Obama e as sombras

Qual o lado de Obama?
O lado do bem ou do mal?
O Prémio Nobel da Paz, até agora, tem mantido uma atitude que deixa a porta aberta para várias interpretações.

Obama está na política desde 1992, quase vinte anos, não são poucos.
É possível que nos EUA alguém possa tornar-se Presidente só com os votos dos cidadãos, sem o apoio de ninguém?

Uma dúvida que fica no ar, com outras também.

 Obama e as sombras de Wall Street

Obama é o presidente dum País que está apresentando a conta.
Mas quem deve pagar por isso fica eclipsado, torna-se invisível, tentando perder a substância corpórea e transformar-se em sombra: constantemente presente, vigiante sobre o que acontece, dinâmico e empreendedor na própria actividade de lobby.

É o poder exercido pelas grandes potências económicas, actores ou realizadores da saga em Wall Street.
É sempre assim.

Os poderes fortes não se reúnem na praças ou nas ruas das pequenas ou grandes cidades, não vivem entre as pessoas comuns, não entram na fábrica ou  no escritório. A presença deles é sentida nas suites silenciosas dos hotéis de prestígio, nas salas privadas dos restaurantes com muitas estrelas, nos escritórios de advocacia exclusiva, nos andares mais altos dos grandes bancos, nos escritórios editoriais dos jornais e dos noticiários da televisão.

Obama conhece tudo isso.
Conhece o poder das elites dispostas a pagar, negociar, ameaçar e chantajar se necessário para preservar o próprio poder.
Conhece o poder das sombras.
São os mesmos enfrentou durante os meses turbulentos da elaboração e da aprovação da reforma da saúde: um sistema sanitário/financeiro que controla hospitais, clínicas, laboratórios de pesquisa, e as eternas seguradoras.
A reforma foi implementada. Os media aplaudem o sucesso de Obama e a protecção que se estende a mais de 32 milhões de americanos pobres.
É uma reforma que modifica a estrutura da saúde americana: o Estado tem ampliado a cobertura para aqueles que antes não tinham como paga-la. Mas os actores são sempre os mesmos: os hospitais e os centros de saúde privados, cujos serviços são pagos pelo seguro.
Um bem público, a saúde, é mantido por um sistema privado que quer lucros.

Na nossa velha Europa, quando um cidadão precisa de ajuda entra num o hospital, que fornece o serviço solicitado.
O círculo se fecha: um bem público é mantido por um sistema público.

As sombras sobrepõem-se ainda mais na reforma bancária de Obama, cuja a discussão terminou no Senado.
Até o fim a lobby financeira tentou de tudo para diluir, suavizar, alisar as ondulações que podem impedir a livre navegação no mar da especulação mundial de bancos, hedge funds, sociedades de investimento.

O grande risco é que, também aqui, tudo mude para não mudar nada.
O poder de imprimir dinheiro (senhoriagem) fica na Federal Reserve que é a expressão dos bancos privados.
Será a reforma suficiente para assegurar a estabilidade financeira aos mercados, para proteger as partes mais fracas, para limitar o poder excessivo dos bancos e dos banqueiros?
As dúvidas são legítimas.

Finalmente, o petróleo.
O incidente no Golfo do México apontou os holofotes nesta pequena elite económica que controla os activos mais valiosos do planeta: exploração, extracção, refinação e distribuição de hidrocarbonetos. Na verdade, neste domínio o princípio da concorrência não existe, talvez nunca tenha existido. Aqui, o poder financeiro, a actividade das lobbies, as relações exclusivas com os líderes de todos os Países, a corrupção e as diferentes técnicas utilizadas em alturas e localizações diversas fizeram da indústria do petróleo uma entidade intocável, de facto acima dos partidos. Hoje, a British Petroleum, um dos gigantes do sector, que até há alguns dias gozava duma capitalização astronómica no mercado das acções, está “presa” num acidente de dimensões apocalípticas. A British Petroleum vai pagar indemnizações enormes, isso é certo. Uma lei mais rigorosa no domínio da prospecção e da extracção de petróleo será processada e quase certamente aprovada pelos EUA. Mas é esta a resposta adequada para uma indústria que controla de facto a economia mundial? Um sector que durante décadas impediu um sistema de produção capaz de operar com energia limpa e cujo controle seja menos concentrado do que acontece hoje?

É tempo das grandes mudanças. O cidadão médio está começando a ter a ideia de que a mudança não pode ser adiada. O “pensamento único” está em crise. No entanto, as “sombras” existem e operam em todos os lugares onde, institucionalmente (nos Estados Unidos como em outros países), é possível elaborar novas regras.
Obama, o filho desta elite económica e financeira, realmente quer? E realmente pode?

Fonte: Clarissa

Obrigado por participar na discussão!

This site uses User Verification plugin to reduce spam. See how your comment data is processed.

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.