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Jornalixo

Krowler diz: “Conhecem esta musica que saiu há uns dias no Youtube?”

Esta não é uma simples “música”: é terrorismo de milícias que perturbam a ordem pública em nome dos ideais de QAnon. Não sei eu que o digo, é  a revista Visão. E atenção: tudo isso é extremamente perigo, ao mesmo nível do ISIS. Um bocado exagerado? Nem por isso, é só ler o que escreve a revista.

Comecemos com o artigo de João Amaral Santos:

Movimentos negacionistas e antivacinas usam Hip Hop para espalhar teorias da conspiração em Portugal

Já experimentaram de tudo um pouco: vigílias, manifestações, alianças e até criarem criarem grupos secretos treinados, ao jeito de milícias, para provocar a perturbação da ordem pública (entre outras singularidades).

E que estas milícias existam é provado: tinha sido o mesmo João Amaral Santos a encontra-las e a contar tudo através do artigo “Por dentro das milícias negacionistas e antissistema“. Sempre publicado pela Visão, óbvio.

São perigosas? Muito.

Animados por novas músicas, os principais movimentos negacionistas portugueses (e seus seguidores) encontraram a banda sonora para a sua “luta”, que partilham como autênticos hinos contra as medidas do Governo e da Direção-Geral de Saúde (DGS) para a prevenção da pandemia.

Seguindo uma tradição contestatária e provocatória, a cultura hip hop passou a ser usada neste campo. Rappers negacionistas lançaram, na última semana, temas que estão agora a servir de veículo para amplificar este discurso nas redes sociais, chegando a largos milhares de pessoas (das mais variadas faixas etárias). Com letras que incluem os chavões e as teorias da conspiração de sempre, artistas como Estraca ou Penhx recorrem a uma amálgama de palavras e frases cantadas, onde se incluem acusações a políticos, jornalistas ou médicos e enfermeiros, entre outros, e se fala de corrupção, pedofilia ou satanismo – uma retórica próxima da utilizada pelos norte-americanos QAnon.

O objetivo, neste caso, segue o guião qualquer seja a temática abordada numa canção de hip hop: passar a mensagem; denunciar; fazer política. Os riscos, esses, é que são novos: embalados pelo som, a mensagem (ou melhor, a desinformação) arrisca chegar a um leque muito mais alargado de pessoas.

Entre estes rapper milicianos antissistemas inspirados no QAnon encontramos Carlos Guedes, conhecido como Estraca:

O mais recente sucesso, Jornalixo, divulgado na passada quarta-feira, 1 de dezembro, transformou-se num sucesso imediato, ocupando lugar nas principais tendências musicais nacionais do Youtube. Visualizado e partilhado em massa no seio dos grupos negacionistas, a temática não foge ao habitual: Marcelo Rebelo de Sousa, Ferro Rodrigues, António Costa ou Eduardo Cabrita; comunicação social; corrupção e pedofilia; e ditadura sanitária – são elementos citados que cabem no mesmo saco durante 4.25 minutos. O refrão não engana: “Eu não sou cúmplice de um Governo assassino/ Que para instalar o medo, manipula a informação/ Eu não sou cúmplice de um Governo assassino/ Que nos rouba a liberdade pela falsa salvação/ Eu não sou cúmplice de um Governo assassino/ Que instalou fome e miséria na nossa população/ Eu não sou cúmplice deste povo amordaço/ Que em silêncio aceita tudo sem nenhuma reação”, diz Estraca, de expressão enfurecida, enquanto nos avisa que “não é cúmplice” de algo que não chega a identificar.

Identifica sim, e bastante bem até. Eis o texto:

Eu não sou cúmplice de um governo assassino
Que para instalar o medo, manipula a informação
Eu não sou cúmplice de um governo assassino
Que nos rouba a liberdade pela falsa salvação
Eu não sou cúmplice de um governo assassino
Que instalou fome e a miséria na nossa população
Eu não sou cúmplice deste povo amordaçado
Que em silêncio aceita tudo sem nenhuma reação

Onde estão as dúvidas?

Mas é claro que a função do jornalista aqui não é aquela de entender mas apontar, cavar um fosso entre “bons” e “maus”. E assustar. Sobretudo isso. Porque as milícias são perigosas: são um “submundo que se transformou numa potencial ameaça” como tinha já afirmado no outro artigo.

“Ameaça”? Sim senhor, “ameaça”. E das graves. Manuela Niza Ribeiro, colega de João Amaral Santos, a partir das páginas da mesma revista, explica a razão no artigo Negacionistas, terroristas e outros istas:

Ora, o verdadeiro perigo terrorista não é o que vem de fora mas sim, cada vez mais, o que nasce e se propaga dentro de portas.

O principio básico do terrorismo não é apenas fazer vitimas, mas sobretudo propagar o medo e a insegurança. Todos nós temos bem presente na memória a divulgação de imagens de actos atribuídos ao Daesh em que o simples vislumbre dum macacão de cor laranja nos colocava de imediato em tenção. Era o medo intuído e, como tal, o mais bem conseguido com o mínimo de esforço ou recursos.

Mais do que a ameaça externa, deparamo-nos hoje com a crescente violência dum grupo que nega a ciência, a vacinação e as medidas de contenção, combate e prevenção da pandemia que nos assolou.

O movimento não surgiu com a Covid-19.

Começou a surgir com a recusa de alguma vacinação infantil, isto para apenas falarmos de questões relacionadas com a ciência e a saúde.

Mas desengane-se quem pensa que o movimento negacionista é apenas um movimento contra as vacinas ou com a existência dum vírus! O negacionismo é, sobretudo, um movimento contra o sistema, sem que apresente uma alternativa ao mesmo.

Começou com murmúrios, manifestações chegando neste momento à ameaça e ao insulto. Daqui à violência física o passo é mínimo. Até porque por ser um movimento transnacional, possui o efeito de contágio. As imagens de manifestações violentas noutros pontos do globo irão influenciar os brandos costumes que há muito deixámos de ter. […]

Estes terroristas domésticos são bem mais perigosos que os eventuais e residuais infiltrados nos fluxos de refugiados.

Quem “nega a ciência, a vacinação e as medidas de contenção, combate e prevenção da pandemia que nos assolou” traz também “crescente violência” e quer “sobretudo propagar o medo e a insegurança”. Tal como fazia o Daesh. E atenção porque tudo “começou a surgir com a recusa de alguma vacinação infantil”: “daqui à violência física o passo é mínimo”.

Reparamos no vocabulário utilizados nos dois artigos:

Até chegar a suprema ofensa: “grupo que nega a ciência”. E isso fecha a questão: a ciência não se discute, aceita-se em silêncio. Nem é preciso incomodar a “manipulação mental”, aqui estamos num nível muito mais grosseiro.

Tudo isso deveria apenas provocar uma boa gargalhada num País onde a quase totalidade dos habitantes estão agora vacinada. O tom alarmista com o qual estes jornalistas tratam do assunto entra de direito no reino do ridículo e até naquele da indecência: comparar quem duvida das vacinas com os terroristas do Daesh? Sério?!?

Mas já sabemos: estes artigos são precisos, não aos “conspiracionistas” mas à maioria silenciosa, aquela assustada, obediente e completamente dominada, que deve ser assegurada para que nem a sombra duma dúvida possa instalar-se nos cerebrinhos. Um óptimo exemplo de Jornalixo.

 

Ipse dixit.