G8 & G20: os problemas ficam.

Como vimos o G8 acabou enquanto o G20 acabará amanhã.

Enquanto da primeira reunião ninguém sentia falta, sobretudo se considerarmos os resultados, a segunda é mais indicativa e, sobretudo, não é composta unicamente por velhas glórias do passado; pelo contrário, boa parte dos participantes representam o futuro, senão próximo pelo menos a médio e longo prazo.

Já agora quem faz caminhar a economia mundial não são os Países ocidentais mas os pesos pesados da Ásia e o Brasil. As previsões apontam para um crescimento global de 4%; mas só a China apresenta um 10% que diz muito sobre a influência nesta média mundial dos Países “emergentes” face aos cadáveres do Ocidente.

Estes têm outros problemas, entre os quais não podemos esquecer os 30 milhões de desempregados que, segundo o Fundo Monetário Internacional, estão em risco.

30 milhões talvez sejam uma previsão muito pessimista. Mas se continuamos a somar desemprego com desemprego é difícil imaginar quem pode fazer partir a sempre esperada retoma do Ocidente: drogar o mercado, como acontecido nas últimas semanas é um recurso com evidentes limites fisiológicos e temporais.

Vamos ler quais os pontos de maior divergência entre as três áreas macroeconómicas do globo na análise do economista Oscar Giannino que, em colaboração com o Instituto Bruno Leoni, segue de perto os desenvolvimentos económicos mundiais.

EUA e Europa não têm interesse igual na apreciação do Yuan chinês. Para os EUA, que ainda têm um deficit comercial pesado na ordem de 250 bilhões de Dólares por mês, é vital a depreciação do Dólar para ganhar a competitividade dos produtos americanos e reduzir o valor real da enorme massa de dívida das famílias e dos bancos americanos. A Europa em 2009 quase eliminou o deficit comercial com a China. Para nós Europeus, que o Dólar caia livremente significa que simetricamente o preço do barril de petróleo soube.

E mais, acrescentamos: um Euro mais forte do Dólar significa também mercadorias do Velho Continente menos competitivas nos mercados internacionais e queda nas exportações.

Obama chegou ao G20 com o acordo conseguido a Administração, a Câmara e o Senado dos Estados Unidos sobre a reforma do sistema bancário e financeiro.

No entanto este acordo foi pensado, gerido e conseguido sem uma concertação com os outros Países ocidentais. E o objectivo é claro: proteger os interesses dos bancos americanos. Os quais, por exemplo, podem continuar com 3% de fundos especulativos. Uma cooperação para individuar instrumentos de combate à especulação? Já foi.

Ainda mais complexa a situação relativa a uma taxação dos bancos, pois acerca deste assunto nem no interior da União Europeia existe concordância.

Alemanha e França querem um imposto sobre os bancos principalmente para ganhar popularidade perante o respectivo eleitorado, tendo em conta o muito dinheiro público gasto em salvamentos bancários sem que haja uma perspectiva de ganho por parte do Estado. A Itália é pelo contrário ao lado do bloco dos Países emergentes: quem não teve que salvar bancos com dinheiro público é muito mais interessado em reforçar o capital das instituições de crédito, e não tributa-las com o risco de colocar custos adicionais nas contas das famílias e das empresas.

Pois aqui o problema o seguinte: os bancos acabariam por pagar a nova taxa ou descarregariam o custo nas contas dos privados?
Já falámos disso.

Última questão: o rigor.
Obama está irritado com as escolhas europeias. O que é esta coisa do rigor nas contas? Austerity? Mais taxas? Tudo isso é muito pouco EUA. E, sobretudo, não está nos planos da Administração.
Já ligou várias vezes para a chanceler alemã Merkel, mas esta não muda de ideia (o que é normal, não acaso é teutónica): o rigor é para ir em frente.

Para alguns, os EUA empurram o deficit porque têm estudado melhor Keynes dos Europeus. É uma mentira. Podem fazê-lo só porque o Dólar continua a ser o calcanhar monetário do mundo. No nosso caso, o rigor é exigido duas vezes. Porque a saída dos capitais e a desconfiança dos mercados afligem mais a Europa do que a América. E porque temos um Estado que, mesmo antes da crise, pesava sobre a economia muito mais do que nos Estados Unidos.

Sim, o rigor é preciso. Mas…tá bom, este seria um discurso diferente e muito complexo.
Por enquanto paramos aqui.

Ipse dixit.

Fonte: Chicago Blog

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