BRICS e Dólar

Cada vez que olho para os BRICS tenho algumas dúvidas. Eis os últimos dados (de 2013).

Dívida Externa:

  • Brasil 482 biliões de Dólares
  • Índia 427 biliões de Dólares
  • África do Sul 140 biliões de Dólares

Agora vamos ver as reservas do Banco Central:

  • Brasil 359 biliões de Dólares
  • Índia 298 biliões de Dólares
  • África do Sul 50 biliões de Dólares

A situação da África do Sul é particularmente cinzenta, com uma dívida que é quase três vezes as reservas do Banco Central. Melhor a situação da Índia, pouco alegre aquela do Brasil. Nestas condições, introduzir uma nova moeda é impossível: nasceria já morta. Portanto, a moeda de referência continuará a ser o Dólar.

Prova: tanto o AIIB (Asian  Infrastructure Investment Bank) quanto o NDB (Development Bank) e a reserva para acidentes de percursos (Contingency Reserve Arrangement) têm todos como única base a moeda de Washington.

Agora, como faz notar Michel Chossudovsky, docente de Economia, tudo isso não enfraquece o Dólar. É exactamente o contrário: tende a apoiar o volume de empréstimos em Dólares. Além disso, este é um percurso já previsto (e bem visto) nos acordos de Bretton Woods. 

Uma moeda dos BRICS teria desenvolvido o comércio entre as partes, atraído (e de que maneira!) os investimentos. Mas Índia, África do Sul e Brasil abdicaram da ideia. Isso implica alguns problemas no caso destes Países.

Sempre Chossudovsky avança com um exemplo.
Em 2014, os BRICS assinaram um acordo para criar o já citado NDB. Uma instituição com uma reserva de 100 bilhões de Dólares. Depois há um fundo de segurança: outros 100 biliões.

Cada um dos Países tem que participar, como é óbvio. Falando apenas da reserva de segurança, eis cotas por cada Estado-Membro:

  • Brasil 18 biliões de Dólares
  • Rússia 18 biliões de Dólares
  • Índia 18 biliões de Dólares
  • China 41 biliões de Dólares
  • África do Sul 5 biliões de Dólares

E onde é que Índia, África do Sul e Brasil querem encontrar este dinheiro? Simples: com um financiamento (não há muitas outras hipóteses).

Mas os financiamento internacionais são todos geridos em Dólares. O que significaria aumentar a Dívida externa, isso é, contrair um empréstimo e aumentar ainda mais a exposição externa, tudo em prol da moeda dos EUA.

E no médio prazo (fim do ano?) a Federal Reserve irá subir as taxas de interesse, o que tornará mais caro contrair um empréstimo e, sobretudo, devolve-lo.  

Até quando não será criada uma moeda dos BRICS, o Dólar não correrá riscos (o Euro não assusta, no limite diverte). Mas é mesmo neste ponto que todas as últimas decisões tomadas falham: vão no sentido inverso. De de-dolarização não se fala. E que sejam mesmo os BRICS a manter em vida ou até ajudar o Dólar é coisa pelo menos esquisita, não é?

Ou talvez não.
Mas para evitar as iras dos apoiantes de Dilma, fico por aqui.

Ipse dixit.

Fontes: Global Research, Valori

16 Replies to “BRICS e Dólar”

  1. Toda a economia mundial é pura ilusão!
    Vai chegar o dia que tudo rebentará na cara de todos e ainda vão ficar com cara de admirados.

  2. Índia, Brasil e África do Sul altamente endividados estão na camisa de força das condicionalidades do FMI-Banco Mundial.
    Eles não decidem sobre questões fundamentais de política monetária e reforma macroeconómicas em o sinal verde das instituições financeiras internacionais com sede em Washington são (do ponto de vista monetário)
    estados serviçais (proxy) dos EUA, firmemente alinhados com os ditames económicos do FMI-Banco-Mundial-OMC.
    Se bem que a iniciativa BRICS desde o seu arranque tenha aceite o sistema dólar, isto não exclui a introdução, numa etapa posterior, de um sistema de divisas múltiplas – o que desafiaria a hegemonia do dólar.
    Não esquecer também que poucos estão interessados em rebentar com o actual sistema do Dollar pois esta de tal forma impregnado em tudo, que seria doloroso e sangrento.
    Os EUA não vão querer largar o osso e já rosnam lançando guerras assimetricas em quase todo o espectro (militar, economico, politico e cibernetico) .
    Vejo o caminho que esta a ser trilhado pela Russia e China como uma série de processos a decorrer em simultâneo que almeja algo com um alcance bem maior do que apenas combater o actual sistema (embora tenham de faze-lo).
    Estão a construir uma nova realidade com novos paradigmas e outra forma de olhar o mundo.

    – New Development Bank (NDB) do BRICS
    – Asian Infrastructure Investment Bank (AIIB)
    – Contingency Reserve Arrangement
    – A integração eurasiana, que conta com as Novas Rotas da Seda da China uma “nova plataforma”, um corredor econômico trilateral unindo Rússia, China e Mongólia.
    – A nova Estrada de Ferro Transiberiana
    – O novo canal na Nicaragua (pela mão da China)
    – O acordo de Gaz com a Turquia (pela Russia)

    EXP001

  3. Pequim e Moscou, com outros países BRICS, estão andando rapidamente em direção ao comércio independentemente do dólar norte-americano,
    usando suas próprias moedas.
    Paralelamente, estão estudando a criação de sistema alternativo ao sistema SWIFT de compensações internacionais – ao qual as nações europeias
    terão necessariamente de aderir, agora que já se integraram ao BAII.
    Por exemplo, em teoria a Alemanha poderia suportar perder seu comércio com a Rússia por causa da política de Berlim – embora para extremo desagrado dos industriais alemães. Mas em nenhum caso a Alemanha poderia deixar de comprar a energia russa. E perder seu comércio com a China é, para a Alemanha, absolutamente impensável.

    As empresas CNPC e China Metallurgical Group Corp. já estão no Afeganistão, investindo na bacia de petróleo do rio Amu Darya e na mina gigante de cobre em Anyak. Não tem sido fácil, mas já é um começo.
    Ambas, Rússia e China, dentro da Organização de Cooperação de Xangai, têm profundo interesse em um Afeganistão estável, maduro para os negócios da Nova Rota da Seda e da UEE.
    A questão chave, aí, é como manter os Talibã “satisfeitos” (sem dúvida, sim, mas sem usar métodos de Washington).

    EXP001

  4. O Irão já é questão de segurança nacional para a China – como grande fornecedor de petróleo e gás.
    O gasoduto passará pelo estratégico porto de Gwadar no Oceano Índico, que já é administrado pelos chineses.
    O gás pode assim ser embarcado para a China por mar ou – melhor ainda – se pode construir nos próximos anos um novo gasoduto, de Gwadar a Xinjiang, paralelo à autoestrada Karakoram, que contornará portanto o Estreito de Malacca, um dos objetivos cruciais da complexa estratégia chinesa de diversificação no campo da energia.

    E há também o Afeganistão – o qual, do ponto de vista de Pequim, encaixa-se no projeto da Nova Rota da Seda como corredor para recursos, entre o sul e o centro da Ásia.

    Idealmente, Pequim quer investir no desenvolvimento da infraestrutura, para ter acesso aos recursos do Afeganistão e assim firmar mais uma ponte por terra de Xinjiang à Ásia Central e dali até o Oriente Médio. Atualmente, produtos Made in China têm de ser exportados para o Afeganistão via Paquistão.

    E vendo bem o mundo esta a mudar a passos largos, creio que so EUA e UE ainda não preceberam que tambem teem de mudar.

    EXP001

    1. EXP!!!!

      Não sei se reparaste, mas acabaste de descrever um perfeito exemplo de Capitalismo de assalto. Que dizer, onde ficam os "novos paradigmas"?, a "outra forma de olhar o mundo"?. Lamento, mas este é puro Capitalismo.

      Noto uma certa dificuldade nos amigos Brasileiros em aceitar um facto que me parece demais evidente: o Brasil é um País 100% capitalista. Não tenham dúvidas acerca disso. Todos os BRICS são realidades 100% capitalistas, sem exclusões. A única que consegue distinguir-se é a China, que pratica um Capitalismo com forte componente do Estado (mas as cosias já estão a mudar).

      Mesmo hoje, se tiver tempo (se calhar vai ser amanhã), vou publicar algo sobre China+EUA+Quénia, tanto para esclarecer alguns pontos.

      New Development Bank (NDB) do BRICS, Asian Infrastructure Investment Bank (AIIB),
      Novas Rotas da Seda, etc. são todos sintomas dum grupo de Países, liderados pela China) que estão adotar-se de infraestructuras para competir nos moldes que sempre foram delineados pelo Livre Mercado.

      É óptimo que estes Países tenham as condições para dotar-se de algo que já deveriam ter tido há muito, não discuto isso, aliás, espero vivamente que todos estes projectos vinguem. Mas eu fico desiludido, mesmo porque não vejo "novo paradigma" nenhum.

      O Capitalismo entrou numa grave crise sistémica e os BRICS continuam a percorrer esta estrada sem alteração nenhuma. Para mim, que estou farto dum sistema podre e injusto, que cria desigualdade e que vive sobre a pobreza dos mais fracos, que sonho algo melhor (como todos os que seguem o blog, suponho), tudo isso não é "novo" mas é um "já visto". É só pegar num livro de História e ler-se o desenvolvimento dos EUA a partir do XIX século.

      Pior: a forte suspeita é que este nem seja um verdadeiro "já visto" mas uma mudança operada por quem já é dono do actual Capitalismo ocidental.

      Percebo que os Leitores Brasileiros (e não apenas eles) possam ficar felizes com a ideia de se tornar os novos EUA ou parte deles. Mas para mim, que o Capitalismo fale Inglês ou Português é exactamente a mesma coisa: não é uma questão de idioma ou de Países, é um problema de sistema.

      Abraçooooooooo para EXP!

  5. Segundo o Banco Central do Brasil

    Dívida Externa Brasileira correta é: US$348 bilhões
    Reservas Internacionais: US$372,1 bilhões

    fonte: https://www.bcb.gov.br/?ECOIMPEXT

    Dívida Interna Brasileira é próxima ao valor descrito, mas ela é em real não em dólar.

    Dívida mobiliária federal: R$2.213,4 bilhões (42,8% do PIB)
    Dívida líquida do setor público: R$1.877,1 bilhões em fevereiro (36,3% do PIB)

    fonte: http://www.bcb.gov.br/?ECOIMPOLFISC

  6. Completando a Dívida Bruta do Governo Geral (Governo Federal, INSS, governos estaduais e governos municipais) alcançou R$3.386,9 bilhões em fevereiro (65,5% do PIB)

    Quanto a Bancos com esse perfil desenvolvimentista o Brasil possui o seu próprio os demais arranjos são complementares. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que é o terceiro maior banco de desenvolvimento do mundo, atrás apenas dos seus congêneres chinês e alemão.

    Brasil não pensa em substituir o dólar, pois é credor em dólar, assim como a China, porem gostaríamos de ter uma outra moeda concorrente para fazer uma política de pendulo.

    1. Meta!

      "porem gostaríamos de ter uma outra moeda concorrente para fazer uma política de pendulo"

      Oooooohhhh, isso mesmo. A questão não é substituir o Dólar (coisa que, nas actuais condições e como realça bem EXP criaria uma espécie de Dia do Juízo), mas ter uma moeda alternativa que possa viver paralelamente ao Dólar, que possa representar um "refugio" e que obrigue Washington a rever a sua política monetária, económica, financeira e até geopolítica.

      Acho que isso poderia representar o início de algo novo porque uma moeda não é apenas uma nota, é muito mais do que isso: têm implicações profundas, muitas mais daquelas que podemos imaginar.

      Veja-se o caso do Euro, utilizado como arma de repressão, empobrecimento, etc.

      Percebo que os Países BRICS estejam endividados em Dólares e que FMI+Banco Mundial sejam uns sacanas (e são): mas continuo a pensar que seria bom arriscar e começar a construir uma moeda alternativa.

      Abraçooooo!!!

  7. O processo colonialista exploratório nunca deixou de existir nestes e em tantos outros países. Suas independências não passaram de propaganda de quem os domina para camuflar a escravidão e sua opressão em determinados momentos históricos em que seus interesses e suas equações de poder precisaram tomar outros rumos. A moeda é um, entre tantos meios que reproduzem os fundamentos do sistema atual, delineado pela grande ciranda financeira mundial. Governantes exercem meras funções de oficializar o que é imposto pelas minorias dominantes, seja por legislações sem qualquer participação popular que chamam de democracia, cuja representatividade, além de insignificante, é exercida por escolhas que envolvem sociedades sem o mínimo discernimento de seu próprio funcionamento no que tange as relações de poder.

    1. A colonização existiu, e isso não poderá mais ser apagado. Mais já que essa colonização existiu, não seria melhor aproveitar e unir nações que foram colonizadoras e nações colonizadas?

      Dei em um outro artigo uma sugestão para futuros desenvolvimentos de nações irmãs criando um "Banco de Desenvolvimento de Nações e Territórios de Lingua Portuguesa". Todas as nações e territórios de lingua portuguesa estão unidos em quase na sua totalidade culturamente e serviria para facilitar essa integração economica e de desenvolvimento para o crescimento de todos.

      Essas nações "unidas pelo idioma" poderiam criar uma espécie de "Organizações das Nações e Territórios de Lingua Portuguesa" e com o tempo desligar-se da famigerada "Oganizações das Nações Unidas" (ONU).

  8. Pessoal,

    tive que corrigir um erro (que já foi emendado): a Dívida Externa do Brasil não é de 843 biliões mas de 482 biliões de Dólares.

    No site do Nassif ficaram doidos com isso lololololol.

    Peço desculpa pelo incómodo, a responsabilidade foi só minha..

    Abraçooooo!

  9. Max, você acredita neste populismo que contamina o capitalismo? PT, Equador, Bolívia, EUA, todos ideais populistas de tentar criar um governo que pareça justo socialmente. Agora Hillary para coroar este conceito, mas o que fazer? Me parece que o poder será sempre um processo de corrupção. Bem social é juntar dinheiro de todo mundo para propiciar assaltos dos ratos que estão ao redor. Sejam ratos falsos Hobin Hoods ou os caciques escravizadores. Agora há uma preferência por aqueles que mentem mais, mas neste quadro a única alternativa parece levar a algo pior, o total caos. Nunca haverá forma de poder justa.

    1. Não é possível criar um governo socialmente justo sem modificar profundamente a economia capitalista que está na base dele. Qualquer governo "socialmente justo" construído sobre o Capitalismo será apenas e simplesmente mais um governo com uma economia capitalista, que operará nos moldes ditados pela actual economia de mercado. Ponto.

      Não importa qual a definição que desejamos utilizar: progressista, populista, futurista, etc. Estes são adjectivos que podem resultar durante uma campanha eleitoral, mas do ponto de vista prático o resultado não muda.

      Pode haver governos que cuidam mais dos aspectos sociais, investindo na educação, socorrendo as classes mais desfavorecidas, protegendo as reformas. Tudo isso é extremamente positivo, não pode haver dúvidas. Mas, do ponto de vista económico, tudo pode ser resumido a uma palavra: Capitalismo.

      Vou fazer um exemplo.
      Muitos Leitores brasileiros ficam contentes porque os governos Lula e Dilma têm retirado da pobreza milhões de habitantes. O que, de facto, foi um grande resultado.
      Mas se observarmos isso do ponto de vista económico (não moral ou "social", portanto), o que Lula e Dilma fizeram foi aumentar o número de consumidores: as camadas populacional capaz de efectuar compras foram acrescidas. Quem ganha com isso? Os cidadãos? Aparentemente e no curto prazo sim, é assim. Mas no médio e longo prazo os maiores beneficiários são as empresas que operam no regime do livre mercado.

      Consequência: as empresas do livre mercado desempenham um papel cada vez mais preponderante e isso acaba por condicionar qualquer governo, que terá sempre de ter o cuidado de não implementar medidas que possam desfavorecer as ditas empresas (caso contrário: queda da produção, dos consumos, desemprego, etc.).

      Estas empresas acabam por ditar os ritmos da vida do cidadãos: o que antes era pobreza (falta de meio para consumir) torna-se escravidão (trabalho para poder comprar bens e serviços).

      Pelo que sei, não existe um Estado que não siga este padrão, independentemente do rótulo com o qual podemos identifica-lo. Nem o Comunismo real escapou: simplesmente utilizou o chamado "Capitalismo de Estado". Até quando não será encontrada uma alternativa viável, não há maneira de mudar as coisas.

      Pessoalmente acho que uma solução poderia ser uma sociedade baseada nas comunidades locais, reunidas em aglomerados maiores que podemos identificar com os actuais Estados. Mas estes não poderiam ter o mesmo poder de agora e as decisões das comunidades locais deveriam ser sempre as mais importantes.

      Algo no meio pode ser identificado com o modelo da Suíça, onde o governo quase nem existe: costuma reunir-se duas vezes por ano e qualquer decisão é votada directamente pelos cidadãos. Os quais administram as comunidades locais, os "cantões". Isso significa que cada "cantão" tem em média pouco mais de 300 mil habitantes. Já não é mal, apesar de eu pensar em comunidades ainda mais pequenas…

      Até lá: "o poder será sempre um processo de corrupção", porque haverá monopólios e muito dinheiro em jogo.

      Abraçooooo!!!!!

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