…And Justice For All

Manuel Freytas é jornalista, pesquisador e analista, especialista em inteligência e comunicação estratégica. Um dos autores mais populares e referenciado na web.  

Neste artigo, publicado no site em espanhol IAR Noticias, observa a crise do ponto de vista dos Países emergentes e subdesenvolvidos.
É uma analise claramente de esquerda, que nalguns passos descobre “a água quente”: o capitalismo implica injustiças. Mas não só o capitalismo, acrescentamos nós: ainda ninguém descobriu a sociedade perfeita.

Todavia é um artigo que faz reflectir, e é isso que interessa, pois contém verdades que têm pouco realce nos meios de comunicação.
Pois o facto de sempre existirem injustiças não significa ter que aceita-las. 
Bem pelo contrário.

Os condenados do mercado e as chaves da explosão social

A crise financeira que já afectando os Estados centrais (e que ameaça o mundo periférico) tornou-se uma “crise social” através de três actores principais: a diminuição dos salários como resultado de medidas económicas, o declínio da capacidade de consumo, o trabalho ilegal e o desemprego que afecta principalmente os sectores mais pobres e mais vulneráveis da sociedade mundial.
Aos peritos do sistema interessa somente o impacto da crise sobre o mercado e as empresas nos Países centrais, mas ninguém presta atenção ao impacto (e às consequências) que a crise terá com o desemprego nas áreas subdesenvolvidas e emergentes que abrigam os mais pobres e indefesos do planeta.

A este cenário, de acordo com um relatório da OCDE, acrescenta-se outro dado central: mais de 60% da população activa mundial trabalha com contratos precários e sem assistência social.
Esta situação, segundo os especialistas, levará a uma situação de emergência em que este sector, sem protecção ou cobertura legal, vai ser demitido em bloco quando a crise e os ajustes económicos ficarem mais incisivos e as empresas decidirem “reduzir os custos do trabalho” para preservar o próprio lucro.
Neste cenário, a Grécia e a Espanha, seguidos por Portugal, todos os analistas concordam, transformaram-se num pavio dum potencial colapso económico e financeiro que poderia desencadear um processo de agitação social e política em toda a zona Euro.
Em Maio de 2008, o presidente do Banco Mundial, Robert Zoellick, alertou que “há um grande risco de crise social” no mundo.

Durante uma entrevista com o jornal espanhol El Pais, Zoellick explicou: “O que começou como uma grande crise financeira e tornou-se uma grande crise económica, agora está a transformar-se numa grande crise de desemprego. Se nada for feito, há um risco que se torne uma grave crise humana e social, com importantes implicações políticas. “

Tanto o “milagre asiático” quanto o “milagre latino-americano” (crescimento económico sem redistribuição social) foram construídos com trabalhadores escravos. Isto significa que, com a queda do “modelo” devido à crise recessiva global, a maior parte da crise social emergente, com perdas massiva de emprego acontece nessas regiões.
Mas desta questão estratégica, vital para a compreensão da crise global e do seu impacto social no planeta, a imprensa internacional não fala. Os meios de comunicação locais e internacionais são empregados para elucidar como a crise produz o declínio das fortunas dos ricos e a perda dos lucros empresariais.

Mas de qual de crise social o Presidente do Banco Mundial falava?
Da crise social dos Países ricos ou da crise social dos Países pobres?
Da crise social dos incluídos ou da crise social dos excluídos?

Normalmente, os media e os analistas avaliam e projectam só a evolução da crise global nas variáveis económicas e financeiras, sem esclarecer as mudanças que inevitavelmente acontecem nos Países emergentes onde o colapso já passou de financeiro a recessivo .

Da mesma forma, aos especialistas do sistema preocupa apenas o impacto da crise no mercado e nas empresas dos Países centrais, mas ninguém presta atenção ao impacto (e ao resultado) que, em última análise, a crise vai ter no desemprego nas áreas subdesenvolvidas e emergentes que são o abrigo dos mais pobres e mais frágeis do planeta.
Deste modo, e enquanto (através de despedimentos e cortes de salários) foi incubado o resultado da crise social em escala global, governos, bancos centrais e analistas só falam dos efeitos económicos e sociais nos Países centrais.

Os excluídos do mercado

Quando falam da “crise social”, jornalistas, intelectuais e analistas do sistema fazem isso de forma abstracta e geral, sem especificar o impacto (discriminado por sector) na pirâmide social do sistema capitalista em escala global.

Por exemplo, a imprensa internacional nos últimos meses, expressa com toda a impunidade (e sem contra-informação maciça), como a crise esteja a “afectar os mais ricos”, cuja pirâmide é impulsionada pelos super milionários do ranking da revista Forbes.

Os media e os analistas (que informam a sociedade de forma maciça) centraram a própria preocupação sobre a perda de grandes corporações multinacionais, sobre a redução das grandes fortunas dos bilionários e sobre a desvalorização dos salários dos chefes das cidades dos EUA a da Europa.

Quase não há artigos (e os que há são manipulados e reduzidos) de como a crise afecta a economia as sociedades dos Países subdesenvolvidos da Ásia, África e América Latina, onde se concentra a maior parte da fome e da pobreza mundial.

Os media internacionais do sistema, que sistematicamente ocultam a simbiótica relação riqueza-pobreza (uma consequência da outra) comentavam com preocupação como a crise tinha reduzido o selectivo clube dos bilionários de Forbes, que caiu de 1.125 membros em 2008 para 739 em 2009.
Segundo Forbes, devido à queda dos mercados e o volume dos negócios, os mais ricos homens e mulheres do planeta (na parte superior da pirâmide) controlam uma fortuna de cerca de 3.3 mil bilhões em comparação aos 4,4 bilhões no ano anterior.

É de notar que este número (nas mãos de 700 pessoas), é quase igual ao orçamento anual dos EUA (a primeira potência económica), ao PIB total da Alemanha (a primeira potência económica na Europa), e a mais de 100 vezes o PIB da Bolívia.

Reinvestidos em salários de forma justa e numa produção distribuída socialmente, o 3.000 bilhões seriam cruciais para acabar com a pobreza, a fome e o desemprego de mais de 2.500 milhões de pessoas concentradas em áreas remotas da Ásia, África e América Latina.

Em contrapartida (e demonstração de que o capitalismo produz) estas áreas são marcadas por uma elevada e crescente concentração da pobreza e da fome, aparecem nas estatísticas económicas como geradoras da maior riqueza e de lucro do capitalismo empresarial nos últimos 10 anos.

Acaba aqui a primeira parte do artigo.
A segunda e última parte me breve.

Fonte: IAR Noticias
Tradução: Informação Incorrecta

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