Uma saudável troca de tiros

Nunca acabamos de aprender.

Ontem, por exemplo, compro um jornal para ver o que se passa no mundo e acabo por aprender que a paz é a maior inimiga do meu País. Uma coisa que nunca tinha pensado antes, de facto. Mas vamos com ordem.

O jornal é o Diário de Notícias que no número de ontem dedica 3/4 de página ao meu novo guru, o Tenente-Coronel Pára-Quedista na Reserva Miguel Silva Machado.

O qual começa bem:

Alguns defendem a não participação nacional na missão da NATO no Afeganistão. É uma posição legítima…

Ainda bem. Mas esta escolha terá custos, pergunto-me?

…mas também tem custos para o País.

Ora bem, lá está. Já tinha suspeitado isso.

O que diriam os contribuintes se depois da catástrofe da Madeira os pilotos dos C-130 não tivessem voado para o Funchal?

Em boa verdade o meu cerebrinho não alcança a ligação entre atirar chumbo aos talibãs e ser empenhado numa operação humanitária, mas este deve ser um meu limite, admito.

Mas sabem quantas horas de voo têm de ser cumpridas para manter as tripulações qualificadas? Não há boas vontades que se sobreponham ao treino e ao subsequente emprego real. E quando é a sério que se aprende!

Aqui finalmente percebi: é a sério que se aprende! Exercitações, aulas, treinos, manuais…tudo inútil se não há possibilidade de ir para a frente. É ali, no meio das balas que voam que o militar pode aprender com regozijo; só no meio das bombas inimigas há a verdadeira escola para o exército.

Imaginem a ineficiência dum exército que nunca participa em missões de guerra: pensem na China, cujos militares nunca podem dar uma saudável troca de tiros com os vizinhos. Devem estar de rastos e suspeito que nesta altura os quartéis sejam utilizados como ponto de encontro para reformados. Mas atenção:

[…] interrupções neste ciclo podem criar uma perigosa ilusão, a de que estamos preparados. Há quem chame a isto a “síndroma da missão única”: um militar participa numa missão e julga que as outras serão todas iguais.

Isso é: uma só missão de guerra não dá, pois muitas guerras (possivelmente não ao mesmo tempo, presumo eu) são melhores do que uma. E não em países iguais, pois sub entraria a rotina e o soldado ficaria aborrecido. O que, seja dito, faz sentido. E se lembrarmos que tudo isso é para o bem do nosso País, faz ainda mais sentido. Pois

A não participação em missões só conduz à ineficiência, logo à irrelevância externa e à desnecessidade interna.

E, não sei porquê torna-me em mente a China. Como é que este país, que nunca toma parte numa operação de guerra, consegue ao mesmo tempo ter uma certa relevância no plano internacional? Será por causa das lojas chinesas? Deve ser por isso, só pode ser…

Ipse dixit

One Reply to “Uma saudável troca de tiros”

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