Monsanto e o tabaco argentino

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Corthouse News Service, centro de notícias para quem trabalha no mundo dos tribunais, relata um facto simpático.
Protagonistas: a sempre pouco louvada Monsanto em companhia de outras empresas quais Philip Morris, Carolina Leaf, Universal Corporation.
O lugar: Argentina.

De acordo com o relatório, a Monsanto é alvo de queixa crime e será submetida a julgamento por dezenas de produtores de tabaco argentinos, os quais afirmam que o gigante de biotecnologia deliberadamente escolheu envenenar os trabalhadores do sector com pesticidas e herbicidas.

Isso terá tido como consequências devastadores defeitos de nascimento para os seus filhos: paralisia cerebral, síndrome de Down, atrasos psicomotor, dedos em falta, cegueira.

Os agricultores provêm de pequenas explorações familiares da Província de Misiones e vendem o tabaco deles a muitos distribuidores nos Estados Unidos. As famílias dos agricultores dizem que as grandes empresas de tabaco, como a Philip Morris, pediram a utilização de herbicidas e pesticidas produzidos pela Monsanto, garantindo que tais produtos eram seguros. Mas tão seguros afinal não eram.

A maioria dos agricultores da região usaram o já mítico Roundup, o herbicida da Monsanto que tem como ingrediente activo o glifosato, substância capaz de provocar a morte das células dos rins. E utilizar ou não utilizar o Roundup, tal como outros produtos da Monsanto, não era uma opção: era um específico pedido da Philip Morris e da Carolina Leaf. Isso apesar da falta de protecção, pois estamos a falar de pequenas explorações agrícolas que fornecem o mínimo para a sobrevivência e nada mais do que isso.

Em outras palavras, os agricultores, apesar das graves condições económicas de muitos deles, foram obrigados a utilizar os produtos da Monsanto mesmo sem ter as condições de segurança ou a experiência necessárias para lidar com tais produtos.

Pode ler-se na queixa:

O que é relevante é que nunca a Tabacos Norte (subsidiária argentina das companhias dos Estados Unidos), a Monsanto, a Philip Morris ou a Carolina Leaf recomendaram medidas de protecção aos agricultores e às famílias em Misiones. […]
Em momento nenhum os réus avisaram de que frutas, vegetais e animais designados para consumo das famílias seriam contaminados com os pesticidas, incluindo o Roundup, se os agricultores tivessem aplicado os químicos agressivos para o cultivo do tabaco.

O que não foi muito simpático, verdade seja dita.

Os agricultores queixam-se também de terem sido obrigados a adquirir grandes quantitativos de produtos, muito além do necessário para o cultivo.

Ainda mais chocante, os agricultores receberam ordens para livrar-se dos herbicidas e pesticidas em excesso em locais em comunicação com a normal rede de abastecimento hídrico. Dado que o Roundup é um conhecido agente de contaminação das águas subterrâneas, isso parece representar uma séria ameaça ao fornecimento de água na zona.

Os agricultores concluem a queixa esclarecendo que as empresas de tabaco “aconselharam” a aquisição dos produtos da Monsanto, em quantidades superior ao necessário, “motivadas pelo desejo de lucro financeiro”, sem nenhum respeito para os agricultores e as famílias deles.

Lembramos. Philip Morris
Cigarros: Chesterfield, Diana, L&M, Marlboro, Merit, Multifilter, Muratti, SG.
Vinhos: Antica Napa Valley, Domaine Ste Michelle, Spring Valley, Stag’s Leap Wine Cellars,  
Cervejas: Pilsner Urquell, Nastro Azzurro, Peroni, Ursus, Dreher, Grolsch, Lech (Europa) Lager brands include: Isenbeck, Aguila, Club Colombia, Costeña, Poker, Pilsen (Colombia), Cristal, Pilsen Callao, Pilsen Trujillo, Cusqueña, Arequipeña (Peru), Pilsener, Club (Ecuador), Pilsener, Regia, Suprema, Golden Light (El Salvador), Port Royal, Salva Vida, Imperial (Honduras), Atlas, Balboa (Panama), Foster.

Mais complicado condensar em poucas linhas todas as obras primas da Monsanto, entre as cujas fileiras militaram indivíduos como o simpático Donald Rumsfeld e Michael R. Taylor, sucessivamente nomeado na Food and Drugs Administration pelo Prémio Nobel da Paz Barack Obama.

O herbicida Roundup representa um dos pontos mais altos da empresa: as reacções adversas teriam feito a felicidade de qualquer oficial da Gestapo (não acaso a Monsanto colabora com a BASF…), abrangendo problemas endócrinos, genéticos e ambientais. Tudo num só produto, é obra. É o herbicida mais utilizado nos Estados Unidos.

Em resumo: não há autênticas novidades.
É só para lembrar um pouco como funciona o mundo.

Nota para os eventuais interessados: neste link é possível descarregar o original da queixa, 55 páginas em formato Pdf, língua inglesa (a queixa foi apresentada no Estado do Delaware, condado de New Castle).

Ipse dixit.

Fontes: Court House News, I Lupi di Einstein

2 Replies to “Monsanto e o tabaco argentino”

  1. meu caro Max! Santa Ignorância essa nossa (seres humanos)hein!!! Além de estarmos cultivando um produto que gera prejuízos à saúde pública e ao ser humano, de quebra, contaminamos tudo em volta. Quantas gerações serão necessárias para levar um conhecimento mais avançado para todas as pessoas do planeta? Porque o conhecimento básico (o senso comum) também está contaminado pelas falácias e ilusões perpetradas pela ELITE, não é mesmo?

  2. Olá Max: é um ato criminoso o uso de Roundap, ou pesticidas do gênero. Aqui, como predomina o cultivo orgânico, ou os terrenos são de reserva de preservação ambiental, estamos quase que completamente livres de pesticidas, mas vivendo literalmente no meio do mato, o que tem suas vantagens.
    Mas, já tive oportunidade de dizer em comentário que, ao visitar regiões de monocultivo de soja, onde por quilômetros de estrada, tu vez única e exclusivamente soja,caminhões carregados de soja pelo asfalto da rodovia, e pequenos aviões em voos rasantes como a pulverizar o mundo com um pó de cheiro estranho, nesses lugares as cidades próximas estão povoadas de peões e filhos de peões aleijados (sem dedos dos pés, com dois ou três dedos por mão, muitas crianças com deficiências mentais e físicas diversas). Isso é visível, inequívoco, não precisa pesquisa científica, estatística, ou o escambau. É consequência de um ato tão criminoso quanto explosões nucleares, bombas de napalm, ou agente laranja. O Randaup produz efeitos semelhantes, o que mais será preciso dizer ou fazer? Abraços

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