Malcolm X: um homem muito a frente

No dia 21 de Fevereiro de 1965 morria Malcolm X.

Reza Wikipedia versão portuguesa:

Al Hajj Malik Al-Shabazz, mais conhecido como Malcolm X […] foi um dos maiores defensores do Nacionalismo Negro nos Estados Unidos

Extraordinária a capacidade que os modernos media têm de deturpar os factos, rotula-los e reduzi-lo a umas insignificantes quanto erradas notas. Malcolm X foi principalmente um activista para os direitos do Homem. Não branco ou negro: só Homem.

O problema é que o pensamento dele encontrava-se a frente do seu tempo.

Malcolm X começou mal, muito mal. Em juventude teve problemas por causa das actividades ilegais (venda de droga, prostituição, jogo, roubo), até for preso. Paradoxalmente, foi esta a sua salvação: o irmão Reginald enviou-lhe material acerca da Nation of Islam (NOI). Esta era uma seita segundo a qual a maior parte dos africanos eram muçulmanos antes de serem capturados e vendidos como escravos: portanto, todos os negros deveriam re-converter-se ao Islam.

Era uma ideia sem fundamento histórico, acompanhada também do projecto visionário acerca duma nação negra no interior dos Estados Unidos. Mas foi suficiente para fazer maturar Malcolm, retira-lo das ruas, obriga-lo a estudar e, quando foi libertado em 1952, torna-lo activista.

O movimento NOI era pouco popular, o que não admira. Malcolm X era uma excepção: o seu carisma, a dedicação à causa dos negros, a
conduta impecável e a incorruptibilidade fizeram dele uma figura central
do Black Power. Considerado um terrorista pelos brancos, nunca abandonou a dialéctica e a elaboração cultural que o levou até posições
políticas muito mais avançadas do que a “simples” questão racial.

Em breve, Malcolm tornou-se uma figura popular enquanto o seu pensamento amadurecia.
Durante a viagem que fez no Oriente Médio e na África, viu a
estreita relação entre o colonialismo praticado no Terceiro Mundo e
discriminação racial nos EUA: aí intuiu que a leitura correcta não era aquela dos brancos contra os negros, mas aquela entre opressores e oprimidos. 

Um ano antes de ser morto, em 1964, assim falava:

Os direitos humanos são algo que vocês têm desde o nascimento. Os direitos humanos são dados por Deus. Os direitos humanos são aqueles que todas as nações da Terra reconhecem. No passado, é verdade, condenai de forma geral todos os brancos. Nunca mais voltarei a ser culpado por este erro; porque agora sei que algumas pessoas brancas são verdadeiramente sinceras, que alguns são realmente capazes de ser com um irmão para um negro.

O verdadeiro Islão mostrou-me que a condenação de todas as pessoas brancas é tão errada quanto a condenação de todos os negros por parte dos brancos. Desde que eu encontrei a verdade, em Meca, tenho recebido entre os meus amigos mais queridos homens de todos os tipos, cristãos, judeus, budistas, hindus, agnósticos e até ateus! Eu tenho amigos que são chamados de capitalistas, de socialistas e de comunistas! Alguns são moderados, conservadores, extremistas – alguns são até mesmo Tio Tom! Hoje os meus amigos são pretos, marrons, vermelhos, amarelos e brancos!

Posições demasiado avançadas, em muitos aspectos perturbadoras até no interior do movimento muçulmano dos negros ou no Black Power; isso sem falar da
sociedade dominante branca, que olhava para ele com cada vez menos paciência e mais
suspeitas.

Lógica a eliminação de Malcolm X.
No dia 14 de Fevereiro de 1965, Malcolm e a família dele sobreviveram a um atentado contra a casa deles. Uma semana depois, no dia 21 e durante um discurso em Manhattan, Malcolm foi morto com sete tiros disparados por três membros da NOI, que agora olhava Malcolm como um traidor.

Só muito mais tarde a mensagem de Malcolm X foi recebida: apenas em 1997, numa famosa carta ao Wall Street Journal, Luis Farrakan, líder
da Nação do Islão, explicou claramente que os muçulmanos
negros não eram contra o Judaísmo ou os Judeus, condenavam o sionismo e o comportamento agressivo e imperialista de israel. Tinham passado 30 anos da morte de Malcolm.

Há cinquenta anos morreu um homem que tinha conseguido superar a raiva provocada pela discriminação e os abusos
contra o seu povo: tinha entendido que a luta não era acerca da cor da pele, que havia algo mais do que isso. A divisão era e ainda é entre aqueles que oprimem e aqueles que são oprimidos, independentemente das bandeiras ou das etnias.

O que pode haver de mais actual? 

Ipse dixit.,

Fonte: Wikipedia (versão portuguesa)

5 Replies to “Malcolm X: um homem muito a frente”

  1. "O que pode haver de mais actual? "
    Excelente pergunta.
    Pois o pensamento de Malcolm X é bem actual tal como continua a ser actual o erro da maioria das pessoas não conseguir ver isso. É um erro que continua a ser explorado pelas elites sobre os oprimidos para nos virar contra Mulçumanos, contra os Russos, contra os pobres para lhes tirar os subsidios, reformados para lhes abocanharem parte do seu dinheiro, contra aquele que ainda ganha um ordenado digno e tem direitos para lhes tirar parte do que teem . Enfim usam essa falta de visão e insitam-na para nos atirarem uns contra os outros e dai tirarem vantagem. Curioso na luta de classes fazem ao contrario e nos querem fazer acreditar que ja nao existe 😉

    EXP001

  2. Quando se vive num mundo em que cada vez se vê/assiste ao domínio de 0,01% (eles gostam de percentagem).
    Sobre o restante e a coisa vai funcionando, até rebentar.
    Não sei quando ou como (vaga ideia, infiltrados).
    Acho que nem na Nova Zelândia (entre outros destinos de eleição se safam).
    Quando as coisas chegarem a um certo ponto, vem a cobrança (não é bonito).
    Mas o que fizeram ou fazem com mais de quatro quintos ou mais da população mundial? É bonito, vai durar?
    Não, de forma alguma.
    E essa gente 0,01 é que são as aberrações
    do ser "humano?".
    Fazem falta? Claro que não…por isso gastam trilhões.
    Medo…

    Nuno

  3. A divisão sempre foi uma constante na humanidade.
    O ser humano divide-se em grupos e subgrupos talvez por uma questão de ADN ou mera sobrevivência. E por isso, há que diabolizar todos os outros que não pertencem ao nosso grupo.
    Hoje é muito visível a crescente clivagem entre o ocidente e os muçulmanos, que veio substituir a clivagem entre os auto-denominados democratas e os comunistas. E se para uns ela e simplesmente social ou cultural, para outros, ela serve um conjunto de interesses próprios. Dividir, é como fazer a guerra, é facil, unir é que é dificil.
    De vez em quando aparecem umas personalidades de dimensão mundial, pela visibilidade que dão ao assunto, que pensam e trabalham no sentido da união. Malcolm X é um exemplo entre outros. Normalmente são mortos ou presos. É um problema da espécia.

    Krowler

Obrigado por participar na discussão!

This site uses User Verification plugin to reduce spam. See how your comment data is processed.

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.

%d bloggers like this: