O balanço do ataque israelita de ontem ainda não está concluído, mesmo assim podemos avançar com algumas considerações.
O que leva um País a avançar com um acto de pirataria perante navios de pacifistas?
Porque desde já um ponto tem que ficar esclarecido: a acção de ontem não foi um dos muitos “actos de defesa” com o qual Jerusalém costuma justificar os próprios ataques.
Atacar navios civis em águas internacionais, assassinar parte da tripulação, subtrair as cargas, sequestrar os navios com o resto dos transportados: tudo isso é uma flagrante violação do Direito Internacional e se recusamos a definição de “pirataria” temos só outra hipótese, que é uma “declaração de guerra” perpetrada contra uma pequena frota com bandeiras turcas.
Qual a razão para este autentica suicídio politico de Israel?
Ao olhar para os últimos desenvolvimentos no Vizinho Oriente podemos talvez vislumbrar uma motivação.
Lembramos:
- os serviços segredos de Jerusalém foram alvos de dura criticas internacionais após o homicídio dum representante de Hamas em Dubai: os agentes israelitas tinham utilizado passaportes clonados de cidadãos ocidentais.
- os recentes acordos entre Irão, Turquia e Brasil inerentes ao enriquecimento do urânio
- a descoberta de documentos que comprovam a venda de armas nucleares israelitas ao Sul África (enquanto Jerusalém nunca admitiu estar na posse de tais armas)
- o apoio dos Estados Unidos ao Tratado de Não Proliferação Nuclear da ONU.
Todos estes acontecimentos trouxeram criticas por parte dos inimigos históricos, como é óbvio, mas também por parte de Países que ainda são considerados amigos de Israel.
E neste sentido vale a pena realçar o facto que a Turquia sempre tinha sido o melhor amigo de Jerusalém no Vizinho Oriente, ao ponto que ainda hoje Ankara é uma peça fundamental no puzzle económico israelitas.
Sem esquecer os Estados Unidos: não podemos esperar uma falta de apoio de Washington, mas que as coisas estejam diferentes com a nova Administração parece evidente.
Nesta altura Israel tinha duas opções: rever a própria disciplina geopolítica, e cultivar assim as alianças, atraindo as simpatias dos Países ocidentais e estabelecendo as bases para um sério discurso de paz; ou imprimir uma aceleração à crise, uma verdadeira fuga para a frente.
Israel escolheu a segunda hipótese.
E assim podemos explicar a decisão de deslocar para o Golfo Pérsico os próprios submarinos nucleares, na prática em frente das costas do Irão.
Implicitamente Jerusalém ameaça expandir o conflito além da zona Medioriental, pois sabe que um eventual confronto com Teheran desencadearia uma guerra de proporções bem maiores.
Israel apercebeu-se que o próprio isolamento é destinado a aumentar cada vez mais; sabe que a teoria do “fomos atacados” já não pode ganhar adeptos.
É o reconhecimento dum estado de grande nervosismo em Jerusalém.
É a admissão duma nova condição para o “Povo Escolhido”: a fraqueza.
Ipse dixit.