Banco de Inglaterra: a história – Parte II

E continuemos com a história do Banco de Inglaterra.

Durante o século 17 a Idade de Ouro do crescimento terminou tragicamente. Um grande número de judeus que tinham sido expulsos de Espanha em 1492 por Isabel I de Castela e Fernando II de Aragão instalaram-se na Holanda.

Embora os Países Baixos na época eram uma potência marítima, os usurários judeus estabelecidos em Amsterdam desejavam voltar para a Inglaterra, onde as perspectivas de expansão das operações de empréstimo eram mais promissoras.

Durante o reinado da Elizabeth I (1558-1603), um pequeno grupo de marranos (judeus da Espanha convertidos a um pseudo-cristianismo) estabeleceu-se em Londres. Muitos deles eram ourives, aceitavam depósitos de ouro em custódia e, em seguida, emitiam empréstimos que equivaliam a dez vezes a quantidade de ouro efectivamente recebido: nada de espantoso, é o mesmo princípio utilizado pelo bancos modernos com o sistema da reserva fraccionada, o que permite mais empréstimos e mais juros. As receitas assim obtidas eram utiliziadas inicialmente para empréstimos à Coroa ou ao Tesouro com interesses anuais de 8%: mas de acordo com Samuel Pepys, cedo os juros aumentaram até alcançar taxas de 20% ou mesmo 30% ao ano.

Os privados pagavam mais: era normal, por exemplo, um comerciante pagar 33% ao ano ou até mais, isso enquanto os juros legais eram estabelecidos na casa do 6%.

E quanto mais pobre era o cliente, quantos mais altos eram os juros: 60%, 70% ou até 80% ao ano. De acordo com Michael Godfrey, autor do livro intitulado A short Account of the Bank of England, de 2 até 3.000.000 de Libras foram perdidas devido a falência de comerciantes e a consequente perdas dos negócios deles.

E tudo parecia continuar alegremente, até que…

A morte do Rei

Em 1534, com a Lei de Supremacia, a Igreja da Inglaterra foi declarada religião oficial do País pelo rei Henrique VIII (1509-1547). Durante os séculos 16º e 17º os puritanas, com base nos ensinamentos de John Wycliffe e John Calvin (Calvino em bom português), ganharam um número crescente de adeptos. Os puritanos consideravam a a Bíblia como a verdadeira e única Lei, por isso encorajavam a sua leitura, oravam e tentavam simplificar o ritual dos sacramentos.

O rei Charles I (1625-1649), que queria manter o primado da Igreja da Inglaterra, chegou a um amargo conflito com os puritanos, que estavam a fazer grandes progressos no proselitismo. Após o assassinato dum seu amigo e conselheiro pessoal, o Duque de Buckingham em 1628, tornou-se cada vez mais isolado. As crescentes divisões religiosas representavam nesta altura uma oportunidade perfeita para obter compensações: como o regresso dos judeus. Como escreveu Israel Israeli, pai do primeiro-ministro Benjamin Israeli, no livro The Life and Reign of Charles I: “a nação foi artificialmente dividida entre Sabatariani e violadores do Sábado”.

Em 1640 um dos líderes da comunidade judaica ilegal, Fernandez Carvajal, comerciante e espião, também conhecido como The Great Jew (O Grande Judeu), organizou uma milícia armada de cerca 10.000 membros, que foram usados para intimidar os londrinos e espalhar a confusão. Pouco depois, a guerra civil eclodiu entre os monarquistas (que obviamente apoiavam o rei) e os Rounbdheads (os puritanos), guerra que durou de 1642 até 1648.

Os Roundheads, com o exército New Model Army, foram vitoriosos e estima-se que morreram 190.000 pessoas, 3,8% da população. O líder dos Roundheads era Oliver Cromwell (1599-1658), cujo exército não apenas era equipado e fornecido pelo comerciante e espião Fernando Carvajal, como também era apoiado financeiramente pelo dinheiro dos judeus de Amsterdam. O chefe dos judeus holandeses, Monasseh ben Israel, enviou uma petição a Cromwell, pedindo que os judeus fossem autorizados a emigrar para Inglaterra em troca dos favores financeiros que ele generosamente tinha fornecido.

Interessante neste aspecto ler a correspondência entre Cromwell e a sinagoga em Mülheim (Alemanha):

16 de junho de 1647. por A.C. (Oliver Cromwell) para Ebener Pratt.
Em troca dos apoios financeiros apoiamos a admissão dos judeus em Inglaterra. Isso é impossível com o rei Charles em vida. Charles não pode ser executado sem julgamento, e não existem actualmente razões adequadas. Portanto, recomendamos que Charles seja assassinado, não é difícil obter um assassino.

A resposta:

Para Oliver Cromwell de Ebebener:
Vamos fornecer ajuda financeira assim que Charles for removido e os judeus readmitidos. O assassinato é muito perigoso. A Charles será dada a oportunidade de fugir: a captura dele justificará um julgamento e a execução. O apoio será liberal, mas não há necessidade de discutir os termos enquanto o processo não começar.

Olhem o acaso, o rei Charles tentou a fuga até a Ilha de Wight no dia 04 de Junho de 1647, mas os revolucionários conseguiram captura-lo.

Apesar disso, o 5 de Dezembro de 1648, a Câmara dos Comuns decidiu “que as concessões do rei são satisfatórios para um acordo”. Cromwell depurou a Câmara com a ajuda do coronel Pryde até sobrar um grupo de 50 pessoas que pensaram bem votar em favor do processo contra o rei.

Parecia não ser possível fornecer alguém com a coragem suficiente para defender o monarca, até que foi encontrado o único advogado que aceitou o cargo. Era Isaac Dorislaus, um judeu. Caso esquisito, Charles foi reconhecido culpado e, uma vez visto rejeitado o pedido de perdão, perdeu a cabeça, literalmente, no dia 30 de Janeiro de 1649.

A segunda imigração judaica

De 7 a 18 de Dezembro, 1655 Cromwell realizou uma conferência em Whitehall com o fim de obter a aprovação para a imigração dos judeus. Apesar da sala estar cheia de partidários de Cromwell, a esmagadora maioria dos delegados, advogados e comerciantes, votou contra o regresso dos judeus. Evidentemente ainda alguém lembrava os antigos acontecimentos.
Em Outubro de 1656 os primeiros judeus foram autorizados a entrar de forma semi-clandestina, apesar dos fortes protestos registados pela subcomissão do Conselho de Estado, que declarou tais judeus “uma seria ameaça para o Estado e para a religião cristã”. Os comerciantes, sem excepção, foram contra a admissão dos judeus: afirmavam que os imigrantes eram “moralmente perigosos para o Estado e que a admissão deles enriqueceria os estrangeiros à custa dos Ingleses”.

Cromwell morreu em 3 de Setembro de 1658, o sucessor foi o filho, Richard, que governou por nove meses. Charles II (1660-1685), filho do executado Charles I, entretanto tinha sucedido ao pai e pude voltar ao trono em 1660, com o fim do período republicano.

Bom rapaz, Charles II fez dois grandes erros: em 1 de Agosto de 1663 aprovou uma lei que nas intenções deveria ter incentivado o comércio, uma lei que permitia a “exportação de todas as moedas estrangeiras, barras de ouro ou prata, livres de proibição, regulamentos ou impostos de qualquer espécie”.
Três anos depois, com uma nova lei, “permitiu aos bancos privados e aos ourives a cunhagem de moedas na Royal Mint ( a Casa da Moeda) e assim adquirir os consideráveis benefícios ​da senhoriagem”.

O reinado do seu irmão, James II (1685-1688), foi curto e atribulado. Vítima duma feroz campanha contra a sua pessoa, foi finalmente derrotado e destronado por uma expedição militar liderada pelo Príncipe William de Orange.

Apesar do exército de James ser numericamente superior, foram desencorajados a atacar depois do repentino abandono de John Churchill, primeiro Duque de Marlborough.
Interessante notar que de acordo com a Enciclopédia Judaica, Churchill passou a receber um salário anual de 6.000 Libras do judeu holandês Solomon Medina como pagamento da sua conduta traiçoeira. Mas não apenas Churchill recebia dinheiro da Holanda: a campanha militar de William de Orange (tal como tinah acontecido em 1666 com William o Conquistador) foi financiada por banqueiros judeus.

Em troca deste apoio, William III (1689-1702) transferiu as prerrogativa real de emitir uma moeda livre da dívida e de juros a um consórcio conhecido como Governor and Company of the Bank of England.
Arthur Nelson Field em All These Things assim resume estes momentos:

Trinta e três anos depois de Cromwell ter permitido o regresso dos judeus, um príncipe holandês chegou de Amsterdam rodeado por um enxame de judeus daquele centro financeiro. Expulsou o pai dele do reino, gentilmente concordou em ocupar o trono da Inglaterra. O resultado natural que acompanhou este evento foi a inauguração da dívida nacional após a fundação do Banco da Inglaterra.

Fundação que deu-se no dia 27de Julho de 1697.
A Inglaterra, que sempre tinha pago do seu próprio bolso, conheceu o prazer da dívida e da multiplicação desta com os interesses. Um período divertido, que perdura até hoje.
Mas este será assunto da terceira e última parte do artigo.

Ipse dixit.

Relacionados:  Banco de Inglaterra: a história – Parte I

6 Replies to “Banco de Inglaterra: a história – Parte II”

  1. Olá Max: eu não sabia de nada disso…que delícia! Claro que muitas vezes ouvi, em aulas de história, falar destas figuras ilustres da história inglesa, feitos, guerras, datas, etc.Até história da economia…e, novamente, teorias, ilustres figuras,datas… É bem verdade que toda vida dormi frente ao dito/escrito estéril, mas se me tivessem contado essa parte que conseguistes selecionar, com certeza estaria com os olhos e ouvidos bem abertos. Abraços

  2. judeus judeus judeus .

    quanto mais leio sobre esse povo mais fico com pulga atras das orelhas .

    . realmente de "coitados" os judeus nao tem de nada…

    so fico com pena de crianças e inocentes (tanto judeus com nao judeus) pego por maquinações politicas como guerras e outra feita por tantos por judeus e goyim

  3. Olá Maria!

    Eu também nada sabia das ligações de Cromwell com os mercantes judaicos. Foi uma surpresa.

    Olá Anónimo!

    Percebo o ponto vista, mas mesmo assim tento sempre distinguir. O actual Estado de israel, por exemplo, não pode ser identificado com todos os judeus.

    Da mesma forma, os agiotas judeus não são "todos" os judeus.

    Como bem está escrito:
    "só fico com pena de crianças e inocentes (tanto judeus com não judeus) pego por maquinações politicas".
    Exacto.

    Eu sempre tentei não pisar o risco do anti-semitismo no blog (e acreditem não é simples), não porque tenha medo, mas simplesmente porque acho ser preciso não generalizar.

    Por exemplo, apesar de estarem ausentes dos media mainstream, há pacifistas hebraicos, há um oposição política que recusa a guerra, que não partilha as acções contra a Palestina, que deseja a pacífica convivência, que não vive com a Torah na mesa de cabeceira.

    Infelizmente não têm espaço nenhum…

    Abraçooooo!

  4. Olá Max,
    Sabia algumas coisas sobre a morte do rei, mas não tão detalhado.
    Venha a terceira parte da história.
    Abraço
    Rita M.

  5. Esta história… reforça aquilo que eu tenho vindo a dizer:
    – O conceito de «governante» pressupõe um sistema MUITO PERMEÁVEL a lobbys… e aquilo que importa mesmo… é um sistema MENOS PERMEÁVEL a lobbys…
    .
    -> Por um sistema MENOS PERMEÁVEL a lobbys: temos de pensar, não em políticos «governantes», mas sim, em políticos «gestores públicos» que fazem uma gestão transparente perante cidadãos atentos: blog «fim-da-cidadania-infantil».

Obrigado por participar na discussão!

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