O Brasil nuclear – Parte II

Segunda e última parte do artigo acerca do nuclear brasileiro.
A primeira parte pode ser encontrada neste link.

Prontos?
Ok, começamos:

Actualmente a Marinha gere o Centro Experimental de Aramar, no Estado de São Paulo, juntamente com A Comissão Nacional de Energia Nuclear Comissão (CNEN), e a Fabrica de Combustíveis Nucleares em Resende, Estado do Rio de Janeiro, juntamente com a Indústrias Nucleares do Brasil (INB) a partir de 2000, desde quando foi transformada numa empresa comercial.

A Fábrica Combustíveis Nucleares em Resende

Aqui, em 1993, o urânio foi enriquecido pela primeira vez, assim o Brasil no clube muito restrito de Países que têm estruturas de centrífuga em escala comercial, dominando todas as fases da produção do combustível nuclear. Mas acima de tudo usando a tecnologia de levitação electromagnética em que o eixo centrífugo não é mecânico, mas precisamente, electromagnético, permitindo que o rotores (cilindros rotativos que estão no cerne destas máquinas) possam flutuar e girar sem atrito com menor consumo e maior eficiência e durabilidade. Tecnologia que os brasileiros dizem ser 100% local, constitui um sucesso para o País e que levou a outros avanços, como aços de alta resistência e válvulas especiais operando com substâncias corrosivas.

Então os segredo tecnológicos têm fundamento contra os inspectores da AIEA também, os quais, por outro lado, não conseguem não observar que Resende pode potencialmente produzir urânio altamente enriquecido, suficiente para alimentar entre 26 e 31 ogivas nucleares por ano.

A procura e a oferta de material físsil: em busca da auto-suficiência (e além disso)

Apesar do Brasil dominar a tecnologia usada para produzir combustível nuclear, algumas etapas ainda são efectuados no exterior para alimentar as duas centrais de Angra 1 e 2. O País produz mineral de urânio, o “yellow cake”, que envia ao estado bruto para o Canadá, onde é gaseificado e enriquecido antes de retornar ao Brasil e ser transformado em “pads”, utilizadas para o funcionamento das centrais. Com o aumento da capacidade instalada desde os actuais 2 GW de Angra 1 e 2 para 3,4 GW em 2015, quando estará operacional Angra 3, e com as futuras centrais, haverá um problema de fornecimento de material físsil.
Além disso, é preciso alimentar o futuro reactor de investigação Hyper (Estado de São Paulo) com o qual o País será auto-suficiente na produção de isótopos radioactivos para diagnóstico e tratamentos médicos. A CNEN já cumpre uma demanda anual de 2 milhões de procedimentos médicos com radio-fármacos e outras aplicações tais como a irradiação de alimentos e o controle de pragas.

O Projecto Hyper, São Paulo

Ponto firme da política industrial do governo Lula é o desenvolvimento das indústrias a partir dos recursos disponíveis no País e evitar a exportação de matérias-primas ou semi-brutas: isto também aplica-se aos recursos energéticos. O governo quer usar as reservas nacionais de mineral de urânio como matéria-prima para próprias fábricas e, ao mesmo tempo gerir o processo de enriquecimento do urânio. Essas reservas são enormes, muito maiores da procura doméstica em qualquer cenário: 310 000 toneladas, as sextas no mundo, mas deverão chegar ao segundo ou primeiro lugar quando será mapeado todo o País.

Alguns observadores internacionais afirmam que, graças à actual maior oferta em relação à procura de serviços de enriquecimento, seria economicamente muito mais conveniente adquirir esses serviços no estrangeiro, dada o modesto (actual) demanda brasileira de material físsil.
O argumento poderia ser válido para uma economia europeia, onde não são previstos grandes aumentos da demanda energética, mas é muito fraco num País em desenvolvimento, onde é esperado um aumento na produção de electricidade de 68,7% (de 112 GW para 189 GW) ao longo dos próximos 10 anos. Também não considera a oportunidade de exportar material físsil e tecnologia: hoje cerca de 90 por cento das centrais nucleares do mundo dependem dos serviços de enriquecimento para o próprio combustível.

É um mercado global de 5 bilhões de Dólares anuais, em crescimento, em que o Brasil pretende participar no futuro com papel de protagonista: espera ser inserido no círculo restrito dos poucos Países exportadores de urânio enriquecido, serviços, equipamentos e fornecimentos centrais nucleares .

Implicações na política internacional

Como o governo brasileiro e boa parte do público entendem os equilíbrios geopolíticos relativos ao domínio da tecnologia nuclear? Há cinco potências mundiais (EUA, Reino Unido, Rússia, França e China) equipadas com armas nucleares, que asseguraram com os termos do TNP o direito de exercer qualquer investigação e o progresso e, por enquanto, trabalhando para concentrar o enriquecimento do urânio e limitar a produção e a pesquisa em outros Países.
O jogo é puramente industrial, com o desejo de impedir o surgimento de novos concorrentes e tentando fortalecer um oligopólio existente. Um punhado de outros Países (europeus e / ou ocidentais), com bom nível de domínio tecnológico e parceiros das potências, compartilham com estas as escolhas políticas e comerciais. Outros quatro poderes (Índia, Paquistão, Israel e Coreia do Norte) estão fora do regime internacional do TNP, pois simplesmente não assinaram o Tratado (e têm pleno direito de fazê-lo do ponto de vista jurídico).

Este “regime assimétrico” seria particularmente prejudicial para os Países que cumprirem os seguintes requisitos: dominar o ciclo de enriquecimento, têm grandes reservas de mineral de urânio, não estão entre as potências nucleares do “oligopólio”.

Apenas três Países no mundo satisfazem as duas primeiras condições: os EUA, a Rússia e o Brasil. Só o Brasil todas as três. Isso explica a crescente impaciência com o TNP e o protocolo de controlo mencionado, visto como instrumento disfarçado de revisão do TNP, podendo até mesmo implicar, segundo alguns, a centralização dos processos de enriquecimento em instalações internacionais.

Aceita-lo seria violar a “conditio sine qua non” [“condição irrenunciável“, NDT] da adesão brasileira ao TNP: o direito de desenvolver tecnologias para uso pacífico da energia atómica. A ideia do governo Lula (recentemente exposta na Conferência de Washington sobre a Segurança Nuclear e no Summit do Grupo BRIC) é que este direito pertence à todos os Países em desenvolvimento, incluindo o Irão.

Outra “conditio sine qua non” (incluída na ratificação do TNP) é o desarmamento geral, já presente no texto do TNP (artigo VI) assinado em 1968, confirmado pela Quinta Conferência para a Revisão e Extensão do TNP (1995) onde o objectivo final do desarmamento é a “eliminação total das armas nucleares sob um efectivo controle internacional”. Durante a VI Conferência (2000), o Brasil assumiu um papel de liderança da New Agenda Coalition (NAC), grupo de Países que pedia às potências nucleares para dar um novo impulso aos objectivos do TNP, o desarmamento nuclear completo em primeiro lugar.
Finalmente, afirma-se nos círculos governamentais e académicos, são as potências que têm arsenais nucleares a não cumprir a obrigações do tratado, criando um precedente para os Países que podem ter a tentação da arma nuclear.

Acaba aqui o artigo, cuja primeira parte pode ser encontrada aqui.

Fonte: Limes
Tradução: Informação Incorrecta

Obrigado por participar na discussão!

This site uses User Verification plugin to reduce spam. See how your comment data is processed.

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.