Os Chineses, a Bolsa e Portugal

É de ontem a noticia que a agência de rating Dagong Global Credit Rating atribuiu “os votos” às grandes dívidas soberanas mundiais.

Onde está a novidade?
A Dagong Global Credit Rating é chinesa.

E a agência não brinca: negou a classificação mais alta aos Estados Unidos, a França, o Reino Unido e a Alemanha. Além do método utilizado, que parece ser baseado principalmente na capacidade de produzir crescimento, a importância da iniciativa parece bastante clara: a China é um investidor global, apesar de ter uma enorme exposição face ao Dólar dos Estados Unidos.

A necessidade de proteger os próprios investimentos em relação ao risco de indisciplina fiscal dos emitentes soberanos pressiona Pequim a utilizar várias formas de persuasão moral, sob a forma de posições públicas tomadas pelos chefes do partido, do banco central e doutros órgãos governamentais.

A actividade de Dagong faz exactamente isso: porque parece difícil imagina-la como organismo privado, tal como Moody’s por exemplo, o seu papel é o da divulgação de informações sobre a classificação; o que se torna uma forma de enviar mensagens, recomendações e advertências aos devedores soberanos internacionais.

Com isso a China fornece outro exemplo de próprio modelo híbrido de capitalismo económico e financeiro, onde a replica das estruturas de mercado “ocidentais”, mas com controle público, acompanha de perto os objectivos estratégicos do País, cada vez mais protagonista no cenário global, político e diplomático.

Os resultados da avaliação Dagong têm vindo a fazer manchetes, uma vez que, ehm, divergem um pouco do rating das agências de notação ocidentais, como Moody’s, Fitch ou Standard & Poor’s.

Que dizer? A China ganha uma posição, mas Estados Unidos e Grã Bretanha podem contar com uma avaliação mais realística. Provavelmente ainda não “perfeita”, mas muito mais realística…

Portugal, entretanto…

E a propósito de rating: Portugal foi cortado. Outra vez? Sim, outra vez.
Moody’s cortou de Aa2 para A1, pois considera que a solidez financeira do governo português vai continuar a enfraquecer ao longo do médio prazo, tal como evidenciado pela deterioração contínua nos indicadores de dívida do País, como a dívida em percentagem do PIB e a dívida em relação à receita.

Como informa o Jornal de Negócios:

As perspectivas de crescimento para a economia portuguesa deverão manter-se relativamente débeis, a menos que as recentes reformas estruturais dêem frutos ao longo do médio a mais longo prazo.

O “outlook” está agora estável, com os riscos de descida ou subida da notação financeira a estarem equilibrados.

O resultado é que agora Portugal tem o segundo pior rating da Zona Euro:

O que não é bom. Mas não é tudo.

A Moody’s Investors Service prevê que o Produto Interno Bruto (PIB) de Portugal irá crescer entre 0,5% e 1% em 2010 e que esse crescimento andará “perto do zero” em 2011.

Estes são números que ficam aquém do crescimento relativamente forte da economia portuguesa no primeiro trimestre de 2010.

No que diz respeito ao médio prazo, Anthony Thomas, analista sénior da agência de notação financeira e responsável pelo departamento de risco soberano, disse em entrevista à Dow Jones Newswires que o PIB português deverá crescer em torno de 1,5%.

Os mercados, entretanto…

E os mercados? Como reagiram perante este corte?

Poucas semanas atrás as bolsas teriam sofrido uma horrível queda. Hoje nada. Até a Bolsa de Lisboa ganha. Pouco, mas ganha.

Normal? Não, não é.
Há um optimismo esquisito em tudo isso, que contrasta com o pessimismo, por exemplo, do consumidor americano. E seria interessante poder ler os dados relativos aos consumidores europeus.

As Bolsas como espelho da capacidade das empresas em gerar lucros, apesar da real situação económica?
É uma possibilidade. Mas bastante triste, verdade seja dita: seriam umas Bolsas típicas do Terceiro Mundo e não duma sociedade avançada.

Neste contexto seria as Bolsas duma elite e já não um indicador de confiança acerca do estado de saúde da economia mundial.

Ipse dixit.

Fonte: Phastidio, Financial Times Alphaville, Jornal de Negócios,

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