Ao ataque dos desenhos animados “fascistas”: a demência galopante

A Dama e o Vagabundo, uma das maiores obras-primas do cinema de animação do século passado, é racista. Sim, leram bem. Especificamente, a música dos gatos siameses do original de 1955 é uma música ofensiva. Como noticia o diário inglês The Independent, a música é na verdade uma “canção racista” e será reescrita, pois é culpada de espalhar estereótipos abusivos contra os asiáticos.

A Walt Disney planeia mesmo substituir os dois personagens, mas não é possível de momento saber com quais outros animais. No original, a canção e as vozes dos dois gatos são de Peggy Lee, cantora de música jazz e popular interprete na orquestra de Benny Goodman.

Outras vítimas da censura politicamente correcta também será Os Contos do Tio Tom, de 1946, também culpado de uma visão retrógrada acerca da comunidade afro-americana. E quem sabe que outras maravilhas estão reservadas para o futuro.

Para já, a CNN lança acusações contra os desenhos animados Paw Patrol (Patrulha Canina no Brasil e Patrulha Pata em Portugal) e o comboio Thomas & Friends (no Brasil: Thomas e Seus Amigos, em Portugal: Thomas e os Seus Amigos). Num delirante artigo intitulado “Porque as crianças adoram caricaturas fascistas como Paw Patrol e o comboio de Thomas” e assinados por Elissa Strauss, é afirmado que as crianças são “atraídas por mundos onde as identidades são fixas, a imaginação e as transgressões são rotineiramente punidas”.

Há portanto um choque entre o que os pais (supostamente) querem para os seus filhos “e o que as crianças querem para si, o que é facilmente visto nas preferências dos desenhos animados”. Uma frase interessante porque significa: as crianças devem gostar só daquilo que os país querem que elas gostem.

Continuando: o comboio de Thomas seria “uma história pós-moderna corporativa e totalitária”, bem como “classista, sexista e anti-ambientalista”. Em suma, “fascista”. Teremos Thomas transformado num comboio gay, electríco e multirracial? Possível.

O mesmo acontece com Paw Patrol, que conta as aventuras dum rapaz com um grupo de cães: segundo Buzzfeed, o programa é “terrível”, realçando “desigualdades de género e sociais” que não são controladas no programa. No diário The Guardian, o protagonista Ryder é descrito como um megalomaníaco com um implícito “complexo imparável de Deus”. Praticamente um Presidente dos Estados Unidos versão para crianças. Mas enquanto a figura do Presidente é politically correct, o desenho animado não é.

Portanto, hoje o vosso blogueiro deixou de lado guerras e outros pormenores para concentrar-se nos episódios de Paw Patrol e Thomas o comboio, cujos episódios não faltam no Youtube. Uma hora de desenhos animados, como não acontecia há muito. E a verdade é que não vi nada de mal: são desenhos animados como muitos outros, simples contos de fantasia, absurdos aos olhos dum adulto mas divertidos para uma criança. Não consegui encontrar nenhuma mensagem oculta, nenhum fascismo ou outro totalitarismo: são histórias básicas, muito coloridas, nada mais. Aliás, achei os programas bem mais interessantes do que um qualquer debate político na televisão: nomeadamente, vi e ouvi um menor número de disparates. Não vejo muita diferença entre acreditar num cão que voa e definir “democracia” a nossa sociedade.

Sim, verdade: nos episódios aos quais assisti não há crianças homossexuais, o herói não é um imigrante nigeriano e ninguém canta a glória da globalização. Mas não podemos esquecer que o público-alvo destes contos são as crianças que, felizmente, não entendem tais assuntos e não querem saber dos nossos delírios moralistas e politicamente corretos. Pelo que: deixem crescer os mais pequenos num mundo de fantasia, onde os comboios falam e os cães voam, porque é um mundo bem mais saudável do que o nosso.

 

Ipse dixit.

Fontes: CNN, The Guardian, Buzzfeed, The Independent,

7 Replies to “Ao ataque dos desenhos animados “fascistas”: a demência galopante”

  1. Ahhhh…não!! Logo a Dama e o Vagabundo, meus ídolos !! O romance mais bonito que meus olhos de criança já viram.! Onde está o fascismo, seus idiotas? Quando comecei a ler pensei ser coisa da Damares, aquela que viu jesus na goiabeira, mas não era. Na enésima vez que fui ao cinema para assistir a Dama e o Vagabundo, eu, que mesmo criança já tinha um parafuso frouxo na cabeça, admirava a coragem da Dama , ao viver um romance com um cãozimho de rua, um vira latas. Eu achava aquilo bonito, certo, diferente. Fazia coleção das figurinhas que reescreviam o romance, com a vida dos cães amigos do casal que juntos tinham destruído os preconceitos dos donos, até o nascimento do Banzé, o primogênito, tão sem raça definida como o pai.
    E agora esses cretinos querem se meter num dos poucos sonhos de criança que eu tive…boçais! Melhor seria, quem sabe, que eu sonhasse em arrasar vilas e cidades com monstros de ferro, ao invés de construir aldeias e cidades com tijolos de mentira, como eu fazia, demolir com bombas caminhões, enquanto eu enchia caminhões de areia para conduzi -los até as construções de cidades imaginárias com tijolinhos de brinquedo, feitos de madeira e pintados como paredes, telhados, pontes e praças.
    Não demorou muito para os meus pacíficos sonhos se esfacelarem, e a realidade me falar de legalidade, ilegalidade, democracia, ditadura, vivências, todas elas, nada pacíficas.

  2. Na minha infância li todos os livros infantis de Monteiro Lobato. Sua obra mais famosa, “O Sitio do Pica Pau Amarelo” , virou uma série da TV. Há alguns anos atrás , conseguiram ver doses de racismo na sua obra, principalmente contra a personagem negra, Tia Nastácia. Segue alguns trechos pincelados dos livros dele:

    “Tia Nastácia, esquecida dos seus numerosos reumatismos, trepou que nem uma macaca de carvão”;
    – “Não é à toa que os macacos se parecem tanto com os homens. Só dizem bobagens”;
    – “Não vai escapar ninguém – nem Tia Nastácia, que tem carne preta”.

    Sempre associei esta personagem a uma pessoa de origem simples, cozinheira de mão cheia, conhecedora da sabedoria popular, meiga e dócil. Tenha certeza que foi essa a mensagem que o autor quis passar aos seus leitores.

    No ensino fundamental, o meu melhor amigo era negro . Todos o chamavam de “negão” , sem ofensas e sem ofendido.

    Ou estamos tentando complicar demais as coisas ou é só mais um sinal dos tempos de uma sociedade hipócrita.

    1. Tenho um filho de 3 anos que gosta de Paw Patrol. Estou criando um monstro! Um M-O-N-S-T-R-O!!! É por essas e outras que a Inglaterra não tem mais solução… The Guardian… Labour party… As esperanças contra o status quo… Apresentam um status ainda pior… Quanta gente de bosta…

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