Haverá guerra?

Diz Maquiavel:

O que me deixa muito assombrado sobre a sensibilidade das pessoas nesta
questão foi demonstrada aqui mesmo no blog por Max e Maria. […] É que até certo tempo atrás os dois não
acreditavam de forma alguma na possibilidade de uma guerra atômica e
agora ambos já cogitam o evento. Sinceramente, isso me chocou. Não estou
exagerando não. Preferia pensar que estava eu a perder a sanidade ou
que era um pessimista incorrigível.

A dúvida é: estamos à beira duma guerra?

Não: nós estamos já em guerra. É uma guerra diferente do costume, com poucos golpes de canhão, mas é uma guerra actuada em várias frentes.
Estamos em guerra
Diz EXP001:

O que se está hoje a verificar é uma guerra mundial. … Os
acontecimentos no Médio Oriente são apenas uma “frente” nesta guerra à
escala mundial, e a guerra na Síria apenas uma “batalha” na “frente” do
Médio Oriente”

Temos um “Estado” chamado Isis que foi criado com a específica intenção de desestabilizar, semear terror e morte, derrubar um (só um?) País (a Síria), empenhar forças militares regulares de muitos Países, com dois Estados que perderam parte da sua soberania (Síria e Iraque) e um povo massacrados (Curdos).

Temos uma guerra económica, com uma matéria prima (petróleo) vendida abaixo do custo de produção para enfraquecer outros Países (Rússia, Venezuela); com sanções contra Moscovo; com ameaças (caso Volkswagen) contra quem poderia mudar a sua posição.
Temos uma guerra financeira, com Países que são mantidos num estado de sofrimento (Zona Euro, Argentina, agora Brasil…) enquanto as multinacionais já estão a pensar em novos e exóticos Eldorados.
Temos a migração forçada de centenas de milhares de pessoas, o terror utilizado como arma de controle de massa, governos e multinacionais que espiam outros governos e cidadãos. Temos uma propaganda que funciona a todo vapor.
Esta é uma guerra, suja como todas as guerras.
Não parece tal só porque nós podemos ficar aqui, sentadinhos nas nossas casas, na frente dum computador. Olhamos para fora da janela e vemos que o sol brilha (por acaso aqui há nevoeiro) e das ruas chegam os sons do costume. Mas isso somos nós: boa parte da população que ocupa este planeta não tem a mesma sorte. E ao falar de “guerra” costuma-se entender algo mais “visível”, feito de bombas, balas, tanques…
Uma guerra nuclear? Bem, pode haver uma guerra sem que seja atómica. Desde a Segunda Guerra Mundial houve muitos conflitos, nenhum dos quais viu o emprego de armas nucleares. Uma guerra com “a bomba” é um ponto de não regresso, todos sabemos isso: mesmo que a ideia seja reduzir a população (assunto que não me convence), ninguém deseja ver o planeta cheio de buracos com amplas áreas inutilizáveis.
O nuclear é um tipo de arma velha, tem mais de 70 anos: durante estas décadas foram desenvolvidas novas armas que não têm como fim aniquilar o inimigo mas incapacita-lo sem destruir as infraestruturas (que podem ser reutilizadas pelas forças de ocupação).
Os problemas dos EUA
Mas é verdade que os Estados Unidos, actualmente principal potência nuclear, têm problemas e sérios até: o poder deles está a ser posto em discussão como nunca antes.
No Afeganistão levaram na cabeça; no Iraque conseguiram uma vitória que deixou atrás apenas caos, tal como aconteceu na Líbia. O Egipto está perdido. A Síria não desapareceu, aliás, ganha terreno. A Rússia renasceu das cinzas. A China é uma nova potência. Arábia e israel começam a manobrar com cada vez mais autonomia. A América do Sul está perdida (excepção: a Colômbia). Com a Europa podem contar até um certo ponto. A Grande Finança parece ter decidido mover-se para outros portos.
É o desmoronar-se dum império ultrapassado pela realidade.
Podemos ver a actual situação como o desenho obscuro do Verdadeiro Poder, e se calhar é isso
mesmo. Mas há vários jogadores mesmo no interior do Poder (que não é algo homogéneo), muitos dos quais actuam em Washington. Podemos imaginar que os EUA aceitem o papel mais reduzido de potência regional sem antes tentar recuperar a supremacia global? É duvidoso.
Todavia os EUA têm suficientes razões para não desejar a guerra, pelo menos não agora.
Em primeiro lugar, estamos em ano de eleições presidenciais (faltam 11 meses) e uma guerra “total” não seria algo tão breve. Difícil que os States se empenhem num conflito com um Presidente à beira de sair da Casa Branca. Mais simples deixar tudo nas mãos dum Presidente republicano ou da senhora Clinton (que assusta ainda mais do que um republicano).
Depois há o papel da China, que é absolutamente fundamental. Porque EUA e Nato poderiam tratar da Rússia (não sem dificuldades), mas o que faria Pequim? Não conhecemos o teor das conversas secretas entre os vários governos, mas é difícil imaginar uma China ao lado da Nato contra a Rússia.
Transição…
Então, como interpretar as provocações contra a Rússia, diárias e até patéticas? Não sei.
Sem dúvida Washington deseja exasperar Moscovo e quer que seja esta a dar o primeiro passo; pode até ser um medir de forças ou um preparar o terreno para um próximo conflito; alimentar um constante clima de tensão, incerteza e medo entre os cidadãos.
Para responder seria preciso conhecer mais. Conhecer quais os verdadeiros planos das várias partes em causa (EUA, Rússia, China, grupos do Poder); saber o que realmente se passa nas cabeças dos psicopatas que actuam no palco internacional. Isso vai além das possibilidades de nós, comuns mortais.
Uma coisa parece-me certa: como defendo desde a criação do blog, vivemos numa fase de transição. A velha ordem está a mudar, é preciso algo novo. Infelizmente, este “novo” não será o actual desejo da maioria dos povos: será algo que ainda não desejam mas que passarão a desejar. Uma Nova Ordem Mundial (mas, por favor, esqueçam os vários Illuminati e companhia…), com alguns poderes regionais organizados numa espécie de governação central (atrás da qual será possível encontrar apelidos e empresas bem conhecidos).
O problema é que estas mudanças costumam ser acompanhadas por eventos de ruptura: uma revolução, uma guerra, algo “espectacular”. Isso tem a função de predispor os povos para uma mais rápida aceitação do “novo”, enquanto são também ocasião para redistribuir as forças (económicas, financeiras, sociais). Neste aspecto, uma guerra seria uma óptima ocasião para mostrar ao povinho que “temos de mudar”, que ” ninguém deseja ver o planeta cheio de buracos com amplas áreas inutilizáveis.” para o bem nosso e das futuras gerações. Uma ordem para os próximos mil anos (velho sonho de Hitler), feita duma paz silenciosa quanto cruel.
Repito: não sei, eu não sou bom nas previsões. Mas se tivesse que apostar diria que esta guerra, aquela na qual vivemos e à qual já estamos acostumados (ao ponto de nem saber reconhece-la) deverá durar ainda um pouco. A outra guerra, aquela com efeitos em 3D, poderá ser a próxima etapa, mas não já. Pelo menos espero: e que raio, acabei de lavar o carro…
…e um pouco de esperança
E para acabar… 
P.Lopes:

Terei todo gosto em demonstrar
esta minha vontade aos meus governantes e espero que outros se juntem a
mim neste BLOCO, nem contra a NATO Nem contra o “Bloco de Leste” mas
contra a guerra comercial .

Subscrevo em pleno. Temos que sair deste jogo perverso para o qual fomos atirados. A boa notícia é que no governo de Portugal há agora dois partidos anti-Nato. Nada poderão fazer para já, mas é um começo.
Maquiavel:

Não podemos combater pela NATO ou pela Rússia, não existe um
lado bom e um lado mau numa guerra, nem podemos escolher o “menos mau”. […] Como “membro” (forçado) da NATO EU RECUSO-MO TAMBÉM !!!

A guerra, todas as guerras, são estúpidas. Não há nada que não possa ser resolvido com o diálogo e as armas só criam ódio, que é a base das guerras sucessivas: cada esforço tem que ter como objectivo evitar os conflitos armados, custe o que custar. Quando um País aceita entrar no jogo da guerra, perde automaticamente qualquer razão e fica derrotado, mesmo ganhando o conflito.
Mas se fosse obrigado a abandonar a minha casa para participar numa loucura destas? Reservo-me o direito de escolher. Porque é um meu direito inalienável. Então desapareceria para tornar-me um combatente contra o Estado. Não o Estado Islâmico, entendo a nossa esta estrutura centralizada anti-democrática. Há várias formas de combater, não necessariamente com as armas. Se tivesse mesmo que morrer (ideia que não me atrai particularmente), pelo menos seria para o qual acredito.
Ainda P.Lopes:
Recuso-me a acreditar na possibilidade de uma WWIII
Como escrevi antes, “ninguém deseja ver o planeta cheio de buracos com amplas áreas inutilizáveis”, nem os psicopatas no poder (porque perderiam muito com isso). E as incógnitas em caso de guerra seriam muitas nesta altura, provavelmente demasiadas. Isso faz bem esperar.
Há depois uma possibilidade: que a tensão vivida nestes dias seja um instrumento para condicionar as futuras escolhas dos cidadãos, para mostrar que a nossa sociedade precisa da tal “mudança histórica”.
Pode não ser uma ideia tão “esquisita”. Até a Segunda Guerra Mundial, as guerras eram vistas também como algo “regenerador” e uma ocasião de negócio. Todavia, a Finança tomou conta da nossa sociedade nas últimas décadas e a Finança precisa de estabilidade.
Pode-se responder que os grandes investidores ganhariam na mesma com a venda de armas. Mas esta é uma visão incompleta: hoje as maiores multinacionais e os banqueiros têm diversificados grandemente os investimentos e duvido que a venda das armas poderia compensar as imensas perdas dos outros sectores.
Hoje não há uma Krupp que produz metais e armas: hoje há uma Krupp que produz metais, armas, máquinas para o café, elevadores, ferrovias, comboios, navios, telescópios, componentes para carros, sistemas eólicos, energéticos, serviços financeiros… a guerra seria ainda um tão bom negócio?
Ipse dixit.

13 Replies to “Haverá guerra?”

  1. Oi Max
    Podias desenvolver um pouco mais esta parte:
    " A outra guerra, aquela com efeitos em 3D, poderá ser a próxima etapa, mas não já."

    Ou seja o que isto quer dizer concretamente, ou podias desenvolver um pouco mais se faz favor, é que isso pode levar a diversas conclusões, por parte de quem lê.

    abraço
    Nuno

  2. Olha, não sei se daqui para frente será diferente, mas que eu saiba a guerra sempre foi um bom negócio, independente de quem ganhe ou perca oficialmente, mas sempre tem sido oportunidade para os ricos ficarem mais ricos…e é isso que se quer, não é mesmo? Como mesmo acabastes de dizer, a guerra hoje não é só aquela que produz ganhos industriais através do uso de armamento. A guerra político/diplomática faz florescer quadros de maior poder entre os abastados, a guerra financeira e comercial joga para cima os grandes ganhadores, investidores e financistas.Imagina que naquele tempo que fiquei ausente do blog, ouvi falar que até os negócios da indústria de órgãos (sem doação) se estabeleceram e prosperam disparado na Líbia. Pensa nas vantagens de se ter acesso (com dinheiro, é claro) a qualquer pedaço gasto do nosso corpinho ao simples toques internáuticos, sem aquela escassez de antigamente. Sem contar que "os buracos"fruto da devastação tem seu lado altamente positivo, se bem escolhidos: acaba com a vida no local, o que é ótimo para a extração de minério e combustíveis, sem aqueles probleminhas enjoados de pobres reclamando. Tanto é que aqueles que sabem lidar com o poder não param de investir na guerra, e isso desde muito tempo. Claro que hoje os negócios da guerra ganharam experiência e conhecimento acumulado. Nada de ter de fazer uso de patriotismo porque a massa de manobra é terceirizada e globalizada, com serviços especializados para sua produção. Novas estratégias foram assimiladas como o elogio da paz para sua prática ao revés, como a concentração na ideia de defesa quando a prática é o ataque e a pilhagem. Tanto é que a tática mais largamente utilizada é o terrorismo como parte da estratégia de necessidade de defesa. Vê que personagens que realmente entendem de poder como a senhora Clinton é uma fanática da guerra e, chegando à presidência da gloriosa terra das liberdades e oportunidades, seguramente vai nos brindar com alguns espetáculos de luz e cor diretamente difundidos pela CNN (aqueles que até as crianças podem assistir porque não aparecem corpos estraçalhados, ainda vivos ou mortos, lugares rebentados, gritos e barulho ensurdecedor). Também vai nos oferecer a liberdade e oportunidade de participarmos ao vivo e a cores do jogo da matança, na condição de mercenários/as, fazendo jus e provando inequivocamente que o país que dirigirá exporta liberdade e oportunidades a todas as gentes da urbe.

  3. O mundo é um lugar muito cansativo. O Poder, a ambição, a ganância matam o espírito humano e obriga-nos a viver neste caos demente, onde como animaizinhos assustados nos enrolamos sobre nós próprios, na esperança que o caos não desabe em cima das nossas cabeças. E com isto aceitamos viver como cobardes, a aceitar o estado de coisas como inevitável. Não será legitimo responder á violência com violência? E quem é que, nós, animais assustados, vamos agredir, para nos sentirmos melhor? E se acertarmos em alguém, valerá a pena, ou estamos apenas a acertar numa parte de uma célula infima do caos reinante. Tudo isto não tem sentido. O mundo é um lugar sem humanidade, um vácuo crescente, que se aproxima a passos largos em se tornar um buraco negro. A maioria das pessoas são robots obedientes, com uma programação demente. Como pode um robot ser são se lá por dentro, no meio do vácuo que se tornou a sua existência, está perdida a sua humanidade? Sem a reencontrar, ou descobrir, nunca mais se conseguirá libertar das amarras da sua cobardia e permanecerá um animal assustado e facilmente manipulável nas mãos dos psicotapas de serviço.

    1. gito …empresta ai uma faca para eu cortar os pulso… Man , sai, bebe uns copos ( moderadamente) descontrai… o mundo é aquilo que quisermos que seja, da uma folga aos neurónios e depois voltamos a falar ok? Abraço…cuida-te

  4. Também sou péssimo em previsões, mas uma coisa eu creio ser garantida. Se de alguma forma as coisas partirem para uma pequena jogada que seja, envolvendo algum componente nuclear, aí penso que não terá mais jeito. Digo isso, porque creio que ninguém irá querer participar de um novo Nuremberg, tendo que prestar contas dos seus atos abomináveis de derrotados para santidades vitoriosas. E depois ter que encarar a forca. Saddan Hussein taí como exemplo.

    Expedito.

  5. Nova York, Paris, Londres, Moscou,Teerã, Jerusalém… Não necessariamente nesta ordem e durante um intervalo de tempo indefinido,…Quisera que não, mas a escalada de violência inevitavelmente culminará na mais absurda das violências contra tudo que tenha vida. Chamamos isto de evolução e progresso(!)

  6. Não acredito nisso embora para algumas mentes perversas possa ser um meio para um fim, no final perdem todos, ora o exemplo da Krupp é o lucro e como vender algo se já não há quase clientes?
    E os que restam estariam "abrigados" e decerto com outras preocupações tipo sobrevivência.
    Não me parece. Agora algo é certo estão a condicionar o "rebanho", disso não tenho a menor dúvida. Estão a apostar forte no terrorismo, como é que doidos varridos fazem o que fazem sem ter fundos ou alguém que os financie?

    Filme de 90' – O futuro que poderá vir.

    Se estivesse em 90 a ler isto diria o séc XXI é muito esquisito doidos matam e danificam grandes estruturas e a população é que vai exigir protecção cada vez maior afinal têm que abdicar de certas liberdades até terem poucas ou nenhumas.
    Em 90' pensaria, estranho século o que vem, será que não vêm no que se estão a meter. Está bem de ver qual será o resultado final e quem não alinha…enfim é carta dispensável.
    É um retrocesso civilizacional
    A vitória dos fanáticos e fundamentalistas seja do ambiente, do politicamente correcto etc…

    Vou fazer como o P .Lopes diz ah e comprar um maço de tabaco. Ao menos em 90 ainda posso ir no lugar dos fumadores no avião para bem longe tipo Nova Zelândia.

    N.

  7. Estar ou não estar em guerra!?!? Desde sempre o mundo está em guerra!!! O problema é o como conceituamos "guerra". No Brasil do "paz e amor" a violência social que presenciamos e a enxergamos com certa "normalidade" mata mais gente do que a maioria das guerras convencionais. Mas com um detalhe: mata pobre e/ou preto. Torna-se "Terrorismo" quando a ameaça extrapola esses segmentos.

  8. Paul Valéry – A guerra é um massacre entre pessoas que não se conhecem para proveito de pessoas que se conhecem muito bem mas não se massacram.
    Basta saber quem mexe nas sombras as cordas das economias de TODOS os paises em conflito para perceber que a guerra é mais uma opção para resolução de problema$ comum que um conflito de interesses opostos.
    Como se diz, sigam o dinheiro.

Obrigado por participar na discussão!

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