Site icon

Coronavirus & Rockefeller: a previsão da pandemia em 2010

Em Maio de 2010, a Rockefeller Foundation publicou um documento, Cenarios for the Future of Technology and International Development (“Cenários para o Futuro da Tecnologia e Desenvolvimento Internacional”).

O documento é composto por duas cartas de introdução, a primeira da então Presidente da Rockefeller Foundation (Judith Rodin, por acaso uma hebraica) e outra do fundador da empresa de consultoria Global Business Network (Peter Schwartz, por acaso um hebraico). Podemos evitar.

Seguem-se cerca de 50 páginas de “cenários” preparados por um painel de especialistas que integrava a equipa da Rockefeller Foundation, da Global Business Network e alguns consultores externos.

A principal questão parece ser: “Como pode a tecnologia ultrapassar os obstáculos que impedem a construção da estabilidade e dum crescimento equitativo no mundo em desenvolvimento nos próximos 15 – 20 anos?”.

Para responder à pergunta, os autores identificaram dois elementos variáveis, que consideram de importância fundamental para determinar a futura ordem do mundo. Estas variáveis são o “alinhamento político-económico” das várias nações, que pode ser “fraco” ou “forte”, e a “capacidade de adaptação” dos povos que delas fazem parte, que pode ser “alta” ou “baixa”.

Para entender bem o que os autores querem dizer com estes dois termos, traduzimos directamente parte do documento:

Alinhamento político-económico: Esta variável refere-se tanto ao nível de integração económica – fluxo de bens, capital, pessoas e ideias – como à capacidade das estruturas políticas sólidas e eficientes para permitir ao mundo enfrentar muitos dos actuais desafios globais. Num extremo do eixo veríamos uma economia global mais integrada, com um comércio intenso, permitindo o acesso a uma gama mais vasta de bens e serviços, graças à importação-exportação, com a crescente especialização das exportações. Veríamos também uma maior cooperação a nível supranacional, com um reforço das instituições mundiais e a formação de estruturas internacionais eficazes, capazes de resolver os vários problemas. No outro extremo do eixo, o potencial de crescimento económico dos países em desenvolvimento seria limitado pela fragilidade da economia global – combinada com o proteccionismo e a fragmentação do comércio – juntamente com um enfraquecimento dos regimes de governação, que coloca obstáculos à cooperação e prejudica os acordos sobre a implementação de soluções interligadas e em larga escala para os desafios globais.

Capacidade adaptativa: Esta variável refere-se à capacidade dos diferentes níveis da sociedade de se adaptarem à mudança e de se adaptarem eficazmente. Capacidade adaptativa pode significar a manutenção pró-activa dos sistemas e estruturas existentes, a fim de assegurar a sua durabilidade contra forças externas, bem como a capacidade de transformar esses sistemas e estruturas quando uma mudança de contexto os torna obsoletos. A capacidade de adaptação, numa sociedade, está geralmente associada a níveis superiores de educação, tais como a disponibilidade de saídas para aqueles que têm essa educação, a fim de melhorar o seu bem-estar pessoal e social. Os elevados níveis de capacidade de adaptação são geralmente alcançados através da confiança na sociedade, da presença e tolerância nas novidades e diversidades, da força e da variedade das instituições humanas e do livre intercâmbio de comunicações e ideias, especialmente através de diferentes níveis (por exemplo, de baixo para cima, ou de cima para baixo). Na ausência destas características, surgem níveis inferiores de capacidade adaptativa, tornando as populações particularmente vulneráveis aos efeitos devastadores de choques imprevistos.

Chegamos agora aos 4 cenários futuros possíveis, que têm o nome de Lock Step, Clever Together, Hack Attack e Smart Scramble, e que derivariam das diferentes possibilidades que surgem ao cruzar os dois eixos das variáveis:

O estudo define os 4 cenários desta forma:

  1. Lock Step: Um mundo estritamente controlado de cima para baixo, com uma liderança fortemente autoritária, inovações limitadas e um crescente descontentamento popular.
  2. Clever Together: Um mundo onde emergem estratégias bem sucedidas e altamente coordenadas, capazes de responder aos problemas globais, tanto imediatos como de longo prazo.
  3. Hack Attack: Um mundo economicamente instável, facilmente traumatizável, no qual os governos enfraquecem, os criminosos prosperam e surgem perigosas inovações.
  4. Smart Scramble: Um mundo economicamente deprimido em que tanto os indivíduos como as sociedades estão a desenvolver soluções de emergência para um número crescente de problemas.

A descrição detalhada dos cenários 2, 3 e 4, sob a forma de “narrativa”, é relativamente trivial e previsível. Em Clever Together podemos observar a cooperação total de todos os seres humanos para um futuro melhor, mais harmonioso, tolerante e abrangente, com uma abundância de trocas em todas as direcções, e um bem-estar cada vez mais distribuído de forma equilibrada em todo o planeta. As nações competem entre si de uma forma justa e transparente, e o maior problema parece ser, para aqueles que governam, impedir que uns cresçam demasiado depressa em comparação com outras. Parece, em suma, um Paraíso, tão belo de contar como impossível de alcançar.

Na narrativa do cenário do Hack Attack, por outro lado, surgem os fantasmas mais recorrentes daqueles que têm medo de serem despojados de todos os privilégios e imaginam que, na ausência de um governo autoritário, mais cedo ou mais tarde se encontrariam à mercê dos “fora-da-lei”. As grandes catástrofes naturais, como o tsunami que “quase varreu a Nicarágua do mapa”, estão misturadas com ataques de importância global, como nos Jogos Olímpicos de 2012, que “causaram 13.000 mortos”. As alianças internacionais são abandonadas, os Países mais atrasados são também abandonados à sorte deles, as nações estão a isolar-se umas das outras e a pôr em prática um proteccionismo cada vez mais forte. Evidentemente, na ausência de uma autoridade forte – tanto centralizada como nacional – a criminalidade e a corrupção espalham-se por todo o lado. Falsas vacinas acabam em mãos criminosas, o que traz morte e devastação, especialmente nos Países africanos, enquanto os hackers tomam conta da rede digital, viram as contas financeiras mundiais de pernas para o ar e até tentam derrubar inteiros governos com enganos cibernéticos cada vez mais sofisticados.

O cenário Smart Scramble é basicamente uma versão actualizada do anterior, em que, no entanto, a “elevada capacidade de adaptação” das populações levou as nações e os indivíduos a desenvolverem os mais engenhosos sistemas de sobrevivência, sem serem capazes de os finalizar para um progresso colectivo.

Em suma, embora o cenário nº 2 seja altamente improvável (como deixa entender o documento entre as linhas), o nº 3 e nº 4 devem ser cuidadosamente evitados.

Passemos agora à “narrativa” do primeiro cenário, porque é aqui que o jogo se torna interessante. Como já foi dito, com um forte alinhamento político-económico e uma baixa capacidade de adaptação da população, teríamos o cenário Lock Step:

Em 2012, a pandemia que o mundo esperava há anos chegou finalmente. Ao contrário do H1N1 em 2009, esta nova estirpe de gripe, trazida por patos selvagens, foi extremamente violenta e letal. Mesmo as nações mais bem preparadas para a pandemia foram rapidamente esmagadas quando o vírus invadiu o mundo, infectando cerca de 20% da população mundial e matando 8 milhões de pessoas em apenas sete meses, na sua maioria jovens adultos saudáveis. A pandemia teve também um efeito letal nas economias: a circulação internacional de pessoas e bens parou subitamente, enfraquecendo indústrias como o turismo e perturbando as cadeias de abastecimento mundiais. Mesmo localmente, as lojas e escritórios normalmente cheios de actividade permaneceram subitamente vazios. A pandemia afectou todo o mundo, mas causou vítimas desproporcionadas, especialmente em África, no Sudeste Asiático e na América Central, onde o vírus se propagou com a rapidez do fogo, na ausência de protocolos oficiais para o conter. Mas mesmo nos países mais desenvolvidos, a contenção tem sido um grande problema. A política inicial dos EUA de “desencorajar fortemente” os cidadãos de viajarem por via aérea revelou-se letal devido à sua excessiva indulgência e acelerou a propagação do vírus, não só nos EUA, mas também através das fronteiras. Apesar de tudo, alguns países têm-se saído melhor, nomeadamente a China: a rápida imposição pelo Governo chinês de uma quarentena obrigatória para todos os seus cidadãos, acompanhada pela selagem instantânea de todas as suas fronteiras, salvou milhões de vidas, impedindo a propagação do vírus muito mais cedo do que noutros países e permitindo, subsequentemente, uma recuperação mais rápida.

O Governo chinês não foi o único a tomar medidas extremas para proteger os seus cidadãos contra o risco de infecção. Durante a pandemia, vários líderes nacionais fizeram pesar a sua autoridade e impuseram regras e restrições rigorosas, desde a obrigação de usar máscaras até ao controlo da temperatura corporal e à entrada em áreas comuns, como estações ou supermercados. Mesmo após o fim da pandemia, este controlo autoritário sobre os cidadãos e as suas actividades continuou e até se intensificou. A fim de se protegerem da propagação de crescentes problemas globais – desde as pandemias ao terrorismo transnacional, desde as crises ambientais ao aumento da pobreza – vários líderes em todo o mundo reforçaram ainda mais o punho do poder.

Inicialmente, o conceito de um mundo mais controlado tinha recebido grande aceitação e aprovação. Os cidadãos estavam dispostos a ceder parte da sua independência e privacidade a governos mais paternalistas em troca de uma maior segurança e estabilidade.

Os cidadãos eram mais tolerantes e até ansiosos por receber orientação e controlo vindo de cima, e os líderes nacionais tinham mão livre para impor a ordem da forma que preferiam. Nos países mais desenvolvidos, esta forma acrescida de controlo materializou-se de várias maneiras: documentação biométrica adaptada a todos os cidadãos, por exemplo, combinada com regras mais rigorosas para as indústrias consideradas vitais para o interesse nacional. Em muitos países desenvolvidos, esta cooperação forçada, juntamente com novos regulamentos e acordos, conduziu lentamente ao restabelecimento da ordem e – o que é muito importante – ao crescimento económico. No entanto, no mundo em desenvolvimento, as coisas têm corrido de forma muito diferente. A autoridade superior assumiu diferentes formas em diferentes países, dependendo do calibre, capacidades e intenções dos seus líderes. Em países com líderes “esclarecidos” fortes, o nível económico e a qualidade de vida dos cidadãos aumentou, em geral. Na Índia, por exemplo, a qualidade do ar melhorou drasticamente após 2016, quando o governo proibiu os veículos poluentes. No Gana, a introdução de programas governamentais ambiciosos para melhorar as infra-estruturas básicas e assegurar a disponibilidade de água potável para toda a população, conduziu a um rápido declínio das doenças devidas à água infectada. No entanto, este tipo de liderança autoritária tem funcionado menos bem – e em alguns casos tragicamente – em países comandados por elites irresponsáveis, que têm usado o seu maior poder para perseguir os seus próprios interesses sobre os ombros dos seus cidadãos.

A narrativa Lock Step continua a explicar como se alargou o leque de progressos tecnológicos entre Países avançados e Países em desenvolvimento, deixando as grandes empresas no controlo total desses progressos, que só teriam visado o lucro, negligenciando a investigação e as inovações destinadas a resolver problemas globais em grande escala.

Em 2025 as pessoas começavam a mal tolerar este pesado controlo vindo de cima, onde eram sempre os líderes que faziam as escolhas para todos. Sempre que os interesses nacionais colidiam com interesses individuais, surgiam conflitos. As reacções de rejeição esporádicas começaram a surgir e a tornar-se cada vez mais organizadas e coordenadas enquanto jovens, desencorajados ao ver as suas possibilidades desaparecerem – especialmente nos países em desenvolvimento – desencadeavam revoltas populares. Em 2026, um protesto popular na Nigéria derrubou o governo, acusado de nepotismo e corrupção. Mesmo aqueles que favoreceram a maior estabilidade e previsibilidade deste mundo começaram a sentir-se inquietos, constrangidos pela enorme quantidade de regras e limitados pelas fronteiras nacionais. Sentia-se no ar que, mais cedo ou mais tarde, algo iria inevitavelmente ultrapassar a clara ordem para a qual os governos do mundo tinham trabalhado tão arduamente.

A última frase seria suficiente para comentar o artigo na sua totalidade. Mas vamos ao que interessa: este documento dos Rockefeller apresentou um projecto que nestes meses está a ser implementado ou não? Sim e não.

Não, não é um projecto

Começamos pela negativa: não, não foi um projecto, foi um estudo. Afinal os especialistas interpelados pintaram quatro cenários analisando as tendências do ano de 2010 para extrapolar eventuais consequências. Não é algo impossível, bem pelo contrário.

Por exemplo, imaginemos de desenhar um cenário relativo ao futuro da humanidade, começando pela exploração de outros planetas. Podemos imaginar que em 2079 o primeiro homem irá chegar ao planeta Marte numa missão conjunta de várias agências espaciais lideradas pelos Estados Unidos. Após a primeira missão haverá outras e a colonização do planeta vermelho procederá com um ritmo mais acelerado, apesar dos obstáculos: em 2087 uma nave espacial irá sofrer um catastrófico acidente com a perda de 300 colonos, mais tarde uma tempestade de meteoritos atingirá a primeira base marciana, destruindo vários módulos de sobrevivência entre os quais a preciosa estufa botânica que proporciona oxigénio. Mas isso não irá travar as missões e, depois de ter analisado as tragédias e melhorados os níveis de segurança, em 2148 o primeiro conjunto de módulos marcianos irá receber o título de “cidade”, a primeira fora da Terra.

Podem estar erradas as datas e os números (também o documento Rockefeller erra nestes pontos), mas tudo isso irá acontecer porque são as dificuldades facilmente previsíveis tendo em conta o histórico da exploração humana e os desenvolvimentos tecnológicos: tudo isso acontecerá, o problema não é “se” mas “quando”. E o documento em análise foi redigido por pessoas que estudam tanto as tendências quanto os possíveis desenvolvimentos futuros.

Prever o despoletar duma pandemia, com relativas consequências práticas, não é nada de especial, pois isso já aconteceu várias vezes ao longo da História; prever que o regime chinês tenha mais facilidade em controlar o surto viral por causa do seu autoritarismo não é complicado; prever que, passada a emergência, as pessoas comecem a pedir um abrandamento das medidas de protecção também é lógico.

Sim, é um projecto

Seja como for, o relatório provoca arrepios: além dos possíveis erros nas datas, o resto é o roteiro que está a ser seguido debaixo dos nossos olhos. Sobretudo porque, no meio de várias possibilidades (uma guerra mundial, tensões sociais que desembocam num movimento de amplo alcance, etc.), os especialistas escolheram uma pandemia nascida na China, transmitida por animais selvagens, espalhada pelo mundo todo com diferentes consequências, encarada com os mesmos meios que estamos a utilizar hoje. Nem Nostradamus…

Além disso, Cenarios for the Future of Technology and International Development pode ser devidamente apreciado só se for lido como parte duma literatura mais ampla que inclui as publicações do Project for the New American Century e do Council on Foreign Relations (Zbigniew Brzezinski & companhia): neste caso teremos não apenas umas simples “previsões” mas sim um percurso claro, com objectivos igualmente explícitos. Um percurso baseado não apenas em eventos mais ou menos naturais (como pode ser uma pandemia) mas em escolhas e acções que determinaram a história das últimas décadas.

E não podemos esquecer outro “pormenor”: a Rockefeller Foundation não é uma organização qualquer, não um grupo de indivíduos que se divertam a imaginar os acontecimentos futuros. A Rockefeller Foundation é a emanação duma das mais importantes, ricas e poderosas famílias do planeta, uma família que tem atravessado a História dos últimos 150 anos como protagonista e que hoje significa Esso/Exxon Mobil, Monsanto, JP Morgan Chase, Council of Foreign Relations, Bilderberg Group, universidades, a sociedade com a família Rothschild, a colaboração com a Gates Foundation, um património que ultrapassa os 350 biliões de Dólares.

É a mesma família Rockefeller que, com a Escola de Higiene e Saúde Pública Johns Hopkins, organizou o Event 201, também baseado numa pandemia, desta vez de Coronavirus, em colaboração com o World Economic Forum e a Fundação Bill e Melinda Gates. O Event 201 ocorreu seis semanas antes do primeiro surto comunicado de Coronavírus: já não uma simples previsão mas um teste real para verificar as capacidades de resposta. E as “coincidências” começam a ser demasiadas. Faltam as provas? Óbvio, faltam sempre as provas: não estamos a lidar com desprevenidos. Doutro lado, estamos à espera do quê? Duma comunicado da Fundação? Algo como “A Fundação Rockefeller tem o prazer de informar o mundo que a crise do Coronavírus foi preparada e implementada com sucesso para alcançar os nossos objectivos secretos. Um agradecimento especial aos morcegos. Fiquem bem e vacinem-se”?

Não é nada descabido imaginar a possibilidade que os efeitos económicos e políticos da actual pandemia foram não apenas cuidadosamente estudados na Rockefeller Foundation já em 2010, mas também foram planeados e até testados poucos meses antes do surgimento da crise do Coronavirus com o Event 201. Não é nada descabido, bem pelo contrário: é uma hipótese que temos de ter em séria consideração.

 

Ipse dixit.

Fonte: Scenarios for the Future of Technologyand International Development (ficheiro Pdf, inglês)