma como foram implantadas. “A ocupação em si é louvável, tem de ocupar, prender os bandidos, tirá-los de circulação, até porque eles aliciam outros jovens, servem de exemplo.
Tirá-los de circulação é boa ideia, mas tem que prender, não matar”, diz.
“Nas primeiras favelas (em que foram implantadas UPPs) houve conflito entre polícia e tráfico. Depois, os policiais começaram a avisar publicamente que iam ocupar a favela, e os bandidos passaram a sair antes. Eles foram para outras, para a Vila Cruzeiro e o Complexo do Alemão. Toda essa movimentação foi monitorada, o Estado sabia que esses bandidos estavam ali. E agora vai acontecer uma chacina”, reitera.
Lins destaca que os ataques feitos pelos crime organizado não provocaram vítimas fatais. “Só a polícia matou, inclusive com bala perdida. O mais marcante para mim foi uma criança de 15 anos que morreu com uma bala perdida. Se acontecesse na zona sul (área nobre da cidade), a imprensa toda estava falando nisso. Como ela é pobre, mora na favela, é visto como normal, como vítima de guerra”, acusa. Segundo a Polícia Militar, até quinta-feira (25), o saldo das operações é de 192 pessoas presas, 25 mortos e três policiais feridos.
Excessos
Ele considera errada a estratégia da polícia, que se apoia em violência que seria desnecessária. “Quando prenderam o (narcotraficante) Elias Maluco, eles não deram um tiro. Acontece que o Estado é burro e tinha que ser inteligente. Eles vão matar 50, 100 bandidos e vão achar mais mil, isso não resolve”, critica.
“Matar bandido preto e pobre não é coisa nova no Brasil, o país vem fazendo isso há muitos anos e não resolveu nada. Vai gerar mais ódio, mais rancor, e vão aparecer mais bandidos se não tiver uma política de prevenção”, defende. “Ou então, deveria ter política de extermínio de bandido rico também. Se a pena de morte valer para bandido pobre, tem que valer também para bandido rico, inclusive bandido político. Bandido rico nem preso vai”, dispara.
O apoio da população às ações do Estado é esperado por Lins nessa situação de medo. “Lógico que vai aprovar, a população civil esta acuada pelos bandidos, com medo desses incêndios. A imprensa faz parte da sociedade e apoia também. Mas realmente esse foi um motivo que deram para se fazer uma chacina e ‘limpar’ a cidade”, diz.
O escritor defende a presença do Estado nas comunidades por meio de ações sociais, especialmente de educação. “O Estado tem que dar suporte de educação, cultura e esporte para a população toda, como existe para a classe média”, compara. “O pessoal na periferia é revoltado, há uma revolta social muito grande. Tem de melhorar o salário do trabalhador, é o filho dele que entra para a criminalidade. Não se fala agora em escola boa, e o parâmetro para isso já existe, é só pegar a escola de classe media, que é exemplo”, questiona.
Para isso, o poder público precisaria “tomar o domínio das cadeias” por meio de um processo de humanização do sistema carcerário e investimento na recuperação dos presos. “Não adianta transferir presos. O Estado tem que retomar o domínio das cadeias e vai fazer isso com projetos de recuperação, com educação, médico, trabalho – sobretudo trabalho. Esse pessoal não pode ficar parado”, sustenta Lins.
Lins se diz contrário ao recrudescimento de penas contra lideranças das facções criminosas. “Tem de  fazer essas pessoas enxergarem o quanto é importante o trabalho, a produção. É isso que tem de fazer, não endurecer mais. Isso é conversa fiada”, afirma.

A terceira opinião é do já conhecido jornalista Wander Veroni:

Nessa última semana, os olhos do mundo se voltaram para o Rio de Janeiro. A cidade conhecida por ser o cartão-postal do Brasil se viu sitiada por bandidos.

Tudo começou quando criminosos armaram um ataque na rodovia Rio-Magé (BR-116), na altura de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, no fim da noite de sábado (20/11), em resposta à implantação das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora). Durante toda semana, a onda de violência continuou. Veículos foram queimados, cabines da polícia metralhadas e inocentes feridos em meio ao fogo cruzado.

Desde quinta-feira (25/11), a Polícia Civil, Militar e Federal tem concentrado a operação na Vila Cruzeiro, na zona norte do Rio de Janeiro, sob a liderança do Bope (Batalhão de Operações Especiais) e apoio das Forças Armadas.

Foi exatamente nesse dia que uma cena impressionou o mundo: vários bandidos correndo entre os morros, fugindo da Vila Cruzeiro em direção ao Complexo do Alemão. A polícia acredita que 500 criminosos estão escondidos no complexo.

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Pelo noticiário, a ação das autoridades é acompanhada como se fosse um reality show. Ou melhor, um frame do recente “Tropa de Elite 2”, como bem lembrou o jornalista e blogueiro @alerocha na sua coluna.

Na película de José Padilha, as autoridades cariocas se encontram numa situação semelhante, onde a sociedade pressiona por uma resposta a onda de violência que se instalou. No filme, tanto a polícia, quanto a política local, estão entrelaçados com a criminalidade. Na vida real, temos a ligeira impressão, que as autoridades querem resolver o problema. Só espero que não sejam ações imediatistas, mas sim de longo prazo.

Ligeira impressão porque o problema do tráfico de drogas no Rio e o “poder paralelo” que existe nas favelas não é de agora.

É antigo e existe há muito. Na falta de anos de ausência do Estado, o “poder paralelo do tráfico” criou novas leis, hábitos e uma população oprimida pela pobreza e pelo medo, afinal ninguém quer morrer em um “microondas” da vida.

Vendo as cenas do Rio de Janeiro, mais especificamente das ações de enfrentamento à violência na Vila Cruzeiro, temos a certeza que estamos em uma guerra civil que não vai terminar agora, mas que exige um trabalho a longo prazo de transformar toda uma sociedade, passando pela política local, pela polícia e, principalmente, pela educação da sociedade.

Ver as Forças Armadas na rua mostra o quanto a coisa é séria e que a polícia está falida. Não adianta clamar pelo Capitão Nascimento – nosso anti-heroi tupiniquim preferido do momento. O buraco é mais embaixo!

Fontes: Ricardo Ferrarez em Cena Aberta,  Paulo Lins em Gilson Sampaio, Walter Veroni em Café com Notícias

3 Replies to “A Guerra de Rio”

  1. Caro Max,
    Como sempre a espetacularização de uma só variável a serviço da incompetência(?) do Estado. As tais UPP's, Unidades Pacificadoras da Polícia, 'limpam' a área e lá estabelecem uma unidade. É só. Creche, posto de saúde, escolas… nada, neca de pitibiribas. Sobre as milícias associadas ao narcotráfico, nenhuma palavra.(http://www.consciencia.net/o-jornalismo-desonesto-e-o-mito-do-crime-organizado/)
    Neste vídeo, você verá que o mesmo governador e o mesmo secretário de segurança prometem comemorar a ocupação da mesma favela em 2008.
    (http://gilsonsampaio.blogspot.com/2010/11/promessa-de-cerveja-gelada-na-vila.html)

    Estou a espera que alguém me convença que a logística do narcotráfico, estou falando em grande escala, como uma commoditye, (transporte, produto final,armas, distribuição etc) tenha a assinatura intelectual dos traficantes dos morros.
    "Meu nome não é Johnny" é um filme brasileiro muito criticado como apologista das drogas. É a história real de um traficante da alta classe média carioca. É sintomático de uma sociedade doente que esse "outro lado" do narcotráfico permaneça do outro lado das manchetes.
    O buraco é mais embaixo, diz o ditado popular e a burguesia evita chegar lá.
    É necessário dar combate ao narcotráfico, ninguém contesta, mas é preciso que esse combate se dê em toda a cadeia e não somente ao elo visível formado por pretos e pobres. Sem isso, não há combate.
    Só resta o preconceito e a hipocrisia.

  2. Caro Max, seria necessário vc vir ao Rio de Janeiro para ver como é, pois a vida aqui é normal, apesar de algumas vezes vermos notícias de confrontos entre policiais e bandidos, ou bandidos e bandidos, geralmente nas favelas ou próximo, além de outros crimes, cá ou lá, alguns manifestantes violentos (recente)em confronto com a polícia, mas nada que impeça as pessoas de viverem normalmente suas vidas. Há, sim, mais insegurança do que na Europa, onde, aliás, também há assaltos e todos os outros tipos de crime. E não faz muito tempo eu vi vários veículos sendo queimados na França e na Suécia, também. Mas o Rio está longe de ser a Palestina ou, pior, o Iraque, o Afeganistão, a Síria, como muitos possam exagerar. E apenas por incompetência das autoridades "competentes" é que ainda estamos nessa situação, pois tudo poderia ser muito melhor, poderiamos viver com bem mais tranquilidade, apesar da péssima distribuição de renda, apesar de muitos ainda viverem em muita pobreza, se as autoridades do Rio e deste País fossem mais competentes, principalmente para diminuir esses abismos sociais. Mas veja que, agora mesmo, o Papa está no Brasil e com muita segurança sai pelas ruas em carro aberto, com milhares de pessoas a saudá-lo, tudo num ambiente de paz, de tranquilidade. E ainda teremos Copa do Mundo e Olimpíadas em 2013 e 2014, muito provavelmente tudo transcorrendo normalmente. Enfim, poderia ser melhor, muito melhor, mas, também não estamos numa Palestina, não… Um abraço!

  3. Perdao, errei nos números ou nos anos citados acima: é Copa do Mundo em 2014 e Olimpíadas em 2016.

Obrigado por participar na discussão!

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