Democracia nuclear

Uma vez o pesadelo era: quem lançará o primeiro ataque nuclear? A União Soviética ou os Estados Unidos?
Depois chegou o fim da Guerra Fria e todos respirámos de alívio.

Passadas algumas décadas podemos ver como de facto a situação melhorou neste sentido: agora qualquer País, por quanto pobre, pode ter a própria bomba nuclear montada num foguete.
Chegámos à época da democracia nuclear.

Até o único País que sofreu ataques atómicos, o Japão, pensa nas armas nucleares como único remédio contra a instabilidade geopolítica.

As cláusulas secretas

As desgastadas relações entre China e Rússia, a sempre presente ameaça das armas nucleares na Coreia do Norte, e uma revisão do tratado de segurança de 1960, formalmente conhecido como o Tratado de Mútua Cooperação de Segurança, por parte dos EUA e do Japão, têm levado algumas pessoas entre o governo japonês e os militares a considerar o que seria impensável há apenas alguns anos atrás: que o Japão pudesse entrar no clube das nações que possuem armas nucleares.

Como o Japão foi o único País a ter sofrido o uso militar de armas nucleares, com o lançamento em Agosto de 1945 das bombas atómicas americanas sobre Hiroshima e Nagasaki, há um forte sentimento anti-nuclear entre o povo japonês. Mas vale ressaltar que o Japão durante a Segunda Guerra Mundial teve dois programas em curso para construir uma bomba atómica: o projecto Ni-Go do Exército e o programa F-Go da Marinha. Em 1960, a administração de Lyndon Johnson fez pressão sobre o governo de Eisaku Sato para assinar o Tratado de Não-Proliferação Nuclear, no temor que Sato desenvolvesse uma capacidade nuclear para combater a ameaça chinesa.

O tratado de segurança prevê que os Estados Unidos devam intervir para ajudar a defesa do Japão em caso de ataque armado contra territórios sob a administração japonesa. No entanto, fontes japonesas afirmam que um anexo secreto do Tratado não prevê que os Estados Unidos devam tomar medidas para defender dois territórios disputados: as ilhas Senkaku, que são reivindicadas pela China e têm sido a causa dos recentes acidentes entre o Japão e a China, e quatro ilhas Curilas que fazem parte da cadeia de ilhas ocupadas pela União Soviética nos últimos dias da Segunda Guerra Mundial e que ainda são ocupadas pela Rússia.

Outro protocolo secreto do Tratado entre EUA e Japão permitiu aos Estados Unidos estacionar armas nucleares em solo japonês.

Com os EUA cada vez mais vistos por diplomatas e militares japoneses como uma fraca super-potência, alguns elementos do governo japonês e especialistas pensam que o único caminho para o Japão garantir a segurança do País é mudar a sua constituição e as leis para permitir o acesso às armas nucleares.

Tokio e os Chineses

Também a recente desclassificação do Japão no ranking mundial para a terceira posição entre as maiores economias (agora a segunda é a China), tem persuadido alguns japoneses que o País deve olhar para além da sua aliança com os Estados Unidos e proceder à sua própria defesa que, no actual contexto geopolítico, exige a aquisição de armas nucleares.

A partir do momento em que o Governo der luz verde, o Japão precisa apenas de três meses para desenvolver e implantar armas nucleares para as suas forças armadas. O Japão mantém uma capacidade independente para enriquecer o urânio e é capaz de usar a própria tecnologia de mísseis para desenvolver o lançamento de um míssil balístico intercontinental. Uma vez que é assumido que o Japão já possui os detalhes dos planos de construção das armas nucleares, também seria capaz de passar facilmente para a produção de armas. O Japão já é o terceiro maior produtor de energia nuclear, depois dos Estados Unidos e da França, duas potências que possuem armas nucleares.

A recente briga entre os japoneses da Guarda Costeira e um barco de pesca chinês nas águas de Senkaku e a firme rejeição russa para negociações com o Japão sobre o futuro das disputadas ilhas Curilas do Sul, renovaram o interesse de Tóquio em relação a uma maior autonomia militar japonesa, que vê a posse da força nuclear como uma opção final. A isso temos de adicionar a frustração japonesa por causa da recusa dos Estados Unidos a abandonar a sua impopular presença militar em Okinawa, um factor que ajudou a derrubar o governo do Primeiro-Ministro Yukio Hatoyama.

Em 1968, o governo Sato redefiniu a política no domínio da energia nuclear para fins pacíficos e o próprio compromisso com a não-proliferação, alterado para dar a possibilidade de construir armas nucleares caso o guarda-chuva nuclear dos Estados Unidos fosse insuficiente; depois de ter sido revelado que os Estados Unidos consideram Senkaku e as Ilhas Curilas do Sul excluídos do território japonês, a cláusula Sato está agora a ser considerada seriamente. Em 1994, o Ministro dos Negócios Estrangeiros Yohei Kono revelou a existência dum documento secreto de 1969, no qual o então Ministério dos Negócios Estrangeiros pedia que o Japão mantivesse a capacidade de desenvolver armas nucleares.

Em 2005, outro Ministro dos Negócios Estrangeiros, Taro Aso, disse que o vice-presidente Dick Cheney fez a seguinte afirmação:

A Índia, Paquistão e a Coreia do Norte possuem armas nucleares. Se a Coreia do Norte continuar a desenvolver armas nucleares, também o Japão terá que armar-se com armas nucleares. 

Em 2008, Aso tornou-se Primeiro-Ministro do Japão. Em 2006, o ex-Primeiro-Ministro Yasuhiro Nakasone lançou a ideia de que o Japão deve construir as próprias armas nucleares.

Não “se” mas “quando”

Como a China tem sempre insistido para que o Japão não desenvolvesse armas nucleares, há no Japão uma poderosa facção militar e política que quer fazer exatamente o que a China não quer, como forma de desafio às aspirações de Pequim para uma expansão da própria influência da Ásia.

O sentimento em Tóquio já não é saber se o Japão deveria desenvolver a capacidade para construir armas nucleares, mas quando. E o “quando” agora parece estar muito perto.

Se o Japão decidir abandonar o regime do TNP (Tratado de Não Proliferação Nuclear) e possuir armas nucleares, haverá um efeito dominó na Ásia. Sabe-se que enquanto o mundo estava concentrado no programa nuclear da Coreia do Norte, a Coreia do Sul tem silenciosamente lançado o próprio programa nuclear segredo para adquirir estas armas. Em 2004 foi revelado que Seul desde 1980 mantinha um programa secreto para produzir urânio enriquecido em instalações de pesquisa na Coreia do Sul e que o programa envolveu o enriquecimento de urânio e a produção de plutónio. O Canadá está a ser investigado porque um dos seus reactores nucleares Candu, que foram vendidos para a Coreia do Sul, está envolvido no programa clandestino.

Acredita-se também que Taiwan tenha adquirido armas nucleares, como resultado de uma aliança secreta entre o Sul África, Israel e Taiwan. A África do Sul tem dado as suas armas nucleares ao atingir uma maioria negra em 1994. Há também relatos do envolvimento secreto de Israel no programa de armas nucleares da Coreia do Norte. Até a Birmânia é suspeita de ter em programa a aquisição clandestina de armas nucleares.

Mas o problema não era o programa nuclear do Irão?

Fonte: OnLine Journal

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