A caminho de Helsínquia

Faltam duas semanas para a cúpula planeada com o Presidente russo Putin em Helsínquia, e o líder norte-americano Donald Trump volta a falar da Crimeia a bordo do Air Force One: “Vamos falar sobre a Ucrânia, vamos falar sobre a Síria, vamos falar sobre as eleições”. No centro da agenda, questões fundamentais para o futuro das relações internacionais como o controle das armas e a possível reunificação da Rússia no G8 (apesar de Moscovo não sentir muito a falta da organização).

Mas um dos temas mais discutidos será claramente o possível reconhecimento norte-americano da reunificação da Crimeia com a Rússia. Quando perguntado acerca disso, Trump responde: “Vamos ver”.

Esta resposta é completamente contrária à posição do Congresso dos EUA e à maioria dos políticos americanos. O ex-embaixador dos EUA na Rússia, Michael McFaul, foi um dos primeiros a reagir às palavras do líder americano com uma série de tweets:

Sério? Trump disse “vamos ver” acerca da ilegítima anexão da Crimeia à Rússia?

Não é a primeira vez que Trump surpreende acerca da Crimeia. Durante a cúpula do G7 no Canadá, além de insultar o Primeiro Ministro local, Trump encontrou o tempo para afirmar:

A Crimeia é russa porque todos os que moram lá falam russo.

Que é um pouco como dizer que boa parte da América do Sul deveria ser anexado à Espanha. Mas para entender o que anda no cerebrinho do Presidente americano não podemos esquecer o que ele é na verdade: um mercante, não um político. E um mercante não vai excluir nenhuma possibilidade tendo em vista uma reunião de negócios, porque podem surgir propostas irrecusáveis.

Não por acaso, ao mesmo tempo o assessor de Trump, John Bolton, muda o seu tom: já não “Assad deve ir-se” mas “o Irão deve deixar a Síria”. Mudança muito significativa.

E mais: falando à CBS News sobre as perspectivas da próxima cúpula de Putin-Trump em Helsínquia, Bolton sugeriu que a Síria é uma área na qual Rússia e Estados Unidos “poderiam progredir juntos”:

Vamos ver o que acontece quando os dois se encontram. Há espaço para uma negociação mais ampla para ajudar a trazer as forças iranianas para fora da Síria e devolvê-las ao Irão, o que seria um passo significativo em frente para ter um acordo com a Rússia, se for possível.

Uma guerra de sete anos cansa (e custa), sobretudo se não são obtidos resultados. E na Síria os resultados faltam do ponto de vista americano. Por isso é altura de mudar o alvo. Perguntado se concorda com a avaliação de que o Presidente da Síria, Bashar Assad, efetivamente tem vencido a guerra:

Bem, eu não acho que Assad seja o verdadeiro problema estratégico. Eu acho que o Irão é a questão estratégica.

Uma forma elegante para não admitir uma óbvia derrota e chutar bola para frente. E pensar que Bolton era um grande defensor da intervenção militar americana na Síria; já na época de Bush e em tempos mais próximos também, após os ataques com mísseis contra a Síria em Abril, promovendo bombardeios que teriam sido “ruinosos” para as capacidades militares de Damasco. Evidentemente algo mudou na Administração.

Voltando à cimeira de Helsínquia, haverá tempo para falar dela. Mas desde já vamos ver o que estará em cima da mesa. Segundo vários analistas, o Presidente Putin pedirá ao Presidente Trump que admita o apoio de EUA e Reino Unido aos grupos terroristas na Síria e os interrompa. Apoio comprovado por uma enorme série de evidências e confissões que estão sob os olhos de todos, mas que a maioria dos media ocidentais finge não ver.

Esta seria a pré-condição para a Rússia discutir a possibilidade de uma possível retirada das forças iranianas do País; depois haveria um compromisso de israel para renunciar aos frequentes ataques contra as posições sírias. Este ponto é mais delicado, pois pressupõe que Trump (incluindo a CIA) tenha o controle da situação: um facto não óbvio, dada a contínua guerra interna em Washington entre as várias facções do “Estado Profundo”.

 

Ipse dixit.

Fontes: RT, Al Masdar News

One Reply to “A caminho de Helsínquia”

  1. Com todas as trapalhadas de Trump, com todas as decisões as quais se busca um motivo e não se encontra, eu percebo que uma guerra a mais do império parece longe de acontecer. Vejo paz com com a Coréia do Norte (mesmo que não saiba quanto vai durar), vejo algumas aproximações aqui e ali. Imagino que o império nas mãos da hilária já teria encontrado razões para várias tentativas de guerra, tipo invasão militar. Trump parece contentar-se com sanções. Às vezes me pergunto se o Coronel Gadafi teria sido assassinado se ao invés de obama-hilaria, estivesse o besta Trump no poder do império.

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