Fantasmas

As coisas acontecem. É normal.
Assim como é normal para o Homem tentar individuar padrões. Sem um padrão, o Homem é obrigado a reconhecer que as coisas acontecem de forma aleatória. E o Homem não gosta do aleatório.

Aleatório

O aleatório não se pode controlar nem prever. O aleatório é desconhecido.
E o Homem tem medo do desconhecido, sempre teve.

Isso para dizer que se olharmos em redor, podemos observar diversos acontecimentos, aparentemente desligados, que definimos como “emergências”.

A emergência nuclear no Japão, a emergência dos mercados económicos, a emergência das revoltas na África do Norte e no Médio Oriente, a emergência do clima, a emergência do fim do mundo em 2012.

E não é difícil poder encontrar outras emergências que andam por ai.
Há emergências para todos os gostos.

É aqui que o Homem tenta individuar um padrão. Pode ser tudo isso fruto do acaso?

Na internet podemos encontrar muitas respostas. Das mais simples até as mais sofisticadas. Mas a maioria delas centra-se em causas precisas, não no acaso. É normal, como acabámos de ver é esta a atitude.

Por isso é só escolher: é uma operação dos Illuminati, é a Nova ordem Mundial, é culpa dos Estados Unidos, é Nibiru, são os Reptilianos (sempre eles…), são os Rothschild, são os bancos…

Raros, muito raros são os comentários de quem reconhece que afinal pode não existir uma causa, além da mais óbvia: nós.
Não é esta uma tentativa para chumbar duma vez por todas as várias teorias que muitos adeptos conseguem na blogosfera. É, mais do que isso, uma observação: nós precisamos duma causa “externa”, precisamos com todas as nossas forças.

Mas porquê precisamos disso? Porque caso contrário, somos obrigados a reconhecer o falhanço. Totalmente nosso, exclusivamente nosso.

2.000 (e mais) anos de civilização tiveram como fruto isso: uma sociedade à beira do colapso.

Um grande percurso, desde as cavernas, passando pelos vários reinados, impérios, Idade Média, Descobrimentos, Renascimento, Iluminismo, Romanticismo, Evolucionismo, Comunismo, Capitalismo, sem esquecer Cristianismo, Judaísmo, Budismo, Islamismo.
Tudo o que acaba em -ismo levou até aqui: uma sociedade moribunda.

E como se todas as conquistas do passado tivessem sido deitadas para o lixo. Por quem? Por nós. É inútil olhar à nossa volta, não há aqui mais ninguém, só nós.
Frustrante, não é?

A casa e os ladrões

Estamos prontos para aceitar isso? Não, não estamos.
É por isso que florescem as alternativas.

Não estou a afirmar que os vários Illuminati, Nova Ordem Mundial, imperialismo americano, Haarp, Rothschild, bancos & companhia não existam ou não desenvolvam um papel.
Não é este o meu objectivo. O objectivo é outro, nomeadamente uma pergunta: e se todas estas coisas fossem apenas uma consequência?

A minha resposta é: sim, são uma consequência, não uma causa.

Ainda não tratei dos Illuminati, porque será?
Pouco ou nada disse acerca da Nova Ordem Mundial, porque será?
Interrompi a saga dos Rothschild, porque será?

Porque, na minha óptica, estas são consequências e não causas.

É como ter a casa invadida por ladrões.
Cheios de medo, começamos a analisa-los: donde vêm, qual o nome deles, qual a história deles, o que fazem, o que pensam. A casa começa a abalar, pois os ladrões são muitos, fazem barulho, empurram a mobília, estragam as paredes. E nós continuamos a observa-los, a estuda-los.
Nem por um momento pensamos na única coisa lógica: fechar a porta.

Porque fechar a porta significaria reconhecer o nosso erro: fomos nós que deixámos a porta aberta, é por isso que os ladrões entraram.  Toda esta confusão é apenas o fruto da nossa negligência.

Esta é a nossa situação.
Então não conseguimos aceitar uma simples possibilidade: as várias emergências, talvez, não sejam filhas de planos diabólicos de entidades misteriosas. Talvez sejam apenas a lógica consequência da nossa incúria e dos nossos erros.

Fantasmas

Por isso criamos fantasmas.

Fantasmas que podem ser bem reais, com nomes e apelidos proprios; mas que têm como único objectivo cobrir a nossa crónica falta de iniciativa. Tudo é bom, até criaturas fantásticas que provêm de outros mundos: tudo pode servir para não reconhecer as nossas culpas.

Porque, meu caro leitor, é bom lembrar que é possível ser culpado mesmo sem mexer um dedo.
Aliás, é a forma pior de ter culpa: eu não estava, e se estava não vi, não ouvi, não percebi, por isso como pode a culpa ser minha?

Continuaremos a tratar dos fantasmas, porque não? Mas ao mesmo tempo seria bom pensar um pouco mais acerca de nós. E fazer alguma coisa.

A ideia que aparece na sondagem ao lado (a propósito: já votaram? Não?!? Vergonha!!!) é pouca coisa, sem dúvida: não se pode mudar o mundo com uma simples petição, por exemplo. Ou com outras pequenas iniciativas começadas num pequeno blogue.
Mas imaginem se cada um de nós fizesse uma pequena coisa. No total seriam muitas coisas.

Porque temos duas possibilidades:

  • ou aceitar o que é apresentado como inevitável, incluído a perda progressiva dos nossos direitos, a próxima guerra mundial (o quê? Ainda não tinham percebido isso? Fogo!), o racionamento dos recursos energéticos e alimentares… 
  • ou começar a fazer alguma coisa, pois não é tarde demais, nunca é tarde demais.

Não podemos emendar todos os erros cometidos até aqui: mas podemos dar um novo rumo.
Reconhecer as nossas culpas não é simplesmente um acto de masoquismo: significa tomar consciência dos passos dados para evitar cometer os mesmos erros.
Chama-se esta “experiência”, e não tem preço.

Atravessámos pestes negras, gripes mortais, invasões, eras glaciais, queda de asteroides, revoluções, guerras…vamos parar perante quatros banqueiros analfabetos?
A escolha é nossa. E de mais ninguém.

Ámen.

(e pensar que a ideia era escrever algo acerca de Atlântida…!)

Ipse dixit.

9 Replies to “Fantasmas”

  1. bem realista o seu artigo , eu descrevo como um tapa na cara de muitos conspiracionista na net, que alias nao entendo o sentido de ficar culpado tudo que acontece de ruim no mundo aos iluminati ou roth e reptilianos e bla bla bla . em resumo e como vc disse e medo de assumir a culpa dos proprios erros.

    ps: que guerra mundial e esse ????

  2. Muito bem dito, Max.

    As consequências que hora enfrentamos, provenientes de nossa ausência ou pouco caso de nossa parte, refletem senão as nossas atitudes perante a sociedade, sejam elas pequenas ou grandes. O afastamento de nossos deveres, voluntário ou não implica em grandes consequências em diferentes níveis, mas de toda forma perceptíveis.

    Relegamos nossos deveres devidamente orquestrados por uma estrutura cujo objetivo é a alienação, sem a qual a sociedade orquestrada ruiria.

    Mas também de nada valem rios de informações sem análise, sem o confronto, a busca… a maneira com que a informação nos apresenta é tentadora, devido a simplicidade e frieza, que por fim termina por nos iludir. Dando a impressão que vivemos sempre em um estado onde tudo já está consumado, passado de um presente que não quer passar.

    Imersos no passado ou alavancados ao futuro, o presente já não se faz presente… as palavras que hoje nos trazem conforto, amanhã nos farão sofrer se deixarmos nos aliciar pela ilusória segurança destas…

    O fato de já nos encontrarmos aqui, já é um indicativo positivo, mesmo que a insegurança ainda ofusque a ação. Sempre procuro calcar minhas palavras com ações, para que estas não destoem, pois palavras sem atitudes é como uma casa sem alicerce…

    E a maneira que encontrei de agir, foi em tomar parte no que aqui chamamos de "Associação de Bairros".

    E para que possamos agir devemos enfrentar o medo.

    O medo, paralisante, assaz cruel…

  3. Olá Anónimo!

    "que guerra mundial e esse ????"
    É a próxima. E é uma espécie de tabu. Ninguém gosta falar dela, mas os ingredientes estão presentes, todos.

    É inevitável? Não, não é.

    Mas sabemos que as guerras têm, entre as várias funções, a de reiniciar a economia. E, nesta altura, um "reset" seria uma prenda do Céu.
    Apenas por alguns, claro.

    Segundo outros, a Terceira Guerra Mundial já estaria em acto.
    Eu não concordo: vivemos ainda numa fase de preparação. E nem acho que seja uma questão iminente.

    Por isso há esperança. Não muita, mas há. E isso é importante.

    Obrigado e abraço!

  4. Olá Vitor"

    "E a maneira que encontrei de agir, foi em tomar parte no que aqui chamamos de "Associação de Bairros".

    Nem mais. É isso.
    Inútil ver-se com o traje de Robin dos Bosques, não é por ai.

    Enfrentar o medo, mudar a sociedade, pode (e deve) ser feito a partir das pequenas coisas. Que depois "pequenas" não são.

    Não há super-heróis, há homens e acções humanas.
    "Introduzir" a ideia de "honestidade" numa Associação de Bairro é um grande passo.

    O Mundo desmorona? No meu bairro sabemos o que significa ser honesto. É pouco? Não, não é, porque onde há honestidade há justiça. E liberdade.

    Se num outro bairro o mesmo conceito for implementado, então teremos dois bairros. E assim por diante. Sem esquecer que os bairros fazem as cidades.

    Demora? Claro que demora.
    Custa? Sim, custa tempo e fadiga.
    Mas qual a alternativa? Esperar a chegada dum Dom Sebastião?

    A escolha é de cada um de nós. Ou agir, com "pequenas" coisas, ou esperar a Salvação.

    Um abraço? Não, desta para Vitor um enorme PARABÉNS!

    Fogo, não há apenas notícias más neste Mundo!!!

  5. Obrigado, Max!

    Espero que outros exemplos surjam, pois possibilidades existem, basta darmos o passo por nossa vez…

    Cá entre nós, uma vez que o primeiro passo está feito, a coisa não é tão feia como antes aparentava ser.

  6. Li a matéria com bastante atraso mas sempre é tempo para tecer um comentário. Discordo da tua premissa com uma única frase que resume a lógica da dominação ideológica burguesa: "Domines a educação e a propaganda e dominarás o povo". Eis o que produz a mentalidade que imobiliza, aprisiona e individualiza as sociedades atuais.

Obrigado por participar na discussão!

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