Cinzas & Vulcões

Mais do que um post, o que segue é uma pergunta, feita por quem nada percebe de cinzas e vulcões e por isso tem algumas dúvidas.

Lembram do vulcão islandês que paralisou os voos da Europa e com eles a economia toda? Na altura até escrevemos um artigo que pode ser encontrado aqui.

O problema é que o Eyjafjallajoekull ainda não acalmou e ameaça outra vez a tranquilidade do continente todo.
As causas são conhecidas: a nuvem de cinzas provocada pode afectar a segurança dos aviões.
Senão vamos ver:

o pó do vulcão funde perto de 1.000º C, cola às paredes internas das câmaras de combustão e ao cone de expulsão dos motores, aumentando a temperatura além dos limites.
Além disso, corrói e danifica as pás do compressor e turbina, como também as superfícies externas do avião. As janelas ficam opacas, os travões menos eficientes e, para acabar, as partículas podem penetrar no interno e causar problemas toxicológicos e, mais em geral, de respiração.

Esta a teoria, ajudada pelas imagens da Nato que publicámos no já referido post anterior.

Agora a prática.

Em Italia existem 3 vulcões: o Vesuvio, o Stromboli e o Etna.
O primeiro está num estado de calma aparente enquanto os outros dois calmos não são.

O Stromboli, uma ilha no meio do Mar Tirreno, é o vulcão mais activo da Europa: erupta com regularidade, a cada hora e o fenómeno dura desde poucos segundos até 20 minutos.

Mais interessante, para nós, é o Etna: localizado na Sicilia, está quase constantemente em erupção, sendo por este outros dos mais activos do Velho Continente.

Agora observem esta imagem:

No fundo podemos ver o Etna e em primeiro plano…aviões!
Pois este é o aeroporto de Catania, 45 quilómetros de distância do vulcão.

Só 45? Poucos, poucos mesmo: o aeroporto estará sempre fechado, correcto? Errado. O aeroporto funciona regularmente.
O aeroporto é internacional e conta com mais de 300 voos diários. Em 2006 movimentou mais de 6 milhões de passageiros.  

E quando há erupções?
A última grande erupção do Etna é de 2008 e começou no dia 18 de Maio; acabou só no dia 6 de Julho de 2009, 419 dias mais tarde.

Vamos ver os dados do aeroporto ao longo do período Janeiro-Julho de 2009: 32.271 movimentos efectuados, 3.340.280 passageiros transportados.
Incidentes? Não houve.

Claro que o aeroporto é obrigado ao fecho de vez em quando. Mas falamos de situações excepcionais.
Olhem para esta imagem: 

Falamos de uma verdadeira capa preta que tudo cobre. Nada comparável à nuvem acima da Europa.

E, para que seja ainda mais claro:

Catania e o seu aeroporto ficam exactamente debaixo da nuvem ao longo da erupção de 2002. Fechar o aeroporto num caso assim é o mínimo.

Num caso como este, ao longo de quanto tempo ficam fechadas as pistas? Semanas? Meses? 
Não: dias. Quando as cinzas deixam de cair por cima do aeroporto, os aviões retomam os voos com regularidade.

Em 2001 o aeroporto fechou ao longo de 4 dias. Resultados? Um inquérito da magistratura para estabelecer se havia ou não a necessidade de interromper os voos. 

Repetimos: distância? 45 quilómetros, incidentes? Nenhum.

Como é possível?

Percebemos que as erupções podem não ser todas iguais, assim como os ventos e as condições climatéricas podem mudar os cenários de repente. Mas como é possível ter um vulcão a uma distância duns meros 45 km dum dos maiores e mais activos vulcões do mundo, sem ter acidentes, enquanto fechamos os aeroportos dum inteiro continente por causa dum vulcão situado no meio do Oceano Atlântico?

Isso perguntado por quem, como afirmado em abertura, nada percebe de cinzas e vulcões.

Ipse dixit

Fontes: Assoaeroporti, Corriere della Sera

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