O que é esta raio de crise? Parte II

E continuemos.

Quem, quando criança, não trocou cromos?
“Dou-te um Platini em troca dum Maradona”

Esse é o mecanismo mais simples de troca. A troca o cromo com B e recebe um ou mais cromo a segunda do valor do cromo cedido. Ninguém diria “Dou-te um Platini, faz como se fosse teu, mas no final de cada mês tens que dar-me um Maradona e no mês em que não tens Maradona para dar-me vou buscar o Platini”.
Uma criança que falasse assim seria vista como um anormal: que raio de troca é esta?

Uma vez crescidos começa um processo de contra-evolução e julgamos que afinal esta coisa do Maradona no final do mês não é tão mal. Aliás, parece mesmo boa.


De facto, utilizamos o dinheiro como meio de troca, pois o dinheiro substitui a troca directa de mercadoria e/ou serviços por uma questão de praticidade. Mas isso significa que numa economia normal, o dinheiro fica como “ficção”, sem um real valor até quando não trocada: a moeda é um pedaço de papel ou, nas melhor das hipóteses, um círculo de metal de escasso valor.

Quem gera “cobertura”, isso é, quem dá valor ao dinheiro? Os bens e os serviços que são produzidos e que circulam na sociedade. O Estado (e o Estado somos nós) garante esta “cobertura” com a reserva áurea (ouro).

Isso, repito mais uma vez, num sistema normal, que não é o nosso caso.

Mas surge um problema: imaginem uma situação na qual a sociedade é capaz de produzir muito enquanto a reserva áurea  é escassa. É um inconveniente grave, pois no mercado haverá muita mercadoria que não poderá ser adquirida porque eu, Estado, não posso imprimir dinheiro.
Então que faço? Fecho as empresas? Férias para todos?

Para ultrapassar este ponto foi criado o sistema Fiat Money.

Fiat Money…

Decide-se que, a partir de hoje, o dinheiro já não é vinculado à quantidade de ouro efectivamente possuída: o Estado pode imprimir dinheiro sem preocupar-se de ter uma cobertura de ouro.

De facto, o Estado desliga o valor do ouro daquele do dinheiro. E quem garante o valor da moeda então?

A resposta é: a capacidade productiva, a capacidade de criar riqueza (o bem conhecido PIL; Produto Interno Bruto). Se a economia for boa, então podemos imprimir mais moedas, se for má, então imprimimos menos.

Parece um paraíso. A sociedade pode extrair toda a capacidade productiva, sem limites.
O Estado fica endividado ao criar moeda? Sim, mas é uma dívida fictícia, pois o aumento da produção será suficiente para criar um empate no orçamento.

Não só: numa altura como esta, o Estado pode imprimir dinheiro para financiar grandes obras públicas que
acabam por impulsionar ainda mais a economia. Pode gerir os interesses de forma a facilitar a aquisição das casas ou para melhorar os serviços para os cidadãos (saúde, reformas…).

Na prática, o Estado pode decidir come investir boa parte da riqueza produzida pela sociedade, melhorando o nível de vida de todos. É exactamente isso que acontecia na Líbia de Khadafi antes da “libertação” ocidental.

Todavia há um problema. E não é pequeno: é um enorme problema. Criado pela mesma classe que sempre teve nas próprias mãos o verdadeiro poder, o controle do ouro obtido com o comércio; a mesma classe que sempre condicionou (e muitas vezes “conduziu”) reinos antes e democracias depois.
A mesma classe que tornou apenas “fumo” as várias revoluções, pois se a camada superficial mudava, o controle monetário nunca trocou de mão.

Houve uma altura em que o poder poderia ter mudado de dono: as jovens democracias poderiam ter ficado com o direito de imprimir moeda. E com a introdução do Fiat Money o mundo ficou “perigosamente” perto de mudar de rumo.

…não é mal!

Porque que fique claro: o Fiat Money não é mal, bem pelo contrário.

A ideia de que as reservas áureas constituem um limite para o desenvolvimento duma sociedade não é apenas teoria, é uma realidade.

Abandonar o sistema baseado no ouro para apostar na riqueza da produção não é uma ideia errada: com o Fiat Money, o Estado pode realmente imprimir moeda para fazer frente a todas as necessidade, para investir, para produzir ainda mais riqueza (claro, é preciso controlar a inflação).

Num sistema Fiat Money, não importa qual a dívida interna do Estado: esta será sempre compensada com a produção. Neste sistema, a dívida é riqueza, pois corresponde a um maior número de investimentos. E mais investimentos significam mais produção e mais riqueza.
Estamos perante a um regime onde o dinheiro que o Estado pode criar é virtualmente ilimitado.

O problema, o grande problema, é que o sistema funciona bem e todos gozam dos proventos se no topo da pirâmide encontrarmos o Estado.

Na altura em que o topo for ocupado por privados, o Fiat Money torna-se uma praga bíblica.
Esta é a nossa condição.

Moeda Privada a o Empréstimo: acabar com o Estado

Uma ideia genial, perfeitamente funcional e fornecida dum precioso regulador interno, fica externamente intacto: mas debaixo da camada superficial está podre. É isso que acontece quando o Fiat Money passa sob o controle dos privados.

Resultado: um sistema pensado para “bombear” a economia, para favorecer as trocas comercias, funciona no sentido inverso: aspira a riqueza de baixo e projecta tudo em direcção do topo, da classe dominante.

Pior: tudo acontece enquanto revestido por uma camada democrática: não são os bancos privados a causa de tudo, não são os políticos corruptos que venderam o País, são os cidadãos que livremente escolhem.

Mas entregar o direito de imprimir dinheiro tem também um outro efeito: a chantagem especulativa.

Os bancos (isso é: o complexo do mundo financeiro, que inclui bancos, Bolsas, acionistas, investidores, especuladores, etc.) não ficam apenas com os interesses da massa monetária em circulação (um valor só por si enorme), interesses que provocam inflação e necessidade de pedir novos empréstimos (com novos juros, claro); mas começam a destruir os Estados.

Como? Duma forma muito simples: continuando com empréstimos que ninguém terá capacidade de pagar. Chegará uma altura em que o Estado terá que adoptar medidas de urgência para ultrapassar as “dificuldades contingentes”. Porque nas palavras da classe dirigente é apenas uma questão momentânea, depois do pequeno temporal o sol voltará a brilhar em cima das nossas cabezinhas.

Nesta altura, a classe política, já completamente refém (quando não cúmplice), começa a introduzir novos impostos e a esvaziar (literalmente) a máquina estatal. Serviços são abolidos, empresas publicas são vendidas, trabalhadores são despedidos.

Tudo isso enquanto é pedida uma cada vez maior productividade.
A síntese é um Estado cada vez mais débil e cada vez mais nas mãos da economia/finança internacional.

É este o objectivo final? Nem pensar.
Este é apenas a primeira parte dum trabalho demorado mas que promete óptimos rendimentos. E se nesta altura o objectivo é o dinheiro, a verdadeira meta não é a riqueza monetária.
Não este tipo de riqueza.

Porque se é verdade que dinheiro é poder, quando uma pessoa detém todo o poder, o dinheiro serve para quê? É por isso que os Estados, tais como foram entendidos até hoje, têm que desaparecer.
E desaparecerão.

É disso que vamos falar no próximo episódio de “Quem quer ser milionário?”.
Não, desculpem, este é outro: O que raio de crise é esta?.

A propósito, eis o link para a primeira parte: Link!

Ipse dixit.

10 Replies to “O que é esta raio de crise? Parte II”

  1. Um dos pontos que eu julgava fraco de Max foi eliminado.

    Pensara eu que Max achava asquerosa a idéia de FIAT MONEY e que o lastro em OURO era fundamental…

    UFA… agora concordamos que o problema não é esse e sim quem segura a rédea!!!

  2. Esta crise é a forma que os "Donos do Mundo" arranjaram para diminuir os riscos de se verem afectados por algo que não controlam: A NATUREZA.

    Os "Donos do Mundo" não são apenas os membros da família Goldman Sachs como diz o outro elas são mais… ver aqui

  3. Não entendi a afirmação que ao imprimir dinheiro o estado fica endividado. Qual a razão?

    A dívida não ocorre somente se forem gerados títulos referentes à emissão?

  4. Sim, Faltausername (belo nome), isso mesmo. E os estados têm o direito de fazer isso, porém, se o fizerem vão desagradar às pessoas que financiaram as suas candidaturas… eles desagradados, como também detém toda a mídia, podem começar a publicar umas verdades sobre o referido político… caso não haja nada de errado com este, algumas verdades podem ser criadas…

    … é bola de neve…

  5. "A dívida não ocorre somente se forem gerados títulos referentes à emissão?" aí está a resposta… se para emitir moeda tem que se emitir dívida……

  6. quanto ao Anónimo:

    Relativamente a este assunto eu próprio já demonstrei de forma bem simples lá no meu buraco, que a manipulação de dados matemáticos é tão fácil que qualquer explicação sobre as "trends" do aquecimento global é criada por forma a justificar a posição a favor ou contra a "teoria"…

    Vamos mesmo ter que esperar para ver… e no fim, lá estou eu a repetir-me… REAGIR. Pois evoluir provoca dores de cabeça!

  7. Para quem quiser ler mais alguma coisa interessante sobre O TERRÍVEL AQUECIMENTO GLOBAL (TAG) favor clique aqui e depois em 'Download'… e já sabe que ler é o alimento cerebral mais completo!

Obrigado por participar na discussão!

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