Eis a terceira e última parte do GEAB nº 42.
A primeira parte pode ser encontrada aqui e a segunda aqui.
Interessantes a introdução dos projectos South Stream e Nabucco, essenciais para compreender as manobras no tabuleiro euroasiático.
Lembramos que publicamos o GEAB sem obrigatoriamente compartilhar o conteúdo inteiro. Cabe aos leitores avaliar e decidir…
Rússia: Melhor preparada que outros jogadores para enfrentar os próximos anos
Isso pode parecer paradoxal, em particular para quem leu os média de forma superficial: mas o País acabou de sair duma transição significativa ao abrir-se ao mundo após 1945…a partir de 1989.
Com Vladimir Putin que detém o poder na maior parte da década sucessiva (enquanto primeiro ministro e presidente), a Rússia segura um comprido período de estável governação central, o que não é o caso de muitos outros jogadores globais
Os lucros de óleo e gás (que não tiveram uma queda significativa quando comparados com o preço médio de 2009) permitem a planificação do próprio desenvolvimento estratégico interior e exterior.
Três exemplos podem ilustrar o facto da Rússia estar hoje na direcção de retomar o controle sobre o seu ambiente:
. em Dezembro de 2009 a inauguração do Sapsan, o primeiro comboio de alta velocidade entre Moscovo e São Petersburgo, anuncia a que será uma década de modernização difundida às infraestruturas dos transportes, incluídos as pipeline para o gás e o petróleo.
. Os projectos das pipeline com o objectivo de rodear a Rússia, tal como o projecto Nabucco, estão para fracassar porque sem uma politica activa e o suporte financeiro dos EE.UU. transformam-se em simples projectos económicos que têm como consequências a integração da Rússia.
. A inauguração em Kozmino, em Dezembro de 2009, do primeiro terminal petrolífero russo à beira do Oceano Pacífico (actualmente existem só dois terminais, no Mar Báltico e no Mar Negro) permite ao País participar no desenvolvimento asiático dos próximos anos.
De facto, trata-se da grande aposta do Kremlin nesta década chave: ser capaz de angariar lucros a partir do dinamismo asiático sem ser “refém” dos asiáticos, em particular dos Chineses cuja presença cresce na Sibéria, e manter um relacionamento forte e estratégico com a UE; sempre mantendo afastadas as ambições europeias acerca da Rússia.
Os Franceses e os Alemães terão um papel chave no relacionamento entre UE e Rússia dos próximos cinco anos: qualquer equilíbrio europeu será impossível sem uma forte colaboração entre estas três partes, em particular agora que o “primo americano” está com grandes problemas.
Franceses e Alemães constituem muito daquilo que os Russos consideram ser o Ocidente e têm um grande potencial relacional do ponto de vista de Moscovo: consideração que resulta ser verdadeira só se o interesse Europeu é genuíno e próprio da UE, não uma fachada para Washington ou outros.
A recusa da França, Alemanha e Rússia em ficar envolvidas na guerra e nas mentiras acerca do Iraque em 2002/2003 é um bom exemplo do relacionamento estrutural que os Europeus e a Rússia podem encontrar perante objectivos comuns.
A Rússia pôs em cima da mesa um destes objectivos a partir do summit G20 de Londres: a substituição do dólar como moeda de reserva internacional
Seguir este passo pode representar um claro interesse para a zona Euro, pode significar pôr o fim ao actual estado de caos monetário internacional.
Se França e Alemanha tivessem leader com uma visão estratégica verdadeira e com um sentido histórico tal como tinham De Gaulle e Adenauer ou Mitterand e Khol, então a dupla Franco-Alemã teria já empurrado a UE para colher esta oportunidade e para discuti-la com Moscovo; e esta dupla (uma espécie de representação da UE) seria o convidado de honra no próximo summit do BRIC.
Provavelmente será preciso esperar até 2012, até as eleições presidenciais da França, para saber se existe a possibilidade de desfrutar a tal oportunidade.
Em caso de insucesso, França e Alemanha, e os Europeus em geral, serão os responsáveis pela descida ao Inferno do sistema monetário internacional na segunda metade deste decénio, abrindo a estrada à Rússia para reposicionar-se na esfera de influência asiática.
Lembramos que foi Moscovo que evitou por duas vezes a dominação imperial na Europa, com o fundamental suporte nas derrotas de Napoleão e Hitler, e que Estaline tentou em 1930 convencer França e Reino Unido para alcançar uma aliança com a Rússia contra a Alemanha nazi.
O medo de ser acusados de filo-comunismo negou uma aliança que poderia ter evitado uma guerra suicida e decénios de divisão
O decénio 2010 será outro teste para a elite da Europa, se serão capazes de ultrapassar o medo de ser acusados de anti-americanismo e evitar assim uma catástrofe monetária global.
Uma coisa resulta ser clara: nos anos ’30 os aconselhamentos dos círculos financeiros e bancários (tudo mas não uma aliança com Moscovo) não teriam sido ouvidos se a preocupação tivesse sido os interesses de médio e longo prazo.
Em cima: Progressão da produção, exportação e consumo domestico de gás russo até o 2020 (bilhões de metros cúbicos). Linha azul: exportação e consumo domestico; Linha vermelha: produção.
Em baixo: Progressão da exportação de gás russo em 2020. Verde escuro: Europa; Vermelho: Ásia-Pacífico; Verde claro: Países da CSI.
Fonte: Energy Tribune, 02/2007
Infelizmente, os leader da Rússia não têm muito jeito em prevêr as reacções emotivas europeias perante algumas acções ou declarações particularmente brutais: provocar o medo não ajuda em nada quando estamos à procura dum partner fiável.
Neste aspecto França, Alemanha e Europa em geral têm um papel educativo essencial.
Em qualquer caso, a Rússia é um candidato ideal num decénio bastante estático no que diz respeito às outras potências.
O facto de já ter atravessado o período de transição caótico, nos anos ’90, contribui para esta situação.
A Rússia ficou envolvida no “mundo post-crise” ao longo de vinte anos, desde a queda do muro de Berlim, e nos próximos anos será capaz de mexer-se no tabuleiro enquanto o poder dos EE.UU. fica cada vez mais reduzido e a UE procura o seu objectivo.
Todavia, sem os europeus ou os asiáticos (com as suas atitudes técnicas e os investimentos) Moscovo não será capaz de fornecer a quantidade de petróleo e gás de que a Rússia precisa para fazer frente à procura interna e à exportação, e isso poderia implicar um problema sério tanto para a Europa como para a Rússia.
Recomendações estratégicas e operativas
Ainda uma vez lembramos que todos os nossos aconselhamentos não têm o fim de especular no curto prazo mas de conseguir perder o menor possível (ou até nada) porque no meio de uma crise sistémica global este é o único objectivo realista.
Divisas
As análises feitas neste número do GEAB explicam porque não existe mudança nas nossas previsões neste sentido: mexidas a curto prazo não influenciam a forte tendência para a queda do Dólar norte-americano e da Esterlina Inglesa.
Esta última permanece débil perante os ataques ao Euro, ataques que achamos ser de curto prazo e sem razões estruturais.
Imobiliário Comercial [CRE]
Se o vosso desejo, ou necessidade, é um local numa das principais zonas comerciais, em particular na Europa ou nos EE.UU., melhor esperar até o fim do primeiro semestre e pretender uma redução entre o 30% e o 50% do preço de aquisição ou da renda.
Os saldos de fim de época estão para chegar.
Acções
Os mercados das acções já tiveram dias melhores. Quase todos os factores que levaram a um crescimento entre Março e Setembro de 2009 (a partir daí é só estagnação) estão para desaparecer:
. a enorme liquidez oferecida pelos bancos, a mesma liquidez que sustentou o crescimento de 2009 e que estará na base das estratégias para a saída das medidas de emergência.
. desilusão acerca da “retoma” e do crescimento do Ocidente, em particular dos EE.UU., sem falar dos bilhões injectados na economia: não existe retoma pois tudo foi sustentado com fundos públicos.
. subida do custo do dinheiro
. a China não estará numa posição melhor: os seus mercados já se encontram enfraquecidos e o “mito” do crescimento chinês auto-sustentável não irá além do Verão de 2010.
Metais preciosos
Perante a fragilidade do sistema monetário internacional, repetimos que seria útil diversificar uma porção dos próprios asset com metais preciosos. Os metais raros são um bom investimento para os próximos 4/5 anos, antes do desenvolvimento de produtos de substituição nos EE.UU., Europa e Ásia (não China).
Nota do Tradutor:
Atenção! Lembramos que Informação Incorrecta não está ligada de forma nenhuma ao grupo Europe2020 e que estas não são as nossas sugestões para os vossos investimentos.
Informação Incorrecta não fornece aconselhamentos de carácter económico.
Convidamos os leitores para decidir de forma autónoma o destino dos próprio investimentos, assumindo cada um a própria responsabilidade.
Acaba aqui a terceira e última parte do GEAB nº42.
As partes já publicadas:
GEAB 42 – Parte I: Intensificação da crise na segunda metade de 2010
GEAB 42 – Parte II: Três tendências fundamentais que irão piorar a crise na segunda metade de 2010
Texto de Informazione Scorretta, Felice Capretta,
e Massimo De Maria
Tradução Massimo De Maria