Entregas Ikea: não é para todos

Quem não conhece a IKEA?

Para os amigos do Brasil e da África, ainda não atingidos pelo furacão IKEA (e conseguinte ikeamania, contagiante), eis uma breve apresentação.

A casa fundada na Suécia, agora com sede na Holanda, especializada na venda de mobiliário, acessórios e outros artigos para o lar, a preços competitivos.

É possível entrar numa loja IKEA e sair com a própria casa totalmente mobilada.

É necessário apenas satisfazer duas condições:

  1. ter dinheiro para disposição
  2. não ser um palestiniano

No primeiro caso é sempre possível recorrer ao crédito IKEA.
No segundo caso não, não há esperança. 

No passado dia 23 de Junho, a emissora Swedish Radio relatou que o gigante do mobiliário IKEA em Israel, de forma discriminatória, faz entregas para habitações ilegais israelitas, mas não para as cidades palestinianas da Cisjordânia ocupada.

A correspondente da Swedish Radio em Israel, Cecilia Uddén, disse que estava a mudar-se para a cidade palestiniana de Ramallah, nos territórios ocupados, e pediu ao staff do IKEA para que o seu mobiliário pudesse ser transferido. Por trás do balcão da loja havia um enorme mapa de Israel que não incluía as fronteiras da Cisjordânia, da Faixa de Gaza e das Colinas do Golã na Síria: tudo fazia parte do Estado de Israel. 

A empregada que cuida dos transportes da Ikea olhou para o seu computador. Mas Ramallah não estava incluída.
– Não, nós não entregamos em Ramallah “, disse ela, olhando desconfiado para mim.
Por quê?
– Eu não sei , disse ela, mas Ramallah não está incluída aqui na lista.

Embora os custos de transporte sejam calculados de acordo com a distância, para surpresa de Uddén a transferência para Ramallah não foi possível. E isso apesar de Ramallah, Nablus e Belém estarem geograficamente localizadas na mesma zona de Tel Aviv e Jerusalém. Mas para a Ikea não existem.
No entanto, a loja informou que os móveis poderiam ser entregues em várias habitações israelitas em toda a zona ocupada.

Peço à jovem para procurar no computador Nokdim, Beit El, Kokhav Yaakov, todas povoações judaicas perto de Ramallah e Belém.
Sim, há transporte.

Nenhum dos envolvidos no transporte Ikea pode explicar o porque deste sistema.

Mandam-me para o serviço ao cliente que me envia de volta para a unidade de transporte e o resultado é uma discussão entre os dois, frustrados, acerca da responsabilidade de tudo isso.

Ove Bring, professor de direito internacional, disse à revista sueca on-line Stockholm News que a política da IKEA é discriminatória contra os palestinianos. Além disso, a política das transferências viola o Código de Conduta da empresa, que é publicado no seu site (IWAY Standard [PDF])

No relatório de Uddén, a IKEA declarou que, uma vez que depende das empresas de transporte locais, é vinculada às leis do lugar. No entanto, Bring desafiando a declaração da empresa, disse que a IKEA tem de examinar se as operadoras estão realmente incapacitadas  de entregar a todos os clientes que necessitam dos produtos. Na verdade, quando Uddén insistiu para obter uma resposta da empresa de transportes sobre o porquê dos seus móveis não poderem ser transferidos para Ramallah, foi informada de que o exército israelita proíbe as entregas a clientes nas comunidades palestinianas dos territórios ocupados.

Na própria histórica opinião consultiva de 2004, o Tribunal Internacional de Justiça salientou a ilegalidade das actividades que normalizam as habitações ilegais de Israel nos Territórios Ocupados. Na verdade, o rabino Abraham Cooper do Centro Wiesenthal, que está a construir um Museu da Tolerância num histórico cemitério muçulmano em Jerusalém, disse ao semanário judaico com sede na Califórnia J. que a abertura de uma loja IKEA em Israel “teria sido uma outra fenda para os ataques que estão lá fora para boicotar Israel”.

Ironicamente, antes da abertura de uma loja IKEA em Israel em 2001, o revendedor foi ameaçado de boicote pelo Centro Wiesenthal, pois o fundador da empresa, Ingvar Kamprad, tinha sido um membro do fascista Novo Movimento Sueco na década de 40. O Centro Wiesenthal também alegou que a IKEA apoiasse o boicote de Israel por parte da Liga Árabe, porque parecia evitar um envolvimento comercial com Israel, apesar das potenciais oportunidades. Numa carta datada de Dezembro de 1994 para o Centro Wiesenthal, o presidente da IKEA, Anders Moberg, disse que a empresa não estava envolvida com o boicote da Liga Árabe e que a IKEA estava a considerar a abertura de uma loja em Israel.

Hoje, o império IKEA tem 300 lojas em 35 Países, incluindo duas lojas em Israel: a empresa planeia abrir um terceiro ponto venda em Haifa, em 2012. A marca IKEA tem sobrevivido às revelações sobre as ligações do seu fundador com o fascismo durante a própria juventude e a empresa manifestou sensibilidade perante um eventual boicote dos consumidores.

E ainda outra ironia, o movimento israelita Boycott, Divestement and Sanctions [Boicote, Desinvestimento e Sanções, NDT] já está mobilizado na Suécia. No final de Junho, a Swedish Dockweorkers-Union [sindicato dos trabalhadores portuais suecos, NDT] deu início a um bloqueio duma semana de toda a mercadoria de e para Israel. A acção da Union é uma resposta ao apelo dos sindicalistas palestinianos no contexto do cerco israelita de três anos na Faixa de Gaza e do seu ataque contra o navio de socorro Mavi Marmara, no passado dia 31 de Maio.
Neste panorama, resta saber se o IKEA mudará as políticas racistas da própria primeira loja em Israel antes que estas práticas possam inspirar uma nova ameaça de boicote dos consumidores.

Fonte: Electronicintifada.net , Sweden Radio

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